28 de dezembro de 2024
‘É hora de as confederações virarem realidade’, afirma conselheiro do COB
Primeiro ‘não-cartola’ eleito para o Conselho de Administração do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Osso quer utilizar o exemplo da LNB, com forte participação dos clubes, na gestão do esporte nacional
Gestão Esportiva
30/04/2018
Por JONAS MOURA / LANCE.COM I Fotos MICHEL CAMPOS/ECP
São Paulo – SP
Carlos Osso, de 78 anos, se encanta pelo discurso dos jovens dirigentes do esporte brasileiro. Primeiro “não cartola” a integrar o novo Conselho de Administração do Comitê Olímpico do Brasil (COB), o paulista do Pinheiros reconhece que ainda é um nome estranho em um ambiente dominado por presidentes de confederações e prevê barreiras para ampliar a participação dos clubes formadores na gestão da entidade. Mas diz que há brecha para mudanças.
Um dos idealizadores da Liga Nacional de Basquete (LNB), que organiza o NBB, Osso foi eleito, ao lado de Sérgio Rodrigues, do Minas Tênis, para preencher uma lacuna que há anos vinha sendo pleiteada pelas agremiações, em busca de voz e recursos. Para 2018, a estimativa é que as confederações recebam R$ 95 milhões diretamente da Lei Agnelo-Piva, que destina um percentual da arrecadação das loterias federais aos esportes. Com a dupla na entidade, na condição de membros independentes, os clubes pretendem entrar nesta fatia.
– Na minha opinião, a estrutura atual não é boa. Não estou criticando as confederações e federações, mas elas e o COB estão distantes dos clubes – disse Osso, em entrevista ao LANCE!.
Como está lidando com o desafio de ocupar um lugar no Conselho de Administração do COB? Quais são as expectativas para a nova função?
Nós entendemos que a única maneira de os clubes poderem participar dos rumos do COB dentro do que prevê o novo estatuto seria uma brecha no Conselho de Administração, que irá gerir a entidade. Os clubes formadores olímpicos, como Sogipa, Grêmio Náutico União, Curitibano, Minas, Pinheiros, Paulistano, Corinthians e Flamengo, se unirão e disseram: “Vamos tentar”. Eu e o Sérgio Rodrigues, do Minas, fomos os escolhidos para representá-los. Foi um marco histórico a abertura de uma eleição livre, em que todos puderam participar. Para vice-, teve o Marcel e o José Medalha, do basquete, concorrendo com o ex-presidente da Confederação Brasileira de Triatlo (CBTri), Marco La Porta. Tenho muita esperança em mudança. Sou formado em clubes e vejo que a base do esporte brasileiro são eles. Eles estavam completamente alijados do COB, que convoca. Mas quem paga, cuida, dá alimentação são os clubes. Os atletas começaram a entender isso também. Se fomos eleitos, foi porque tivemos apoio de muitos deles também. É um início que não será fácil. Um desafio grande.
Qual é o seu principal objetivo nessa missão?
Tem muita coisa que o COB faz que não chega até os clubes. Na minha opinião, a estrutura não é boa. Não estou criticando as confederações e federações, mas elas e o COB estão longe dos clubes. Tentaremos aproximar tudo isso. São dois membros não independentes de um grupo de 15, mas falaremos em esporte. Somos voluntários e esportistas. É algo novo de que o esporte precisa.
O repasse da verba da Lei Agnelo-Piva é uma das principais discussões que os clubes levantam ao pedir participação no Comitê. Como avalia o modelo atual de distribuição, em que o COB define as regras de distribuição e centraliza o mesmo?
Pelo que analisamos nas reuniões que fizemos nos últimos meses, o repasse não chega aos clubes como deveria. Está longe disso. O Pinheiros e o Minas têm buscado muito dinheiro para suportar o esporte competitivo e de formação com o governo, pelas leis de incentivo. O associado não quer que gastemos nossos recursos com isso, mas o Pinheiros é um clube esportivo. Então, chegaremos a esse ponto, sem dúvidas. O caminho não sei se será árduo, não importa. Tentaremos entender por que esse dinheiro da Lei Piva não chega aos clubes e tentar mudar isto. É uma obrigação nossa. O Flamengo e o Pinheiros, por exemplo, investem muito dinheiro. A formação do esporte no Brasil não está nas escolas e nas universidades, mas nos clubes.
“Vejo que a base do esporte brasileiro são os clubes. Eles estavam completamente alijados do COB, que convoca. Mas quem paga, cuida e dá alimentação são os clubes. Os atletas começaram a entender isso também”
Você foi um dos fundadores da Liga Nacional de Basquete (LNB). O que essa experiência pode servir de inspiração para sua atuação no COB?
A Liga é um exemplo de como deveriam funcionar todos os esportes. Quem manda na entidade são os clubes, não o presidente e o vice-presidente, que também são de clubes. Hoje, estamos muito bem, recuperando o basquete. Temos bons sócios, como a NBA. Somos uma realidade. Estamos longe de atingir o que queremos, mas somos. Acho que as confederações têm de começar a ser realidade. Elas estão longe de ajudar o esporte como deveriam. Poucas são as que funcionam bem. Mas tem de ser dado tempo ao tempo. O presidente Paulo Wanderley está com uma vontade enorme de acertar. Por outro lado, há vícios antigos, que temos de mostrar para ele. Na LNB, contratamos executivos de primeira linha e não há ninguém lá com ambições financeiras. Os clubes só são adversários dentro da quadra. Fora, todos falam a mesma língua. Temos um caixa razoável buscamos patrocínios pontuais. No Jogo das Estrelas, tivemos um lucro de 10% do que foi gasto. Ao fim da temporada, os clubes recebem de volta o que investiram no início.
Temos visto uma divisão clara entre um grupo de confederações alinhadas com participação maior dos atletas, chamadas “modernas”, e outro marcado por velhas figuras que há anos comandam entidades esportivas, as chamadas “arcaicas”. Teme que essa divisão prejudique suas pretensões no COB?
Não entendo que haverá divisão. É preciso ver este fato com bons olhos. Eu não parei para contar quantos votos tive, mas tenho certeza de que as confederações novas votaram nos clubes. As velhas, não. Mas essa diferença não pode prejudicar o trabalho de gestão do COB. Vamos agir como mineiros, pelas beiradas. Tenho de ouvir todos para poder ajudá-los. Conheci alguns presidentes de confederações. Tem os mais velhos, que estão há anos, e mais jovens. Isso ajudará muito para uma mudança no longo prazo. O curto prazo é algo muito imediato, visto que temos uma Olimpíada em 2020.
Os escândalos recentes na gestão esportiva deixaram marcas. Como vê o cenário de investimentos no Brasil daqui para frente?
Muitas empresas estão saindo do esporte. Falta credibilidade. Se caiu o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo (José Antonio Martins Fernandes), de Handebol (Manoel Luis de Oliveira, afastado), esporte campeão mundial em 2013 no feminino, e o de Taekwondo (Carlos Fernandes) é porque havia algo errado. Como eu vou colocar dinheiro em algo que não sei se dará retorno? Esse Conselho Administrativo terá de destrinchar essa questão. O basquete está sobrevivendo porque o Guy Peixoto (presidente da Confederação Brasileira de Basquete) é um empresário de sucesso. Antes, estávamos em um buraco sem fundo.
O Conselho de Administração do COB
O que é?
Novidade no estatuto do COB, o Conselho de Administração é o órgão máximo deliberativo da entidade. Ele é composto por 15 membros: o presidente e vice-presidente do COB (Paulo Wanderley e Marco La Porta); o presidente e vice-presidente da Comissão de Atletas do COB (Tiago Camilo e Yane Marques); oito presidentes de Confederações Brasileiras Olímpicas; dois “não-cartolas”, os membros independentes (Carlos Osso e Sergio Rodrigues); e o membro brasileiro no COI (Bernard Rajzman).
Quem são os presidentes de confederação no Conselho?
Euclides Antônio Gusi (Golfe); João Tomasini Schwertner (Canoagem); Luiz Carlos Cardoso do Nascimento (Karatê); Marco Aurélio de Sá Ribeiro (Vela); Mauro José da Silva (Boxe); Matheus Bacelo de Figueiredo (Desportos no Gelo); Ricardo Pacheco Machado (Esgrima); e Silvio Acácio Borges (Judô).
Como ele foi definido?
Os oito representantes das confederações e os dois membros independentes foram eleitos pela Assembleia do COB, em pleito no dia 23 de março de 2018.
QUEM É ELE?
Nome
Carlos Osso
Nascimento
29 de setembro de 1939, em São Paulo
Carreira
Começou a jogar basquete no Sírio, foi diretor de basquete, de handebol e de marketing no Pinheiros; trabalhou no segmento de válvulas industriais; estudou Administração, mas não concluiu. Milita no Pinheiros há mais de 50 anos. Foi um dos idealizadores da Liga Nacional de Basquete (LNB), criada em 2008, entidade responsável por gerenciar o NBB.