17 de novembro de 2024
CREF4/SP e FPJudô definem conteúdo do projeto Keisei no Michi (Caminhos da Formação)
Iniciativa visa à formação de técnicos e professores de judô, estimulando a preparação dos futuros faixas-pretas para a carreira profissional na Educação Física e demais esportes
Por Paulo Pinto / FPJCOM
20 de junho de 2022 / São Paulo (SP)
Em reunião realizada nesta sexta-feira (17) a Comissão Especial de Lutas do Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo (CREF4/SP) e a Comissão Científica da Federação Paulista de Judô (FPJudô) definiram a proposta pedagógica do projeto Keisei no Michi (Caminhos da Formação) – O Judô Transformando Vidas.
O projeto inédito desenvolvido pelo CREF4/SP e pela FPJudô procura mesclar o conhecimento transmitido pelo shihan Jigoro Kano (1860/1938), criador do judô Kodokan, com modernos conceitos acadêmicos educacionais.
O aspecto considerado mais importante da proposta apresentada pelas duas entidades é a atribuição à FPJudô e ao CREF4/SP da responsabilidade de formar novos profissionais professores de judô, suprindo uma grande carência do mercado.
Nessa iniciativa estão implícitas as mais relevantes funções das entidades de administração esportiva: o fomento e a difusão da modalidade. Atualmente o judô integra o currículo escolar de vários dos 645 municípios paulistas e acredita-se que em breve a maioria deles seguirá o exemplo.
Participaram do encontro os professores Nelson Leme da Silva Junior (CREF 000200-G/SP), presidente do CREF4/SP; Alessandro Panitz Puglia (CREF 0008722-G/SP) presidente da FPJudô; Tadeu Corrêa (CREF 001086-G/SP), assessor da diretoria do CREF4/SP; Arnaldo Luiz de Queiroz Pereira, secretário-geral da FPJudô; Cleber do Carmo (CREF 006944-G/SP), profissional delegado e delegado regional da 12ª DR Mogiana da FPJudô; Wagner Oliveira do Espírito Santo (CREF 001933-G/SP), conselheiro do CREF4/SP; Sérgio Barrocas Lex (CREF 010806-G/SP), vice-presidente da FPJudô; Almir Mendes da Silva (CREF 002657-G/SP), conselheiro do CREF4; Fernando Ikeda Tagusari (CREF 121172-G/SP), coordenador executivo da FPJudô; Alexsander José Guedes (CREF 027992-G/SP), profissional delegado; Anderson Dias de Lima (CREF 008597-G/SP), profissional delegado; Luís Alberto dos Santos (CREF 013.429-P/SP), coordenador de cursos da FPJudô; Reinaldo Naia Cavazani (CREF 015680-G/SP), profissional delegado; e Jaime Roberto Bragança (CREF 001492-G/SP), judô Paralímpico.
Resumo do projeto
O projeto Keisei no Michi (Caminhos da Formação) – O Judô Transformando Vidas visa à preparação profissional para formação de técnicos e professores de judô, estimulando a preparação dos futuros faixas-pretas para a carreira profissional em Educação Física e demais esportes, enfatizando o desenvolvimento pessoal e profissional de cada um. Dessa forma, proporcionará melhor visão de mercado da carreira profissional e abrirá oportunidades de emprego na área específica.
O projeto é o fruto do trabalho de duas comissões da Federação Paulista de Judô, a Científica e a Escolar, compondo-se de um curso introdutório (Base Comum) e quatro eixos que representam as quatro grandes manifestações do judô. A Base Comum visa a oferecer aos participantes subsídios teóricos sobre os temas que serão abordados com maior ênfase e profundidade nos eixos temáticos, que são:
- Técnico – voltado ao judô esportivo de alto rendimento;
- Escolar – voltado ao judô em ambiente escolar;
- Inclusivo – voltado ao judô para pessoas com necessidades específicas;
- Saúde – voltado ao judô para a manutenção da saúde.
Pontos que precisam ser ressaltados
- Base Comum é pré-requisito obrigatório para cursar o eixo temático.
- O curso irá da generalidade para a especificidade, ou seja, uma vez cumprida a Base Comum, o participante se matriculará num dos eixos temáticos, recebendo uma visão mais profunda sobre o tema.
- Cada eixo temático compõe-se de quatro módulos, cada um deles oferecido semestralmente pela FPJudô.
- Ao completar a Base Comum, o participante receberá a classificação de instrutor de judô, que o qualificará para tornar-se auxiliar, sob a supervisão de técnico ou professor responsável.
- A Base Comum terá nível de ensino médio, adequado quanto à linguagem e ao conhecimento dos alunos.
- Houve um cuidado particular em manter a tradição no projeto, no qual dois pontos se destacam:
- O nome Keisei no Michi, que foi traduzido pelos professores Akio Shiba e Hatiro Ogawa, em japonês é escrito 形成 の道. Destacam-se dois kanjis que são familiares aos judocas: um é o mesmo utilizado no kata e o outro é o mesmo contido em judô, que significa caminho. Segundo o professor Hatiro, o kata faz parte da cultura japonesa, estando além da maneira como é compreendido pelo praticante de judô em formas pré-definidas (nage-no-kata, por exemplo). O kata na cultura japonesa é mais amplo e dita a forma como as ações devem ser realizadas.
- A inclusão do módulo kiso kihon, que tratará das bases fundamentais do judô. O judô foi desenvolvido sob grande influência da cultura japonesa e algumas práticas podem não fazer sentido para os ocidentais, por não conhecerem aquela cultura. A perda de significado desses elementos, a longo prazo, tende a descaracterizar e/ou mecanizar os movimentos, tornando incompreensível a presença deles no judô.
Público alvo: faixas-marrons e interessados, com mais de 15 anos (ensino médio incompleto).
A base comum é composta por:
A FPJudô disponibilizará a Base Comum no segundo semestre de 2022.
Avaliações do encontro
Para Nelson Leme, presidente do CREF4/SP, a iniciativa visa a desenvolver o judô profissionalmente e criar processos que estimulem os Profissionais de Educação Física a trabalharem com o judô.
“Esta foi a primeira reunião presencial mista reunindo a Comissão Científica da FPJudô e a Comissão Especial de Lutas do CREF4/SP. Ambas estão definindo a formação da parceria, pois existia um anseio para que realizássemos este trabalho para desenvolver ainda mais o judô profissionalmente e que criássemos o ambiente adequado para que os Profissionais de Educação Física pudessem trabalhar com o judô.”
O dirigente explicou que na primeira parte do encontro foi apresentada a proposta pedagógica, integralmente aprovada, enquanto na segunda se definiu como o processo será realizado na prática.
“A iniciativa das comissões instituídas pela gestão do professor Puglia certamente renderá muitos frutos aos professores de judô e aos Profissionais de Educação Física”, disse o dirigente.
Para Nelson Leme o ponto alto da parceria são o equilíbrio e a reciprocidade. “Não há vaidades neste projeto. Estamos desenvolvendo um trabalho conjunto para que o processo se dê de forma equânime, objetivando que ambas as categorias sejam contempladas.”
Marco histórico
Alessandro Puglia acredita que no segundo semestre o CREF4/SP e a FPJudô darão início ao novo ciclo para ambas as entidades.
“Neste encontro pudemos estabelecer a sinergia entre a Comissão Cientifica da federação e a Comissão de Lutas do conselho. Entendo que o presidente Nelson Leme consolidou a parceria cujas ações começam já neste segundo semestre. Nosso projeto foi 100% aprovado pela Comissão de Lutas do CREF4/SP, e em minha avaliação esse foi o ponto alto da reunião. A próxima fase agora é realizar pequenos ajustes e pôr tudo em prática. Tenho certeza de que todos agentes envolvidos nesta iniciativa inédita estão ansiosos para que o projeto comece a andar”, disse Puglia.
Outro fato considerado importante pelo dirigente da FPJudô foi a iniciativa do professor Nelson Leme de produzir um livro relatando a história contemporânea do judô, ou seja, a partir dos anos 1990. Ele já incumbiu os professores Alexandre Drigo e Fernando Ikeda de produzirem o conteúdo editorial.
“Além de ficar surpreso com a ideia do professor Nelson, eu achei muito interessante fazer um registro mais recente do nosso cenário. Entendo que a obra irá culminar exatamente no momento atual do judô bandeirante, passando antes, porém, pela trajetória de grandes gestores”, disse Puglia, citando exemplo os professores Matheus Sugizaki e Hatiro Ogawa. “o sensei Sugizaki foi a mente brilhante que há mais de três décadas criou e implantou sistemas e normas administrativas e técnicas que até hoje são utilizadas pelo judô de São Paulo e dos demais Estados. Um pouco antes, Ogawa iniciara um ciclo mais plural e democrático ao assumir a presidência da federação. Então, teremos a oportunidade de mostrar a partir de lá, até meados de maio deste ano, toda a transformação e o pioneirismo que permitiram que chegássemos agora a realizar o primeiro curso de padronização do ensino do judô para profissionais dos tatamis e futuros Profissionais de Educação Física.”
Puglia manifestou sua satisfação por esta realização da Federação Paulista de Judô, em parceria e com a chancela, o respaldo e a credibilidade do Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo. “Juntas, ambas as entidades estabelecem um marco histórico para o judô e para a Educação Física do Brasil. Tenho plena convicção de que ambas alcançarão excelentes resultados.”
Características socioeducativas
Para Arnaldo Luiz de Queiroz Pereira, secretário-geral da FPJudô a reunião foi externamente positiva e produtiva, já que na prática o projeto teve grande aceitação. “Foram colocadas sugestões que incrementam o trabalho e valorizam as comissões Científica da FPJudô e de Lutas do CREF4/SP. Ambas as instituições demonstram maturidade ao desenvolver um projeto a quatro mãos, que é necessário para a evolução do judô e da Educação Física.”
O dirigente espera que o projeto sirva de paradigma para outras modalidades de luta e demais federações esportivas. “O desenvolvimento da área de formação de futuros instrutores de judô e possivelmente novos profissionais de Educação Física combina com as características socioeducativas do judô transmitidas por Jigoro Kano. Isto traz de volta a essência da modalidade que é eminentemente educativa, sem prejuízo, é claro, do sucesso na área de competição, desde as categorias menores até o olimpismo.”
Grande potencial na parceria
Fernando Ikeda comemorou a receptividade dos membros do Conselho Regional de Educação Física. “Apresentamos nosso projeto em duas oportunidades, primeiro para a diretoria e os conselheiros e depois para a Comissão Especial de Lutas. O retorno foi positivo e mais laços se estreitaram. O módulo de gestão da Base Comum será inteiramente ministrado por palestrantes indicados pelo CREF4/SP e com apoio da ACAD Brasil.”
Ikeda mencionou o pronunciamento do professor Anderson Anderson Dias de Lima, ex-delegado regional da FPJudô e atual membro da Comissão Especial de Lutas do CREF4/SP, abordando a trajetória da FPJudô, desde as mudanças administrativas promovidas pelo ex-presidente Hatiro Ogawa, passando pela administração do professor Chico e culminando na gestão de Alessandro Puglia. “Ele mostrou que o projeto é a realização dos esforços de professores de várias gerações, agora atualizado, sintetizado e aprimorado pelas comissões, que foram sensíveis às necessidades atuais da comunidade do judô”, disse.
O coordenador executivo da FPJudô ainda lamentou muito o lapso temporal entre gerações, o que não lhe permitiu ter um convívio próximo com o professor Mateus Sugizaki. “Ouvi muitas histórias a respeito dele. O saudoso doutor Júlio Yokoyama muito falava dele, e agora ouvi os professores Anderson Dias e Alexandre Drigo dissertarem sobre sua trajetória pedagógica vanguardista”, acrescentou Ikeda, que finalizou com uma visão otimista.
“Cada vez que falo sobre o projeto vejo que ele ganha força e vigor, e tudo isso converge para o engrandecimento do judô paulista. Quanto aos futuros desdobramentos, vislumbro grandes potencialidades nesta parceria.”
Visão futurística
Assessor da diretoria do CREF4/SP e membro da Comissão Especial de Lutas, Tadeu Corrêa destacou a visão futurística da diretoria da Federação Paulista de Judô.
“Esta ação é extremamente importante. Primeiro por termos no judô uma modalidade de disciplina imensurável. A formação que o judô oferece aos praticantes é gigantesca. O próprio significado – o caminho suave – dá a condição de trabalharmos em conjunto.”
Corrêa enfatizou que a visão dos mestres que farão parte da comissão e dos conselheiros é dotar os técnicos e os instrutores de judô do futuro do conhecimento pedagógico mínimo necessário exercerem a função. “Quando partirmos para uma formação mais elevada, a própria FPJudô vai sentir necessidade de que o instrutor seja Profissional de Educação Física.”
Otimização da prestação de serviços
O presidente da Comissão Científica da FPJudô, doutor Alexandre Janotta Drigo, que não esteve presente, disse que o encontro superou todas as expectativas dos gestores de ambas as entidades.
“Ao pensar na formação profissional para o judô, o Projeto Keisei no Michi consolida o protagonismo da FPJudô em relação a qualificação para o ensino da modalidade. Como entendemos que o judô transforma vidas e que devemos contribuir com esta premissa, a presidência, a secretaria-geral e a Comissão Científica da federação construíram uma sólida parceria com o CREF4/SP, que dará sua chancela como órgão de regulação profissional. Neste sentido, a Comissão de Lutas proporciona um diálogo direto com as instâncias da FPJudô envolvidas no processo. Além disso, foram agregados professores para os cursos que envolvem os módulos de legislação e gestão.”
O coordenador da Comissão Científica da FPJudô prevê que a parceria contribuirá imensamente para o desenvolvimento da modalidade, por meio da formação de jovens judocas e de veteranos que tenham interesse em ampliar seu horizonte profissional, o que resultará na otimização da prestação de serviços relacionados ao judô.
Abrindo o mercado
Profissional delegado, membro da Comissão Especial de Lutas do CREF4/SP e delegado regional da 12ª DR Mogiana da FPJudô, Cleber do Carmo prevê que o projeto abrirá mercado para jovens instrutores.
“Estamos dando um grande passo tanto para a FPJudô quanto para o CREF4/SP. Esse novo modelo de capacitação será um divisor de águas, principalmente para os jovens, que vão qualificar-se para trabalhar como instrutores de judô.”
O delegado da 12ª DR Mogiana destacou que o esforço dos dirigentes da FPJudô e do CREF4/SP trará maior ganho para a comunidade. “As crianças terão professores mais capacitados e os jovens praticantes poderão vislumbrar um caminho profissionalizante. E tudo isso certamente elevará ainda mais o judô e a Educação Física.”
Pensando na colheita
Coordenador de cursos da FPJudô e presidente da Comissão Especial de Lutas do CREF4/SP, Luís Alberto dos Santos valoriza o ineditismo e os propósitos do trabalho apresentado.
“Esta parceria é importante por ser inédita e principalmente por ter o propósito de capacitação do profissional para melhorar a qualidade do serviço oferecido a todos aqueles que buscam trilhar o caminho do judô”, disse.
Para Luís Alberto, o tempo do empirismo acabou. “A capacitação é sem dúvida alguma o melhor caminho para que a gente consiga oferecer resultados e também colher os frutos de um trabalho mais profissional e mais adequado.”
Projeto pioneiro
Anderson Dias de Lima, ex-delegado regional da FPJudô e integrante da Comissão Especial de Lutas do CREF4/SP, lembrou que o projeto foi precedido pelo trabalho pioneiro do ex-vice-presidente da FPJudô, professor kodansha Matheus Sugizaki
“A proposta da administração do presidente Puglia e seus colaboradores complementa um trabalho iniciado e coordenado na década de 1990 pelo saudoso professor Matheus Sugizaki e, modéstia parte, com a minha participação como seu auxiliar direto. Foi um processo realizado ao longo de vários anos, incluindo a readequação do critério de concessão da faixa preta.”
Lima contou que na época foi criado um programa de cursos e aperfeiçoamento para complementar o aspecto técnico da prática do judô nas escolas e academias. Esse trabalho foi implementado com sucesso e é praticado até hoje.
“A ideia daquela época já era chegar a um curso específico para formação de professores de judô. As escolas e academias apresentam o judô como modalidade esportiva, mencionando os aspectos éticos e filosóficos, mas não formam professores para atuarem no ensino do judô. As federações também não o faziam, atendo-se a organizar os eventos competitivos. Tudo vai mudar com essa iniciativa pioneira no Brasil, talvez no mundo. É um desafio grande que, se der certo, proporcionará um avanço muito grande na formação dos nossos professores e dos nossos técnicos. O Puglia e o Nelson estão de parabéns.”
O professor kodansha Anderson Dias também comentou a reunião. “Percebo que o pessoal está determinado e com muita boa vontade; o desafio é muito grande, há muito trabalho pela frente, mas nós estamos aqui para trabalhar. Vai dar certo. São Paulo mais uma vez sai à frente na questão da formação do professor de judô. Estou esperançoso e vou contribuir na medida do possível, até com a experiência adquirida durante toda a década de 1990.”
Grande transformação
Profissional delegado e membro da Comissão Especial de Lutas do CREF4/SP, Reinaldo Naia Cavazani prevê uma grande transformação no esporte brasileiro.
“Entendo que esta é uma ação inédita e de vanguarda capitaneada por dois grandes líderes, os professores Nelson e Alessandro, que estão resgatando algo que já existiu há muito tempo e ficou pelo caminho: a elaboração do projeto pedagógico idealizado pelos professores Sugizaki e Anderson, do qual pude participar na época.”
Naia acredita que o novo projeto permite dar um salto gigantesco na formação profissional e pedagógica dos futuros professores de judô por meio da FPJudô, do CREF4/SP e, quem sabe, de alguma instituição de ensino superior. “Vamos mais uma vez sair na frente e mostrar um novo caminho para todo o País, pois as demais federações terão de estabelecer parcerias com os CREFs para adotar um sistema semelhante.”
“O que vemos claramente hoje é que não se pode mais ser um profissional de judô sem buscar conhecimento. Não basta saber fazer. Além de dominar a parte técnica e os movimentos, o mentor terá de adquirir embasamento científico. Isso vale para todas as modalidades esportivas e propiciará grande transformação ao esporte brasileiro.”