17 de junho de 2025

Nos Jogos Olímpicos de Paris, um francês de 23 anos eletrizou o público no Champ de Mars ao conquistar a medalha de prata na categoria até 73kg. Até então, Joan-Benjamin Gaba havia participado do Circuito Mundial de Judô com pouca frequência e sem resultados expressivos. Mas, naquela tarde, lutou com um espírito imensurável, galvanizando toda uma geração de fãs e fortalecendo a ideia de que o judô masculino da França vive um novo e promissor ciclo de ascensão.
No Campeonato Mundial de Judô OTP Bank 2025, que está sendo realizado em Budapeste, qualquer comentário sobre uma possível sorte em Paris ou sobre a vantagem de competir em casa foi sumariamente silenciado. Afinal, o que poderia ser mais revelador de consistência e evolução do que uma medalha olímpica de prata seguida, imediatamente, por um título mundial? A resposta de Gaba é curta e grossa: “Uma vez pode ser sorte, duas vezes não.”
Mentalité © Tamara Kulumbegashvili / FIJ
Para ele, não há segredo: o êxito vem do trabalho duro. E Gaba está feliz em falar sobre sua nova conquista — e sobre o longo caminho até ela.
A primeira pergunta, inevitável após sua impressionante performance na final em Budapeste, foi: “Afinal, o que significa o ‘T’ no apelido que a imprensa francesa passou a usar para se referir a ele: Joan-Benjamin Gaba – Mentali-TÉ?”
“Mentalidade!”, responde Gaba, com ênfase.
“É um gesto que criamos em nosso grupo de treinamento, como um símbolo de determinação. Em francês, dizemos mentalité, e a terminação da palavra soa como ‘té’
Vencendo Hifumi Abe na disputa da final olímpica por equipes mistas em Paris 2024 © Emanuele Di Feliciantonio / FIJ
O grupo, que existe desde 2020, reúne nove judocas que eram juniores à época, sob o comando do técnico Stéphane Frémont. Eles treinam com intensidade, rigor e bom humor, sempre buscando o ouro. “Temos uns aos outros para nos impulsionar. A medalha de prata do Romain… ele ficou um pouco decepcionado por não ter sido o primeiro do grupo a conquistar uma, mas todos comemoramos juntos. Desde o início nos autobatizamos de Forças Especiais.”
“Não sei exatamente por quê, mas nesses momentos eu viro um animal.”
Curiosamente, Gaba já disputou 14 Grand Slams sem conquistar nenhuma medalha, mas nos maiores eventos — os Jogos Olímpicos e os Mundiais — ele brilha. Por quê? Seria proposital?
Joan sorri ao ouvir a pergunta.
“Só as grandes competições conseguem me galvanizar assim, me levar a esse estado mental de vitória. Talvez eu precise desses grandes palcos para me transcender. Os Grand Slams são, digamos… treino. É assim que funciona para mim. Não sei exatamente por quê, mas nesses momentos eu viro um animal.”
A medalha, explica, é a recompensa por anos de trabalho árduo, e é isso que valoriza sua conquista.
“A sensação de perder é horrível. Faço de tudo para não ter que sentir isso. Quero viver — e reviver — a sensação incrível de vencer.”
Com suas conquistas, Gaba se soma a uma nova geração de talentos franceses: Valadier Picard é agora medalhista mundial; Gaba e Ngayap Hambou têm medalhas olímpicas; e Gaba, além disso, agora é campeão mundial. Quando questionado sobre quem mais influenciou sua carreira até aqui, a resposta não surpreende.
“Stéphane Frémont!”
“Eu poderia falar muito sobre ele, mas, acima de tudo, ele me ensinou a pensar diferente — a treinar melhor e a refletir melhor sobre cada combate. Ele não nos diz o que fazer; ele nos mostra como pensar por nós mesmos, como encontrar as respostas. Ele não entrega o ouro, mas garante que temos as ferramentas certas para chegar até ele.”
Gaba com Jean-Luc Rougé, que, competindo na categoria até 93kg, foi o primeiro judoca francês a conquistar a medalha de ouro em um Campeonato Mundial de Judô, em 1975. Eleito presidente da Federação Francesa de Judô em 2005, permaneceu no cargo até 2020. Em 23 de novembro de 2013, Rougé foi promovido ao kyuu-dan (9º dan) e, em 13 de dezembro de 2023, alcançou o quase inatingível juu-dan (10º dan). Atualmente, ocupa o cargo de diretor de Desenvolvimento e Promoção Internacional da FIJ © Tamara Kulumbegashvili / FIJ
Joan-Benjamin Gaba está usando — e aperfeiçoando — muito bem esse arsenal. Suas medalhas são prova disso. Ele está se tornando um dos grandes nomes do judô francês. E num país com tantos campeões na história da modalidade, é um privilégio acompanhar sua ascensão.
Em Budapeste, após sua vitória, Gaba foi cumprimentado por Jean-Luc Rougé, o primeiro campeão mundial da França, vencedor em 1975, exatamente 50 anos antes. Um encontro simbólico, carregado de significado.
Na capital húngara, Gaba conquistou a 60ª medalha de ouro da França em Campeonatos Mundiais — a primeira do país na categoria até 73kg (incluindo os anos em que o limite era 71kg). Um feito marcante e histórico, celebrado com entusiasmo por toda a delegação francesa.
17 de junho de 2025
16 de junho de 2025
15 de junho de 2025