Congresso da ITKF balizou os eventos técnicos e científicos que antecederam o campeonato mundial

Gilberto Gaertner com os palestrantes que atuaram no Congresso Técnico da ITKF 2019

Encontro enfatizou a importância da pesquisa, das ciências do esporte e das neurociências para o desenvolvimento da modalidade, além de embasar o trabalho técnico realizado pela comunidade do karatê tradicional no mundo

Congresso Científico ITKF
20 de dezembro de 2019
Por ISABELA LEMOS I Fotos BUDOPRESS
Curitiba – PR

Um dos eventos mais importantes promovidos pela International Traditional Karate Federation (ITKF) na primeira semana de dezembro em Curitiba (PR) foi o congresso científico, no dia 5, que apresentou estudos de quatro profissionais de três países. Durante a semana realizaram-se também a V Copa Mundial Interclubes e o XX Campeonato Mundial de Karatê Tradicional, no ginásio da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Eyal Nir, o engenheiro coautor do best seller da Amazon Breakthrough in Business and Life apresentou o programa Budo-Way

De acordo com Gilberto Gaertner, presidente da International Traditional Karate Federation (ITKF), o congresso científico reveste-se de grande importância devido à contribuição da pesquisa e da ciência para o esporte. Além disso, as neurociências são fundamentais para embasar o trabalho técnico desenvolvido pela comunidade do karatê tradicional mundial.

O congresso começou com a palestra de Eyal Nir, engenheiro e coautor do best seller da Amazon Breakthrough in Business and Life. Karateca há mais de 40 anos, o israelense desenvolveu um programa chamado Budo-Way, que se baseia no conhecimento e na experiência do budô acumulados através dos séculos, mas adaptados de forma acessível às pessoas em geral e não apenas aos karatecas. Qualquer leitor pode aplicá-lo em sua vida, não apenas como forma de defesa pessoal, mas para criar emoções estáveis, proporcionar boa performance sob pressão e ampliar a percepção, antecipando os acontecimentos e, de certa forma, conseguir uma vida melhor criando uma sociedade e um mundo melhores.

A fisioterapeuta Karla Simas apresentou sua pesquisa sobre fisioterapia esportiva em atletas de karatê do alto rendimento

“Sou um engenheiro com longa carreira na área de indústria de alta tecnologia e dou aulas em universidades, além de praticar karatê há mais de 40 anos. Por isso, eu sempre senti que o karatê e o budô oferecem um universo de possiblidades, que vão muito além da defesa pessoal. Ambos proporcionaram grande suporte para minha carreira. O livro baseado no programa foi um best-seller, traduzido para cinco línguas até agora. Espero que seja publicado em português. Fico muito feliz em disponibilizar este conteúdo, não somente por mim, mas para a ITKF. Dizemos sempre “budo for life”, e isso é muito útil para todas as pessoas e para a vida delas”, afirmou Eyal Nir.

Em seguida, a enfermeira canadense Heather Nelson dissertou sobre seu projeto de pesquisa que visa a disponibilizar o acesso à prática do karatê aos jovens de baixa renda, além de investigar os diversos benefícios que eles adquirem. Segundo a professora, o objetivo principal do trabalho é seu benefício social e o incremento de conceitos como a amizade, respeito e confiança. Heather foi atleta por muitos anos, e como professora de karatê quer retribuir à modalidade o que dela recebeu. A sensei canadense começou a dar aulas e identificou a quantidade de benefícios que o karatê oferece, além de perceber que existiam crianças que não recebiam as mesmas oportunidades de participar.

“Então, no mesmo instante em que percebi este quadro, começamos a nos preparar para receber jovens de baixa renda para treinar em nosso clube, trabalhando em conjunto com as escolas mais carentes da nossa comunidade. Minha pesquisa está apenas no começo, mas o que estamos vendo é que há muitos benefícios para esses jovens, incluindo a socialização, amizades, sentir-se parte de um time, confiança, ter sucesso. Ainda existem algumas barreiras relacionadas ao transporte, dinheiro, falta de autoconfiança, mas aos poucos estamos superando as dificuldades que se apresentam”, relatou Heather.

A fisioterapeuta brasileira Karla Simas apresentou sua pesquisa sobre fisioterapia esportiva em atletas de karatê do alto rendimento. O principal foco de sua palestra era apresentar aos técnicos, professores, árbitros e dirigentes que há uma população diferente atualmente e que os treinos feitos há 50 anos podem não funcionar hoje. Por isso, a fisioterapeuta dissertou sobre a qualidade de treinos, que devem ocorrer de forma diferente. Além disso, demonstrou vários tipos de tratamento que podem ser usados pelos fisioterapeutas para atender às necessidades dos atletas.

A canadense Heather Nelson dissertou sobre seu projeto de pesquisa que visa a disponibilizar o acesso à prática do karatê aos jovens de baixa renda

“Com a evolução da humanidade, o corpo tem ficado relativamente mais frágil nos aspectos ósseo e muscular. A população atual, principalmente abaixo dos 22 anos, tem essa anomalia devido principalmente aos equipamentos eletrônicos, que acabam induzindo um pouco mais ao sedentarismo e à falta de exposição à luz solar, que é de fundamental importância. As crianças de hoje têm menos mobilidade e isso faz com que cresçam e se desenvolvam com músculos e ossos mais fracos. Essa população merece uma atenção especial, por isso, reforcei e deixei bem claro que o treinamento que dava certo há 50 anos não funciona mais. Hoje, nós temos pesquisas biomecânicas e fisiológicas que mostram que um treinamento com mais qualidade se torna mais eficiente do que aquele que tem muita quantidade. Então, muita quantidade de peso e horas vai gerar uma lesão de forma muito mais rápida, causando, portanto, uma interrupção na prática da modalidade. Estamos caminhando para que haja mais qualidade no treinamento e vida útil maior do atleta”, contou a fisioterapeuta.

O professor Iko Trindade apresentou a proposta do método iKodomo

No fechamento do congresso científico, o professor cearense Iko Trindade, doutor em educação física, apresentou a proposta do método iKodomo, que trabalha com a psicomotricidade para o desenvolvimento pleno da infância, focando crianças de 3 a 5 anos. Trindade explicou que, por estarem abaixo da idade em que se iniciam os esportes em modo geral, aproveita-se a oportunidade do cenário da arte marcial para fazer com que essas crianças experimentem uma explosão durante o chamado “período sensível” – o momento de maior desenvolvimento neural. A ideia de criar o método surgiu quando Trindade percebeu que ensinar crianças era diferente do que ensinar adultos.

“A proposta concentra-se nos preceitos da arte marcial, tais como os cumprimentos da hierarquia, o conjunto de valores como o kimono e dojo-kun, que são cenários de vivências positivas. Há também uma quantidade enorme de interação: muitos jogos, brincadeiras e alguma coisa da arte marcial. Mas sem preocupação de performance: o que se fez está bem, tanto faz se foi para a direita ou a esquerda. A forma mais viável de oferecer esse sistema, que foi discutida hoje, é por meio de franquias, porque elas manteriam sempre o contato com a equipe que estudou tudo isso e não vai parar de estudar. Isso é melhor do que fornecer apenas o material; afinal, este é um conhecimento que muda a cada minuto. E essa metodologia pode ajudar muitas crianças e pais que continuam sem respostas”, acrescentou Trindade.

O trabalho apresentado pelo israelense Eyal Nir objetiva uma vida melhor criando uma sociedade e um mundo melhores

Além de dissertar sobre a qualidade de treinos, Karla Simas demonstrou vários tipos de tratamento que podem ser usados para atender às necessidades dos atletas

A sensei canadense pontuou que assim que começou a dar aulas identificou a quantidade de benefícios que o karatê proporciona

Iko Trindade enfatizou que a ideia de criar o método surgiu quando percebeu que ensinar crianças era diferente de ensinar adultos