22 de dezembro de 2024
Com a morte de Alfredo Mendes Coimbra, o Pará perde seu mais proeminente judoca
Aluno de Sebastião Hoyos, discípulo direto de Mitsuyo Maeda, o lendário Conde Koma, Alfredo Coimbra, falecido no último domingo, era o judoca mais antigo e uma das principais referências da modalidade no Estado do Pará.
A morte de Alfredo Mendes Coimbra deixou o judô brasileiro de luto. Nascido em 12 de outubro de 1934, aos 83 anos, sensei Coimbra era o símbolo da resistência e da perseverança de todos aqueles que viveram os tempos difíceis de um judô forjado na abnegação e pobreza daqueles que pretendiam viver da Arte do Caminho Suave, em sua essência.
Discípulo direto de Otávio Mitsuyo Maeda, o Conde Koma, segundo judoca a chegar ao Brasil em 14 de novembro de 1914, em Porto Alegre (RS), o professor kodansha Alfredo Mendes Coimbra era representante legítimo do judô Kodokan no Pará e, com sua morte, deixa uma legião de seguidores no esporte
Aos 20 anos, Alfredo Coimbra deu os primeiros passos nos tatamis no icônico dojô fundado em 1921 por Mitsuyo Maeda em Belém, o Conde Koma Judô Club, onde aprendeu a Arte do Caminho Suave com os senseis Hoyos e Nakasam, logo tornando-se um dos melhores alunos e um competidor renomado em toda a Região Norte do Brasil.
Mestre Coimbra, como era chamado, competiu durantes os anos 50 e 60 contra os melhores lutadores da época, representando o Instituo Kodokan no Pará, por meio da Escola Conde Koma Judô Club.
Pesquisadores afirmam que mestre Coimbra foi responsável pela formação de 80 a 90% de todos os faixas pretas do Estado do Pará, já que disseminou e ministrou judô até o fim de 2012.
Muito focado em ne-waza (técnicas de chão), com um treinamento diferenciado das demais escolas de judô, o mestre paraense seguia à risca os ensinamentos técnicos e filosóficos do Instituto Kodokan de Tóquio.
Segundo os registros da Confederação Brasileira de Judô, em 12 de dezembro de 1980 lhe foi outorgado o título de professor kodansha 6º dan.
Apesar de já não dar aulas há alguns anos, devido aos inúmeros problemas de saúde, Alfredo Coimbra era considerado uma lenda viva das artes marciais e repassou seu legado ao filho Raimundo Coimbra, o Branco, que dirige sua escola e faz a transmissão de todo conhecimento herdado do pai.
Tempos difíceis, de homens guerreiros e determinados
Só quem viveu aqueles tempos sabe o quanto era difícil ser judoca e dedicar a vida aos ensinamentos deixados por Jigoro Kano.
Mas sensei Coimbra deixa uma lição de vida aos novos praticantes de judô, karatê e demais modalidades de luta, vencendo com humildade e simplicidade as dificuldades do dia a dia, agregando à sua volta uma quantidade enorme de praticantes e atletas de todas as camadas sociais. Com extrema capacidade, autoridade e disciplina, unia seus alunos, fazia-se respeitar e se respeitarem mutuamente sem distinção de classes sociais.
No dia 6 de agosto, o professor Alfredo Coimbra faleceu no Hospital Lair Maia, deixando a esposa Ester de Mendonça Coimbra, com quem teve seis filhos: Alfredo Mendonça Coimbra, Alberto Mendonça Coimbra, Rosa Maria Mendonça Coimbra, Carlos Raimundo Mendonça Coimbra, Raimundo Carlos Mendonça Coimbra e Edson Mendonça Coimbra.
Assim com uma vida dedicada aos esportes de combate, mestre Coimbra deixa um legado fundamentado na humildade, determinação, respeito e amor ao próximo.
Luto oficial
Lamentando o passamento da maior reserva moral do judô do Pará, Alcindo Campos, presidente da Federação Paraense de Judô, decreta luto oficial.
“A diretoria da FPAJU manifesta condolências e se solidariza com dirigentes, professores, atletas e amantes do judô que conviviam com mestre Coimbra, a maior autoridade do judô do Estado do Pará”, disse o dirigente paraense ao decretar luto oficial. “Decreto luto oficial de três dias e solicito a todos judocas que usem judogi branco no sepultamento do mestre Alfredo Mendes Coimbra”.
Presidente da FEPAJU entre 1989 e 2001, o professor kodansha Antônio Gomes, o Loro, destacou o bom-caratismo do querido professor e amigo.
“Há aproximadamente 57 anos, eu começava a trilhar na luta livre com o nosso queridíssimo Alfredo Coimbra, e mais do que ninguém, posso falar sobre as dificuldades que enfrentou para realizar seu sonho. A maioria dos que treinavam mal tinha condição de pagar o transporte para chegar ao treino que acontecia na sede do Corpo de Bombeiros. No dia em que o sensei Coimbra conseguiu comprar uma lona nova para cobrir o dojô, aconteceu uma grande festa. Pessoa de origem humilde, Alfredo Coimbra possuía excelente caráter e, após absorver a essência filosófica da arte, passou a disseminá-la com extrema determinação, benevolência e afinco. Que Deus o receba de braços abertos e conforte sua família”, ensejou Loro.