Com a morte de Hiroyasu Inoki o karatê-dô tradicional mundial perde parte de sua alma

Budoka na acepção da palavra, Hiroyasu Inoki era um homem ponderado e extremamente gentil. A morte prematura de um dos mais conceituados mestres do karatê-dô contemporâneo interrompeu abruptamente o processo de transmissão de uma das maiores fontes de con

Nascido em Yokohama (Japão) em 18 de setembro de 1940, Hiroyasu Inoki viveu em seu país até completar o ensino médio e em 1956 migrou para o Brasil. Aos 76 anos e após 64 anos de prática, sensei Inoki dizia que um de seus principais objetivos era treinar karatê para fortalecer o corpo e o espírito. Pregava que somente com o treino regular e constante é que se poderia conhecer o verdadeiro karatê-dô.

Exercendo funções relevantes no Brasil e no mundo, o professor shihan 9º dan recebeu o conhecimento diretamente do mestreHidetaka Nishiyama, fundador da International Traditional Karate Federation (ITKF), e atualmente era o responsável pela evolução e o aprimoramento das técnicas do karatê-dô tradicional em nível global.

Contemporâneo dos mestres japoneses que introduziram a modalidade no Brasil, sensei Inoki veio para nosso País na década de 1950, e com ele vieram outras lendas da arte das mãos vazias, nomes como o renomado mestre Juichi Sagara, que era seu irmão, mas radicou-se em São Paulo. Assim como ele, Yasutaka Tanaka e Sadamu Uriu radicaram-se no Rio de Janeiro, enquanto Tetsuma Higashino instalou-se em Brasília.

O legado de Hiroyasu Inoki

Na avaliação de Gilberto Gaertner, presidente da Confederação Brasileira de Karatê-dô Tradicional, sensei Inoki foi um dos melhores professores da modalidade. “Mestre Inoki foi um dos ícones do karatê tradicional mundial. Recebeu os ensinamentos diretamente do mestre Nishiyama e conseguiu incorporá-los com excelência. Foi uma pessoa gentil e equilibrada e um dos melhores professores que conheci”, lembrou o dirigente.

Na avalição de Gaertner, Inoki personificou a essência do budô. “Tive o privilégio de aprender muito com ele, tanto a parte técnica quanto uma primorosa visão da essência do budô. Só tenho a agradecer o excelente trabalho que ele desenvolveu à frente da comissão técnica e do shihan kay da CBKT. Também sou grato pela amizade, lealdade e dedicação do mestre Inoki”, disse.

O presidente da CBKT finalizou conclamando os karatecas a seguirem o exemplo deixado pelo mestre. “Neste momento de profundo pesar peço a todos os seguidores do karatê tradicional que tenham o shihan Inoki como exemplo, e que com o nosso trabalho possamos honrar sua memória. Aos familiares, alunos e amigos do grande mestre, nossos sinceros sentimentos.”

Para Eduardo Santos, ex-presidente da Federação do Estado do Rio de Janeiro de Karatê Tradicional, sensei Inoki era um ser humano exemplar. “Uma pessoa introspectiva, com conceitos complexos sobre a sociedade e a formação de caráter, deixa uma verdadeira legião de alunos que, encantados com este transbordar de filosofia, o seguem há muitos anos. Gente que estava com ele desde os anos 1960.”

Segundo o dirigente fluminense, a grandiosidade de sensei Inoki não residia apenas em conceitos filosóficos. “Avalio que Inoki foi o técnico mais renomado do karatê tradicional. Ele mesmo dizia que nos anos 70 o Rio de Janeiro possuía quatro ou cinco seleções aptas para serem campeãs brasileiras, tamanho era o poderio do nosso Estado naquela época.”

Eduardo finalizou destacando o comprometimento do shihan 9º dan. “Depois da fase áurea do karatê em nosso Estado, sensei Inoki se fechou mais em sua academia e passou a dedicar-se mais aos seus alunos, desempenhando um papel de menor protagonismo no ambiente competitivo estadual e nacional. Ele era uma pessoa amável e muito querida, mas era extremamente posicionado. Se notasse algum aluno com má conduta, dizia claramente que era melhor procurar outro dojô. Inoki sensei deixa um legado de dedicação e abnegação, e será sempre exemplo de conduta e atitude, para os amantes do budô.”

Outro professor que é referência no karatê-dô tradicional é José Humberto de Souza, diretor da Academia Shotokan de Cuiabá, para quem o sensei Inoki deixa exemplo de humildade e grandeza. “O karatê-dô tradicional brasileiro está triste e de luto. Dividimos com nossos irmãos karatecas do Rio de Janeiro a dor pela perda do sensei Hiroyasu Inoki, um dos mais proeminentes professores de karatê do Brasil. Ele era um homem que se destacava pela educação refinada, simpatia, humildade e o respeito excessivo para com todos. Sem dúvida alguma deixará muita saudade em todos os praticantes que tiveram o imenso prazer de conhecê-lo.”

Em entrevista concedida à revista Budô, sensei Inoki falou sobre legado, felicidade e relações pessoais. “Já perguntaram sobre legado e eu sempre respondo que não deixarei legado, já que tudo que eu deixar vem do karatê criado pelo sensei Nishiyama, e é exatamente isso que deixarei, a confirmação da qualidade da pesquisa e do trabalho desenvolvido pelo mestre Hidetaka Nishiyama. Mesmo porque edifiquei minha vida sobre a estrutura do karatê-dô tradicional e sou um homem muito feliz. Tenho uma família maravilhosa e muitos amigos conquistados por meio do karatê-dô.” Sensei Inoki deixa a esposa Rosa Mioko, a filha Sônia Rie Inoki, os netos Mari e Yuji, além de milhares de amigos.