22 de novembro de 2024
Duas gerações de judocas que alimentam o mesmo sonho: medalhar nos Jogos Olímpicos de Paris
Confira a história que une Alexandre Lee, responsável técnico da equipe do Sesi/SP, e Michel Augusto, judoca peso ligeiro de 19 anos convocado para representar o Brasil nos Jogos de Paris.
Por Ernane Neves / Global Sports
11 de julho de 2024 / Curitiba (PR)
Nesta edição, o judoca Ernane Ferreira Neves da Silva, atleta do Sesi/SP, 3º colocado no ranking nacional e 37º no ranking mundial da FIJ, bacharel em jornalismo pela Unopar Anhanguera, estreia como colaborador da Revista Budô. Ele narra a saga olímpica de dois personagens muito próximos a ele: Alexandre Dae Jin Lee, responsável técnico da equipe do Sesi, disparado a melhor do Estado de São Paulo em 2023, e Michel Augusto, judoca de 19 anos convocado para representar o Brasil nos Jogos de Paris no peso ligeiro (60kg).
Hoje, vocês conhecerão um pouco da história de duas gerações distintas que compartilham o mesmo sonho nos tatamis, cada um em sua função: um como técnico e outro como atleta.
Alexandre Dae Jin Lee nasceu em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo. Filho de pai coreano e mãe brasileira, Lee começou no judô aos 7 anos de idade. “Minha família, na época, morava no Vale do Paraíba e eu era um menino tipicamente agitado e hiperativo. Encontrei meu lugar no judô. Desde então, não saí mais, e quis me desenvolver, competir e atuar no alto rendimento”, comenta Lee.
Lee tinha apenas 13 anos quando, mostrando a maturidade de um veterano, tomou a decisão que mudaria sua vida: sair de casa em busca de mais conhecimento e treinamento mais completo. Nesse processo, ele conheceu o sensei Uichiro Umakakeba e foi para Bastos, também no interior de São Paulo, mais de 600 km longe da família. Dois anos depois, ingressou no Centro de Excelência (Projeto Futuro) e seguiu para São Paulo. Morou e treinou por três anos no Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, zona central da capital paulista.
Daí em diante, sua carreira tomou uma projeção enorme, passando por clubes como São Caetano, Prefeitura de Guarulhos e Vasco da Gama. Participou das Olimpíadas de Sydney 2000 como atleta reserva e das Olimpíadas de Atenas 2004 como titular da categoria ligeiro (60kg).
Alexandre Lee completou a formação em Administração de Empresas e, em 2010, recebeu o convite para ser técnico do Clube Paineiras do Morumby. Gerenciou por 11 anos o departamento de judô dessa tradicional agremiação paulistana, período em que conseguiu resultados expressivos. O Paineiras tornou-se um dos principais clubes formadores do País e, de quebra, teve dois atletas convocados para os Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio (realizados em 2021, após a pandemia de covid-19). Ainda no Paineiras, um ano antes (em 2019), já havia conquistado o vice-campeonato no Troféu Brasil Interclubes, principal torneio do Brasil na classe adulta.
O mesmo sensei Uichiro Umakakeba, que teve papel importante na vida de Alexandre Lee, marcou presença na trajetória de Michel Augusto. Natural de Bastos, Michel ingressou no judô aos 5 anos, quando decidiu assistir a um treino no dojô da Associação de Judô de Bastos. O menino não teve dúvidas de que aquele era o caminho que queria seguir. Ganhou um judogi e, dias depois, já estava nos tatamis – e de cima deles nunca mais saiu.
Em 2020, Michel deixou Bastos e, assim como Lee, foi para o Centro de Excelência (Projeto Futuro), no Ibirapuera. Treinou lá por um ano, antes de ir para seu atual clube, o Sesi/SP, em 2021.
Entre seus principais feitos até então, o garoto já havia conquistado o ouro na Copa São Paulo 2017, no Campeonato Paulista 2017, no Campeonato Brasileiro 2017 e no Meeting Nacional 2019. Ele também obteve a medalha de prata no Campeonato Pan-Americano 2017 e o bronze no Campeonato Sul-Americano 2017, além do 7º lugar no Cadet European Cup de Berlim 2019.
Oportunidade no Sesi/SP
Em 2022, Alexandre Lee aceitou a missão de comandar a equipe de alto rendimento esportivo do Sesi/SP, assumindo a função de headcoach do time. Foi quando ele montou o sonhado “dream team”, escolhendo a dedo os profissionais que iriam trabalhar ao seu lado na comissão técnica, e os resultados foram impressionantes.
Resultados expressivos
Nesta nova fase, a equipe do Sesi/SP conquistou diversos títulos. Entre os principais, estão as participações em campeonatos mundiais das categorias sub 18 e sub 21 e a classificação de dois atletas para a seleção principal do Brasil.
Um dos destaques do Sesi/SP desde a chegada do novo headcoach foi o jovem Michel Augusto, que, em seus dois primeiros anos no clube, sob os olhos de Lee, obteve resultados impecáveis. Veja a lista de conquistas de Michel Augusto já sob a coordenação de Alexandre Lee.
Medalhas de 2022
- Prata na Copa São Paulo
- Ouro no Aberto Nacional sub 23
- Bronze na Taça Brasil
- Bronze no Junior European Cup Paks (Hungria)
- Ouro no Open Pan-Americano Córdoba
- Bronze no Open Pan-Americano Bogotá
- Bronze nos Jogos Sul-Americanos Assunção
- 5º lugar no Campeonato Mundial Júnior
Medalhas de 2023
- 4º lugar na IV Seletiva Olímpica – Paris 2024
- Ouro no Aberto Nacional sub 23
- Ouro no Meeting Nacional
- Ouro na Taça Brasil
- Bronze no Bahia Junior Panamerican Cup
- Ouro no Panamerican Open Bahia
- Prata no Junior European Cup Graz
- Ouro no Brasileiro sub 21
- Ouro no Pan-Americano sub 21
- Bronze no Campeonato Pan-Americano Sênior
- Ouro nos Jogos Pan-Americanos (Santiago)
- Bronze no Oceania Open Perth
Não há dúvida sobre a importância do conhecimento técnico e dos princípios do judô passados pelo sensei Uichiro Umakakeba. Mas é evidente a evolução que o judoca teve depois que começou a trabalhar com Lee. E quem ganha com parcerias como esta é, sem dúvidas, o judô nacional.
Michel Augusto diz que a figura do sensei Lee é muito importante para sua carreira esportiva: “Ele entende a categoria, pois já vivenciou isso durante vários anos, sabe o que é bom para mim e principalmente aquilo que vai agregar qualidade ao meu aprendizado. Ainda mais por ser uma referência olímpica, que eu tenho todos os dias nos tatamis. Outro fator que ajuda muito é que, como atleta olímpico, ele já passou por várias situações e experiências que eu estou começando a trilhar neste momento, e ele pode me orientar da melhor maneira dentro e fora dos tatamis”.
O ano de 2024 começou a todo vapor para o Michelzinho, como é carinhosamente chamado pelos colegas da equipe. Ele segue fazendo história. Conquistou a medalha de prata no Grand Prix de Portugal e a medalha de ouro no Campeonato Pan-Americano e Oceania. Medalhas que garantiram sua vaga nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Sem sombra de dúvida, a história de um sucessor olímpico está por vir. E será contada nas próximas Olimpíadas.
Para o sonho olímpico, é necessária uma chama única, que é acesa pelas antigas gerações e mantida pelas emoções e motivação das gerações futuras.