Em meio à crise, CREF4/SP assume protagonismo e defende os profissionais do esporte

Nélson Leme da Silva Júnior, presidente do CREF4/SP

Enquanto alguns dirigentes se omitem e relegam seus filiados a segundo plano, gestores comprometidos buscam soluções que amenizem o impacto gerado pela pandemia e pelo isolamento horizontal adotado por governos estaduais e prefeituras

Ponto de Vista
5 de abril de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS e SINDI CLUBE
Curitiba – PR

Por meio do manifesto público emitido nesta quinta-feira (1º de abril), em relação aos reflexos das medidas de contenção do covid-19 na área da educação física, o Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região (CREF4/SP) pediu racionalidade e equilíbrio na tomada de decisões que irão gerar graves reflexos econômicos no setor de academias, escolas de educação básica (públicas e privadas), escolinhas esportivas e demais áreas afins. Para auxiliar neste processo, o órgão propõe iniciativas importantes neste momento, como a reabertura gradual destas entidades.

De forma extremamente consciente, Nélson Leme da Silva Júnior, presidente do CREF4/SP, lembrou que a entidade representa 164 mil profissionais de educação física, além de 13.900 pessoas jurídicas empregadoras, perfazendo 177.900 registrados no Estado de São Paulo.

“Este documento trata da necessidade de equilíbrio na tomada de decisões nas medidas de contenção do covid-19, e apresenta propostas. Em relação à pandemia, solicitamos racionalidade e equilíbrio na tomada de decisões que podem gerar reflexos humanos, econômicos e sociais seríssimos no setor e propõe iniciativas para minimizar danos”, detalhou o dirigente, que mostra sensibilidade e preocupação com o impacto social e econômico das medidas adotadas.

“Compreendemos as medidas iniciais adotadas de isolamento e distanciamento social, mas é preciso reorganizar estas medidas para que os reflexos sejam mais brandos no setor econômico, socorrendo e fortalecendo empresas que necessitem, e também apoiar por meio de linhas de crédito o setor de academias e atividades físicas em geral, escolas de educação básica e profissionais de educação física”, propõe o dirigente.

Paulo César Mário Movizzo, presidente do Sindi Clube

O CREF4/SP sugere ainda que seja realizado um estudo para viabilizar, com base em orientações técnicas e cientificas de profissionais da área da saúde, um retorno gradual às atividades das academias, escolas de educação fundamental, empresas que prestam serviços de atividades físicas em geral e profissionais de educação física, adotando cuidados de higienização, reorganização e flexibilização de horários e contingente, evitando aglomerações e outras situações que possibilitem o agravamento da disseminação do covid-19.

Sindi Clube libera linha de crédito especial para clubes

Fundado em 20 de março de 1989, com o objetivo de defender os interesses das agremiações socioesportivas de São Paulo, o Sindicato dos Clubes do Estado de São Paulo (Sindi Clube) é o único representante sindical dos clubes esportivos, sociais, culturais e recreativos do Estado.

Além de criar um Comitê de Crise dos Clubes do Estado de São Paulo, voltado especificamente para os problemas da pandemia, o Sindi Clube fechou uma linha de crédito especial para os clubes com a Desenvolve São Paulo (Agência de Desenvolvimento Paulista, do governo estadual). O objetivo é disponibilizar recursos a todas agremiações do Estado, neste momento de crise causada pelo covid-19.

“A linha de crédito especial para os clubes é um apoio que conseguimos com o governo de São Paulo e deverá ser útil para minimizar os efeitos no caixa das agremiações, neste período de queda de arrecadação. O Sindi Clube está atento, em busca de alternativas para que o nosso setor atravesse essa crise e mantenha a qualidade dos seus serviços e os empregos que proporciona”, informa Paulo César Mário Movizzo, presidente do Sindi Clube.

Nélson Leme na comemoração dos 20 anos de fundação do CREF4/SP

Na contramão de tudo que está acontecendo CBJ paralisa atividades e se isola

O CREF4/SP e o Sindi Clube são apenas dois exemplos de entidades classistas comprometidas com a gestão dos interesses de seus filiados. Mas existe um número bastante expressivo de entidades que, preocupadas com os destinos de suas modalidades, estão buscando alternativas que viabilizem o processo de retomada e crescimento.

Mas, trazendo o tema da crise gerada pelo covid-19 para o cenário judoísta e o esporte federativo, que entre outras atribuições e prerrogativas visa a promover o desenvolvimento da prática esportiva e a realização do esporte de alto rendimento, vemos um grave equívoco e risco na política adotada pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ).

Acreditamos que, assim como os demais segmentos da sociedade, temos o dever de voltar ao trabalho e retomar nossas práticas o mais rapidamente possível após a suspensão da quarentena. Isso de ficar pedindo aos pais dos judocas federados que continuem pagando mensalidades das escolas e academias, sem a devida contrapartida, não vai resolver os problemas das escolas e dos professores de judô. Se mantivermos esta postura irresponsável e não voltarmos urgentemente ao trabalho depois que o governo federal cancelar a quarentena, em pouco tempo ninguém mais estará empregado e recebendo salário.

Sem apresentar e discutir o problema com os presidentes das 27 federações estaduais, no dia 30 de março o presidente os gestores a CBJ lançaram comunicado com a reavaliação do calendário nacional de 2020, cancelando os campeonatos brasileiros regionais. Também foram suspensos todos os eventos previstos no calendário nacional até 30 junho, o que inclui a Taça Brasil Sub 21, Campeonato Brasileiro Sub 18, IV Encontro Nacional de Kodanshas, Campeonato Brasileiro de Veteranos e Katas e o Campeonato Brasileiro Sub 21.

Numa ponta vemos professores aflitos querendo manter suas escolas funcionando e suas famílias em pé, com o trabalho que desenvolvem em milhares de dojôs espalhados pelo Brasil. As federações estaduais precisam realizar os eventos dos seus calendários esportivos e algumas já correm sério risco de quebrar e não honrar compromissos assumidos.

Na outra ponta, a CBJ, que somente da iniciativa privada recebe anualmente um aporte aproximado de 14 milhões de reais, vai na contramão das necessidades de todos os professores, técnicos e 27 federações estaduais, parando precipitadamente tudo até o mês de julho.

Paulo Movizzo na confraternização dos gestores de clubes 2019

Devido à falta de recursos provenientes do PAF, no ano passado a CBJ somente realizou eventos no segundo semestre. Os certames do calendário nacional só se realizaram porque o Comitê Olímpico do Brasil injetou os recursos necessários. Mas fica a pergunta: para onde está sendo direcionado o dinheiro do patrocínio da iniciativa privada?

Mas intrigas e picuinhas à parte, o que está em jogo neste momento é a sobrevivência das entidades estaduais, a manutenção do funcionamento dos dojôs e escolas que estão no território brasileiro, pois são justamente estes professores que fazem o judô acontecer.

A CBJ acertou quando cancelou momentaneamente os eventos, mas errou ao estipular uma data para retomar o calendário. Errou de forma mais grave ainda quando se omitiu e mais uma vez deixou de estender as mãos para as 27 federações que, paradoxalmente, são a razão de a CBJ existir.

Vivemos um momento inusitado da civilização e daqui por diante sobreviverão apenas aqueles que tiverem a capacidade de ler e assimilar rapidamente tudo aquilo que acontece à sua volta.

Neste sentido, lembro que a Confederação Brasileira de Judô não foi criada para comandar as federações. Ela existe para servir às 27 federações estaduais que têm o dever e o direito de fiscalizar as ações da CBJ. São as federações que estipulam e determinam as regras, a CBJ as cumpre.

Da mesma forma, nos Estados as federações existem para fazer a gestão da modalidade e servir a seus filiados. Já as associações, clubes e dojôs existem para fazer a transmissão de conhecimento e atender as demandas dos alunos matriculados.

Mais do que nunca precisamos compreender que fazemos parte de uma corrente. A turminha de Humaitá precisa reconhecer que a CBJ existe para fomentar o judô do Brasil e servir a ele, e não para inventar regras novas a cada três meses, perseguir praticantes e dirigentes e voltar as costas para suas filiadas no momento que mais precisam de apoio.

Vivemos um momento único e todos nós temos de contribuir para reerguer a modalidade, nossas vidas, nosso País e o planeta como um todo. Quanto mais tempo demorarmos para compreender a nova realidade, mais tempo levaremos para nos reerguer.

As entidades, empresas, governos e indivíduos que decifrarem o momento atual sairão na frente. Aqueles que não enxergarem a nova realidade dificilmente se reerguerão e poderão seguir adiante.

Finalizamos cumprimentando os dirigentes Nélson Leme da Silva Júnior e Paulo César Mário Movizzo, dirigentes do CREF4/SP e Sindi Clube, que tiveram desprendimento e coragem suficientes para sair da mesmice e buscar saídas que minimizassem o impacto da crise para os seus filiados.