14 de maio de 2025

No monumental Palácio de Artes Marciais Zhaksylyk Ushkempirov, em Astana, a Seleção Brasileira de Judô Paralímpico escreveu mais um capítulo épico em sua trajetória. Com uma atuação consistente e vitoriosa, o Brasil terminou o Campeonato Mundial de Judô da IBSA no topo do quadro de medalhas, somando cinco ouros, cinco pratas e um bronze, e consolidando-se como a maior potência da modalidade.
A campanha superou o desempenho histórico de Baku 2022 e reforça o domínio brasileiro no ciclo que teve como auge a conquista do topo do pódio em Paris 2024. Com 14 dos 20 atletas chegando às disputas por medalha, o desempenho é reflexo direto do amadurecimento técnico da equipe, da renovação bem-sucedida do elenco e da força coletiva construída ao longo dos últimos anos.
A primeira medalha de ouro brasileira veio com a potiguar Rosi Andrade (52kg, classe J1), que coroou sua ascensão no judô paralímpico ao derrotar a turca Ecem Tasin — justamente sua algoz na estreia do Mundial de Baku 2022. Rosi passou ainda pela uzbeque Shoira Khamidova nas quartas e pela cazaque Alfiya Tlekkayl na semifinal.
A potiguar Rosi Andrade conquista a primeira medalha de ouro do Brasil no Mundial da IBSA em Astana © FIJ
“Essa final deu tudo certo, foi mágico. Acredito que aconteceu exatamente do jeito que tinha de ser”, celebrou emocionada. Com apenas 27 anos, Rosi entrou para o seleto grupo de campeões mundiais brasileiros ao lado de Antônio Tenório, Alana Maldonado e Wilians Araújo.
Depois de conquistar o bronze em Baku, Brenda Freitas (até 70kg, J1) deu um salto no pódio e garantiu o título mundial ao vencer a grega Theodora Paschalidou na final. A carioca de 30 anos comemorou a conquista com intensidade: “Vim lutar focada, bem objetiva. No último Mundial, eu não estava bem de cabeça. Conseguir lutar como lutei hoje, é uma vitória enorme.”
Na categoria +70kg (J2), a paulista Rebeca Silva, de 24 anos, consolidou sua dominância ao vencer a compatriota Meg Emmerich na final. Antes, ela eliminou a cubana Sheyla Hernandez Estupinan, sua rival da final paralímpica em Paris.
“A ficha ainda não caiu, mas acredito ser um passo muito importante rumo ao bicampeonato em Los Angeles”, afirmou Rebeca, que mantém sua escalada como uma das grandes estrelas do judô paralímpico mundial.
Veteranos e símbolos da modalidade, Alana Maldonado (até 70kg, J2) e Wilians Araújo (+95kg, J1) mantiveram suas hegemonias. Alana conquistou o tricampeonato mundial ao vencer Ayala Mareke, do Cazaquistão. Já Wilians superou Ion Basoc, da Moldávia, repetindo a conquista de 2022.
“É muita gratidão, muito trabalho. Me sinto honrada e muito feliz”, disse Alana.
Brenda Freitas (70kg J1) vence a final por ippon com osae-komi e celebra seu primeiro título mundial © CBDV
“Mais um título e é muito bom fazer parte desse grupo seleto. Não tem coisa melhor do que ouvir minha filha me chamando de papai depois disso”, completou Wilians.
Mais jovem entre os medalhistas, o rondoniense Danilo Silva, de apenas 18 anos, brilhou na categoria até 81kg (J1). Em sua estreia mundial, venceu três adversários experientes antes de ser parado na final pelo georgiano Saba Bagdavadze.
“Queria a medalha de ouro, mas acredito que foi um grande resultado. Isso é só o começo”, disse com maturidade e resignação o jovem atleta.
Outros dois vice-campeonatos completaram a campanha brasileira. A paraense Larissa Silva (60kg, J1) teve atuações firmes até a final, onde foi superada pela uzbeque Uljon Amrieva. Já Arthur Silva (95kg, J1), atual campeão paralímpico, liderava a final contra o britânico Daniel Powell, mas acabou surpreendido por um estrangulamento.
“São dois sentimentos: triste por não ser campeã, mas feliz por estar no pódio de um Mundial”, resumiu Larissa, emocionada.
Em sua estreia em Mundiais, Millena Freitas (70kg, J1) conquistou a prata numa chave intensa onde venceu três das quatro lutas. Já Felipe Amorim, de 41 anos, recém-chegado ao judô paralímpico após trajetória no olímpico, garantiu o bronze na categoria +95kg (J2) ao derrotar o britânico Jack Hodgson.
Pódio da categoria 81kg (J1), com o georgiano Saba Bagdavadze (ouro), o brasileiro Danilo Geronimo (prata), e os medalhistas de bronze Yergali Shamey (KAZ) e Cyril Jonard (FRA) © FIJ
“Fazia muito tempo que eu não competia. Voltei no ano passado e foi uma experiência incrível. Dedico essa medalha à minha esposa e filhos,” disse Felipe.
A judoca Meg Emmerich (+70kg, J2) conquistou a medalha de prata ao fazer final com sua compatriota Rebeca Silva. Na mesma categoria, Maria Núbea Lins (60kg, J2) disputou o bronze, mas foi superada pela cazaque Dayana Fedossova. Também em disputa de terceiro lugar, Thiego Marques (70kg, J2) acabou derrotado pelo japonês Yujiro Seto.
Mais do que liderar o quadro de medalhas, a atuação brasileira em Astana representa o amadurecimento de um projeto técnico e social que tem transformado vidas e redefinido o conceito de alto rendimento no paradesporto. A mescla de nomes consagrados e talentos emergentes confirma que o Brasil encontrou o equilíbrio entre experiência e renovação, algo fundamental para sustentar a hegemonia nos próximos ciclos.
Pódio da categoria 52kg (J1), com Rosicleide de Andrade (BRA) campeã, Ecem Tasin Cavdar (TUR) vice, e as terceiras colocadas Shizuka Hangai (JPN) e Victoria Potapova (NPA) © FIJ
Com patrocínio das Loterias Caixa e apoio do Comitê Paralímpico Brasileiro, o judô para cegos no Brasil segue crescendo como referência internacional. Mais que medalhas, a seleção entrega histórias de superação, pertencimento e potência coletiva — e mostra ao mundo que inclusão e excelência podem, sim, caminhar lado a lado sobre o tatami.
Em cada ippon conquistado em Astana, o Brasil reafirmou que o verdadeiro sentido da vitória vai além do placar. Está no gesto de levantar o companheiro, na coragem de recomeçar, na confiança de lutar de olhos fechados — e mesmo assim enxergar longe.
14 de maio de 2025
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