25 de setembro de 2025

O dojô especialmente montado no Colonial Plaza Hotel, em Pindamonhangaba (SP), recebeu entre 8 e 18 de setembro o Treinamento de Campo Internacional da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Foram dez dias de atividades intensas, com cerca de 300 judocas de dez países — entre eles campeões mundiais e olímpicos — em um ambiente que uniu preparação técnica de alto nível, intercâmbio cultural e espírito de solidariedade.
A dimensão do encontro repercutiu além das fronteiras nacionais. A Federação Internacional de Judô (FIJ), em reportagem assinada pelo jornalista Nicolas Messner, destacou o evento como um “encontro verdadeiramente internacional”, ressaltando a qualidade dos treinos, o ambiente de amizade e a hospitalidade brasileira.
O campeão olímpico Zelym Kotsoiev, do Azerbaijão, mostrou intensidade nos randoris © Anderson Neves / CBJ
Para o presidente da CBJ, Paulo Wanderley, o Treinamento de Campo Internacional já se consolida como uma tradição do judô brasileiro, mas a meta agora é ampliá-lo institucionalmente.
“Este treinamento já tem grande aceitação entre os países, mas queremos transformá-lo em algo ainda mais oficial. Estamos em tratativas com a Confederação Pan-Americana de Judô e com o presidente Carlos Zegarra para que se torne um evento permanente das Américas, tendo o Brasil como sede. É uma forma de mostrar ao mundo a força do nosso judô e de projetar o país como referência internacional”, afirmou o dirigente, que acompanhou de perto os trabalhos em Pindamonhangaba.
A canadense Jessica Klimkait, medalhista de bronze nos Jogos de Tóquio 2020, foi um dos grandes destaques do judô feminino em Pindamonhangaba © Anderson Neves / CBJ
A fala de Wanderley ecoa a própria análise da FIJ, que enalteceu o caráter global e solidário do encontro: atletas de diferentes culturas, gerações e credenciais compartilharam o mesmo tatami, em treinos diários que alternaram randori, preparação física e técnica.
Presente em Pindamonhangaba, o presidente da Federação Paulista de Judô, Henrique Guimarães — medalhista olímpico de bronze em Atlanta 1996 (-65kg) — destacou a relevância do Treinamento de Campo Internacional como vitrine para o judô brasileiro.
“Foi uma honra receber em São Paulo este grande encontro de alto rendimento, reunindo judocas de diferentes países e gerações. Cumprimento o professor Paulo Wanderley e o professor Marcelo Theotonio, diretor técnico da CBJ, pela capacidade de realizar e aglutinar tantos medalhistas olímpicos e mundiais em um ambiente de treino de altíssimo nível. O resultado é um intercâmbio que fortalece nossa modalidade e projeta ainda mais o judô brasileiro no cenário internacional.”
Professores Paulo Wanderley e Henrique Guimarães ao lado de treinadores durante o Treinamento de Campo Internacional em Pindamonhangaba © Anderson Neves / CBJ
A equipe técnica da CBJ também celebrou o resultado do encontro. O diretor de Esporte da CBJ, Marcelo Theotonio, destacou que o período foi fundamental para elevar o nível da preparação brasileira rumo ao ciclo olímpico.
“Foi um treinamento de altíssima qualidade, com atletas que conquistaram medalha olímpica e mundial. Isso elevou o sarrafo e nos permitiu absorver muita experiência para seguir nosso plano até Los Angeles 2028.”
Daniel Cargnin ao lado de Hidayat Heydarov, campeão olímpico em Paris 2024, campeão mundial em 2024 e tetracampeão europeu (2017, 2022, 2023 e 2024) © Anderson Neves / CBJ
Ao lado de Theotonio, a professora Andrea Berti, treinadora da seleção brasileira sênior feminina, destacou a relevância de receber delegações estrangeiras em território nacional, sobretudo neste momento da temporada.
“Foi muito importante ter os países aqui dentro de casa, durante um período tão grande, trabalhando aspectos técnicos e táticos. Vamos reencontrá-los nos próximos eventos, e essa preparação antecipada faz toda a diferença.”
Já o professor Antônio Carlos Pereira, o Kiko, treinador da seleção sênior masculina, projetou os efeitos práticos do encontro:
“Os países participantes elogiaram muito o nosso treinamento, porque a qualidade do judô brasileiro é muito grande. Tenho certeza de que fizemos aqui uma reserva de energia para as próximas competições. São escolas diferentes, metodologias diferentes, e isso acrescenta muito à nossa produtividade. Estou muito motivado e otimista de que, nos próximos quatro meses, nosso time conquistará muitas medalhas internacionais.”
Entre os participantes brasileiros, estiveram grandes nomes como Rafaela Silva, Daniel Cargnin, Larissa Pimenta, Willian Lima, Rafael Macedo, Guilherme Schmidt e Leonardo Gonçalves, todos medalhistas olímpicos ou mundiais.
Do exterior, vieram campeões de peso, como Hidayat Heydarov (-73kg) e Zelym Kotsoiev (-100kg), do Azerbaijão; Patricia Sampaio (-78kg), de Portugal; e Jessica Klimkait (-63kg), do Canadá. Seleções da Alemanha, Croácia e Suíça também marcaram presença, enriquecendo o intercâmbio.
Paulo Wanderley com ex-atletas da seleção brasileira feminina que hoje atuam na área técnica de clubes e da CBJ © Anderson Neves / CBJ
A FIJ destacou a força simbólica desse convívio: talentos emergentes dividindo tatami com campeões consagrados, todos unidos pela mesma disciplina, respeito e amizade que definem o judô.
Entre tantas estrelas presentes em Pindamonhangaba, nenhuma teve tanto simbolismo quanto Rafaela Silva — bicampeã mundial (-57kg, Rio 2013 e Tashkent 2022), campeã olímpica no Rio 2016, campeã pan-americana em Santiago 2023 e medalhista de bronze por equipes mistas em Paris 2024. Laureada como a judoca mais vitoriosa do Brasil, Rafaela foi também uma das vozes que melhor traduziu o espírito do Treinamento de Campo Internacional.
“A gente entende, pelo menos da minha parte, que o lado competitivo fica no shiai-jô, quando está valendo medalha, ponto ou classificação. Mas depois que saímos dos tatamis, jogamos vôlei juntos, jogamos cartas, futebol, todo mundo brinca, todo mundo curte. Na hora do profissional, sabemos dividir bem. Então foi um clima muito bacana. A alimentação foi excelente, o clima foi espetacular, os treinos estavam bem duros, e é isso que importa.”
Professores Andrea Berti e Marcelo Theotonio durante o Treinamento de Campo Internacional em Pindamonhangaba © Anderson Neves / CBJ
O depoimento de Rafaela, que viveu e venceu nos maiores palcos do judô mundial, sintetiza a proposta do encontro: trabalhar duro no tatami, mas também fortalecer laços humanos fora dele, numa convivência que une gerações, países e estilos em torno de valores comuns.
Marcando presença constante e exibindo enorme protagonismo, o presidente da CBJ, Paulo Wanderley — ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil e ex-vice-presidente da Federação Internacional de Judô (FIJ) — acompanhou de perto o Treinamento de Campo Internacional no Colonial Plaza, em Pindamonhangaba. Por vários dias, esteve no dojô observando atividades, dialogando com atletas e treinadores e ministrando uma palestra motivacional que reforçou a importância da preparação coletiva e da união em torno do judô brasileiro.
Paulo Wanderley, Henrique Guimarães e Maria Portela homenageiam Clarisse Vallim e Clarice Ribeiro, campeãs mundiais em Sofia, e Nicole Marques e Laryssa Fonseca, medalhistas de bronze © Anderson Neves / CBJ
Sempre solicitado para registros, foi figura central nas sessões de fotos, revelando carisma e acessibilidade. Um gesto simbólico marcou sua passagem pelo evento: fez questão de reunir todas as medalhistas brasileiras do Mundial Cadete de Sofia, ao lado da treinadora Maria Portela e do presidente da FPJudô, Henrique Guimarães, para uma foto histórica. A atitude não apenas enalteceu a nova geração, mas também reforçou a imagem de um líder que reconhece e celebra conquistas, transformando um simples registro fotográfico em ato de valorização institucional.
Além dos treinos, o evento contou com suporte completo de fisioterapeutas, massoterapeutas, alimentação e lazer, dentro do Colonial Plaza Hotel. A estrutura foi apontada como um diferencial que colocou o Brasil em pé de igualdade com os principais polos de judô do mundo.
Henrique Guimarães conversa com Antônio Carlos Pereira, o Kiko, treinador da seleção sênior masculina © Anderson Neves / CBJ
O campeão olímpico Zelym Kotsoiev, do Azerbaijão, elogiou: “Foi tudo perfeito. Treinamos duro, descansamos bem e já adoro este lugar.” Já a canadense Jessica Klimkait destacou: “Aqui tenho muitas companheiras de treino, de todos os níveis. Foi uma experiência muito boa.”
Em Pindamonhangaba — estrategicamente situada a cerca de 130 km de São Paulo e 290 km do Rio de Janeiro, aos pés da Serra da Mantiqueira e integrante da Região Geográfica Imediata de Taubaté–Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba — o judô brasileiro não apenas treinou: mostrou ao mundo que é capaz de organizar, acolher e inspirar. Com origens que remontam ao século XVII, a cidade hoje se afirma como polo de encontro para o alto rendimento e o intercâmbio internacional do judô, sem abrir mão de sua vocação turística ligada às belezas naturais da Mantiqueira e à proximidade com alguns dos destinos mais emblemáticos do Brasil.
Giovani Ferreira em randori com Murad Fatiyev, multimedalhista do Azerbaijão na categoria -81kg © Anderson Neves / CBJ
A pouco mais de 175 km dali está Paraty, reconhecida pela UNESCO como Patrimônio Mundial, em uma área que integra o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, a Área de Proteção Ambiental de Cairuçu, o Centro Histórico de Paraty e o Morro da Vila Velha. A cidade fluminense, que já fazia parte da Rede de Cidades Criativas da UNESCO na categoria Gastronomia, soma à sua herança colonial a riqueza natural e cultural de um território único, onde história, biodiversidade e arte se encontram. Assim, o eixo Pindamonhangaba–Paraty simboliza não apenas a força esportiva do Brasil, mas também a sua capacidade de acolher o mundo em cenários que unem tradição, natureza e cultura.
Com o sucesso do Treinamento de Campo Internacional, a CBJ reforça sua posição de liderança no continente e ganha projeção mundial. O evento foi mais do que preparação: foi vitrine para mostrar a força do judô brasileiro como anfitrião, formador e parceiro global.
Agora, as atenções se voltam para o Campeonato Mundial Júnior, de 5 a 8 de outubro, e para o Grand Prix de Lima, de 11 a 13 do mesmo mês — próximos desafios no calendário internacional.
Acesse AQUI a pasta de fotos do Treinamento de Campo Internacional no Flickr da CBJ.