Hannya Shin Gyo, o sutra do coração e da sabedoria completa

As fronteiras que separam as culturas e as religiões são tênues, mas no Japão as influências do budismo são vistas no idioma e nos pequenos detalhes do dia a dia

Neste sutra, que é uma oração muito poderosa e significativa para o ser humano, está presente a suprema sabedoria de Deus (Buda-Hotokesama)

Budismo Shingonshu
11 de abril de 2020
Por ROBERTO MITIO HARADA* e ÉRIKA TAKEI I Fotos PAULO PINTO e ARQUIVO
Curitiba – PR

Diante do momento inusitado que a civilização experimenta e visando a contribuir no processo evolutivo dos judocas e karatecas brasileiros, o conceituado professor kodansha shichi-dan (7º dan) Roberto Mitio Harada faz um resumo de sua vida espiritual e apresenta o Hannya Shin Gyo, o sutra do coração e da sabedoria completa, um dos mais poderosos do budismo Shingonshu.

Roberto Mitio Harada, professor kodansha paulista radicado no MS, que na adolescência se aproximou do budismo

Quando ainda criança, frequentei com meus pais várias seitas religiosas, sempre questionando os porquês disso ou daquilo, assim como frequentei muito um santuário de Nossa Senhora Aparecida na casa de uma senhora que tinha o poder de vidente através de irradiação, que mais tarde chamava de Mãe da Pátria.

Durante a minha adolescência, minha mãe ficou muito doente e, depois de tratamento espiritual, decidiu aos 50 anos estudar e desenvolver-se. De 1970 a 1972, preparou-se na cidade de Kyoto, tornando-se uma monja budista da linha Shingonshu, a mais antiga do Japão.

Templo Zojoje em Tóquio – Foto Paulo Pinto

A formatura dela coincidiu com a minha ida ao Japão em 1972 e, antes de me concentrar em meus estudos de judô na Universidade de Tokai e no Instituto Kodokan, cumpri uma promessa de, juntamente com ela, fazer a caminhada por 88 igrejas na Ilha de Shikoku, famosa no Japão, em agradecimento pelas graças alcançadas por mim no Brasil.

Em Tóquio, ela continuou seu estudo com vários professores e, quando tinha oportunidade, eu a acompanhava para aprender algo mais sobre o budismo. Durante esses estudos, aconteceram fatos inacreditáveis comigo, no mundo espiritual, os quais prefiro neste momento não relatar. Passada esta fase ímpar em minha vida, recebi a mensagem de que, em algum momento, teria de criar e fundar uma entidade com nome Bucrisgue – mas eu não tinha a menor ideia de como e quando fazê-lo.

Roberto Harada, durante a peregrinação nas 88 igrejas de Shikoku em 1972

No final de 2003, após a minha aposentadoria na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), algo me disse que tinha chegado o momento da criação da entidade. Assim, iniciei as minhas orações, concentrações, estudos e pesquisas para saber como elaborar e montar essa entidade e qual seria o nome dela.

Para a minha surpresa, recebi uma mensagem, dizendo que seria um nome para apoiar, colaborar e mostrar o verdadeiro caminho para a vida em geral. Naquele ano de 2004, quando pouca gente falava em busca de qualidade de vida, eis que defini o nome: Instituto de Qualidade de Vida Bucrisgue; e levei praticamente um ano para a sua montagem final.

Grupo de pessoas na igreja, na qual aconteceu a cerimônia de passagem de Kiyoko Harada para outro nível

O estatuto baseou-se na lei de 1999 que regulamenta a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), e o instituto até hoje está ativo e legalizado sem problemas com a Receita Federal e demais órgãos governamentais, recebendo o certificado do Ministério da Justiça em 2006.

Como disse no início, desde pequeno era uma criança quieta, porém observadora e sempre questionando meus pais. E não foi diferente já adulto, no Japão, acompanhando a minha mãe nas igrejas e peregrinações. Ela entoava sempre o sutra Hannya Shingyo e eu não entendia o significado, apenas sabia que era uma oração muito poderosa e importante para o ser humano.

Taoísmo, xintoísmo, zen budismo e confucionismo: a união dessas escolas semeou valores e princípios que permanecem vivos na cultura japonesa – Foto Paulo Pinto

Enfim, nos anos de 2006 e 2007, como estudante da Escola Himawari de língua japonesa, disse à professora Érica Takei que gostaria de estudar o Sutra. Ela então me mostrou o que havia recebido de um parente do Japão, da província de Wakayama, berço do budismo Shingonshu. Assim iniciamos o estudo na média três horas semanais, levando um pouco mais de um ano para terminarmos a nossa missão.

O sutra Hannya Shin Gyo

Por mais inteligente que seja o ser humano, não alcançará o nível de sabedoria de Deus. Ele é inatingível!

Absolutamente onipresente, onisciente e onipotente, Deus pai e mãe detém o inimaginável pela mente humana.

Este sutra pode apoiar a humanidade em todos os níveis de consciência, em todas as situações, em todas as experiências e em todas as áreas da vida.

Leci Harada no templo Tibetano do Rio Grande do Sul

A transmissão e utilização desta sabedoria plena devem ser praticadas diariamente. Estudar e orar com disciplina e de forma determinada, entregando-se desde a alma a este ensinamento de Deus – como a Lei do Universo, para que cada um possa (chegar a) alcançar a sua suprema sabedoria.

Buda ensina aqui, detalhadamente, sobre os três valores: forma, quantidade e qualidade.

1 – Forma (Katachi) muguen dai – As formas no mundo de Deus não existem da mesma maneira que neste nível de existir. Por mais belas e ricas que sejam as obras e formas divinas, são muito mais que as que podem ser percebidas pela visão humana.

2 – Quantidade (Kazu) muguen ryo – O infinito habita o mundo de Deus.

3 – Qualidade (Shitsu) muguen sho – O perfeito habita o mundo de Deus.

A história da religião no Japão é marcada por um longo processo de influências e de tradições religiosas – Foto Paulo Pinto

A união desses três valores é o que está presente quando afirmamos maka – o mesmo que maha no hindu (sânscrito). No sutra, por meio dos ensinamentos de Deus, aprende-se que, por mais sofrimentos, tristezas e dificuldades que se fizerem presentes na vida, cada um deve proceder com dignidade, ultrapassando esses obstáculos para viver com tranquilidade e felicidade também neste mundo. (han nya ha ra mita)

Para isso, aprender o olhar interno, o ver com a alma (kan). Tudo o que não se consegue ver com os olhos humanos, aquilo que não enxergamos, mas acontece neste mundo material, pode ser visto através do sentimento e da visão interna (kokoro no me). E isso também é ensinamento de Buda (Bo satsu).

Shuzan, a monja japonesa de Kiyoko Harada

O que ensina Deus: mesmo com os sofrimentos humanos, a dedicação e o estudo deste sutra levarão ao caminho sagrado com superação ao que for preciso para encontrar a forma mais tranquila e feliz para se viver neste mundo. (gyo jin han nya ha ra mita ji)

Todo sofrimento humano vem inicialmente por apego às coisas materiais. Livre-se desses apegos e viva com tranquilidade.

Buda ensina que compreender os cinco elementos humanos ajuda a livrar de sofrimentos. Estes cinco elementos são inerentes ao ser humano. (go un)

Portal do Templo Zojoje – Foto Paulo Pinto

Desejo físico/sexual, tanto no homem quanto na mulher (shiki irô); sensações, sentir, impressão das pessoas (ju kankaku); percepções, (so [sozo]); realizações dos objetivos, das metas, das ações, pensamentos, sentimentos, do caminho das pessoas e do país (gyo [kokoro no sayo]); consciências, entender e compreender; quando se entende, está-se recebendo conhecimento de fonte externa; ao compreender, assimila-se de fonte interna (shiki).

Para os que são discípulos de Deus (sha ri shi [hotokesama]), o estudo deste sutra realiza mudanças e transformações constantes (shiki fu) como é a própria vida neste nível. O que se vê hoje amanhã pode não existir mais. Toda matéria existente muda constantemente. Sendo assim, é desaconselhável o apego às coisas materiais.

Um templo de São Paulo que já não existe mais, onde a Monja Shuzan atendia os devotos

O vazio (ku) deve ser entendido e compreendido como aquilo que não se perpetua. A mudança é a única constante neste nível de existir. Aqui nada é fixo. Tudo neste universo está em constante mutação.

Podem-se sentir as transformações através das fases da vida: nascimento, a primeira infância, a infância, a adolescência, a fase adulta, a maturidade e a chamada morte. Obedecer às mudanças é necessário para que se possa transitar sem ilusões.

O sutra ainda mostra a importância de observar o que de fato é a verdadeira essência da vida de um ser humano.

Sensei Mitio Harada com o lendário professor kodansha Juu-dan (10º dan) Sumiyuki Kotani na Universidade de Tokai em 1972

Por meio das ações diárias, pode-se adquirir fracasso ou sucesso. O ter que denota posse está sempre ligado ao fazer robótico e identificado com a ganância ou egoísmo. Isto é fracassar, ainda que externamente aparente o contrário.

Obter está ligado à consciência de que tudo neste nível é emprestado por Deus, para a evolução e elevação. Assim, são graças as ações propositadamente para todos, considerando a transitoriedade da forma, o movimento do fazer diário com presença, foco positivado, amor, entusiasmo. De fato, desta forma, o que estará presente é a obtenção das graças infinitas que levará ao sucesso duradouro. Aquele que não apenas estará neste nível, mas principalmente no nível da alma, no espírito de Deus em cada um.

Quando o Budismo foi introduzido no Japão no século VI, as crenças Xintoístas e Budistas começaram a interagir e esta é a característica definidora da religião japonesa – Foto Paulo Pinto

Nestas consciências e ações que o sucesso está ligado à real abundância e prosperidade. Saber que através de algumas ações o que se tem é o fracasso ou insucesso, como experiência.

Se atentar para as novidades, coisas diferentes e interessantes (mezurashi); acostumar (nareru koto); enjoar (akiru koto); desvalorizar, lançar fora, eliminar (suteru koto); desejo desenfreado (hosuru koto) – diante destas ações, analisar e refletir para descobrir os equívocos e, como consequência, ganhar a experiência.

Fazer isso de forma neutra, sem ódio, raiva ou egoísmo, para não perder a oportunidade do aprendizado e sem prejudicar a si mesmo.

Igreja Bucrisgue

Eliminar todo tipo de egoísmo (yoku); eliminar o egoísmo menor (tiisana yoku); eliminar o grande egoísmo (ookina yoku); eliminar o egoísmo no olhar, o sentido de desejo, o ter apenas pelo ter, a procura sem limites por algo (me sa ki no yoku); ao contrário, estar aberto para receber as graças de Deus e usá-las em benefício de todos (muyoku ni mieru); isso é ter um grande desejo de beneficiar a todos, numa comunidade (tai yoku).

E o sutra segue reafirmando como tudo muda, se transforma e como que, na mudança, nada fica para sempre (fu sho fu metsu); a mudança é a única constante nesta vida.

Amanhã é outro dia, motivo (in); destino, coincidência (en); ajustar, encontro, mudança, transformação (wa go).

Roberto Mitio Harada, o então Secretário Estadual de Cultura e Esporte do Mato Grosso do Sul com Celso Furtado, ex-ministro da Cultura

O egoísmo, a vaidade e o ódio são espécies de sujeira que o ser humano manifesta. E isso também não é para sempre. Espiritualmente, no entanto, só existe a aceitação, a neutralidade, o amor como atributos possíveis de manifestação por qualquer humano. O ser humano de grande coração e conhecimento demonstra humildade na sua expressão.

A dualidade estará presente neste nível de existir. Felicidade ou infelicidade, aumentar e diminuir, saúde e doença, dinheiro e carência – nada disso é definitivo.

Analisar: hoje posso estar mal e amanhã estar bem e vice-versa. Sempre reconhecer-se na dualidade, com gratidão, e reconhecer e honrar cada acontecimento, fracasso ou sucesso, melhorando sempre, estudando sempre, mas aprendendo, crescendo e se elevando.

Roberto Mitio Harada diante do Templo Eisho Ji devidamente reformado, no qual o shihan Jigoro Kano iniciou a prática do judô em Tóquio

Segundo o sutra, tudo que existe é in e en: in = motivo e en = destino, como tinha de ser.

Dar tempo ao tempo e ir modificando o que precisa ser modificado na forma como se pensa (koku koku). Transformar o que for necessário, abandonando os apegos (shiutiaku) ao material. Usar os sentimentos elevados para eliminar os sofrimentos.

Segundo os ensinamentos deste sutra, o ser humano é composto por seis raízes (ro kon): mu – nada, não existe nada; gen – olho, visão; ouvido, audição; bi – nariz, olfato; zetsu – língua, paladar; shin – corpo.

Com a inteligência, o indivíduo pensa e opina. Existem cinco go kon: me (olho); mimi (orelha); hana (nariz); shita (língua) e shin (corpo).

Esta estrutura depende do movimento e modificação de qualquer ação ou situação para o bem ou para o mal – lado positivo ou negativo e vice-versa das experiências.

O espírito sagrado leva cada um para o lado positivo, bom (kaikaku ishiki).

Roberto Harada em Curitiba em 2019 – Foto Paulo Pinto

Em se criando esse movimento desde a alma, cada um pode ser capaz de contornar qualquer situação, movendo-se do negativo para o positivo e sendo sempre mais forte em todos os sentidos. Alimentar-se do espírito como guia para transitar por este mundo com sucesso, tranquilidade e felicidade.

Aquele que conseguir assimilar os ensinamentos de Deus de forma inteligente e reta, buscando a luz com a alma limpa, alcançará um patamar de elevados conhecimentos e, como consequência, viverá feliz.

Constância, humildade e perseverança são qualidades dos que buscam e alcançam as graças de Deus e a sabedoria de Deus.

A vida é processo eterno. Lembrar que, mesmo após a chamada morte, a vida segue para a alma. Praticar a preparação para a morte (ho ho) é tudo o que se faz na vida diária.

Aja diariamente de tal forma a não se arrepender (kui). Seja grato no mal e no bem-estar. Agradeça pela manhã o que está para ser vivido. Agradeça à noite o trabalho desenvolvido pela vida.

Roberto Harada, Clóvis Cavenaghi, Rafael Borges e Hirofumi Otsuji, diretor Internacional do Kodokan diante da estátua de Jigoro Kano no Instituto Kodokan

O sutra convida à observância das quatro verdades nobres (kutai shiku), como os quatro sofrimentos dos quais o indivíduo pode livrar-se:

1 – Trauma de nascimento, doença, velhice, medo da aproximação da morte, ficar separado de quem se ama ou preso a quem se odeia.

2 – O sofrimento se origina no desejo (tan ha).

3 – A cura para o sofrimento é a remoção do desejo.

4 – A superação do desejo e consequentemente do sofrimento torna-se possível no caminho das oito virtudes (hakku).

Essas oito virtudes são: shoken, shoshi, shogo, shogyo, sho sho jin, sho jo, sho nen e honyo.

shoken – ver e compreender corretamente (livre de superstição e ilusão); shoshi – pensar corretamente (pensamentos elevados ou positivos); shogo – falar corretamente de forma gentil e verdadeira, sem mentiras, sem críticas, sem julgamentos; shogyo – realizar corretamente através de ações pacíficas, honestas e puras, seguindo os preceitos.

1 – Não matar

2 – Não roubar

3 – Não mentir

4 – Não agir desonestamente

5 – Não usar drogas ou substâncias que alterem a consciência

5 – Sho sho jin – Viver corretamente cuidando de toda a vida, sem injúrias e perigos para qualquer ser vivo

6 – Sho jo – Esforçar-se corretamente, elevar-se ao espírito em autotreinamento para promover pensamentos positivos

7 – Sho nen – Ter comprometimento correto (ter mente ativa e alerta)

8 – Honyo – Viver e concentrar corretamente (em meditação profunda sobre as realidades, buscando consciência dos estados corporais, emocionais e mentais)

Registro histórico de 1983 onde aparecem vários ícones do judô brasileiro no ex-centro de treinamento da CBJ em Santa Cruz (RJ), onde está o lendário Ikuo Onodera, ex-técnico da seleção brasileira; Enir Vaccari, então secretário geral da CBJ; Sérgio Bahi, ex-presidente da CBJ; Joaquim Mamede, que ocupava o cargo de diretor técnico; Paulo Micoski, ex-presidente da FPrJ), Sílvio Holanda, ex-presidente da Federação Alagoana de Judô; Índio de Brasília; e Roberto Mitio Harada, então presidente da Federação de Mato Grosso do Sul

Outro ensinamento do han nya shim gyo (sutra da sabedoria do coração) é que a inteligência humana (chi) é superficial e a vantagem (toku) é presente neste nível de existir.

Julgar-se poderoso ou o melhor é a postura que deve ser evitada sempre. Estudar e compreender este sutra sagrado com dedicação e perseverança possibilita viver com alma, tornando sua força indestrutível.

Comparar-se e sentir-se superior ou inferior a alguém neste mundo é um equívoco. É importante para todos suprir suas necessidades, produzindo dinheiro suficiente para isso. A ganância é uma forma de sofrimento humano que leva a apegos desaconselháveis a quem quer elevar-se. A satisfação das necessidades na vida neste nível significa muito mais escolher ser feliz, administrando e transformando limitações em possibilidades de fazer, de forma a funcionar para o bem-estar de si mesmo e de todos.

As pessoas que conquistam a sabedoria de Deus neste mundo (bo dai sa tta) são benevolentes e possuem consciência em tudo que fazem a partir da sua natureza divina.

O sutra afirma que quem compreender o vazio (ku) estará livre dos medos, dos sofrimentos, das dúvidas e das preocupações.

O medo é um limitador humano que carrega em si cinco elementos: sei katsu jo – medo da vida familiar; akumei – medo e preocupação em saber o que outros falam ou pensam de si; shi – medo da morte; akudo – medo de ser punido; i toku – medo de perder a confiança em si mesmo.

Entender a razão de estar neste mundo, pensar e sentir a vida com confiança, viver com tranquilidade e assim estudar e sentir profundamente a sabedoria do ensinamento de han nya shin gyo, apoia no livramento desse elemento chamado medo.

A iluminação máxima (nirvana) é o ponto de maior nível que o ser humano pode chegar através do estudo contínuo da sabedoria deste sutra. Quando alcançamos este estado promovemos o bem-estar para nós e para os outros. Neste estado a gratidão deve ser constante e em relação à verdadeira grandeza do ensinamento recebido. No sutra da sabedoria suprema do coração, o discípulo que de corpo e alma estuda e aceita seu verdadeiro significado conseguirá eliminar o sofrimento e viver o dia a dia em plena paz!

Sensei Harada diante do túmulo de Jigoro Kano

Deus é quem concebe o ensinamento máximo deste sutra e, no mistério de Deus, o enigma a ser decifrado por cada um é a prática simples, comprometida, com pensamento positivado.

Saber que este é o ensinamento supremo. Nada existe tão poderoso como este sutra porque é o verdadeiro ensinamento máximo que Deus proporciona ao ser humano, desde a raiz de ser neste nível de existir.

Este ensinamento é verdadeiro! A verdade absoluta está nele! Acredite na entonação de han nya shi gyo!

Acredite e pratique isto diariamente e consiga viver plenamente, tranquilo e feliz.

Segundo Kobodaishi Sama, fundador do budismo japonês, este sutra é um verdadeiro mistério e de difícil fiel tradução. Existem profundos significados contidos na oração, que com simples palavras não se consegue exprimir. No entanto, afirma que se conseguir entender o seu sentido, consegue-se absorver todo o sutra e compreender o que é o ku (vazio).

Ele cita, por exemplo, que guen go – palavra em sânscrito hindu e escrito na íntegra em hindu, não é de possível tradução, pois existem cinco elementos que impedem o entendimento do original: há várias interpretações para uma só palavra; o mistério não é compreendido pelas palavras, deve ser sentido desde o seu espírito (seishin); existe uma obediência de uma tradição milenar que as nomenclaturas e transformações sofridas pela língua não alcançam ou compreendem; traduzindo a gente perde o sentido exato das palavras sânscritas; e existem várias palavras da graças de Deus neste sutra. Por isso é extremamente difícil a sua tradução ao pé da letra.

Gyatei (primeira fase), se chegarmos no caminho de satori (iluminação). No outro gyatei (segunda fase), procurem repassar para as pessoas que estão mais próximas de você. No gyatei da terceira fase, procurem compartilhar com todos os seres humanos do mundo para que possamos caminhar no sentido correto.

O professor Roberto Mitio Harada e Érika Takei destacam e agradecem a colaboração prestada por Maria Cristina Machado e Osvaldo Yoshino na revisão e adaptação do texto do sutra Hannya Shin Gyo.

*O professor kodansha shichi-dan (7º dan) Roberto Mitio Harada iniciou a prática do judô em 1955 no Ogawa Hombu Budokan de São Paulo e seu primeiro professor foi o sensei Tadao Nagai. Transferiu-se para o dojô do Parque Don Pedro ll em 1957, cujo responsável era o icônico mestre japonês Yoshio Kihara, com quem aprendeu até 1967. Como atleta competiu de 1960 até 1971 e representou o Brasil no mundial do Rio de Janeiro 1965. Obteve o sho-dan em 1964 e recentemente a Federação de Judô do Mato Grosso do Sul o agraciou com o shichi-dan. Em 1969 tornou-se o primeiro professor do Sesi-Bauru. Em 1972 e 1973 aperfeiçoou-se no Japão como aluno do professor Sumiyuki Kotani. Em 1973 assumiu o posto de professor de judô e futebol na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde atuou até 2003. Entre 1980 e 2002 foi diretor técnico do D.R. Sesi/MS. Presidiu a Comissão Municipal de Esportes de Campo Grande entre 1977 e 1980.  Foi secretário de Estado de Cultura e Desporto de 1986 a 1987. Foi o primeiro presidente da Federação de Judô de Mato Grosso do Sul em 1980. Foi eleito vice-presidente da CBJ de 1985 a 1989. Foi superintendente do Trabalho e Emprego de Mato Grosso do Sul em 1998 e 1999. Em 2020 foi eleito vice-presidente do Instituto Kodokan do Brasil.