22 de dezembro de 2024
Campeonato Mundial da ITKF combina competitividade com integração humana e tecnologia
Além do elevado nível técnico, o mundial de karatê tradicional valorizou a interação entre atletas de diferentes culturas e demonstrou organização impecável.
Por Paulo Pinto
17 de novembro de 2024 / Curitiba, PR
Realizada em Vila do Conde, Portugal, de 7 a 13 de outubro, a 22ª edição do Campeonato Mundial da Federação Internacional de Karatê Tradicional (ITKF) reuniu cerca de 900 atletas de 33 países, incluindo a Copa Europeia Infantil. A organização esteve a cargo da ITKF Portugal com apoio da ITKF Europa e chancela da ITKF Global.
Outros importantes eventos ocorreram simultaneamente, como as reuniões do comitê técnico e do Shihan-Kai, o encontro de técnicos regionais e o Master Course, culminando com a assembleia geral da instituição.
Cerca de 100 instrutores participaram do Master Course de três dias, atividade que sempre antecede as competições, enfocando a padronização de kata e arbitragem. Gilberto Gaertner, chairman da ITKF, explicou que o objetivo é atualizar os professores tecnicamente e manter o caráter educativo do karatê tradicional sempre presente. Durante a assembleia geral foram lançados oficialmente o novo Programa de Exames da ITKF e o Passaporte Oficial da entidade.
A ITKF realizou também exames de graduação superior, com destaque para a participação dos multicampeões Cornel Musat e Ricardo Buzzi entre os examinados. Um dos destaques apontados pelos participantes foi a grande versatilidade e eficiência do sistema Rise, usado para o gerenciamento geral do evento.
As competições, na avaliação dos líderes das delegações, proporcionaram uma integração de povos e culturas, demonstrando que o karatê tradicional tem a capacidade de reduzir as diferenças regionais, sem prejuízo do elevado nível técnico das competições.
“A aplicação de sistemas modernos de gerenciamento, transmissão online para todo planeta e utilização do VAR como ferramenta de apoio são pontos mais que consolidados na realização dos eventos da ITKF, atestando sua constante evolução, profissionalismo e alinhamento com as soluções que a tecnologia proporciona.”
Na somatória geral de pontos o Egito ficou em primeiro lugar, seguido pelo Brasil, Polônia, Romênia, Portugal, Armênia, Itália, República Checa, Reino Unido, Alemanha e Uruguai. A atleta brasileira Martina Pires Gonçalves de Souza Rey destacou-se entre todos os atletas ao somar a maior pontuação do campeonato.
Disputa Acirrada
Depois de vencer as edições de 2019, no Brasil, e de 2022 na Eslovênia, a equipe brasileira terminou o 23º Campeonato Mundial da ITKF no segundo lugar. Para Ricardo Buzzi, técnico da ITKF Brasil, a disputa foi muito acirrada e a diferença para o campeão Egito não foi grande.
“A elevação do nível técnico de todas as delegações foi certamente um dos pontos positivos deste mundial”, ressaltou Buzzi. “Atletas extremamente bem preparados física e psicologicamente elevaram consideravelmente o nível das disputas em todas as categorias, notadamente no adulto (sênior). “Foi surpreendente a aplicação geral dos princípios postulados pelo nosso mais destacado mestre, Hidetaka Nishiyama.”
Do ponto de vista da organização do campeonato, a aplicação de sistemas modernos de gerenciamento, transmissão online para todo planeta e utilização do VAR como ferramenta de apoio são pontos mais que consolidados na realização dos eventos da ITKF, atestando sua constante evolução, profissionalismo e alinhamento com as soluções que a tecnologia proporciona, segundo Buzzi.
Para este mundial, a CBKT reestruturou completamente seu processo de organização da seleção. Uma comissão técnica multidisciplinar acompanhou o time durante todo período preparatório. Foram quase dois anos de trabalho total desde a convocação para o pan-americano, em 2023, até a disputa do mundial.
Além do técnico Ricardo Buzzi, a equipe incluiu a auxiliar técnica Arlene Amarante, o preparador físico Wagner Rosa, psicólogos do esporte liderados pela psicóloga Sirlei Andrade, os fisioterapeutas Karla e Carlos Henrique Simas e o auxiliar administrativo Carlos Huy. Toda a diretoria da CBKT participou do processo, dando apoio logístico, técnico e suporte financeiro. A destacar, ainda, o patrocínio do Instituto IGK-RJ e da Dankana, fornecedora oficial do material esportivo da seleção brasileira.
Como sempre, na avaliação de Buzzi, um dos maiores desafios da delegação brasileira foi lidar com a dispersão geográfica dos atletas, residentes em pontos extremos do País, afastados por milhares de quilômetros. Ainda assim, a CBKT conseguiu enviar 54 atletas para o mundial, formando uma delegação de mais de 80 pessoas.
Buzzi destacou ainda a participação de atletas PCD pela primeira vez na história da seleção brasileira CBKT, “demonstrando uma política inclusiva e alinhada com os princípios educacionais e de formação do ser humano tão caras aos praticantes do karatê-dô”.
Sucesso absoluto
Para Gilberto Gaertner, chairman da Federação Internacional de Karatê Tradicional (ITKF), a 22ª edição do Campeonato Mundial de Karatê Tradicional em Portugal foi um grande sucesso tanto na quantidade de atletas e países participantes quanto na organização, gestão e infraestrutura geral, fortalecendo ainda mais a ITKF Global. “Fico muito feliz por mais um passo significativo dado pela nossa instituição”, assegurou.
Gaertner agradeceu especialmente aos senseis Fernando Silva e Vitor Fins, à equipe da ITKF Portugal, ao prefeito da Vila do Conde, Vitor Costa, e a todos os voluntários que trabalharam no certame.
“Agradeço também a todos os presidentes, técnicos, atletas e às delegações dos países participantes por abrilhantarem o evento e pelo esforço e comprometimento com o karatê tradicional da ITKF Global. Entre os pontos altos, cito a utilização do sistema de gestão da Rise, o uso de tablets e o karatê-var, sem esquecer a sensível evolução do nível técnico dos atletas.”
Em relação ao mundial da Eslovênia, o campeonato no geral foi muito mais competitivo, segundo o chairman, o que atesta que os Master Courses realizados sistematicamente em quatro continentes têm tido efeitos bem consistentes em democratizar os conteúdos técnicos do karatê tradicional.
“O evento promoveu uma competição de alto nível técnico, forte integração humana e utilizou excelentes recursos tecnológicos, reafirmando os valores fundamentais do karatê tradicional”, destacou Gaertner. “Esse mundial não apenas consolidou os avanços obtidos pela ITKF nos últimos anos, mas também deixou um legado duradouro para as futuras gerações de praticantes. O sucesso desta edição em Portugal é a prova de que, unidos pelo propósito comum de preservar e desenvolver o karatê ITKF, podemos continuar a elevar nossa modalidade a patamares cada vez mais altos.”
Trabalho e cooperação
Entre os principais trunfos do campeonato mundial de Vila do Conde destacaram-se a responsabilidade e o elevado critério dos árbitros, na opinião de Fernando Silva, chairman da ITKF Portugal.
“A qualidade da arbitragem foi notória, com juízes experientes garantindo que as regras fossem rigorosamente seguidas. Eles desempenharam um papel crucial na manutenção da integridade da competição, assegurando que todos os golpes e técnicas fossem julgados de maneira justa e equitativa. A atitude profissional dos árbitros proporcionou um ambiente em que os atletas puderam demonstrar seu potencial máximo, confiantes de que suas performances seriam avaliadas com eficácia.”
O evento, na visão do dirigente português, destacou-se pelo espírito de camaradagem e pelo nível das técnicas, mostrando a evolução da modalidade e o comprometimento de todos os envolvidos. “Os competidores compartilharam experiências e técnicas, enriquecendo a cultura do karatê. Essa interação demonstrou o respeito que os atletas têm uns pelos outros, independentemente das bandeiras que defendem.”
A organização do evento, acentuou, foi um exemplo de dedicação. “A equipe, composta por voluntários com padrão de profissionais experientes, fez um esforço colossal para garantir que cada detalhe fosse pensado, desde a preparação do local até a recepção dos atletas e suas delegações.”
O envolvimento da Câmara Municipal de Vila do Conde, na pessoa do seu presidente, Vitor Costa e o investimento em infraestrutura proporcionaram condições ideais para a realização do evento, na avaliação de Fernando Silva. “Essa colaboração entre o poder público e a organização foi essencial para que tudo ocorresse sem imprevistos, resultando em um acontecimento memorável para todos. Além disso, os patrocinadores desempenharam um papel crucial, contribuindo não apenas financeiramente, mas também com recursos que garantiram a realização de atividades paralelas e a promoção da cultura do karatê durante o campeonato.”
Para as equipes que representaram seus países, cada vitória foi um momento de orgulho, enquanto as derrotas foram vistas como oportunidades de aprendizado para o futuro, segundo o dirigente português. “O espírito esportivo imperou durante todo o evento, e os aplausos ressoaram tanto para os vencedores quanto para aqueles que se esforçaram, mas não alcançaram o pódio.”
E finalizou: “Como organizador, sinto-me profundamente satisfeito pelo sucesso do evento e pelo impacto positivo que ele teve na comunidade local e no cenário internacional do karatê. A colaboração entre todos os envolvidos foi inspiradora, e tenho certeza de que o legado deste 22º Campeonato do Mundo da ITKF Global, será lembrado por muito tempo.”
Eficiência e profissionalismo
Roman Pavlovic, chairman da ITKF Europa, destacou, além da qualidade dos atletas da ITKF, a capacidade da instituição de organizar eventos globais com eficiência e profissionalismo de alto nível. E uma das razões foi o emprego do sistema de gerenciamento da Rise, que se tornou parte integrante das operações da entidade em eventos globais e regionais.
“O Rise deu suporte a todas as etapas do campeonato, incluindo configuração das disputas, registro online de atletas, juízes, treinadores e oficiais, credenciamentos oficiais, sorteios e elaboração de chaves e cronograma das competições, criação de listas de largada e recursos específicos de disciplina exclusivos da ITKF”, detalhou o dirigente.
O sistema permitiu entrada instantânea de pontuação por meio de tablets, apresentação de informações para espectadores no local, forneceu recursos de revisão de vídeo, transmissão de vídeo ao vivo com informações integradas da competição para espectadores online, resultados online em tempo real e uma variedade de estatísticas, agilizando as cerimônias de entrega de medalhas e outras atividades do evento.
Pavlovic observou, porém, que embora o Rise seja uma ferramenta poderosa, ele requer uma equipe de operadores qualificados, voluntários locais treinados em cada área e juízes bem preparados. “No entanto, ele foi projetado para ser fácil de usar, permitindo que as equipes anfitriãs aprendessem rapidamente e gerenciassem efetivamente até mesmo eventos complexos.
Para uma organização da magnitude da ITKF Global, contar com uma estrutura operacional estável e previsível é fundamental, acrescentou o dirigente. “Aliada ao nosso Estatuto, às regras de competição e ao guia de qualificação técnica, que sustentam as bases tradicionais do karatê, a plataforma Rise tem um potencial significativo para se consolidar como alicerce dos eventos mais importantes da ITKF.”
Força de campeão
“Para chegar em primeiro lugar nesta edição do campeonato mundial a equipe egípcia enfrentou muitos desafios, desde a obtenção do visto de entrada até a reserva de hotéis e os custos financeiros”, afirmou Mohamed Fawzy, técnico da seleção da ITKF Egito. Ele ressaltou, porém, a forte cooperação do Comitê Organizador.
Para ele, o Campeonato Mundial de Karatê Tradicional da ITKF de 2024 em Portugal será lembrado por sua organização exemplar, pelo espírito de camaradagem e por sua contribuição para a promoção e preservação do karatê tradicional em todo o mundo. E destacou as excelentes instalações, a execução perfeita do cronograma da competição e a calorosa hospitalidade oferecida da nação anfitriã. “Os campeonatos deste ano não apenas elevaram os padrões da competição, mas também conseguiram reforçar o vínculo da comunidade global do karatê.”
Fawzy elogiou o trabalho do chairman Gilberto Gaertner e do presidente da federação portuguesa, Fernando Silva, que desempenharam um papel crucial na organização e logística local. “Seus esforços em promover um ambiente acolhedor para participantes internacionais e promover a cultura local contribuíram significativamente para o sucesso do evento”, assegurou.
O técnico egípcio ressaltou ainda a profundidade e a diversidade do karatê tradicional demonstrados no campeonato, no qual participantes demonstraram qualidade e espírito esportivo notáveis, “arrancando aplausos de um público entusiasmado”. Além das exibições espetaculares de kata e kumitê, o evento incluiu workshops e seminários conduzidos por mestres de karatê do Comitê Técnico da ITKF, oferecendo insights sobre a filosofia e as técnicas do karatê tradicional.
Princípios preservados
“O campeonato destacou os princípios duradouros do karatê tradicional, ou seja, disciplina, respeito e excelência técnica, com alto nível de desempenho em todas as categorias”, avaliou Suren Matevosian, diretor técnico da ITKF Ásia.
Como dirigente da ITKF Armênia, Matevosian mostrou-se orgulhoso de ter feito parte da competição, na qual atletas de seu país demonstraram mais do que técnica, e sim o espírito e a dedicação que definem o karatê tradicional armênio.
“Competindo nas divisões sênior, júnior e cadete, nossa equipe alcançou resultados fortes e ganhou experiência inestimável”, acrescentou Matevosian. “Este evento serviu como oportunidade importante para medir nosso progresso em relação aos melhores do mundo, aprender e promover conexões dentro da comunidade global de karatê.”
Muita adrenalina
“Pessoalmente, senti a adrenalina de muitas competições e posso dizer que senti aquele bem-estar que me levaria de volta aos tatamis”, comemorou Cornel Musat, técnico da equipe da ITKF da Romênia. “Foi uma edição fabulosa, na qual conseguimos ficar em 4º lugar, mesmo diante de um nível técnico e competitivo altíssimo.” Para ele, a competição mostrou o lado bom da equipe romena e o quanto ainda precisa trabalhar para chegar mais forte à próxima edição.
Musat contou que a delegação da Romênia era integrada por mais de 60 pessoas, entre atletas, treinadores, árbitros e oficiais. “Agradeço aos organizadores da competição, à federação portuguesa, pela organização exemplar em todos os seus aspectos, e à direção da ITKF Global, que conseguiu atrair um número impressionante de atletas”, concluiu.
Orgulho e sucesso
“O sucesso de nossos atletas nos deixou orgulhosos”, afirmou a polonesa Annia Kulczynska, representante da ITKF Polonia, que terminou em 3º lugar na contagem geral. “Sua determinação e trabalho duro resultaram em numerosas medalhas, refletindo o alto nível de treinamento. Estes campeonatos promovem o karatê tradicional e fortalecem os laços entre os países.”
A dirigente acredita que o Campeonato Mundial da ITKF em Vila do Conde inspirou todos os participantes e que as experiências adquiridas contribuirão para o desenvolvimento do karatê na Polônia. “Os competidores não apenas lutaram, mas também trocaram experiências, o que é incrivelmente valioso em nossa disciplina”, arrematou.
Maiores delegações
Com a participação de atletas de todos os continentes, o 22º Campeonato Mundial da ITKF contou com uma expressiva presença de delegações. A Romênia, maior equipe do evento, levou 58 atletas a Vila do Conde, seguida pelo Brasil, com 54 competidores, e pelos anfitriões portugueses, com 53 caratecas. O Egito e a Polônia completaram o grupo das cinco maiores delegações, inscrevendo 38 e 36 atletas, respectivamente. Esses números refletem o alcance global da competição e a relevância do karatê tradicional no cenário internacional.”
Classificação final
Confira abaixo os 10 primeiros colocados no quadro geral de medalhas da 22ª edição do Campeonato Mundial da Federação Internacional de Karatê Tradicional, realizado em Portugal.