CBKT faz 21ª edição do Goshin-dô em março em Setiba, no Espírito Santo

Shihan Luiz Tasuke Watanabe (1947-2021) © Budopress

Confederação Brasileira de Karatê-Dô Tradicional organiza o evento em parceria com a ITKF Pan-americana e com chancela da ITKF Global

Por Paulo Pinto / FPJCOM
25 de fevereiro de 2023 / São Paulo (SP)

Avaliado como um encontro de referência do karatê tradicional, o Goshin-dô terá sua 21ª edição na praia de Setiba, em Guarapari (ES), de 10 a 12 de março. Serão três dias de atividades técnicas, teóricas e científicas, além de práticas de meditação. Também serão realizadas reuniões administrativas e técnicas da Confederação Brasileira de Karatê-Dô Tradicional (CBKT), complementadas por exame de graduação.

Hiroyasu Inok (1940-2017) © Budopress

As atividades começarão no dia 10 de março às 16 horas e se estenderão até o dia 12 às 12h15. Os instrutores que atuarão nas diversas atividades são integrantes da CBKT, da ITKF pan-americana e da ITKF global.

Yasutaka Tanaka (1936-2018) © Budopress

Idealizado pelo shihan Luiz Tasuke Watanabe (1947-2021), em parceria com o professor Gilberto Gaertner, o Goshin-dô, sempre buscou uma visão distanciada do campo competitivo. Começou oficialmente com esse formato e local em 2002. Desde o seu início contou com a presença de numerosos mestres proeminentes do karatê tradicional, como Yasutaka Tanaka, Hiroyasu Inoki, Takuo Arai, Ugo Arrigoni, Oswaldo Mendonça, Sérgio Bastos, Eckner Cardoso Sobrinho, Kazuo Nagamine, José Humberto de Souza, Antônio Walger, Alfredo Ayres e Vladimir Zanca, entre muitos outros.

Eckner de Cardoso Pereira Sobrinho, diretor técnico da CBKT © Budopress

A ideia inicial do Goshin-dô veio das viagens do mestre Watanabe à Itália e do seu trabalho com o mestre Hiroshi Shirai. Foi imaginado como um evento, adaptado à cultura brasileira, no qual se praticaria o karatê tradicional com foco na sua aplicação na vida cotidiana e na defesa pessoal, que contribuísse para melhorar a qualidade de vida e que propiciasse um intercâmbio entre os praticantes. Nesse sentido, optou-se por um formato em que não se usaria o karatê-gi formal, oferecendo aulas práticas e teóricas, abordando temas ligados à saúde, além de meditação e um encontro científico, sempre em contato direto com a natureza,

Shihans Tasuke Watanabe e Gilberto Gaertner no Goshin-dô de 2014 © Budopress

Eckner de Cardoso Pereira Sobrinho, da Bahia, diretor técnico da CBKT, entende que cabe a todos os karatecas manter o legado deixado pelo shihan Tasuke Watanabe, levando adiante esse valioso encontro.

“Defino o Goshin-dô um importante evento voltado para praticantes de karatê tradicional do Brasil e de outros países, visando ao aprendizado, ao estudo, à pesquisa e à discussão de aspectos técnicos, filosóficos e científicos do karatê-dô tradicional. Tasuke Watanabe foi chamado para o mundo espiritual, cabe-nos agora manter o legado dele e levarmos adiante esse valioso encontro.”

Treinamento intenso no Wata dojô instalado na Mata Atlântica © Budopress

Despojamento total

Para Iko Trindade, do Ceará, vice-presidente e diretor científico da CBKT, membro da comissão sócioeducativa da ITKF, o Goshin-dô é um importante legado do karatê-dô tradicional do Brasil.

“Goshin-dô significa autoaprimoramento, o seu momento, o seu caminho. Com essa intenção o mestre Watanabe, o último samurai do Brasil, pensou nesse formato para o seu encontro anual.”

Professores Sérgio Bastos, Gilberto Gaertner, Tasuke Watanabe e Yasutaka Tanaka conversam no Goshin-dô de 2009 © ITKF

O professor Iko Trindade explica que durante o dia há uma interação integral e constante entre os diversos karatecas. Um detalhe: ninguém usa karate-gi nem obis nesse encontro. Isto deixa todos exatamente iguais hierarquicamente. No Wata dojô ninguém é mais nem menos graduado. “Reputo este encontro Goshin-dô, como um dos mais importantes momentos para reflexão sobre a prática do karatê-dô tradicional no Brasil.”

Professor Iko Trindade, vice-presidente e diretor científico da CBKT, membro da comissão sócioeducativa da ITKF © Arquivo

Sensei Eduardo Santos, do Rio de Janeiro, diretor técnico do Instituto Goshin-dô, explica que o termo Goshin-dô significa caminho do autoaprimoramento, visando à saúde e ao bem-estar do indivíduo por meio da prática do karatê-dô aplicado.

“O ser humano busca desesperadamente pelo seu eu comum, mas essa não é uma tarefa fácil”, esclarece sensei Eduardo. ​“Somos únicos, porém semelhantes. O complexo mundo humano não nos permite julgar nosso semelhante, entender o próximo com seus defeitos e virtudes e o melhor a ser feito é conviver e sermos amigos, mas é uma questão de escolha.​​”

Treinamento intenso no Wata dojô instalado na Mata Atlântica © Budopress

Já na avaliação de Ulysses Damasceno Ferreira, do Distrito Federal, aluno do sensei Watanabe e anfitrião do Goshin-dô, o evento foi criado com o intuito de aprimorar o desenvolvimento das técnicas do karatê-dô como arte marcial, promovendo o aperfeiçoamento do indivíduo de forma ampla. “Segundo o mestre Tasuke, Goshin-dô significa aquilo que é útil para a vida. Eu entendo o evento como uma pequena parte daquilo que nos foi legado por ele.”

Foto montagem da Artefinal com imagens da Budopress © Budopress

Gilberto Gaertner entende que o encontro de Setiba, ao longo do tempo, se tornou o grande evento anual do karatê tradicional realizado no Brasil. “Um local de treinamento, discussões e de muito intercambio, em contato direto com natureza e num clima de informalidade”, descreve o chairman da ITKF. “O encontro sempre teve a marca do mestre Watanabe, sua criatividade, irreverência e carisma. No início os mestres Tanaka e Inoki tiveram uma certa resistência, mas em pouco tempo Setiba passou a ser um local no qual eles estavam totalmente à vontade e passaram a gostar demais de estar lá.”

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Gaertner conta que foi em 2001 que o mestre Watanabe trouxe a ideia inicial do Goshin-dô, um evento realizado pelo mestre Shirai na Itália. “Naquela época eu era diretor técnico da CBKT e o mestre Watanabe era o técnico da seleção. Discutimos longamente como formatar um evento com um eixo comum com o da Itália, mas adequado às características do karatê tradicional brasileiro e à nossa cultura. Instituímos o primeiro evento em 2002 e só tenho boas recordações de tudo que vivemos, treinamos e aprendemos juntos ao logo desses 21 anos.”

Treinamento intenso no Wata dojô instalado na Mata Atlântica © Budopress

Gaertner ressalta que, ao longo da doença, mestre Watanabe só se manteve vivo por mais tempo devido à dedicação sem limites do sensei Carlos Matos, do Espírito Santo, e de sua família. “Já mais para o final da vida, a assistência do sensei Guaraci Tanaka, do Rio de Janeiro, foi de grande valia. Outra pessoa importante na história do Goshin-dô é o sensei Ulysses Damasceno Ferreira, que comprou a casa onde o mestre Watanabe residia. Essa ação propiciou a manutenção do evento em Setiba até hoje.”

Professor Eduardo Santos, diretor técnico do Instituto Goshin-dô © Arquivo

Após o falecimento dos mestres Inoki, Tanaka e Watanabe, houve dois eventos em homenagem aos mestres japoneses. “No primeiro, imerso em muita emoção, lançamos as cinzas do shihan Tasuke Watanabe ao mar de Setiba. Repetimos o evento em 2022 e para manter viva a tradição e o legado dos nossos mestres vamos manter o evento vivo em 2023.”

Professores Watanabe, Bastos e Gaertner executam o kata Jitte © ITKF

Um lugar muito especial

O professor Iko Trindade destaca que o evento em Setiba foi inspirado no trabalho de sensei Hiroshi Shirai, que atua na Itália, e de orientações do sensei Gilberto Gaertner, atual chairman da ITKF. Sensei Watanabe integrou a geração de ouro do karatê brasileiro. Foi o primeiro campeão mundial (Paris 1972) com 26 anos, conseguindo aplicar oito ippons na competição e colocando seu nome no Guiness Books of Records. Devido a sua façanha e perspicácia técnica, quando o karatê mundial ainda estava unificado, atuou como head coach da seleção brasileira tradicional.

Shihan Tasuke Watanabe na entrada do Wata dojô © ITKF

Mudou-se de para Setiba, litoral do Espírito Santo, em 1996, após passar por Rio Grande do Sul, Goiás, Distrito Federal e Bahia. Naquela ocasião nasceu o Goshin-dô para reunir karatecas do Brasil e da América do Sul, recebendo ajuda de valiosos colaboradores para o seu ambicioso projeto.

Ulysses Damasceno Ferreira, do Distrito Federal, aluno do sensei Watanabe e anfitrião do Goshin-dô © ITKF

O próprio Watanabe shihan construiu o dojô em sua residência. Lá são desenvolvidos os treinamentos durante o dia. Logo próximo fica o Wata dojô, uma área na floresta litorânea escolhida por Watanabe para treinamentos em contato puro com a natureza, com os pés no chão, absorvendo a energia do solo e da mata. “Com certeza é um momento único e inesquecível, que nos remete aos treinamentos realizados antigamente nas matas de Okinawa, quando ainda era a prática proibida”, lembra Trindade. “Já tivemos ao mesmo tempo no Wata dojô os shihans Yasutaka Tanaka, Hiroyasu Inok e Tasuke Watanabe, além dos mestres da CBKT; momento inesquecível para guardar sempre na memória.”

Ao lado dos shihans Tasuke Watanabe e Ugo Arrigoni, Gilberto Gaertner faz o encerramento do Goshin-dô de 2014 © Budopress

Com vasta experiência de vida, Watanabe praticava a pesca no pequeno povoado de Setiba da mesma forma como povo de Okinawa, formulando conceitos, vivendo como monge, mas interagindo intensamente com o karatê-dô tradicional do mundo inteiro. Ministrava cursos, realizava clínicas e exames de faixas, ensinando e aprendendo, trabalhando para a união de todos no Brasil e em outros países, quando a tendência era cada vez mais dividir para controlar.

Professores Vladimir Leonardo Zanca e Eckner de Cardoso Pereira Sobrinho no Goshin-dô de 2014 © Budopress

“Mas falar do Goshin-dô para quem participou de muitas versões, é lembrar e sentir toda aquela emoção”, diz Iko Trindade. “Logo cedo ao nascer do sol nos encontramos na praia com uma atividade orientada de meditação pelo mestre Gilberto Gaertner, que também é doutor em psicologia. Naquele momento escutamos o mar e sentimos seu vento em nossas almas. Se você ainda não esteve lá, recomendo. Viva a experiência do Goshin-dô, no seu tempo, no seu momento.”

Professores Kazuo Nagamine, Tasuke Watanabe, Eckner de Cardoso, Gilberto Gaertner, Sérgio Bastos e Antônio Walger no Goshin-dô de 2012 © ITKF

SERVIÇO

Inscrições
Preencher e enviar o formulário de inscrição clicando AQUI

Efetuar Pix no celular (61) 99592-6190 em favor de Ulysses Damasceno Ferreira – Banco BRB.
Favor enviar comprovante pelo WhatsApp (61) 99592-6190.

Valores até 28 de fevereiro
Pacote 1: R$ 580,00 (curso + hospedagem + alimentação completa com jantar no dia 10, café, almoço e jantar do dia 11, café e almoço do dia 12.)
Pacote 2: R$ 470,00 reais (curso + alimentação completa com jantar do dia 10, café, almoço e jantar do dia 11, café e almoço do dia 12.)

Foto emblemática dos professores Tasuke Watanabe e Gilberto Gaertner © Budopress

Programação

6ª feira – 10 de março
14h – 15h30 Credenciamento / 15h – 16h Reunião Shihan-Kai / 16h – 16h15 Abertura /
16h15 – 17h Aula 1 / 17h15 – 18h aula 2 / 18h15 – 19h30h Reunião CBKT 1 / 19h Jantar
Sábado – 11 de março
6h30 – 7h15 Meditação / 7h30 – 8h45 Café / 9h – 9h45 Aula 3 / 10h – 10h45 Aula 4 /
11h – 11h45 Reunião Shihan Kai 2 / 12h Almoço /
14h – 15h Reunião CBKT 2 / 15h – 15h45 Exame de Graduação / 16h – 16h45 Aula 5 / 17h – 17h45 Aula 6 / 18h – 19h30 Encontro Científico / 19h30 Jantar / 20h30 – 21h30 Reunião CBKT 3
Domingo – 12 de março
6h30 – 7h15 Meditação / 7h30 – 8h45 Café / 9h – 9h45 Aula 7 / 10h – 10h45 Aula 8
11h-11h30 Encerramento / 11h30 – 12h15 Reunião CBKT- PTKF – ITKF / 12h almoço

Professores no Goshin-dô de 2016 © Budopress

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