17 de novembro de 2024
FPJudô fará contagem de pontos do kata no mesmo sistema adotado pela FIJ
Novo formato será adotado a partir de 2023, mas juízes já estão sendo capacitados para atuar com auxílio do software criado pelo professor san-dan Alexandre Nardi
Por Paulo Pinto / FPJCOM
16 de junho de 2022 / São Paulo (SP)
De forma experimental, no dia 7 de maio a coordenação técnica da Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou o Campeonato Paulista de Kata 2022 de forma exclusiva, sem a disputa do shiai da classe veteranos no mesmo dia. O novo formato fez tanto sucesso que o presidente Alessandro Puglia determinou que as edições futuras sejam realizadas da mesma forma.
Contudo, em paralelo à disputa, a coordenação de cursos da FPJudô promoveu importante inovação no sistema de contagem de pontos, fundamentada naquilo que a Federação Internacional de Judô (FIJ) adota nas competições de kata na atualidade. O professor coordenador de cursos, Luís Alberto dos Santos, assegurou que a novidade foi amplamente aprovada pelos juízes avaliadores, e deu os detalhes.
“Fizemos uma mudança nos critérios de avaliação nas competições de kata, já que antes usávamos um sistema baseado em notas decrescentes, de 10 a 0. Iniciávamos com o valor maior e, na medida em que falhavam, os candidatos iam perdendo pontos. Mas já há alguns anos a FIJ vem utilizando um sistema diferente nas suas competições e a diretoria da FPJudô decidiu que, a partir de agora, deveríamos adotá-lo.”
Com base nessa determinação, o professor Alexandre Nardi, um filiado da federação que treina com Luís Alberto no Centro de Aperfeiçoamento Técnico (CAT) desde que era primeiro kyo (hoje é san-dan), desenvolveu um software que lê as fichas de avaliação elaboradas pelos juízes.
“É um programa que segue o atual sistema de contagem utilizado pela FIJ”, explicou o coordenador. “Não sei bem ao certo, mas o Nardi é formado em odontologia, educação física e tecnologia da informação (TI). Hoje é professor, mas por muitos anos trabalhou na Microsoft e agora está na Amazon.”
O coordenador de cursos da FPJudô esclareceu que hoje se usa uma ficha na qual o juiz não dá mais a nota, e sim assinala os tipos de falha cometidos. A ficha é escaneada com o software desenvolvido por Nardi, que lê a ficha e extrai um valor numérico, ou seja, a nota.
“No Campeonato Paulista de Kata realizado em São Bernardo fizemos uma experiência para testar o sistema e foi perfeito. O próximo passo agora é capacitar os juízes para usarem esse novo formato de avaliação. Então nós já disponibilizamos essas fichas para os juízes adquirirem certa intimidade com o material.”
Luís Alberto explicou que os critérios de avaliação também já foram disponibilizados no site da federação e nos grupos de WhatsApp. “Os juízes estão começando a estudar e em breve vamos fazer encontros presenciais para esclarecer melhor os critérios, tirar dúvidas e capacitar os juízes para atuarem nos eventos”, disse. “Lembrando que faremos isso de forma bem pedagógica e com o tempo necessário, tendo em vista que nós só vamos adotar este novo formato oficialmente a partir de 2023, já que não há nenhuma competição de kata no calendário do segundo semestre. Nós temos bastante tempo para a capacitação dos juízes até a realização da Copa São Paulo de 2023.”
O coordenador de cursos da FPJudô concluiu lembrando que a FPJudô está à disposição de outras federações. “Muitos professores já demonstraram interesse no sistema que desenvolvemos e, como sempre, a Federação Paulista de Judô se coloca à disposição dos colegas dos demais Estados.”
Profissional de Educação Física, doutor em Ciência da Computação e apaixonado pelo kata e pelo judô
Alexandre Ricardo Nardi começou no judô em 1976 na AABB/SP, depois treinou no Clube Atlético Tremembé com o sensei Edemir Gulfier. Com as obrigações acadêmicas e profissionais, ficou muitos anos afastado e retornou em 2011, na AABB, com o sensei Paulo Figueiroa, que o incentivou a iniciar a prática do kata na FPJudô com o sensei Luís Alberto. Hoje ele é vice-presidente da Associação de Judô Kata Team, com os senseis Marcus Michelini e Leonardo Vendrame, na qual tem contribuído com iniciativas como o software para avaliação de kata e a tradução oficial dos critérios de avaliação desenvolvidos pela FIJ.
Bacharel, mestre e doutor em ciência da computação pela USP, cirurgião dentista pela Faculdade de Odontologia da USP e bacharel em Educação Física pela Universidade Paulista, Alexandre Nardi possui registro no CREF4/SP de número 175054-G/SP. Apaixonado pela prática do kata, desenvolveu a ferramenta para avaliação sem nenhuma intenção de explorá-la comercialmente.
“Em 2018 me classifiquei para disputar o campeonato mundial de kata, em Cancun, e comecei a estudar os critérios de avaliação disponíveis no portal da Federação Internacional de Judô no ano seguinte, para conhecer melhor as regras atualizadas da entidade. Primeiro traduzi os critérios de avaliação da FIJ e depois disponibilizei esse material para todo mundo, inclusive para o próprio site da FIJ, que incluiu a tradução em português. Não tenho a menor intenção de explorar comercialmente o software, oferecido gratuitamente a todos que tenham interesse em utilizá-lo, até mesmo a CBJ, se for o caso.”
Nardi lembrou que o programa deveria ter sido adotado já na Copa São Paulo de 2020, mas por conta da pandemia o evento foi cancelado. O sistema com os critérios de avaliação da FIJ e o software foi usado no campeonato paulista de 2022 por uma banca adicional, funcionou perfeitamente e foi aprovado.
Contrapartida aos ensinamentos do judô
Apesar de o professor Alexandre Nardi ter ficado alguns anos afastado devido aos estudos e à vida profissional, ele reconhece que o judô lhe ofereceu enorme contribuição pessoal no tocante aos princípios filosóficos e todo o legado deixado por Jigoro Kano. Por isso, entende que o trabalho voluntário realizado hoje é uma forma de dar sua contribuição social para a comunidade judoísta.
“O judô me deu princípios, prioridades, respeito e humildade, enfim, uma série de coisas importantíssimas para a minha formação e evolução pessoal. Por conta disso eu me sinto muito estimulado a ajudar as pessoas da melhor forma possível, da mesma forma que eu consegui. Seja por meio do software, da arbitragem ou ensinando a fazer os katas da forma correta, a minha intenção no judô, hoje, é simplesmente colaborar. Já aproveitei muito do conhecimento de outras pessoas, tentando absorver o máximo, e agora priorizo retribuir da melhor forma possível.”