Henrique Guimarães busca reinventar a roda e anuncia parceria que já existe desde 2021

Rialdo Tavares e Henrique Guimarães durante o encontro realizado na sede do CREF4/SP, na semana passada © FPJudô

Sob o pretexto de valorizar professores, a atual diretoria da FPJudô simula reeditar uma parceria que ela mesma implodiu — e acaba desmentida publicamente pela direção do CREF4/SP.

Por Paulo Pinto / Global Sports
Curitiba, 24 de abril de 2025

Retratando fielmente o que é a nova gestão e a visão de quem está à frente da Federação Paulista de Judô na atualidade, a assessoria de comunicação da FPJudô publicou, no dia 16 de abril, uma nota intitulada Federação Paulista de Judô define novas parcerias para valorização dos professores de judô.

O texto evidencia, mais uma vez, a incapacidade dos dirigentes paulistas de se comunicarem de forma clara, honesta e objetiva com seus filiados.

Primeiro, porque ninguém “valoriza” professores por decreto — e muito menos por meio de parcerias que já existem desde 2021. Os mais de dois mil professores ativos no Estado de São Paulo não estão à venda. Seu valor é técnico, pedagógico e social, e não cabe em planilha. O que a FPJudô poderia — e deveria — fazer é promover capacitação continuada e criar políticas sérias de formação, mas isso exigiria lucidez e objetividade institucional, algo em falta nesta administração.

Falar em “valorização” enquanto se extingue o Keisei no Michi e se substitui uma certificação reconhecida pelo Conselho Regional de Educação Física do Estado de São Paulo por acordos com instituições de ensino privadas vislumbrando vantagens financeiras é zombar da inteligência da comunidade. A nota oficial publicada não expõe uma política, mas a fragilidade intelectual e estratégica de quem hoje ocupa o comando da entidade.

Falta projeto, falta visão, falta coerência. E acima de tudo, falta respeito por quem construiu a história do judô paulista com trabalho e dignidade.

Almir Mendes, Rialdo Tavares e Wagner Oliveira, dirigentes do CREF4/SP, durante a colação de grau da primeira turma do Keisei no Michi, realizada em fevereiro de 2023 no auditório da 93ª Subseção da OAB Pinheiros, em São Paulo © Global Sports

Inverdades desnecessárias

O comunicado do dia 16 segue relatando que: os representantes das novas gestões do CREF4/SP (Conselho Regional de Educação Física da 4ª Região) e da Federação Paulista de Judô se reuniram para discutir parcerias que visam fortalecer a qualificação e a capacitação de professores de judô. Os presidentes Henrique Guimarães e Rialdo Tavares, que recentemente assumiram suas funções, enfatizaram a importância de regulamentações que promovam benefícios significativos para os envolvidos no esporte.

Além das baboseiras desconexas, a narrativa descrita no parágrafo acima mente desnecessariamente ao afirmar que Henrique Guimarães foi eleito recentemente, quando, na verdade, sua eleição ocorreu em 30 de setembro de 2024 — ou seja, há quase sete meses, mais de meio ano.

E as discrepâncias absurdas seguem sem limite como se o interlocutor estivesse se dirigindo a pessoas com baixa capacidade cognitiva: durante o encontro, os líderes das entidades abordaram a necessidade de estreitar os vínculos entre a Federação e os professores de judô, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento do judô e valorizar os profissionais da área. Guimarães destacou a intenção de explorar todas as possibilidades para unir as entidades em prol dos educadores físicos vinculados ao judô, reforçando o compromisso com modernidade, governança e transparência nas ações conjuntas.

Quer dizer que a FPJudô não está próxima dos seus quase 15 mil filiados e das quase 500 agremiações filiadas? E pior: precisa do Conselho Regional de Educação Física para fazê-lo?

Termos técnicos errados, conceitos confusos

Outro ponto hilário é que o CONFEF não reconhece o termo educadores físicos. As pessoas com formação acadêmica em Educação Física, seja Licenciatura Plena ou Bacharelado, são corretamente denominadas Profissionais de Educação Física. Estranha-se que o professor Rialdo Tavares tenha sido conivente com erros primários dessa magnitude, pois seu antecessor costumava agir com rigor diante de imprecisões desse nível.

Alessandro Puglia, então presidente da FPJudô, entrega o certificado de conclusão do Keisei no Michi a Henrique Guimarães, aluno da primeira turma formada em 2022 e atual presidente da entidade que, inadvertidamente, desativou o curso pioneiro de formação de instrutores de judô, desenvolvido em parceria com o CREF4/SP © Global Sports

Outro absurdo do parágrafo acima precisa ser dissecado para expor a incongruência de quem escreve e de quem endossa comunicados com esse nível de narrativa vazia: Guimarães destacou a intenção de explorar todas as possibilidades para unir as entidades em prol dos educadores físicos vinculados ao judô…

Está tudo errado. Um projeto entre ambas as entidades deveria, isso sim, buscar unir forças em prol dos professores de judô graduados e pós-graduados em Educação Física e não de Profissionais de Educação Física. E mais: gostaríamos de saber o que o desenvolvimento técnico — que é o verdadeiro objetivo da parceria — tem a ver com governança e transparência nas ações conjuntas?

Tentativa de apagar a história

Outra pérola escrita pela assessoria da FPJudô: Os presidentes ressaltaram que a colaboração entre o CREF4/SP e a FPJudô beneficiará os professores e contribuirá para o crescimento e a popularização do esporte no estado.

Como assim? O que ambos dirigentes buscam com essa afirmação esdrúxula e mentirosa? O CREF4/SP e a FPJudô são parceiros desde 2021. Por acaso estariam, tanto Rialdo Tavares quanto Henrique Guimarães, tentando apagar da história os nomes e as conquistas protagonizadas pelos professores Nelson Leme e Alessandro Puglia?

E os gênios da comunicação judoísta encerram com mais esta pérola: A comunidade do judô aguarda ansiosamente as novidades que surgirão dessa colaboração, que promete trazer inovação e suporte aos profissionais do esporte.

Gostaríamos de receber uma cópia por amostragem da pesquisa feita junto à comunidade do judô paulista para constatar a veracidade de tamanha besteira.

http://www.shihan.com.br

Cabe ressaltar que, diante de seu currículo acadêmico e da postura historicamente ponderada nos debates institucionais, é pouco provável que o professor Rialdo Tavares — empresário bem-sucedido, letrado, pós-graduado e com sólida experiência em gestão — tenha participado e endossado, o conteúdo da nota publicada pela assessoria de comunicação da FPJudô. Certamente ele compreende a complexidade técnica e institucional dos temas tratados, tanto do judô quanto da educação física, diferentemente de quem redige textos sem o devido conhecimento, reproduzindo clichês e distorções que em nada contribuem para o avanço dessas áreas no Estado de São Paulo.

CREF4/SP desmente a FPJudô

A reportagem da Budô questionou oficialmente o presidente do CREF4/SP, professor Rialdo Tavares, oferecendo espaço para manifestação sobre todos os pontos abordados nesta matéria. De forma lacônica, porém esclarecedora, o dirigente desconstruiu as afirmações feitas pela FPJudô e pelo próprio presidente Henrique Guimarães, deixando claro que nenhuma ação concreta foi definida até o momento sobre a eventual retomada da parceria — interrompida após a decisão unilateral do presidente da Federação de extinguir o curso Keisei no Michi.

“O que eu posso te responder no momento é que as duas instituições apenas se reuniram na semana passada e tivemos uma excelente conversa com a Federação Paulista de Judô, como aliás sempre existiu. Há, tanto de um lado quanto do outro, a melhor das intenções para resolver os problemas, de forma a realizar aquilo que seja melhor para o mercado”, disse o dirigente, que não tergiversou ao esclarecer que nenhuma nova parceria foi discutida ou firmada com o judô paulista.

A declaração, serena e objetiva, contrasta frontalmente com o tom triunfalista da nota oficial publicada pela FPJudô, que tentou apresentar como fato consumado uma iniciativa que, até o momento, sequer saiu da fase de conversa inicial — o que coloca a veracidade do comunicado da entidade em xeque.

“Contudo, existem fatores externos que não dependem de nenhuma das duas instituições para definirmos alguma ação e, enquanto esses fatores não se clarearem, eu, como dirigente do CREF4/SP, não posso dar nenhum posicionamento concreto sobre o que vai acontecer ou mesmo se realmente irá acontecer”, concluiu Rialdo Tavares.

A resposta enfática desmonta a tentativa da FPJudô de promover como “acordo fechado” algo que, na realidade, está longe de ser confirmado. Ao divulgar uma nota oficial que não corresponde aos fatos, a atual gestão da FPJudô mais uma vez expõe sua fragilidade institucional — e agora, sua falta de compromisso com a verdade.

Comando perdido

Já há quase sete meses no cargo — e mesmo cercado pelos assessores da diretoria de seu antecessor, o professor kodansha Alessandro Puglia —, o presidente Henrique Guimarães demonstra insegurança e despreparo para assumir o comando da maior federação estadual de judô do país.

Todas as reclamações feitas pelos professores mais experientes, quando do lançamento do nome de Henrique Guimarães, por Arnaldo Queiroz para suceder Puglia, parecem agora justificadas: sem rumo, sem projeto e sem responsabilidade institucional, Henrique Guimarães conduz a FPJudô por um caminho de retrocessos, superficialidades e improvisos. Um ciclo que já começa a se configurar como quatro anos perdidos para o judô paulista.

A história se repete: quando não há projeto, sobram manobras, distorções e narrativas recicladas.