Como administrar uma federação sem controle financeiro e informação aos filiados?

Alcindo Rabelo Campos, presidente da FPAJU © Budopress

Professores ligados à Federação Paraense de Judô (FPAJU) denunciam transferências indevidas de associados e manipulação do processo eletivo, além de irregularidades fiscais

Gestão Esportiva
26 de abril de 2021
Por PAULO PINTO
São Paulo (SP)

Na fatídica assembleia de prestação de contas da Federação Paraense de Judô (FPAJU) realizada no dia 17 de abril, na qual foram relatados abusos contábeis, também se identificaram fatos enigmáticos que sugerem descontrole das contas.

Em primeiro lugar, nenhuma documentação foi apresentada aos filiados durante a assembleia, como comprovantes de despesas e notas fiscais, contrariando as disposições do estatuto da entidade. O atual presidente limitou-se a ler um lindo e impecável resumo de sua gestão, sem erros contábeis, segundo alguns contadores, para os quais tudo estava absolutamente correto quanto ao fechamento das contas.

Os participantes da assembleia, em dado momento, foram informados de um débito com a Universidade Estadual do Pará, no valor de R$ 6.290,00, que se arrasta desde 2016 – ainda na gestão anterior – referente ao aluguel do ginásio para a realização do campeonato regional. A administração atual assumiu as contas e os débitos da diretoria antecessora, evidenciando acordo no período eleitoral. Resumo na íntegra aqui.

Mas, para ajudar a entidade, o professor Fernando Pereira de Jesus informou que a dívida já estava praticamente quitada em razão de um valor pago para a realização do campeonato brasileiro que não houve. A administração da universidade abateu esse valor da dívida, após numerosas tentativas de acordo fracassadas, tudo informado à gestão da FPAJU, como se vê na imagem acima.

Desse fato pode-se concluir que os dirigentes não conhecem as contas apresentadas e ainda mantêm mistério sobre o uso dos recursos advindos das suadas mensalidades pagas pelas agremiações filiadas em tempos de pandemia.

Desmandos notificados

Ainda nesta assembleia, os filiados da FPAJU foram notificados de uma série de pagamentos sem a devida licitação e sem comprovação. Por exemplo: pagamento de estacionamento anual, embora a federação não possua veículo; gastos elevadíssimos com combustível, num ano em que todos trabalharam no sistema home office; os gastos com arbitragem, mesários, equipe de pesagem e comissão de graus atingiram o mesmo valor dos anos com atividades normais.

Constam também quantias exorbitantes destinadas a competições que não ocorreram devido à pandemia, além de gastos expressivos em publicidade e inscrição em eventos da CBJ que não se realizaram. Para completar, estão contabilizadas despesas excessivas em TI, segurança, material de escritório, limpeza e internet, num ano em que as instalações físicas permaneceram praticamente fechadas.

Independentemente de as contas serem autênticas ou não, a verdade é que não há nenhum contrato de prestação de serviços, recibos e comprovantes de pagamento e notas fiscais. Nada foi apresentado, nem mesmo um balanço formal. Leu-se apenas um simples relatório e, quando Alcindo Rabelo Campos, o Lindão, foi instado a apresentar os documentos, ele respondeu que todos comprovantes estariam à disposição na sede da FPAJU. Já na sede da federação, os professores ouviram do dirigente paraense que se trata de documentação sigilosa, que não seria apresentada para os filiados e muito menos para os membros das demais chapas concorrentes à eleição.

Transferência indevida e sem a devida autorização de filiados

Como se não bastassem as artimanhas já reveladas, descobriu-se que Carlos Renato Nascimento das Neves, presidente da comissão eleitoral, aparece na plataforma Zempo como filiado à Associação Campos de Judô, quando na verdade integra a ADESEF. O professor kodansha hachi-dan (8º dan) Fernando Pereira de Jesus, responsável pela agremiação, disse desconhecer o procedimento.

“Jamais firmei documento algum referente à citada transferência para a associação Campos”, afirmou o kodansha, que disse ter certeza absoluta de que Luiz Haroldo de Melo e Silva, presidente da ADESEF, também não o fez. Ao que tudo indica esta foi mais canetada mágica e abusiva do tresloucado Lindão.