11 de novembro de 2024
Documentos bancários expõem desvio de verbas da FCJ na gestão Sílvio Acácio Borges
A assessoria da Federação Catarinense de Judô lamentou os fatos denunciados nesta semana, além do vazamento de documentos em grupos de WhatsApp em todo o País, e prometeu apurar as denúncias
Denúncia
27 de fevereiro de 2021
Por PAULO PINTO
Curitiba – PR
No início desta semana foi postado nas redes sociais do judô um lote de documentos que expõem a existência de um esquema de desvio de verbas na Federação Catarinense de Judô (FCJ) durante a gestão do ex-presidente Sílvio Acácio Borges (2012-2016).
Na verdade, não se trata apenas de uma denúncia simples. Os documentos expõem farta e claramente a existência de um esquema de corrupção endêmico que envolvia a Federação Catarinense de Judô e a Associação Colon de Judô, de propriedade de Sílvio Acácio e seu sócio, Icracir Rosa, presidente da comissão de graduação da Confederação Brasileira de Judô (CBJ).
Segundo os denunciantes, a triangulação era feita por meio do superfaturamento dos valores das taxas de inscrição e anuidades de atletas e clubes, pagos mensalmente pela Fundação Municipal de Esportes de Joinville à federação catarinense que, posteriormente, transferia parte do valor para a conta do ex-presidente da FCJ.
Assim que tomou conhecimento da gravidade da denúncia, nossa equipe contatou a Federação Catarinense para confirmar a veracidade dos documentos divulgados, principalmente dos comprovantes bancários expostos. A entidade adiantou que ainda está realizando um levantamento minucioso dos procedimentos adotados pelo ex-presidente durante a sua gestão, bem como da atuação de seu conselho fiscal, do qual participava como membro efetivo Cláudio Marcelo de Almeida, sobrinho de Sílvio Acácio.
Depósitos indevidos
O grupo de denunciantes catarinenses relacionou depósitos e transferências bancárias que partiram da conta da federação catarinense para as contas de Sílvio Acácio Borges, Associação de Judô Colon e Associação Seidokan Judô de Jaraguá do Sul, da qual Sílvio até há pouco tempo também era proprietário em sociedade com seu sobrinho Cláudio Marcelo de Almeida,
Os denunciantes, que pediram para ficar no anonimato, revelaram que, de forma irresponsável e amadora, era o próprio presidente Sílvio Acácio que realizava as transferências: só ele tinha acesso à conta, vedado até mesmo à contadora da entidade. “Esta conta bancária só era administrada por ele, que possuía a chave digital do Banco Brasil, basta verificar.”
Outra forte denúncia que envolve recursos públicos refere-se ao convênio firmado com a Secretaria de Estado de Turismo Cultura e Esporte de Santa Catarina (SOL). “Para fraudar o sistema de obtenção de verbas estaduais provenientes da SOL, em 2014 Sílvio Acácio fez um depósito de R$ 30 mil na conta da FCJ, para comprovar a capacidade da entidade de realizar o convênio no valor total de R$ 100 mil, que demandava a contrapartida de 30% do valor. Todavia, a FCJ jamais deu a devida contrapartida a este projeto”, disseram seus delatores.
Mas, entre as principais irregularidades cometidas pelo ex-presidente da FCJ, sem dúvida alguma a indicação de seu sobrinho Cláudio Marcelo de Almeida para compor o conselho fiscal da entidade foi o mais absurdo de todos. Isso é um desmando administrativo sem precedentes e expõe a inconsequência e o absolutismo do dirigente. Imagine-se o sobrinho fiscalizar as contas de próprio tio!
De arremate, os comprovantes de depósito demonstram por si só a absurda, vergonhosa e total falta de respeito aos clubes, associações e judocas filiados à FCJ. Como pode um dirigente de federação mandar dinheiro para sua associação, como comprovam os estatutos sociais e atas de diretoria da Associação Colon de Judô? Recursos da FCJ que deveriam fomentar o judô no Estado eram desviados para o dojô do dirigente.
O grupo catarinense que nos enviou os documentos, tabelas e balancetes de Sílvio Acácio promete ainda buscar justiça, principalmente no caso da fraude contra a Secretaria de Estado de Turismo Cultura e Esporte de Santa Catarina (SOL) na concessão de R$ 100 mil. Os denunciantes pretendem entregar todos os documentos ao Ministério Público de Santa Catarina na próxima semana, e já entraram em contato com a promotoria de crimes contra o erário público do Estado.
Ao fim do mandato, Sílvio Acácio foi avisado de que não se reelegeria, devido a sua arrogância e à rotina persecutória de truculência e maus tratos imposta aos filiados que não comungavam de sua gestão arbitrária. Foi um período extremamente difícil, no qual eram negadas até as promoções dos alunos dos professores que não apoiavam os desmandos do presidente. Mas quis o destino que, por falta de opção, Paulo Wanderley Teixeira o indicasse para substituí-lo na presidência da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) – e deu no que deu.
Até 2016 a CBJ era referência nacional na gestão esportiva e hoje a entidade vive um quadro totalmente adverso. Não fossem os milhões de reais que ainda são despejados anualmente em verbas públicas e patrocínios privados, o quadro nacional certamente seria muito mais devastador que o da Federação Catarinense de Judô após a passagem de Sílvio Acácio.
As denúncias feitas nesta semana certamente partiram de pessoas que, mesmo correndo o risco de sofrer retaliações, resolveram apenas mostrar para a comunidade quem é este dirigente e do que é capaz de fazer.