FPJudô apresenta resultados da gestão e discute futuro da modalidade no Estado

Grandes nomes da gestão do judô participaram da mesa-redonda realizada durante o Encontro Estadual de Kodanshas © Isabela Lemos / fpjcom

Importantes nomes da administração da modalidade participaram do Encontro de Kodanshas em que avaliaram conquistas e discutiram perspectivas judô paulista, dentro e fora dos tatamis.

Por Paulo Pinto / fpjcom
28 de novembro de 2023 / São Paulo (SP)

Para estabelecer novos conceitos de administração da modalidade esportiva que mais medalhas olímpicas conquistou para o Brasil até hoje, a diretoria da Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou no dia 18 de novembro no auditório do Centro de Excelência do Judô, Teatro Inezita Barroso, uma mesa-redonda durante o Encontro Estadual de Kodanshas de 2023, mostrando os avanços da atual gestão e abrindo discussões sobre o futuro do judô em São Paulo.

Além de 94 professores kodanshas, o encontro contou com a presença de judocas renomados da gestão esportiva nacional, que não apenas abrilhantaram o evento, mas contribuíram com sua expertise em diferentes áreas para aprofundar os debates.

Leandro Guilheiro pontuou que lidar com as regras, hoje, é muito difícil porque elas complicam a vida dos atletas e dos treinadores © Isabela Lemos / fpjcom

Entre eles estavam Rogério Cardoso Sampaio, diretor-geral do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e campeão olímpico em Barcelona (1992); Edison Minakawa, coordenador nacional de arbitragem da Confederação Brasileira de Judô (CBJ); Leandro Marques Guilheiro, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas (2004) e Pequim (2008) e coordenador técnico do alto rendimento do Esporte Clube Pinheiros; e o professor kodansha hachi-dan (8º dan) Osvaldo Hatiro Ogawa, ex-presidente da FPJudô.

Falaram durante o encontro os integrantes da diretoria da FPJudô Arnaldo Luiz de Queiroz Pereira, secretário-geral, sobre os avanços da área administrativa; Marco Aurélio Uchida, coordenador técnico, sobre os eventos e mudanças da temporada; Fernando Ikeda Tagusari, chefe de governança que discorreu sobre o programa Kesei No Michi; e Soraia André César, membro da recém-fundada comissão da mulher. O presidente Alessandro Panitz Puglia discursou na abertura e o vice-presidente Joji Kimura mediou os trabalhos.

Professores kodanshas que participaram do encontro © Isabela Lemos / fpjcom

O mestre de cerimônias José Jantália homenageou os professores kodanshas presentes, reverenciando os senseis mais graduados no recinto: Valdir Meleiro, Dante Kanayama e Celestino Seiti Shira, todos kyuu-dan (9º dan).

Jantália destacou também a presença de quatro professores kodanshas medalhistas olímpicos: Henrique Carlos Serra Azul Guimarães, Luiz Yoshio Onmura, Rogério Cardoso Sampaio e Leandro Marques Guilheiro. Foram homenageados, ainda, a professora kodansha e medalhista paralímpica Danieli Bernardes e o professor kodansha José Gildemar Carvalho, delegado da 9ª DR ABC, anfitrião do evento.

Passado, presente e futuro

Como mediador da mesa-redonda, o professor kodansha Joji Kimura iniciou os trabalhos convocando o público a participar das discussões e a questionar os pontos dos quais discordassem.

“A ideia é trocar ideias a respeito do futuro da nossa modalidade, para que nós da gestão da federação consigamos evoluir de alguma forma em médio e longo prazo”, afirmou. “Hoje estamos plantando sementes para que possamos mais tarde melhorar o judô do nosso Estado.”

Alessandro Puglia dá boas-vindas aos professores e convidados © Isabela Lemos / fpjcom

O professor Hatiro Ogawa dissertou sobre a história e o passado da modalidade, enquanto o sensei Edson Minakawa falou sobre o presente e Leandro Guilheiro fez projeções sobre o futuro. Rogério Sampaio mostrou sua visão do judô desde a época em que competia até os dias de hoje.

O atual patriarca da família Ogawa lembrou que o Brasil é um dos poucos países do mundo em que o judô surgiu espontaneamente, transmitido por imigrantes japoneses e não por representantes do Instituto Kodokan.  “Nós aprendemos o judô raiz, que era muito parecido com o jiu-jitsu tradicional. Daí a semelhança não só na forma de praticar a modalidade nos dois países, mas também na disciplina, no comportamento e na atitude dos praticantes e atletas”, explicou.

Dirigentes e professores no encontro dos kodanshas © Isabela Lemos / fpjcom

Entretanto, Ogawa está preocupado com os caminhos que a modalidade vem percorrendo. “Não temos substitutos à altura dos antigos professores. Se não agirmos rapidamente e retomarmos aqueles conhecimentos, em duas ou três gerações perderemos toda a referência que tivemos do judô do Japão. Hoje o que está em evidência é a parte competitiva e sem nenhuma técnica.”

Arbitragem 

O professor Edson Minakawa, depois de citar expoentes da arbitragem brasileiros que atuaram em Olimpíadas, repetiu palavras do sensei Dante Kanayama: “Se nós não temos história, não temos como recordar, não temos o que dizer”. Por isso reafirmou a importância de lembrar dos grandes professores.

Rogério Cardoso Sampaio, diretor-geral do Comitê Olímpico do Brasil, também reclamou da influência negativa da arbitragem na atualidade © Isabela Lemos / fpjcom

Em seguida, o coordenador nacional de arbitragem fez um retrospecto das mudanças ocorridas nesse setor desde os Jogos de Londres, em 2012, o último em que houve um trio de árbitros atuando nos tatamis. No Rio, em 2016, havia apenas um, perdendo sentido a designação de árbitro central. Desde Tóquio, já com um único arbitro e um grupo de comissionados na mesa da organização, não há mais árbitros de carreira na direção de arbitragem internacional.

No momento, todas as atenções se voltam para os Jogos Olímpicos de Paris 2024. Neste ciclo as alterações nas regras foram motivadas pelas lutas polêmicas que ocorreram em Tóquio, como a proibição de usar o apoio da cabeça para aplicar um golpe. “Essa é uma forma de a Federação Internacional de Judô mostrar ao público que não está parada. Mas nem em todas as intervenções os árbitros terão 100% de acerto”, comentou.

Professores acompanham a execução do Hino Nacional © Isabela Lemos / fpjcom

E questionou: “Nós praticamos uma luta ou nós praticamos judô? Quando eu citei o meu sensei e os árbitros que atuaram em Olimpíadas foi porque eu acho que nós temos berço. Nós precisamos cultuar os nossos mestres; não temos o direito de mudar uma coisa chamada judô”.

Complexidade da estrutura do judô

O medalhista olímpico Leandro Guilheiro começou abordando a complexidade da estrutura que caracteriza o judô atualmente, com professores envolvidos no kata, outros dedicados à arbitragem e outros ainda a setores administrativos. Mas, segundo ele, não é isso que atrapalha os adeptos e praticantes.

Edison Minakawa, coordenador nacional de arbitragem da Confederação Brasileira de Judô © Isabela Lemos / fpjcom

“É muito difícil hoje lidar com a regra, porque ela não complica só a vida do competidor, mas também do treinador. Enquanto outros esportes e modalidades buscam o lado mais objetivo, no judô se vê cada vez mais regras que sujeitas a interpretação. Como distinguir um falso ataque de um ataque efetivo?”

Guilheiro está cansado de ver atletas preocupados não em evitar uma queda, mas em buscar três shidôs dos adversários. “Acho que isso é a raiz de todos os problemas do judô competitivo. Atletas mais experientes sentem isso quando encaram outros mais jovens, que já vêm escorados nessa prática.”

Professores acompanham a execução do Hino Nacional © Isabela Lemos / fpjcom

Como comentarista de competições de judô para redes de TV, Guilheiro confessa que já não sente prazer ao assistir às lutas e tem dificuldade para exercer seu trabalho. Como traduzir para o leigo o que está acontecendo nos tatamis? Quando o espectador busca uma luta de judô, quer ver um ippon, assim como o aficionado do boxe quer ver nocautes.”

Em resumo, quando se estimula o judô com shidô e penalidades, não se está estimulando o judô. E quantas vezes a aplicação da regra é assimétrica? “Se o atleta tiver um wazari, pode até jogar-se no chão que raramente vai levar o terceiro shidô.” Segundo Guilheiro, existe a mesma perplexidade entre atletas e treinadores em todo o mundo, e não só no Brasil.

Influência negativa da arbitragem

O campeão olímpico Rogério Sampaio também apontou a influência negativa de algumas regras de arbitragem na descaracterização do judô. “Recentemente estive nos Jogos Pan-Americanos e confesso que não consegui assistir à competição de judô por muito tempo. A gente logo cansa e sai para fazer outra coisa.” Em sua participação na mesa-redonda ele abordou ainda o ensino de judô no Brasil.

“Com relação às regras e à arbitragem, confesso que infelizmente não há muito o que fazer. Eu tenho de comparar com o que havia na minha época, até porque o desenvolvimento do ensino do judô está muito ligado à regra e à arbitragem. O atleta se desenvolve tecnicamente e em algum momento querer competir e confrontar os outros. E aí as lutas se definem muito mais nas punições do que na pontuação – e não é de hoje.”

Professores Joji Kimura, Alessandro Puglia e Arnaldo Queiroz na abertura do encontro dos kodanshas © Isabela Lemos / fpjcom

Sampaio referiu-se em particular às mudanças ocorridas no último ciclo olímpico, quando só wazari e ippon passaram a valer pontos. “Essa mudança nivelou o judô por baixo, o que favorece o atleta menos técnico. Agora, caiu é wazari. A regra deveria ir exatamente no sentido contrário, a favor do competidor mais técnico, aquele que consegue chegar o mais próximo possível do ippon.”

Números expressivos

Um dos depoimentos mais esperados no encontro foi o do professor Arnaldo Luiz de Queiroz Pereira, secretário-geral da FPJudô, um dos responsáveis pelas inovações no sistema de gestão da entidade. Ele comparou os kodanshas a uma espécie de conselho, pois são os professores mais antigos, que dedicaram a maior parte da vida ao judô e à federação. “Então, esta reunião funciona como uma prestação de contas daquilo que a administração, eleita por eles e pelos responsáveis pelas agremiações filiadas, fez”, disse.

Osvaldo Hatiro Ogawa, ex-presidente da FPJudô © Isabela Lemos / fpjcom

“É muito importante que os senhores saibam que nós estamos buscando a excelência na governança, estamos tentando melhorar um pouquinho mais a cada dia, seguindo o exemplo de outras entidades, como o COB, tão bem administrado pelo professor Rogério Sampaio. Temos buscado espelhar-nos naquilo que há de melhor na gestão esportiva e honrar os professores que nos antecederam.”

Queiroz traduziu a grandiosidade da FPJudô em números. Em 2022, havia 367 associações filiadas; em setembro de 2023, já eram 420, ou seja, houve crescimento 14%. “É um aumento bastante expressivo porque a entidade sobrevive dos recursos e da contribuição dos filiados, como já fazia há 65 anos, quando foi fundada. Este é um número que nos orgulha, mas o sensei Luís Onmura está capitaneando uma campanha que visa a ultrapassar a marca dos 500 filiados.”

O vice-presidente Joji Kimura © Isabela Lemos / fpjcom

Em seguida o dirigente exibiu gráfico referente aos inscritos por associações e clubes e às divisões. Em 2022 participaram dos nossos eventos 4.431 atletas inscritos na divisão especial – a que mais contribui e tem o ticket mais caro. Agora são 4.858, com crescimento de 9.64%. A divisão aspirante passou de 4.528 atletas filiados em 2022 para 6.636 em 2023, exibindo um crescimento gigantesco de 46,55%, que deverá refletir-se em 2024 na divisão especial.

“O ano de 2023 foi muito importante”, prosseguiu Queiroz, “porque nós criamos a divisão escolar, que era um sonho antigo. São 1.735 crianças inscritas que vêm das escolas, associações e projetos sociais. Elas participam de festivais bem estruturados pela federação e vão herdar a futura divisão dos aspirantes. Estamos fazendo uma escadinha e com isso o judô vai crescendo de maneira orgânica e organizada.”

Joji Kimura mediou a mesa-redonda © Isabela Lemos / fpjcom

Otimista, o secretário-geral espera aumentar expressivamente o número de filiados até o fim de 2025. Neste ano foram emitidas 13.229 carteirinhas, no ano que vem elas cheguem a 16 mil – todas devidamente digitalizadas e disponíveis nos aplicativos dos associados. “Eu realmente acho muito difícil encontrarmos uma entidade esportiva que tenha um número tão expressivo como esse. De todos os modos, se a conjuntura econômica do País não criar maiores obstáculos, não é difícil projetar mais de 20 mil filiados até o fim de 2025”, afirmou o dirigente.

Queiroz destacou que 2023 foi implementado o sistema integrado de gerenciamento de contabilidade, permitindo que os 16 delegados regionais trabalhem em rede com a federação. “Eles têm suas administrações, mas qualquer lançamento é imediatamente registrado no sistema. Acabou a prestação de contas no caderninho.”

Coordenação técnica

O professor Marco Aurélio Uchida, coordenador técnico da Federação Paulista de Judô, fez um resumo das atividades técnicas e competitivas da entidade em 2023, envolvendo competições, módulos, treinamentos e exame de graduação, e adiantou as alterações para 2024.

Professores acompanham o pronunciamento de Rogério Sampaio © Isabela Lemos / fpjcom

Neste ano a FPJudô eliminou o campeonato regional da divisão aspirante e remanejou os campeonatos inter-regionais, que passaram a ser realizados em conjunto por duas delegacias. Foi instituída a divisão iniciante/escolar, com a realização de festivais.

Além da Copa São Paulo, realizada em quatro dias e em dois fins de semana, a FPJudô promoveu 16 competições inter-regionais, sendo que as das classes sub 13, sub 18 e sub 21 foram realizados em cinco etapas. Já o Open Ajinomoto contou com três edições neste ano, sendo duas na divisão especial e uma na aspirante.

Arnaldo Queiroz reafirmou que a atual gestão da FPJudô busca a excelência na governança, a exemplo de entidades como o COB © Isabela Lemos / fpjcom

Realizaram-se seis campeonatos paulistas e seletivas para o campeonato brasileiro regional e para o meeting de Santa Catarina, além do Torneio Beneméritos do Judô do Brasil. O exame de graduação de 2023 contou com 175 participantes e a coordenação técnica da FPJudô promoveu ainda vários treinamentos, entre eles para as categorias de base, de kata, de veteranos e itinerantes.

Mas a grande novidade da área técnica nesta temporada, segundo Marcos Uchida, foi a gestão compartilhada de importantes eventos do calendário paulista, favorecendo atletas, clubes e a federação. “Devido à credibilidade e tradição da FPJudô e do clube nos tatamis, a edição do Corinthians Open de Judô desta temporada reuniu cerca de 1.300 atletas”, detalhou o coordenador. “A Copa São Bernardo recebeu mais de mil judocas; o tradicional Torneio Budokan e o Torneio Periquito superaram mil inscrições, enquanto o Torneio Juventude promete bater recorde de inscritos na próxima temporada.”

Marco Aurélio Uchida faz seu pronunciamento © Isabela Lemos / fpjcom

O dirigente encerrou sua participação com uma referência especial aos módulos. “Começamos realizando o seminário de arbitragem, na sequência fizemos o módulo de arbitragem em 16 etapas, depois veio o módulo de oficiais técnicos, de forma online, o workshop de oficiais técnicos em 16 etapas, o módulo de história, filosofia, ética e terminologia do judô e finalmente os módulos de nage-no-kata e fundamentos técnicos.”

Comunicação digital

Marcelo Fugimoto, coordenador de marketing digital da FPJudô, informou que o foco de 2023 foi resgatar a marca da federação e ampliar a divulgação das ações da entidade. Outro importante objetivo dessa área é o engajamento do público. “Isso pode ser feito por meio de entrevistas com professores e de conteúdos interativos, atraindo novos atletas por meio de técnicas de judô e da cultura do esporte.

O coordenador técnico da FPJudô elencou todos os eventos realizado pela entidade em 2023 © Isabela Lemos / fpjcom

Fugimoto falou também da necessidade de alcançar novos públicos que possam se interessar pelo judô, incluindo escolas, clubes esportivos e a população em geral, por meio de campanhas de conscientização e parcerias estratégicas.

Para isso, propõe ações como melhoria no atendimento e relacionamento com o público, estabelecendo canais eficientes de comunicação com atletas, treinadores e associados e fornecendo informações atualizadas sobre eventos, mudanças de regras e oportunidades de treinamento.

Comissão de Mulheres

A professora kodansha Soraia André César falou em nome da recém-criada Comissão de Mulheres, que tem como integrantes Solange de Almeida Pessoa Vincki, vice-presidente da FPJudô, como presidente; Marilaine Ferranti Antonialli, coordenadora adjunta de arbitragem da FPJudô, como vice-presidente; Rogéria Cozendey da Silva, coordenadora de veteranos feminino; e Edna Pioker de Lima, coordenadora de arbitragem da 14ª DR Vale do Ribeira.

Dirigentes da FPJudô acompanham a execução do Hino Nacional © Isabela Lemos / fpjcom

Segundo a professora Soraia, um dos principais objetivos da comissão é aumentar, incentivar e garantir a participação de mulheres em todos os setores do esporte, tanto o técnico quanto esportivo, a arbitragem e a gestão.

“Outro importante objetivo nosso é acolher os casos de assédio moral, sexual ou psicológico”, prosseguiu. “Sabemos que a relação de gênero neste País é bastante turbulenta por estar estruturada em muitos ismos, dentre eles o machismo, e precisamos falar sobre isso. Nesse acolhimento, nós pretendemos fazer com que qualquer ato dirigido contra as mulheres seja punido. E isso não é brincadeira, é sim assédio.”

Marcelo Fugimoto, coordenador de marketing digital da FPJudô, disse que o foco de 2023 foi resgatar a marca da federação e aumentar a divulgação de suas ações © Isabela Lemos / fpjcom

Soraia explicou que a comissão foi criada em agosto deste ano e tem-se reunido quinzenalmente. “Mas não pretendemos trabalhar sozinhas, queremos atuar em parceria com a comissão de ética, com o Tribunal de Justiça Desportiva e fazer um trabalho coletivo. A luta do judô feminino não é só uma luta de mulheres, mas também de homens que acreditam no nosso potencial.”

Keisei No Michi

Fernando Ikeda Tagusari, chefe de governança discorreu sobre o Kesei No Michi, programa que visa à formação de técnicos e professores de judô, estimulando a preparação dos futuros profissionais na Educação Física.

“O lançamento oficial do Projeto Keisei No Michi – Caminhos da formação – o Judô Transformando Vidas, criado pela Federação Paulista de Judô (FPJudô) e chancelado pelo Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região (CREF4/SP), aconteceu no dia 2 de setembro de 2011no Plenário Juscelino Kubistchek do CREF4/SP.”

Rogério Sampaio faz seu pronunciamento © Isabela Lemos / fpjcom

“O curso para instrutores integra um projeto inédito que visa a combinar todo o conhecimento transmitido pelo shihan Jigoro Kano (1860/1938), criador do judô Kodokan, com modernos conceitos acadêmicos educacionais. O projeto que estabeleceu um marco no relacionamento entre a FPJudô e o CREF4/SP já está em seu segundo ano, atendendo plenamente os praticantes de judô que buscam o fortalecimento do conhecimento, a profissionalização e a empregabilidade no campo do esporte.”

Responsabilidade do kodansha

O professor kodansha Odair Antônio Borges lembrou que os grandes resultados competitivos alcançados pelo judô são fruto da educação e do aprendizado dos atletas que tiveram o privilégio de convivência com os senseis pioneiros. “Muitos já se despediram para a eternidade, mas deixaram não só ensinamentos técnicos, mas também exemplos de integridade física, moral e intelectual. Tive esse privilégio e honra, pois conheci todos e de alguns segurei no judogi, o que me autoriza o testemunho.”

Fernando Ikeda detalhou conquistas e avanços do Keisei No Michi, programa desenvolvido em parceria com o CREF4/SP que visa à formação de técnicos e professores de judô © Isabela Lemos / fpjcom

Segundo Borges, é atribuição dos kodanshas dar continuidade ao ensino do tradicional judô de Jigoro Kano. “Não podemos simplesmente nos acomodar com uma alta graduação, deixando de nos atualizar, orientar, participar e colaborar para o ensino e desenvolvimento de nossa modalidade. Não podemos aceitar essa titulação de kodansha sem fazer o trabalho que essa condição demanda.”

Para ele, é fundamental estar sempre atento e vigilante para que praticantes, alunos e atletas não se deixem desorientar, não percam o caminho e não se iludam com ensinamentos duvidosos de técnicas espetaculares copiadas de outras lutas.

Professoras kodanshas Soraia André César, Marilaine Ferranti Antonialli, Rogéria Conzendey e Edna Pioker de Lima, integrantes da Comissão de Mulheres da FPJudô © Isabela Lemos / fpjcom

E enfatizou que kodansha é um título de alta graduação específico do judô criado pelo Instituto Kodokan. “Deve ser outorgado àqueles que se empenharam no aprendizado, na prática contínua, na demonstração da sua eficiência técnica em competição e na devida dedicação, no ensino, no estudo e na pesquisa. Portanto, seu portador é depositário e responsável pela difusão dos princípios filosóficos e educacionais do judô preconizados pelo professor Jigoro Kano”, concluiu Borges.

Objetivos alcançados

Para o professor kodansha Anderson Dias de Lima (7° dan), a competição no judô não trata de vencer o oponente, mas superar os próprios obstáculos e crescer física e mentalmente. Nesse sentido, o encontro teve o condão de propor a discussão e levar à conclusão de que é preciso resgatar o judô original pensado por Jigoro Kano. Para tanto é necessário melhorar os aspectos técnicos, buscar a técnica mais apurada, de forma a recuperar os bons resultados do judô paulista, “que com os anos vem tendo uma certa decadência”. “Agora”, recomendou, “cabe a cada um fazer o seu trabalho e à federação atentar a isso, para melhorar o ensino e a prática do judô no Estado e colocar São Paulo novamente no seu lugar como locomotiva do judô brasileiro.”

A professora Soraia André César enfatizou que falar hoje da comissão de mulheres é falar de um sonho que se tornou realidade © Isabela Lemos / fpjcom

O encontro, na opinião do professor Anderson, deixou claro que nos últimos anos houve um distanciamento do judô pensado por Jigoro Kano, com os seus princípios e propósitos na parte filosófica. Consequentemente, a parte técnica sofreu porque há um elo, uma ligação muito forte dela com aqueles princípios.

“O judô, diferente de outras modalidades esportivas, não nasceu para ser um esporte de competição. Jigoro Kano imaginou o judô como um método de educação física e mental para melhorar a qualidade de vida individual e social”, afirmou.

Qualidade técnica

 O professor kodansha Cláudio Calazans Camargo, delegado da 2ª DR Vale do Paraíba, concorda que o judô brasileiro teve a sorte de ser implantado por grandes professores que vieram do Japão para cá, formando uma base técnica muito próxima do judô japonês. “Contudo”, observou, “o tempo passou, os antigos mestres e seus alunos diretos se foram e, com a popularização da modalidade, multiplicaram-se os locais para a prática e demanda por professores cresceu mais do que a oferta. Com isso, a qualidade técnica caiu.”

Alessandro Puglia destacou a importância de reunir os professores kodanshas para exibir dados e avanços. Segundo ele, isso não apenas reconhece a contribuição dos mestres para a modalidade, mas também reforça o compromisso da gestão em envolver os principais stakeholders na tomada de decisões © Isabela Lemos / fpjcom

Para Calazans, a saída está na capacitação. Ele citou o programa Keisei no Michi, destinado a faixas-pretas que pretendem dedicar-se ao ensino, como um avanço importantíssimo. Mas o judô não vive só de professores. Ele depende do trabalho de auxiliares, dirigentes, estudiosos de kata, árbitros, instrutores de defesa pessoal, palestrantes, docentes em cursos superiores etc.

“Cada um precisa achar sua vocação e engajar-se numa ou várias dessas atividades.”

Calazans reconhece a decadência do judô competitivo moderno, “claramente manipulado e conduzido, nas suas regras, pelos interesses econômicos das grandes mídias e da própria FIJ”. Ele entende que as modificações para tornar a luta mais atrativa transformaram o judô uma correria e pancadaria, com entradas de técnicas sem a devida pegada e preparação.

No aspecto administrativo, o delegado da 2ª DR destacou que a FPJudô caminhou a passos largos na modernização e informatização dos seus processos internos, desde a contabilidade e prestação de contas de entradas e saídas financeiras ao encaminhamento de documentos e certificados de módulos, inscrições em eventos e exames de graduação. “Avançou muito nas suas mídias sociais, que são importantes canais de comunicação, e está prestes a lançar sua plataforma digital na qual as entidades federadas e seus judocas serão cadastrados”, exemplificou.

Elton Fiebig foi um dos interlocutores do encontro, contribuindo com questionamentos e sugestões brilhantes © Isabela Lemos / fpjcom

Importante também, na visão de Calazans, foi a criação da Divisão Iniciantes/Escolar, com o objetivo de atrair escolas, professores e alunos que se encontram fora do sistema formal, possibilitando uma federalização a custo baixo e abrindo uma porta para o judô oficial.

“O trabalho não é fácil e a aproximação da FPJudô é muito importante para o sucesso da iniciativa, que exige estratégias apropriadas para convencer mantenedores de escolas e dos próprios professores de judô que nelas atuam”, completou.

Adaptar as técnicas nos grupos de iniciação

Recentemente graduado, o professor kodansha Elton Quadros Fiebig mostrou-se emocionado ao compartilhar ideias com grandes mestres que pontuaram sua trajetória de 43 anos no esporte. Para ele, foi importante conhecer os números da gestão da FPJudô e, principalmente, ver a preocupação dos professores com a evolução técnica do judô.

Henrique Guimarães também prestou grande colaboração ao encontro © Isabela Lemos / fpjcom

Ele destacou a necessidade de adaptar as técnicas empregadas nos grupos de iniciação, no sub 9 e sub 11, principalmente para evitar lesões e garantir o progresso das crianças na modalidade. Ele referiu-se particularmente à palestra de Leandro Guilheiro, que apontou a deficiência motora de atletas que já participam de competições. “Nós temos o compromisso de formar essas crianças, e tem de ser uma formação integral. Elas precisam de noções básicas de locomoção, salto e corrida e de melhorar todo o seu repertório de movimentos para o judô.”

Fiebig mencionou também os comentários de Rogério Sampaio a respeito de fase de aprendizado, como os jovens se sentiam no dia a dia. “Nós, que trabalhamos com a iniciação e com a base, temos realmente de fazer uma lapidação, ensinar muitos conceitos, porque as crianças de hoje já não brincam na rua, não têm a oportunidade de praticar outros esportes, e a Educação Física nas escolas tem sido cada vez mais negligenciada. Como professores e formadores temos, temos de assumir o compromisso de ensinar o que é correto para as novas gerações.”

Evasão no covid-19

Já o professor kodansha Raul de Mello Senra Bisneto, delegado da 4ª DR Alta Paulista, mostrou-se preocupado com a evasão dos praticantes durante a pandemia da covid-19. “Depois, houve uma procura muito grande de crianças na faixa etária de 4 a 8 anos.  Estamos praticamente começando do zero, pegando essa criançada para trabalhar a iniciação e sobrecarregando as associações filiadas às delegacias regionais.”

Dirigentes aplaudem a importante participação dos professores que estavam na plateia © Isabela Lemos / fpjcom

Depois de mencionar a clareza das apresentações de Queiroz e Fugimoto, com os números da FPJudô, o professor Raul disse concordar inteiramente com a visão de Hatiro Ogawa quanto à necessidade de trabalhar a parte de fundamentação técnica.

Por fim, o delegado da 4ª DR Alta Paulo, disse que gostaria de ver uma atuação mais forte na parte da arbitragem. “Creio que a federação precisa fazer um trabalho mais abrangente no sentido de fornecer mais informação e treinamento para o quadro de árbitros do Estado.”

Progresso

O professor kodansha Rubens Pereira considerou o encontro “muito salutar” e afirmou que o judô do Brasil e “estava precisando dessa alavanca”. “Conversei com alguns professores e senti que a visão geral é que fizemos algum progresso”, declarou.

No encerramento, sensei Kimura homenageia Leandro Guilheiro © Isabela Lemos / fpjcom

Entretanto, o professor Rubens acha que o grupo que está à frente da FPJudô é composto por judocas mais jovens, e que poderia melhorar com a ajuda de veteranos que conheçam os meandros da gestão. “Esse grupo tem boas ideias, mas ainda carece de algumas informações. E nós precisamos de informações positivas, que levem o judô ao alto nível. Os jovens têm boas ideias, mas nós temos experiência. Foi um encontro maravilhoso, mas poderia ter sido mais objetivo”, concluiu.

Importância do encontro

Alessandro Puglia avaliou a importância do encontro que reuniu importantes nomes da administração da modalidade, gestores da FPJudô e 94 professores kodanshas.

“O Encontro Estadual de Kodanshas de 2023 demonstra o comprometimento da nossa diretoria em buscar inovações na administração da modalidade. A realização de uma mesa redonda é uma iniciativa valiosa para compartilhar informações sobre os avanços alcançados durante a gestão atual e debater as perspectivas futuras do judô no Estado de São Paulo.”

Puglia destacou a importância de reunir os mestres graduados no judô, para trocar ideias e experiências. Isso não apenas reconhece a contribuição desses professores para a modalidade, mas também reforça o compromisso da gestão em envolver os principais stakeholders na tomada de decisões.

“Ao exibir dados e avanços da atual gestão, a diretoria da FPJudô fornece transparência sobre suas ações e realizações, estabelecendo uma base sólida para a continuidade do desenvolvimento do judô no Estado de São Paulo. A discussão das perspectivas futuras indica um pensamento estratégico e a busca por melhorias contínuas, visando a manter o judô paulista em uma posição de destaque no cenário esportivo nacional.”

Segundo o presidente da federação paulista, essa iniciativa é crucial não apenas para o crescimento da modalidade, mas também para fortalecer a comunidade de judô em São Paulo, promovendo a colaboração e o engajamento entre os praticantes, treinadores e dirigentes. “O Encontro Estadual de Kodanshas de 2023 é um evento construtivo que pretende moldar o futuro do judô no Estado, contribuindo para o seu sucesso contínuo.”

Homenagens

Durante o encontro os professores kodanshas Paulo Roberto Duarte e Leandro Guilheiro foram homenageados pelos relevantes prestados ao judô e pelas medalhas olímpicas conquistadas. Paulo Duarte como técnico formador e Guilheiro como atleta da seleção brasileira de judô.

Professores kodanshas presentes

Participaram do Encontro Estadual de Kodanshas da FPJudô de 2023 os professores Ademir Raimundo Machado, Admir Nora, Alcides Camargo, Alessandro Panitz Puglia, Alex Sandro Russo da Silva, Anderson Dias de Lima, Antônio Carlos da Silva Mesquita, Antônio Carlos Guedes, Antônio da Silva, Antônio de Souza Neto, Antônio Honorato de Jesus, Antônio Roberto Coimbra, Antônio Tadeu Tardelli Uehara, Argeu Mauricio de Oliveira Neto, Arnaldo Gentil Menani, Belmiro Boaventura da Silva, Bento Emanoel Aleixo, Celestino Seiti Shira, Celso Ferreira Franco, Cláudio Calasans Camargo, Cleber do Carmo, Daniele Bernardes, Dante Kanayama, Eder Fonzar Granato, Edison Koshi Minakawa, Eduardo Freire da Silva, Eduardo Kitadai, Eduardo Melato Neto, Elton Quadros Fiebig, Fernando Catalano Calleja, Fernando da Cruz, Francisco Aguiar Garcia, Gleginaldo Correia Nunes, Henrique Serra Azul Guimarães, Hissato Yamamoto, Ivo Vieira Nascimento, Jair Nunes de Siqueira, Jiro Aoyama, João David de Andrade, Jorge Siqueira, José Paulo da Costa Figueiroa, José Divam Ramos, José Gildemar de Carvalho, José Gomes de Medeiros, Julio Takashi Kawaguchi, Kenzo Matsuura, Leandro Marques Guilheiro, Leonardo Augusto Pontes Arashiro, Luiz Eduardo Tomilheiro, Luiz Sérgio Ferrante, Luiz Yoshio Onmura, Marcelo Hirono, Marcos Elias Mercadante, Marcus Michelini, Marilaine Ferranti Antonialli, Massakatsu Akamine, Maurílio Cesário, Mercival Daminelli, Milton Trajano da Silva, Miriam Zyman Minakawa, Murani Gomes, Nelson Antônio Claudino, Nelson Shigueki Koh, Odair Antônio Borges, Orlando Sator Hirakawa, Osvaldo Hatiro Ogawa, Paulo Alvim Ferraz Muhlfarth, Paulo Ricardo Castellanos Souza, Paulo Roberto Duarte Almeida, Pedro Caetano Antonelli, Pedro Luiz Fernandes, Raul de Melo Senra Bisneto, Ricardo Forte Katchborian, Roberto Forte Katchborian, Roberto Joji Chiba Kimura, Roberto Luis Fuscaldo, Roberto Moyses Dutkiewcz, Rogério Sampaio Cardoso, Rubens Pereira, Sadao Fleming Mulero, Samir Guedes Salomé, Sérgio Malhado Baldijão, Setuo Takahashi, Sidnei Paris, Soraia André Cesar, Sumio Tsujimoto, Takeshi Yokoti, Tomio Takayama, Valdir Melero, Vicente de Paula Oliveira, Wagner Antônio Vettorazzi, Walter Farah, Willian Soares de Freitas e Yoshihiro Sakashita.

Delegados regionais presentes

Participaram do Encontro Estadual de Kodanshas da FPJudô de 2023 os delegados regionais Hissato Yamamoto, 1ª DR Capital; Cláudio Calasans Camargo, 2ª DR Vale do Paraíba; Argeu Mauricio de Oliveira, 3ª DR Centro Sul; Raul de Mello Senra Bisneto, 4ª DR Alta Paulista; Fábio de Almeida Feltrim, 6ª DR Araraquarense; Jiro Aoyama, 7ª DR Sudoeste; Sidnei Paris, 8ª DR Oeste; Gildemar de Carvalho, 9ª DR A B C; Cleber do Carmo, 12ª DR Mogiana; André Gustavo Gonçalves, 13ª DR Alta Sorocabana, Akira Hanawa, 14ª DR Vale do Ribeira; e Takeshi Yokoti, 16ª DR Sul Itapeva.

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