15 de novembro de 2024
Campeão nos tatamis e na vida, Elton Fiebig aponta paradoxos e contesta conceitos do Plano São Paulo
Profissional de Educação Física com várias especializações e professor de judô go-dan, Fiebig entende que deveria estar atuando ativamente do processo de prevenção e combate à covid-19
Ponto de Vista
20 de agosto de 2020
Por ISABELA LEMOS I Fotos BUDOPRESS e ARQUIVO
Curitiba – PR
Em texto compartilhado no Instagram em 27 de julho, o professor Elton Quadros Fiebig defendeu a importância do Profissional de Educação Física no processo de prevenção e combate à covid-19, assim como estes profissionais já atuam na formação socioeducativa e no fortalecimento físico e mental de crianças e jovens que são impelidos a superar os próprios limites. Formado em Educação Física (CREF 24588-G/MG) e especialista em fisiologia do exercício e prescrição de exercícios, sensei Fiebig é professor de judô (FPJ 015125), faixa preta go-dan (5º dan) e gestor de atletas e equipes desportivas. É pentacampeão mundial veterano de judô.
Nascido em Santa Maria (RS) em 18 de março de 1972, o professor Elton começou no judô em São Paulo (SP), com o professor Eduardo Murta. Posteriormente mudou para a Associação de Judô Vila Sônia, escola à qual retornou neste ano em gratidão à família Shinohara. Elton espera ainda ser graduado kodansha em homenagem ao mestre Massao Shinohara, que lhe “ensinou muito mais do que judô”.
Em 1990 sensei Fiebig foi estudar e treinar na Universidade Kokushikan, no Japão, com o bicampeão olímpico Hitoshi Saito. Ao retornar ao Brasil, defendeu Guarulhos, São Caetano e outras importantes equipes paulistas.
Para Fiebig, estudar Educação Física foi algo natural, já que, desde pequeno, sua vida foi guiada pelo judô. Por isso, buscou conhecimento teórico para aliar a prática das atividades físicas aos processos que envolvem o ser humano em sua formação como indivíduo, desde a área fisiológica até psicológica.
“Neste caminho, aprendi que ser educador físico e professor de judô não tem nada a ver com ser mais rápido, mais alto ou mais forte, e sim fazer com que uma criança, desde a tenra idade, aprenda os limites da atividade por meio da brincadeira e do lúdico, relacionando-se da melhor forma possível com seus colegas e superando medos e adversidades que a vida impõe. Quando um professor passa um exercício de levantamento de peso ou uma técnica de projeção, inconscientemente ele está trabalhando para que a criança acredite que é capaz de realizar determinada função, superando seus limites físicos e emocionais”, relatou Fiebig.
Ainda no texto, ele diz que a dificuldade encontrada nas atividades pode servir de fortalecimento para a superação de limites. “É importante trazer esse benefício da superação para a sua vida com qualidade e saúde. E saúde envolve o corpo e a mente. Quando alguém diz que minha profissão não é uma atividade essencial, vejo quanto minha área de atuação é negligenciada. A principal medicina, para a vida, é a atividade física. Se a educação física escolar não fosse apenas um bate bola, o Profissional de Educação Física certamente seria mais respeitado”, lamentou o professor.
Fiebig acredita que a desqualificação do Profissional de Educação Física é um problema cultural do Brasil e isso acontece porque as pessoas não levam a atividade física a sério desde cedo. Para ele, isso também contribui para o número expressivo de pessoas doentes em hospitais.
“E não é uma doença ou um político que irão determinar quem eu sou ou acabar com a minha área de atuação. Sou essencial para a vida de quem quer evoluir como ser humano pensante, e não sujeito utópico manipulado por governantes. Antes de procurar um hospital, procure um Profissional de Educação Física para viver de forma saudável”, recomenda Fiebig.
O texto de Fiebig pode ser relacionado à carta aberta escrita pelo Colégio Real de Pediatria e Saúde Infantil, conhecido como RCPCH, o corpo profissional de pediatras do Reino Unido. Nesta carta publicada no dia 17 de junho, os pediatras expressam sua preocupação com a ausência contínua de milhões de crianças nas escolas devido à pandemia da covid-19. Segundo o RCPH, essa interrupção não tem precedentes e corre o risco de marcar as chances de vida de uma geração inteira de jovens.
Segundo a carta, o maior impacto da covid-19 é e continuará a ser suportado por crianças e famílias que têm menos recursos e precisam de maior apoio. O aproveitamento das atividades escolares relacionadas à sociabilidade e à saúde física e mental dos alunos é muito aproveitada por crianças com origens desfavorecidas. Por isso, a carta frisa que a ausência de aulas presenciais pode agravar os problemas sociais já existentes e aprofundará as desigualdades sociais e de saúde estrutural.
“A escola é muito mais do que aprender. Além do papel socioeducativo, a ambiente escolar é um ponto de contato vital para os serviços públicos de saúde, proteção, defesa e outras iniciativas. Isso inclui o acesso a suporte de saúde mental, vacinas, terapias especiais, merenda escolar gratuita, atividade física e serviços para a primeira infância que ajudam as crianças a terem melhor início de vida. Para muitas crianças e suas famílias, essas intervenções são a diferença entre sobreviver e prosperar. Na ausência delas, nossa rede de segurança já desgastada não pode funcionar e corremos o risco de falhar uma geração”, diz um trecho de carta assinada por 1.500 pediatras do Reino Unido.
Buscando não expor seu posicionamento político, Fiebig disse à Budô que lamenta que dezenas de milhões de crianças e adultos sejam privados da liberdade e do acesso básico aos serviços que tradicionalmente são oferecidos à população pelos governantes.
“Muito além da guerra que está sendo travada entre a direita e a esquerda, somos profissionais de Educação Física, professores de judô e grande parte daquilo que fazemos é fundamentada em processos pedagógicos e científicos. Entendo que estamos na contramão da ciência e acredito que ficarão sequelas que poderão marcar toda uma geração que está sendo privada de coisas simples do dia a dia, que estão relacionadas à saúde física e mental de crianças, jovens e adultos. Basicamente, creio que os nossos governantes deveriam rever seus pontos de vista e respeitar o direito sagrado que de cada indivíduo possui de decidir o que é melhor para si”, disse o professor pentacampeão mundial de judô que finalizou parabenizando a direção da FPJudô pelo protagonismo durante a pandemia e os professores que estão desenvolvendo esforços no sentido de oferecer entretenimento e qualidade de vida aos judocas do Estado de São Paulo e do Brasil.
“Fomos pegos de surpresa e não sabíamos o que estávamos enfrentando, mas a direção da federação paulista não ficou inerte e buscou alternativas que amenizassem o impacto da crise que estava se instalando em todos os seguimentos da sociedade. Muitos professores também abraçaram a ideia produzindo e disponibilizando conteúdos nas redes sociais. Isso é jita-kyoei e o que nos diferencia daqueles que não buscam o Caminho. Como nos ensina o shihan Jigoro Kano, quem teme perder, já está vencido.”
Nos tatamis, Elton Fiebig percorreu uma trajetória brilhante, sendo campeão mundial veterano M2 por equipe, em São Paulo 2007; em Atlanta 2009, foi campeão mundial M2 individual, absoluto e por equipe. Em Málaga 2014, foi campeão mundial individual; de quebra, conquistou 4 medalhas de prata e 3 bronzes. É campeão brasileiro sênior, universitário e militar. Conquistou o bronze no mundial júnior (sub 21) em 1992 e é medalhista em copas do mundo.