Chairman da ITKF fala sobre a importância da renovação na gestão e da alternância de poder

Gilberto Gaertner, chairman da ITKF e Jean Laure, presidente da FKTPr © Global Sports

É premente que as pessoas entendam que as novas gerações têm visão própria de gestão ou administração e precisam ser respeitadas. “Nós não ficaremos aqui para sempre.”

Por Paulo Pinto / Global Sports
11 de agosto de 2023 / São Paulo (SP)

Como jornalista esportivo há quatro décadas, a maior parte desse tempo no cenário das lutas, por diversas vezes acompanhei a trajetória de dirigentes de entidades que, após se manterem no poder às vezes por mais de meio século, morreram e deixaram um ambiente de disputa e desordem pelo simples fato de não terem tido a dignidade de pensar na instituição sem a presença deles. Resultado: dilaceração total ou parcial da instituição, dissidência geral e a criação de diferentes formas de administração de algo que antes era único.

Atletas da seleção paranaense ouvem a mensagem do chairman da ITKF no treinamento realizado em abril © Global Sports

Isso ocorreu, repetiu-se numerosas vezes e acontece até hoje com vários mestres de karatê e dirigentes de inúmeras modalidades esportivas. Por questão ética e respeito aos seus seguidores, preferimos não citar nomes.

Professores e técnicos da seleção paranaense ouvem o chairman da ITKF no treinamento realizado em julho © Global Sports

Existe, porém, uma nova geração de gestores que, devido à formação mais acadêmica e a uma visão mais democrática e até mesmo holística dos cargos que ocupam, veem a gestão como algo transitivo, efêmero ou até mesmo contigencial.

Três gerações de gestores, Jean Laure, presidente da FKTPr; Gilberto Gaertner, chairman da ITKF; e Ricardo Buzzi, diretor técnico da FKTPr © Global Sports

Um grande exemplo dessa transitoriedade é o professor doutor Gilberto Gaertner, que, após passar pelas presidências da Federação de Karatê Tradicional do Paraná (FKTPr) e da Confederação Brasileira de Karatê-Dô Tradicional, ocupa hoje a liderança mundial da modalidade, mas jamais deixou de se preocupar com aqueles que vieram depois ou deixou de fomentar o surgimento de novas lideranças.

Antônio Carlos Walger, ex-presidente da FKTPr e atual presidente da Confederação Pan-Americana de Karatê Tradicional © Global Sports

Transcendendo sempre seus atributos, o atual chairman da International Traditional Karate Federation – professor universitário e psicólogo –, jamais tirou um dos pés da sua base, ou seja, do karatê desenvolvido em seu dojô, em seu Estado que é o Paraná e do seu País. Lançando sempre um olhar cósmico rumo ao futuro e ao macro, fator que lhe permite hoje reformular totalmente o legado do shihan juu-dan (10º dan) Hidetaka Nishiyama, aluno direto de Gichin Funakoshi, mestre pioneiro do karatê moderno e fundador da escola Shotokan.

O trabalhamo realizado pelo dirigente da ITKF com a seleção paranaense em abril foi baseado no embusen dos katas da série Taiyokan © Global Sports

Em recente entrevista num dos eventos promovidos pela atual gestão que o sucede à frente da Federação Paranaense de Karatê-Dô Tradicional, Gilberto Gaertner foi absolutamente claro e enfático.

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“Tem sido uma grata surpresa a desenvoltura da atual diretoria da FKTPr. O presidente Jean Laure Edoardo de Oliveira e sua equipe realizam excelente gestão. Avalio que estão fazendo um trabalho muito interessante no fomento democrático da nossa modalidade. Circulam bastante pelo Paraná e atendem muito bem o interior do Estado, realizando vários cursos descentralizados, e não mais restritos aos dojôs da Grande Curitiba .”

Gilberto Gaertner sempre anfatica a necessidade de fazer a melhor transmissão de conhecimento possível para as novas gerações © Global Sports

Lembrando que participa muito pouco dos eventos da FKTPr em função da sua agenda bastante complexa, o dirigente da ITKF reiterou a admiração pelo trabalho realizado pela nova geração.

Em pé a esquerda, shihan Hidetaka Nishiyama, fundador da ITKF, com membros do shihan-kai do Brasil em 1994. Shihans Yasutaka Tanaka, Gilberto Gaertner, Hirokasu Inoki e Yasuyuki Sasaki © Global Sports

“Esta é a segunda atividade de que participo neste ano na federação, mas confesso que fiquei muito satisfeito ao constatar a qualidade do trabalho realizado no karatê tradicional do Paraná. A minha avaliação dessa nova geração é muito positiva porque tem sido uma administração muito dinâmica, com reiterados treinamentos específicos para a seleção, além de cursos para filiados, árbitros e técnicos. Forma-se assim o tripé técnico da modalidade, que é a base de desenvolvimento de uma federação esportiva.”

Parte dos professores e faixas-pretas no treino realizado em julho © Global Sports

Renovação

O ex-presidente da FKTPr afirmou estar especialmente satisfeito por constatar a renovação na gestão. “Trata-se de um  grupo de professores muito mais jovens, algo muito especial porque estamos falando de continuidade e do futuro da entidade e da modalidade. Já fui presidente e estou aqui prestigiando e dando a minha pequena colaboração, assim como o sensei Antônio Carlos Walger, também ex-presidente. Os outros ex-presidentes, senseis Guilherme Carolo e Nélson Santi, infelizmente não puderam estar conosco nesta oportunidade. O professor Jean Laure é muito mais jovem, contudo, está fazendo boa gestão com a participação e o apoio dos principais professores do Paraná da atualidade. Aos poucos impõe seu estilo e sua marca, e esse é o fator mais importante. É justamente a soma das peculiaridades de cada gestor que promove a tão necessária renovação”, explicou Gaertner.

Ricardo Buzzi, Lucas Vinicius de Oliveira e Gilberto Gaertner, três gerações de karatecas © Global Sports

O líder mundial da ITKF Global lembrou das perdas históricas que atropelaram e até inviabilizaram a sustentabilidade das maiores instituições do karatê mundial.

Atletas da seleção paranaense, professores e dirigentes no treinamento realizado em julho © Global Sports

“A história nos mostra que a perpetuação no poder gera vícios, fomenta egos e afasta as entidades dos seus reais objetivos e princípios éticos. Acho que isso é um ponto, além de importantíssimo, inegociável, porque no passado o continuísmo foi uma das maiores dificuldades que nós tivemos em todas as organizações. Para não dizer a maior tragédia.”

“Premente é ver as novas gerações assumirem a responsabilidade de fazer o melhor possível para que a tradição continue, mas com maior equidade, isonomia e probidade.”   

“É preciso que as pessoas entendam que as novas gerações de gestores possuem visão própria de administração e precisam ser respeitadas. As pessoas têm de entender que nós não ficaremos aqui para sempre. Sei que há pessoas insatisfeitas, como em qualquer outra instituição, mas é importante aceitar que temos um processo democrático em curso e que esta foi sempre a tônica no Paraná. Sempre houve alternância na gestão da FKTPr, desde a época do professor Júlio Takuo Arai. Além de necessária, a alternância é extremamente saudável.”

Professores, dirigentes e atletas que atuaram no treinamento da seleção e do curso de arbitragem realizado em São José dos Pinhais em abril © Global Sports

O dirigente enfatizou que felizmente hoje há gestões mais novas em outros Estados. “Isso não acontece somente no Paraná. Recentemente fiquei muito satisfeito por ver o professor Tiago Silva Santana na presidência da entidade na Bahia; ele é mais ou menos da mesma geração do Ricardo Buzzi, diretor técnico da FKTPr. São pessoas mais jovens que dão continuidade a um trabalho iniciado há muito tempo, muitas vezes por pessoas que já nos deixaram. Então, eu só vejo esta renovação da melhor forma possível. Esta alternância na gestão é importante, mas premente mesmo é ver as novas gerações assumirem a responsabilidade de fazer o melhor possível para que a tradição continue, mas com maior equidade, isonomia e probidade.”

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