19 de dezembro de 2024
Hirotaka Okada leva 510 professores ao Centro Olímpico de São Paulo e Sesi Bauru
O bicampeão mundial e mestre especialista em treinamento de judô volta a São Paulo e reafirma a metodologia pedagógica de ensino voltado à pré-infância escolar
Intercâmbio Brasil X Japão
18 de fevereiro de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos BUDÔPRESS/FPJUDÔ
São Paulo – SP
Com apoio do governo do Japão, Consórcio Sport For Tomorrow e Instituto Kodokan do Brasil (IKB), a Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou duas palestras do workshop para professores sobre o ensino do judô nas escolas.
Mais uma vez o palestrante foi o renomado professor kodansha hachi-dan Hirotaka Okada, mestre especialista em treinamento de judô, professor associado e técnico da equipe principal da Faculdade de Educação Física da Universidade de Tsukuba (Japão) e professor da equipe infantil da cidade de Tsukuba, que dissertou sobre o tema Capacitação para o ensino do judô em âmbito escolar.
Medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), bicampeão mundial em 1987 e 1991 e árbitro FIJ A, o professor Okada voltou ao Brasil para consolidar o programa do judô nas escolas, um projeto ambicioso do governo japonês que enfatiza a importância de introduzir o judô nas escolas públicas e reforçar a metodologia do ensino pedagógico concentrada nos aspectos motivacionais, priorizando a integridade física e psicológica dos pequenos praticantes.
Além de fazer apresentações nos Estados do Rio de Janeiro e Paraná, neste ano sensei Okada se apresentou em dois municípios paulistas: Bauru e a capital, onde dissertou sobre a segurança nas aulas de judô, movimentos básicos em ne-waza, instruções básicas para professores treinarem crianças, movimentos básicos do nage-waza e segurança nos treinos de judô.
O workshop no interior realizou-se no Sesi Horto Florestal, enquanto a palestra de São Paulo foi apresentada no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa Marechal Mário Ary Pires. Os dois eventos totalizaram mais de 680 professores inscritos. Contudo, apenas 510 judocas participaram efetivamente das duas apresentações.
A cerimônia de abertura da capital foi acompanhada por autoridades esportivas como Alessandro Puglia, presidente da FPJudô; Ryosuke Kimura, gestor de projetos do Consórcio Sport For Tomorrow; Takanori Sekine, presidente do Instituto Kodokan do Brasil; Joji Kimura, coordenador técnico da FPJudô; Luís Alberto dos Santos, coordenador de cursos da FPJudô; Roberto Mitio Harada, coordenador de projetos do IKB; Osvaldo Hatiro Ogawa, tradutor oficial do curso; Carlos Honorato, vice-campeão olímpico nos Jogos de Sydney 2000; Henrique Guimarães, medalhista de bronze nos Jogos de Atlanta 1996; Rafael Borges, coordenador do IKB; Hissato Yamamoto, delegado da 1ª DRJ Capital; Sidnei Paris, delegado da 8ª DRJ Oeste; Cristiano Roque Antunes Barreira, diretor da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto (EEFER//USP); Sidney Teixeira de Castro, coordenador de esportes de alto rendimento do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP); e Teppei Sakauchi, estudante da Universidade de Tsukuba, o uke do professor Okada na turnê realizada no Brasil.
Renomados professores kodanshas participaram do workshop apresentado em São Paulo, entre os quais Sator Hirakawa, Michiharu Sogabe, Massanori Yanagimori, Celestino Seiti Shira, Wagner Antônio Vettorazzi, Nélson Shigueki Koh, Soraia André, Sérgio Barrocas Lex, Paulo Ferraz Alvim Muhlfarth, Ivo Vieira Nascimento, Fernando Catalano Calleja, Massakatsu Akamine, Massatoshi Shiroma, Miriam Zyman Minakawa, Nélson Pedroso, Antônio Roberto Coimbra, Kiichi Watanabe, Júlio Takashi Kawaguchi, Ricardo Forte Katchborian, Carlos Kira Yamazaki, Ademir Xavier, Edson Catarino dos Santos e Eduardo Freire da Silva.
Takanori Sekine, presidente do Instituto Kodokan do Brasil, detalhou a importância do projeto desenvolvido pelo governo do Japão.
“É um grande prazer estarmos recebendo mais uma vez o professor Hirotaka Okada em São Paulo, promovendo assim uma aproximação cada vez maior entre os professores paulistas e o judô japonês. Esta iniciativa dos governos do Japão e Brasil busca introduzir o judô nas escolas públicas brasileiras. Não pretendemos com esta iniciativa ensinar judô aos senhores. Nosso intuito é apresentar o sistema de ensino utilizado no Japão, e com isso acelerarmos o processo de massificação da nossa modalidade entre as crianças, que são o futuro do nosso grande País”, afirmou Sekine.
Sidney Teixeira de Castro, coordenador de esportes de alto rendimento de Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, destacou a relação existente entre o trabalho desenvolvido pelos professores de judô e as atividades do COTP.
“Inicio saudando todos os professores formadores de atletas e bons cidadãos. Este também é um dos nossos principais objetivos aqui no centro olímpico. Em nome do nosso secretário Carlos Bezerra e do diretor Marco Antônio Aga, damos as boas-vindas a todos vocês que compartilham do nosso trabalho, que é fundamentado em dez modalidades esportivas de alto rendimento, trabalhando com atletas desde a sua formação como cidadão, como profissional e principalmente como esportista”, enfatizou o coordenador do COTP.
Hirotaka Okada iniciou sua fala detalhando os principais objetivos do projeto que pela segunda vez o trouxe ao Brasil.
“Dando continuidade ao processo iniciado no ano passado pelos governos do Japão e do Brasil, sinto-me honrado por estar novamente com todos vocês para dar continuidade ao projeto que visa a introduzir o judô nas escolas públicas e privadas do Brasil, elevando assim o preparo das crianças brasileiras. Apesar do tempo ruim e da forte chuva, vemos aqui muitos professores buscando conhecimento e meu desejo é que aproveitem o máximo possível”, disse o bicampeão mundial, que se colocou à disposição dos participantes para esclarecer as dúvidas pertinentes à sua palestra.
“Aqui temos professores com muito conhecimento, assim como professores mais jovens e com menor experiência, mas destaco que estou inteiramente à disposição para orientar no que for preciso. Reafirmo que é uma honra enorme poder estar aqui transmitindo um pouco do que aprendi com os mestres japoneses. Mas lembro que nosso encontro de hoje foca eminentemente o judô formação e não o judô de alto rendimento ou competição. Nossa proposta é mostrar o trabalho pedagógico que é feito pelos professores do Japão”, detalhou sensei Okada.
Okada surpreende pela excelente didática e enfatiza que o aprendizado deve ser feito de forma lúdica e divertida
Externando enorme respeito e cuidado com as crianças e jovens iniciantes, por meio dos quatro módulos apresentados, mais uma vez sensei Okada mostrou como cada técnica poderia ser ensinada para crianças de forma segura, sem abrir mão do lúdico, da diversão e do prazer de estar no dojô.
Em segundos Okada transcendia da suavidade absoluta para o vigor total, sem esboçar a menor emoção ou expressão facial. Com grande serenidade exibia o que deve ser feito no sentido de garantir total segurança aos iniciantes e fazer com que sigam trilhando o caminho pavimentado pelo shihan Jigoro Kano, visando a um mundo melhor para todos por meio da prática de princípios como o jita-kyo-ei (se todos atuarem com o espírito de cooperação mútua, o trabalho de cada pessoa beneficia não só a si mesmo, mas também a outros) e o sei-ryoko-zen-yo (uso máximo e eficiente das energias espiritual e física de um indivíduo para realizar o propósito almejado).
“Existem vários motivos que me fizeram olhar para este caminho, mas a razão principal é mostrar que por meio do judô as crianças podem desenvolver-se socialmente, e com isso podemos projetar um mundo melhor no futuro. Neste caminho existirão aqueles que se tornarão grandes campeões, mas surgirão grandes cirurgiões, advogados, sociólogos, médicos, professores, engenheiros, pois o judô tem de cumprir seu papel social, dando sua contribuição para a sociedade. Neste sentido, é muito importante desenvolver um trabalho pedagógico específico para cada grupo de praticantes”, concluiu o mestre especialista em treinamento de judô.
Professores aprovam sistema pedagógico japonês
Coordenador técnico da FPJudô, Joji Kimura destacou a importância de haver workshops e cursos para que as experiências sejam compartilhadas, mencionando os grandes cursos passados ministrados por Uemura, Nishiyama e Okada, que retorna a São Paulo pela segunda vez.
“O retorno do professor Okada está sendo valoroso, principalmente porque agora seu enfoque está no ensino voltado às crianças, o que gera grande adesão de professores. É muito importante a aproximação de um renomado professor da Universidade de Tsukuba com os professores do Estado de São Paulo, para que assim possam compartilhar experiências e conhecimento, além de focarem tanto na questão teórica quanto na prática”, afirmou Kimura.
O professor kodansha Sator Hirakawa avaliou o evento positivamente, principalmente por Okada ter reiterado ensinamentos importantes já passados anteriormente.
“O evento foi muito bom e também nos fez relembrar de ensinamentos passados no último ano, e isso não quer dizer que tenha sido repetitivo, pois devemos fazer várias reflexões dos golpes até chegar à perfeição. Creio eu que é um protocolo, o qual ele esteja cumprindo dentro das normas necessárias para quem dá aula em escolas. E isso é positivo, a partir do momento em que seria, por exemplo, o fundamento com os cuidados principais para o judô não ser rotulado um esporte perigoso ou violento”, explicou o professor kodansha do Vale do Paraíba.
Vice-campeão olímpico nos Jogos de Sidney/Austrália (2000), Carlos Honorato afirmou que no curso pôde relembrar sua iniciação na Associação de Judô Vila Sônia.
“O curso foi muito interessante porque não mostra apenas como fazer uma reciclagem daquilo que aprendemos no passado. O curso pôde mostrar como é o verdadeiro método de ensino usado pelos japoneses na atualidade. Quando comecei a praticar judô na Associação Vila Sônia, recebemos este mesmo padrão de ensino. Parabenizo a FPJudô e o Instituto Kodokan do Brasil por esta excelente iniciativa”, destacou o medalhista olímpico.
Alessandro Puglia, presidente da FPJudô explicou que a vinda de Hirotaka Okada foi para dar sequência ao trabalho exposto anteriormente, mas agora com uma preocupação maior de explorar o conhecimento dos professores e ratificar todos os fundamentos pedagógicos necessários para se oferecer uma boa iniciação.
“Nossa referência é o judô japonês, e o professor Okada explicita com muita nitidez a importância de fazer tudo muito bem detalhado. Além de demonstrar, conversou bastante com os professores sobre a importância dos detalhes, até da saudação, por exemplo, o que ela significa e para que serve. Temos de começar bem o princípio, pois, se temos uma boa formação, naturalmente as outras formações que teremos dentro do judô serão melhores”, disse o dirigente, que também destacou a importância da manutenção da tradição.
“Fico muito contente porque daqui a dois ou três anos teremos outro curso como esse, e aquilo que foi dito aqui será reforçado porque não dá para reinventar a roda, ela é redonda e já existe. De vez em quando, precisamos voltar a fazer um treinamento com os professores para manter estes conhecimentos. Estes encontros também servem para fortalecer e mostrar a importância da base. Tudo que foi dito e visto aqui está relacionado à base e aos fundamentos do judô”, finalizou o presidente.
De acordo com Puglia, em Bauru a metodologia aplicada foi a mesma utilizada na capital. E o evento do interior contou com a presença de professores de diversas regiões. Somando os inscritos nas duas cidades o workshop totalizou 510 professores, que disseminarão o conhecimento adquirido no curso nos dojôs, clubes e escolas de todo o Estado.
Oswaldo Hatiro Ogawa, coordenador de judô do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa e tradutor do workshop, comentou a expressividade do evento.
“Maravilhoso, muito bom e proveitoso. Com certeza, Hirotaka Okada abordou muitas coisas que os professores já sabiam. Porém, ele as reforçou. O professor Okada possui enorme conhecimento e excelente didática. Devido à quantidade de professores presentes no evento, com certeza o aproveitamento e a repercussão serão enormes”, diz Hatiro.
Coordenador de cursos da FPJudô, Luís Alberto dos Santos destacou a importância de o professor Okada ratificar diversas informações e técnicas aos professores.
“Ele está reforçando todas as informações e fundamentos já passados anteriormente, determinando um padrão para iniciantes em relação à segurança na prática do dia a dia, ukemi, kumi-kata com a parte de solo (ne-waza). Muitos professores não fazem o link da finalidade destes exercícios como o rastejamento, camarão, soldadinho. Eles servem justamente para finalizar uma técnica de imobilização. Como é iniciação, o objetivo não é o alto rendimento. Segue-se um padrão, não há estilo de acordo com a maneira de que cada criança luta ou com o biotipo. Isso é muito básico e fundamental. O professor que conseguir passar isso de maneira correta para os iniciantes irá construir uma base adequada para eles chegarem muito bem ao alto rendimento”, explicou o coordenador de cursos da FPJudô.
Sesi Bauru promove grande encontro
No Sesi Horto Florestal de Bauru, Hirotaka Okada se apresentou para 180 professores, que também puderam conhecer o trabalho feito nas escolas do Japão.
Na avaliação do professor kodansha Argeu Maurício de Oliveira, delegado da 3ª DRJ Centro-Sul, o mestre Okada desenvolve um trabalho surpreendente e o delegado também fez sugestões para os próximos encontros.
“O workshop realizado pela FPJudô, Instituto Kodokan do Brasil e o governo do Japão foi de fundamental importância no sentido de nos mostrar como se ensina judô nas escolas do ensino fundamental do Japão. A palestra do sensei Hirotaka é excepcionalmente didática e elucidativa. Rica em detalhes, mostra claramente os caminhos que devem ser adotados pelos professores”, pontuou o dirigente.
“Sugiro que numa próxima oportunidade sejam exibidos vídeos sobre o dia a dia nas escolas, e nos sejam passados maiores detalhes sobre as aulas propriamente ditas, e como é feita a introdução do judô na grade escolar. Sabemos que a escola e o ensino do Japão são diferentes daquilo que vemos aqui, mas a nossa curiosidade é compreender de que forma o judô é inserido no ambiente escolar”, explicou o delegado da 3ª DRJ Centro-Sul.
O workshop realizado pela FPJudô, IKB e governo do Japão contou com tradução simultânea realizada pelo experiente professor kodansha Oswaldo Hatiro Ogawa. Possuidor de excelente didática, o neto do sensei Ryuzo Ogawa soube dar ênfase aos principais pontos da palestra e conseguiu fazer a ligação direta entre o mestre Okada e os mais de 330 espectadores ávidos para absorver seu conhecimento.
O Consórcio Sport For Tomorrow é uma iniciativa capitaneada pelo governo do Japão que visa a utilizar o esporte como ferramenta no desenvolvimento social e humano. Por meio de uma iniciativa implementada conjuntamente pelo setor público e privado, o Sport For Tomorrow promoverá a prática esportiva para mais de 10 milhões de pessoas em mais de 100 países até 2020, ano em que Tóquio receberá os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de verão.