11 de novembro de 2024
Em mensagem aos conselheiros, Steinhilber busca intimidar e calar seus adversários
Temendo o crescimento da oposição, o presidente do sistema CONFEF/CREFs agora busca dividir os conselhos regionais, jogando os que o apoiam contra os que se opõem a ele
Gestão
31 de outubro de 2020
Por PAULO PINTO I Foto BUDOPRESS
Curitiba – PR
Em tom defensivo, no dia 20 de outubro o professor Jorge Steinhilber (CREF 000002-G/RJ), presidente vitalício do sistema CONFEF/CREFs, enviou e-mail aos conselheiros e conselheiras que o apoiam na cruzada de perpetuar-se no poder. A mensagem tenta blindar o dirigente totalitarista contra as acusações e denúncias feitas por seus adversários, e começa alertando para a necessidade de encouraçar sua administração.
“Precisamos estar cientes dos fatos e dotados de subsídios para responder aos que nos indagarem a respeito, pois está sendo fácil apenas vociferar”, avisa o presidente do CONFEF, que parte para o ataque a seu adversário que há anos critica o absolutismo que rege a entidade nacional.
“Na última reunião o conselheiro Ernani declarou que faz críticas contumazes ao CONFEF, que em reunião plenária o ex-conselheiro Georgios protestou e manifestou opinião de que se deveria impetrar ação na Justiça. Na ocasião lembrei que a crítica e as manifestações não são em relação à presidência ou à diretoria, e sim ao CONFEF. E que o presidente e a diretoria não são o CONFEF, assim como os regionais não são o CREF. Que presidente é gerente do plenário. CONFEF é o conjunto dos integrantes do plenário, portanto, sendo a crítica ao coletivo, deve proceder a ação coletiva, ou determinada pelo plenário”, argumenta o dirigente. Fica claro que a intenção de sua mensagem é intimidar o dirigente carioca que abertamente tem exposto as vísceras de um sistema que, empenhado em perpetuar e favorecer os mesmos dirigentes desde a sua fundação, desconectou-se dos propósitos e ideais de proteger e alavancar uma classe que hoje envolve cerca de meio milhão de profissionais.
Procurado pela Budô, Ernani Contursi reafirmou todas as acusações que fez contra Jorge Steinhilber. “Não tenho de responder às acusações feitas a mim publicamente. O farei na plenária. Entretanto, reitero tudo aquilo que falei à Budô. Não mudo absolutamente nada do que disse. O CONFEF é hoje uma caixa-preta e ninguém sabe o que a diretoria faz. O Conselho Federal é uma entidade pública e o Steinhilber não pode fazer a gestão como se o órgão fosse uma empresa de sua propriedade.”
Buscando transferir a culpa dos excessos cometidos pela cúpula do Conselho Federal para aqueles que lutam por mudança e pela simples renovação do poder, os intelectuais que lutam pela manutenção do status quo sórdida e irresponsavelmente interpelam e culpam os conselheiros que lutam pela renovação.
“A crítica acima declara a necessidade de restituir o caráter institucional do sistema”, acusa a mensagem de Steinhilber. “Despersonalizar de imagens e pessoas a instituição, ou seja, o CONFEF, e evidentemente critica a personalização de alguns CREFs, vez que o sistema é composto pelos CREFs. Portanto, se o caráter institucional não está adequado e os que estão criticando compõem o plenário, cabe a pergunta: o que fizeram durante todos esses anos para que esse caráter institucional seja adequado? Qual a proposta apresentada em plenário? Vamos verificar que não há.”
Numa grotesca tentativa de inverter valores, Steinhilber se autointitula o grande fomentador da Educação Física. Para ele, o investimento, a pesquisa, o empenho e o tempo gasto em bancos de universidades por todos os profissionais não representam absolutamente nada.
“A outra mensagem declara que muitas portas foram fechadas nos últimos 22 anos. Impressionante! Como disse o conselheiro Marcelo Miranda, qualquer adolescente é capaz de demonstrar quantas portas e oportunidades foram abertas para os profissionais de Educação Física ao longo do trabalho que todos nós executamos. Quanta ingratidão.”
E Steinhilber segue em sua retórica que, nas entrelinhas, ataca os profissionais de Educação Física que reivindicam a alternância do poder.
“Recentemente outras mensagens foram postadas, inclusive vídeo agressivo. Tomei a liberdade de questionar os presidentes que veicularam essas manifestações para que as comprovassem. Imediatamente me acusaram de estar sendo parcial e querendo prejudicar o grupo do “movimento”. As respostas recebidas foram no sentido de que a liberdade de expressão tem de ser respeitada.”
O presidono da Educação Física do Brasil parece esquecer de que o CONFEF é uma entidade pública. Após 22 anos na presidência, o dirigente vitalício deveria compreender que se tornou uma pessoa pública – e mais, que a sua gestão é passível de críticas e avaliações.
Em seu discurso descabido, Jorge Steinhilber tenta argumentar que o CONFEF desenvolve políticas que protegem os profissionais, mas o que se vê na realidade é que o sistema se preocupa apenas com políticas que protegem os interesses dos governantes e da instituição, não da comunidade.
“O Brasil é um País continental com inúmeras e graves desigualdades. Ao longo dos 22 anos a diretoria e o plenário pautaram as ações no sentido de respeito às diferenças culturais e dar o melhor tratamento a essas desigualdades. Trabalhamos arduamente buscando manter a unidade e a harmonia. Defendemos que os profissionais das diversas regiões são iguais, portanto, necessário adotar ação social de equilíbrio em respeito a todos”, diz a mensagem de Steinhilber.
Mas, aproveitando a fala do presidente, gostaríamos que ele e seus pares apontem quais políticas estão sendo desenvolvidas em prol da categoria. O que o CONFEF fez de concreto pelos mais de 500 mil profissionais de Educação Física que ficaram sem poder trabalhar desde o início de março, quando equivocamente governos estaduais e municipais impediram que atuassem em prol do bem-estar da população?
Mas a cereja do bolo da mensagem meticulosamente elaborada para desconstruir o avanço da oposição é a acusação leviana que busca fomentar o desentendimento entre os CREFs e isolar a oposição, basicamente formada pelos maiores CREFS do País. Dessa forma, tenta garantir que alguns continuem dando sustentabilidade a uma gestão retrógrada, que procura desesperadamente se perpetuar no poder.
“O que estamos vivenciando nesse momento (apontado há mais ou menos dois anos) é que deve prevalecer o fator econômico e numérico, ou seja, os CREFs com maior poderio econômico devem dominar, deter o poder, assim como os CREFs com maior número de profissionais registrados. Está-se adotando a teoria do dividir para reinar e reinar denegrindo a imagem do CONFEF, esquecendo que o CONFEF são todos os componentes do plenário, inclusive esses que estão criticando”, acusa acintosamente Steinhilber.
“Penso que essa questão precisa ser explicitada, pois buscar projeção pela crítica é uma estratégia que surte efeito. Consegue-se enganar alguns durante algum tempo, mas não se consegue enganar a todos todo o tempo”, sugere o dirigente.
Vergonhosamente, Steinhilber termina a mensagem acusando a oposição de fazer exatamente aquilo que ele faz há 22 anos. A desfaçatez do dirigente expõe a capacidade que ele possui de faltar com a verdade, bem como a sua falta de comprometimento com a causa dos profissionais de Educação física.
“Temos o compromisso com a história e os que ainda são idealistas e compromissados com a causa da profissão (e não do interesse pessoal, conforme alguns estão demonstrando), quando indagados ou instigados, tem a obrigação de fazer os apontamentos corretos. Reafirmo não se tratar de defesa de pessoa, e sim da instituição, vez que se o CONFEF não é entidade perfeita. Sem o CONFEF, porém, como fica a profissão? CONFEF não é entidade perfeita, mas cumpre sua função essencial e social.”
A quais histórias Steinhilber se refere? Às que o colocam acima da lei por ter sido um dos pioneiros?
A quais ideais Steinhilber se refere? Aos que protegem seus interesses pessoais?
A quais interesses pessoais se refere? Será que são os que lhe permitem ser dono do sistema CONFEF/CREFs?
A qual instituição ele se refere? Será que é a mesma da qual ele e seus pares se apossaram e não admitem largar?
Ninguém questiona a legitimidade do CONFEF. O que se questiona é a falta de transparência e alternância do poder. A oposição questiona a falta de modernização e atualização de uma entidade que abriga profissionais, pós-graduados com mestrados e doutorados, que clamam pelo avanço científico da Educação Física do Brasil.
O problema é que esta modernização passa pela desconstrução de um sistema que ditatorialmente está voltado unicamente para a os interesses da instituição e, tragicamente, de costas para os profissionais e a sociedade que reivindicam a inovação para o bem comum e não para o de uma pequena casta encastelada no 19º andar do Centro Empresarial Castello Branco, na cidade do Rio de Janeiro.
Por fim, vale a pena lembrar ao presidente vitalício que as atribuições do seu cargo, expresso no Artigo 43 do Estatuto do CONFEF impõe no Inciso 4º que compete a ele: zelar pela harmonia entre os conselheiros federais e entre os CREFs, em benefício da unidade política do Sistema CONFEF/CREFs.
Desta forma, ao atacar nominalmente o conselheiro Ernani e os presidentes de CREFs pertencentes a Plenária que apoiam a oposição, novamente ele não cumpre o documento principal do Sistema CONFEF/CREFs em nome de interesses pessoais.