Confirmado: Paulo Wanderley faz movimentações para reassumir a Confederação Brasileira de Judô

Paulo Wanderley é professor kodansha hachi-dan (8º dan) © Global Sports

A Budô apurou que o atual presidente do Comitê Olímpico do Brasil tenta negociar com representantes da oposição para ser eleito por aclamação, evitando exposição e desgaste político.

Por Paulo Pinto / Global Sports
22 de dezembro de 2024 / Curitiba, PR

A notícia de que Paulo Wanderley, atual presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), negocia com líderes da oposição para retornar ao comando da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) não é apenas preocupante — é um sinal de alerta máximo para toda a comunidade do judô brasileiro. Esse movimento, que visa a uma eleição por aclamação, representa uma ameaça direta ao progresso e à renovação que a modalidade tanto necessita.

Durante sua gestão no COB, Paulo Wanderley acumulou críticas e polêmicas que expuseram desmandos e abusos. Entre as práticas mais questionáveis estão a centralização de poder, a exclusão de opositores do comando de confederações e do diálogo, além de decisões que privilegiaram grupos específicos em detrimento do interesse coletivo do esporte olímpico brasileiro. Houve também severas críticas à falta de transparência e ética administrativa, com medidas que enfraqueceram o legado olímpico e geraram descrença por parte de atletas, técnicos, gestores esportivos e investidores.

Seu retorno ao comando da CBJ traria consigo essa mesma bagagem de práticas ultrapassadas e obscuras, ameaçando o equilíbrio e o avanço que a modalidade tem conquistado. O judô brasileiro, reconhecido por seu papel na formação de valores como disciplina, ética e respeito, não pode retroceder à gestão de alguém que representa o velho, o ultrapassado e a ausência de inovação.

“Movimentação de Paulo Wanderley para reassumir a CBJ representa a volta da velha panelinha, do autoritarismo e da perpetuação no poder, uma grave ameaça ao presente e ao futuro do judô brasileiro.”

A aproximação de Wanderley Teixeira à oposição revela uma estratégia para se perpetuar no poder e a impedir a renovação da CBJ. Este é um momento crítico para o judô brasileiro, que exige lideranças modernas, comprometidas com a governança transparente e com a democratização total de todos setores da modalidade.

Uma possível volta ao comando da CBJ significaria sufocar o desenvolvimento de novos talentos tanto no entorno do shiai-jô quanto na administração de todo o ecossistema federativo. Além disso, desaceleraria o fortalecimento técnico da modalidade e atropelaria os valores essenciais do judô, como o progresso constante, a honra, a retidão e a conduta ilibada.

https://www.sicoob.com.br/web/sicoobcentralscrs

Em artigo anterior, alertamos para os danos causados pela política de aparelhamento centralizador, que sufocou a diversidade de ideias, corroeu a eficiência técnica do COB e culminou no colapso do desempenho brasileiro nos Jogos Olímpicos. O risco agora é ainda mais alarmante: caso Paulo Wanderley Teixeira reassuma a CBJ, o judô brasileiro poderá sofrer severas sanções, com a suspensão de prerrogativas essenciais para seu desenvolvimento técnico e administrativo. Além disso, a modalidade poderá ser exposta ao revanchismo e à punição pelos abusos e favoritismos praticados sob sua gestão no Comitê Olímpico do Brasil. A comunidade do judô deve estar ciente de que esse retorno não apenas ameaça os progressos conquistados, mas também coloca em xeque a reputação do judô brasileiro no cenário mundial.

A volta do dirigente que nasceu em Caicó, no Rio Grande do Norte, e chegou à vice-presidência da Federação Internacional de Judô e à presidência do COB representa o retorno de nomes como Ney Wilson Pereira, gestor do alto rendimento que por décadas engessou a área técnica da modalidade, além da manutenção e perpetuação na entidade de nomes que há mais de três décadas comandam os bastidores da modalidade. Citamos como exemplo os capixabas Robnelson Ferreira, diretor-executivo da CBJ, e Everson Montibeller, prestador de serviço envolvido na formatação da plataforma Zempo, sistema de gestão esportiva que até hoje é utilizada pela CBJ e pelas federações estaduais. Ligado a Paulo Wanderley desde a época em que o dirigente era presidente da Federação Espírito-santense de Judô, Montibeller foi apontado pela Kroll, uma das mais reconhecidas empresas de investigação corporativa do planeta, como membro da “Quadrilha de Vitória” que montou esquema de corrupção no Comitê Olímpico do Brasil.

“Presidonos” do judô

Falando em ambiente federativo, o judô brasileiro enfrenta um problema crônico: dirigentes estaduais que permanecem há mais de três décadas em seus cargos. São líderes que, em muitos casos, tornaram-se verdadeiros “presidonos” de suas modalidades nos Estados, carecendo de preparo acadêmico e visão administrativa. Esses pseudodirigentes, movidos por interesses próprios, colocam o judô e os judocas em último plano, montando um cenário de estagnação. Muitos são, inclusive, semianalfabetos funcionais, incapazes de conduzir suas federações com a competência que o esporte exige.

Lamentavelmente, essa é a realidade da maioria, e são justamente esses dirigentes que darão sustentação ao plano de continuidade no comando da CBJ — uma estratégia liderada pelo mesmo dirigente que tentou perpetuar-se no Comitê Olímpico do Brasil, mas foi derrotado por ippon.

A comunidade judoísta tem a responsabilidade de pressionar os dirigentes estaduais e impedir que o retrocesso se instale. Escolher entre o progresso e o passado nunca foi tão crucial. Para o bem do judô brasileiro, é preciso resistir à repetição de erros que já demonstraram suas consequências e abrir espaço para lideranças devidamente preparadas e realmente comprometidas com o presente e o futuro da modalidade.

http://www.shihan.com.br