15 de novembro de 2024
Discriminado pelo presidente da CBJ, jovem acreano Adriano Pereira promete seguir lutando
“O judô que eu pratico está para além do esporte, é arte, caminho e estilo de vida. Não será o de-ashi-harai aplicado por um dirigente que me fará desistir dos meus sonhos e objetivos.”
Gestão Esportiva
12 de dezembro de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos DIVULGAÇÃO
Curitiba – PR
Em 29 de novembro a Budô publicou matéria intitulada Presidente da CBJ nega recursos do PAF a atletas do Acre credenciados pelo Zempo. A grave denúncia certamente terá muitos desdobramentos, já que a recusa do presidente da Confederação Brasileira de Judô envolve recursos públicos destinados para este fim pela Secretaria Especial do Esporte via Comitê Olímpico do Brasil.
Adriano Araújo Pereira, de 28 anos, um dos atletas discriminados pela CBJ, não se curva diante da injustiça. Demonstrando altruísmo e o verdadeiro espírito do judô, o peso meio-pesado deu sua resposta e contou o que é ser judoca no Acre.
“São muitos os desafios que envolvem fazer judô em meu Estado. Meu sensei foi um verdadeiro desbravador da modalidade no Acre. Aliás, ele foi o precursor e o introdutor do judô que, até hoje, ainda é pouco conhecido pela maioria da população. Não recebemos nenhuma espécie de apoio ou incentivo e treinamos por amor à modalidade. O judô que eu pratico está para além do esporte, é arte, caminho e estilo de vida”, disse. O atleta trabalha como gestor público e é licenciado em letras.
Adriano explicou que começou a fazer judô escondido dos familiares num projeto social conduzido pelo sensei Delfino, que ensinava judô e jiu-jitsu, e até há pouco tempo sua mãe era contra. Na época, ele tinha 12 anos de idade.
“Comecei a treinar com a ideia de me defender das agressões que sofria na escola, e continuei porque passei a entender a beleza dos treinamentos. Naquele tempo, eu me deslocava com o pretexto de ir à casa dos meus avós e ia treinar. Era errado mentir, mas fazia assim, pois, sempre que comentava com meus pais sobre praticar um esporte de luta, eles de pronto negavam.”
Foi assim que durante quase um ano ele treinou escondido e sem judogi. “Fui descoberto quando comecei a disputar os campeonatos que o sensei organizava. Treinei e lutei muito com kimonos emprestados. A essa altura o amor pelo judô já estava consolidado”, explicou o judoca acreano.
Adriano Araújo contou que começou a trabalhar muito cedo e sempre estudou muito, o que durante um longo tempo foi – e ainda é – um dos grandes desafios para praticar judô.
“Vale lembrar que o judô é um esporte caro. Assim, o meu percurso pelo Caminho Suave teve idas e vindas, sempre a contragosto. Deixar de treinar para estudar e trabalhar sempre foi pesaroso, tive de optar pelo que era primordial. Afastei-me dos treinos, mas nunca do judô, pois, quando aprendi a essência, percebi que cada projeção e cada movimento contempla em si uma filosofia, contém um ensinamento a ser buscado, e que o judô é autoconsciência. Logo, mesmo afastado dos treinos, nunca deixei de praticar judô. O Caminho Suave é um estilo de vida. Existe uma frase do mestre Jigoro Kano que contempla o espirito do judô arte, o qual compartilho: Conhecer-se é dominar-se, dominar-se é triunfar”.
O judoca acreano confessa seu pesar por ter sido impedido de ir ao Campeonato Brasileiro Sênior. “Estávamos bastante confiantes em poder demonstrar os frutos do nosso esforço árduo nos tatamis. Depois que encontrei tempo para treinar, o sensei vem realizando um trabalho bastante focado nas disputas, sem contar que as competições em grandes centros nos proporcionam excelente intercâmbio de saberes e técnicas”, lamentou Adriano, que ainda tenta entender a razão do radicalismo do presidente da CBJ.
“Não entendemos por que nos foi negado esse direito, tendo em vista que tanto eu quanto o Paulo Júnior de Morais Figarella estávamos habilitados para a competição pelo Zempo. Conquistamos o direito de disputar a fase final do Campeonato Brasileiro Sênior e receber passagens pelo PAF, lutando bravamente no torneio de Ji-Paraná (RO), quando nos classificamos. Investimos muito dinheiro viajando e muito tempo treinando para ir ao Balneário Camboriú. Isso que o presidente Sílvio Acácio fez com a gente foi desumano e uma grande injustiça. Apesar disso, ele pode nos tirar, injustamente, o direito de disputar esta ou aquela competição, mas jamais conseguirá tirar a nossa garra para lutar ou frear nosso ímpeto de brigar por nossos direitos”, concluiu Adriano.