CAS mantém pena por doping, e Rafaela Silva está irreversivelmente fora dos Jogos de Tóquio

Rafaela conquistou o ouro no Grand Prix de Budapeste 2019 © Emmanuele Di Feliciantonio/FIJ

Atleta, que tinha sido punida com dois anos de exclusão do esporte por conta de um resultado adverso de 2019, não consegue a redução na última instância

Jogos de Tóquio
23 de dezembro de 2020
Por Redação do GE
Curitiba – PR

Atual campeã olímpica da categoria peso leve do judô, Rafaela Silva está fora das Olimpíadas de Tóquio 2020, que foi adiada para o ano que vem por conta da pandemia do coronavírus. Pega no exame antidoping durante os Jogos Pan-Americanos de 2019, ela foi punida com dois anos exclusão do esporte e entrou com um recurso na Corte Arbitral do Esporte (CAS) para tentar a redução. No dia 10 de setembro, foi realizado o julgamento através de videoconferência e, nesta segunda, saiu o resultado: a judoca não poderá brigar pela manutenção do título nos Jogos Olímpicos. A CAS também decidiu retirar as medalhas conquistas no Mundial de 2019: bronze no individual e o bronze por equipes. Mas a Corte Arbitral do Esporte não aceitou o recurso da Federação Internacional de Judô (FIJ) para aumentar a pena de Rafaela Silva para quatro anos.

Rafaela ainda perdeu o ouro conquistado no Pan 2019 e o bronze conquistado no mundial do Japão 2019 © Pedro Ramos/Rededoesporte.gov.br

A audiência do julgamento do recurso de Rafaela Silva aconteceu no dia 10 de setembro deste ano, iniciando às 7h30 e seguindo até 16h (horários de Brasília). A judoca fez um curto depoimento somente. Participaram da audiência por videoconferência algumas testemunhas de defesa, além dos advogados Marcelo Franklin e Thomaz Paiva, do bioquímico Fernando Fonseca e do médico Ronaldo Abud.

O objetivo da defesa no julgamento foi comprovar a origem da substância (fenoterol) que entrou no corpo da judoca durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, buscando a redução da pena de acordo com o grau de negligência. Pelas regras do código antidoping, os atletas são responsáveis por tudo que ingerem e, mesmo que a ingestão não tenha sido proposital e/ou que não haja ganho técnico ou esportivo com a substância, há a punição por negligência. Com manutenção da pena, Rafaela Silva só poderá voltar a competir em novembro de 2021, dois anos depois de sua última competição, perdendo assim as Olimpíadas de Tóquio.

Relembre o caso

Rafaela Silva foi pega no exame antidoping durante os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em agosto de 2019. A PanAm Sports, que organiza essa competição, decidiu tirar a medalha de ouro da judoca, que foi conquistada na categoria leva (-57kg). No início de novembro de 2019, a carioca anunciou que entraria em uma suspensão voluntária, ou seja, antes do primeiro julgamento dela ser divulgado, parou de lutar oficialmente.

O exame acusou a presença de fenoterol, a mesma substância com a qual Etiene Medeiros foi flagrada, em junho de 2016. A nadadora acabou inocentada na ocasião. Esse ativo tem efeito broncodilatador e costuma ser usado em tratamento de doenças respiratórias, como a asma. A substância causa aumento de performance, uma vez que permite melhor troca gasosa entre o sangue e o pulmão.

Marcelo Franklin, advogado que liderou a defesa de Rafaela Silva © Gabriel Fricke

Na audiência por videoconferência em janeiro, a antiga defesa da atleta, feita pelo advogado Bichara Neto, se baseou na possibilidade de a contaminação ter acontecido a partir do contato com um bebê. Lara, de sete meses, é filha de outra judoca do Instituto Reação, Flávia Rodrigues, e faz uso de medicação contra asma. O contato com a criança teria acontecido em 4 de agosto, na véspera do embarque para Lima. Ali, Rafaela foi punida por dois anos, com a data de início da suspensão em novembro de 2019, ou seja, ficando sem lutar até novembro de 2021. Depois, ela decidiu trocar de defesa, apostando em Marcelo Franklin, advogado com vasta experiência na área e conhecido por vitórias em casos de outros atletas importantes, como o nadador Cesar Cielo. Ele entrou com o recurso em busca da redução de pena. Contudo, não teve sucesso.

A judoca soube do seu caso de doping no Mundial de Judô de Tóquio, no Japão, no fim de agosto. No mesmo dia, disputou o Campeonato Mundial, conquistou a medalha de bronze e fez um novo exame de doping, que deu negativo. Ou seja, ela não foi pega no doping durante o Mundial, disputado 20 dias após o Pan de Lima.

A carioca tem no currículo o título mundial de 2013 e a medalha de ouro na Olimpíada do Rio em 2016, além de outras três pratas e dois bronzes em Campeonatos Mundiais. Em 2019, foi campeã dos Jogos Pan-Americanos pela primeira vez – mas perdeu a medalha.