19 de dezembro de 2024
Homenagem às pioneiras do judô reúne gigantes dos tatamis de todo o País
Evento híbrido contou com a presença das judocas que competiram no primeiro campeonato mundial feminino e a participação do presidente do Comitê Olímpico do Brasil
Por FPJCom
19 de novembro de 2021 / São Paulo (SP)
A coordenação de veteranos da Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou evento comemorativo dos 40 Anos do Primeiro Campeonato Mundial de Judô feminino, realizado em Nova York, Estados Unidos, em 1980, do qual participaram as brasileiras Solange Almeida Pessoa Vincki, Heliana do Carmo, Carla Lívia Lauro Muller Duarte, Selma de Abreu Almeida, Soraia André César e Iara Mary Martins da Cunha.
O encontro, realizado de forma híbrida no Centro de Aperfeiçoamento Técnico da FPJudô no dia 6 de novembro, reuniu grandes nomes da modalidade, entre os quais os professores kodanshas Paulo Wanderley Teixeira, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB); Geraldo Bernardes, técnico da seleção brasileira por quatro ciclos olímpicos; Alessandro Panitiz Puglia, presidente da FPJudô; os medalhistas olímpicos Walter Carmona e Nelson Onmura; Joji Kimura, vice-presidente da FPJudô; Masakatsu Akamine; Tânia e Vânia Ishii; Luís Alberto dos Santos, coordenador de cursos da FPJudô; Sumio Tsujimoto; Hatiro Ogawa; Fernando Cruz; Natasha Hernandez, venezuelana campeão mundial em Viena (1984); o conceituado professor de jiu-jitsu Marcos Barbosa; Rogéria Cozendey, coordenadora do feminino da FPJudô; e a professora Ivana Santana, que veio da Bahia para prestigiar o encontro; entre outros.
O professor kodansha Walter Carmona, que defendeu a seleção brasileira de judô de 1976 a 1988 e tem como maiores conquistas a medalha de bronze nas Olimpíadas de Los Angeles (1984) e no Mundial de Paris (1979), destacou a importância do judô feminino. “É um prazer comemorar uma data tão importante, o início da participação das mulheres no judô internacional. Eu tive a sorte de estar presente no primeiro campeonato em que as mulheres competiram. Também tive a honra de ser, por um curto período de tempo, técnico da seleção feminina, quando tive a oportunidade de conferir o talento, a maturidade, o compromisso, a força e a dedicação das atletas, que se superaram a cada momento a fim de atingir suas metas”, disse.
Citado por quase todos que tiveram a oportunidade de dar seu relato durante o encontro e sendo um dos medalhistas olímpicos mais conceituados por sua postura dentro e fora dos tatamis, Carmona foi muito aplaudido ao usar o microfone.
“Toda a caminhada percorrida pelas mulheres no judô faz um paralelo histórico com diversas situações de desigualdade que enfrentamos. Então, mesmo que pequena, cada conquista é incrível se pararmos para pensar que é degrau a degrau que vamos construindo a nossa história. Vamos celebrar todas as vitórias e continuar juntos para que as mulheres continuem conquistando o seu merecido espaço.”
Carmona reiterou ainda a importância de eventos como este para reforçar o empoderamento feminino, que contribui cada vez mais para a construção de um mundo melhor e uma base para o desenvolvimento do judô enquanto modalidade pautada no respeito e na igualdade. “Marcando seu espaço, elas proporcionam a chance de progresso do judô mundial. É fundamental garantirmos a igualdade de gênero. Não apenas como atletas, mas também nas tomadas de decisões. Temos de agir de forma ativa para garantir a maior presença delas em todos os aspectos e em todos os cenários”, defendeu o medalhista olímpico.
Detentor de várias medalhas olímpicas como técnico da seleção brasileira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Judô e atual presidente do COB, Paulo Wanderley Teixeira nominou cada uma das homenageadas e recordou várias competições internacionais em que atuou como técnico ao lado delas.
“Minhas queridas, parabéns a vocês, desbravadoras do estado de excelência em que se encontra o judô feminino brasileiro. Viva Sarah Meneses, Rafaela Silva, Mayra Aguiar e tantas outras cujo caminho vocês, pioneiras do judô, ajudaram a pavimentar para chegarem ao estrelato”, disse o presidente do COB.
Homenageada no encontro, a professora kodansha shichi-dan (7º dan) e vice-presidente da FPJudô Solange Almeida Pessoa Vincki expressou toda a alegria pela homenagem a uma pequena, porém, importante parte da história do judô nacional.
“Eu estou muito emocionada porque, realmente, para nós chegarmos aqui foi muito difícil. Foi uma empreitada de muito desafios, muitas dúvidas colocadas sobre nós, mas eu tenho para mim o judô como uma segunda família. E se pararmos para pensar, veremos que dedicamos mais tempo de nossas vidas para o judô do que à nossa família. Iniciamos a nossa jornada em 1980, degrau por degrau, e juntamos muitas histórias para chegar onde chegamos hoje”, lembrou Solange.
“Firmamos grande amizade uns pelos outros e acabamos criando um carinho incomensurável por conta de todas as dificuldades pelas quais passamos juntas”, prosseguiu. “Nunca podemos esquecer do nosso início, porque, apesar de difícil, foi um período essencial para que a modalidade atingisse o patamar em que está hoje. Eu agradeço muito, principalmente, às minhas amigas, que estão aqui comigo hoje. Quando eu vi todas aqui reunidas, eu confesso que a emoção foi muito grande. O sentimento é de profunda gratidão por estarmos vivendo este momento.”
Alessandro Puglia enfatizou que o judô feminino do Brasil está hoje entre os mais fortes do mundo e que isso se deve ao empenho e à dedicação das pioneiras, que lutaram contra tudo e contra todos para conquistar espaço no cenário esportivo.
“Vivi essa época junto com muitos outros que aqui estão, e estávamos presentes quando muitas das mulheres aqui presentes iniciaram a prática do judô no nosso Estado. Gostaria de cumprimentar todas que participam deste importante evento, que relata e eterniza um pedaço extremamente relevante da história do judô feminino de São Paulo e do Brasil. Se hoje o Brasil é uma potência mundial do judô, devemos isso ao judô feminino. Por isso, só temos a agradecer a todas vocês. E que este evento marque o nosso retorno definitivo após o momento de dificuldade causado pela pandemia”, destacou o presidente da FPJudô.
A professora Ivana Santana falou sobre os primórdios do judô e como era difícil praticar quando apenas homens ocupavam os tatamis. “É um orgulho imenso estar aqui hoje, compartilhando com vocês a comemoração de uma data tão especial. Quando eu cheguei à academia, quem me recebeu foi o Carmona, que me deu as boas-vindas e logo em seguida disse: é mais uma para vencer, né? Eu nunca esqueci essa recepção, que com certeza foi imprescindível para que o meu início no judô fosse o mais inspirador possível.”
“Nessa vida, o caminho do judô nos ensina a superar os obstáculos; por todas as vezes em que caí e me levantei, o meu sensei dizia: é assim que vocês irão vencer; então, cabeça erguida e bola para frente. O judô feminino de São Paulo representou e representa muito bem o Brasil ao longo da história da nossa classe em campeonatos de nível mundial. A nossa conquista enquanto seleção brasileira é fantástica, porque nós não tínhamos estrutura alguma e chegamos onde estamos hoje mesmo sem nada. O judô para mim é uma escola da vida, nós aprendemos a cair e levantamos”, continuou Ivana.
Tânia Ishii, ao lado da irmã, que estava muito emocionada, contou como era ser filha de Chiaki Ishii, o primeiro medalhista olímpico de judô do Brasil, em Munique 1972. “Ele não tinha nenhum plano para que eu e as minhas irmãs tivéssemos aulas de judô. Foi nossa mãe quem nos colocou para treinar. Eu cresci admirando muitos dos professores que estão aqui hoje, como o Carmona. Sempre fui muito inspirada por eles e o sonho de competir um dia foi crescendo cada vez mais. Enfrentei muito preconceito, porque na época não entendiam a mulher praticando o judô. Nós, eu e as meninas, sempre acreditamos que um dia teríamos o nosso lugar dentro do esporte e estávamos absolutamente certas.”
Aos 79 anos, o sensei kyuu-dan (9º dan) Geraldo Bernardes participou de forma remota da homenagem às pioneiras, e fez seu relato: “É com imenso orgulho que eu estou presente neste evento, com essas magníficas pessoas que alavancaram cada vez mais o judô feminino. Todas vocês que estão presentes deram força ao judô feminino e fizeram a classe chegar aos momentos de glória de hoje. Passamos por muitos problemas, principalmente com a falta de investimento para campeonatos, mas vocês acreditaram e juntos nós elevamos o judô feminino à glória e aos degraus mais altos dos pódios. Estou muito emocionado por estar aqui.”
Alex Russo, coordenador de judô veterano, foi apontado por Solange Pessoa como um dos principais responsáveis pelo sucesso da cerimônia. “Ele realizou as reuniões necessárias e ajudou as judocas em tudo o que elas precisaram.”
Nas palavras de Alex Russo, o evento atingiu plenamente o seu propósito e foi importantíssimo para reconhecer a importância das pioneiras de São Paulo e do judô brasileiro, já que elas enfrentaram todo tipo de problema ao serem descriminadas e impedidas de competir, além de não haver classe feminina nacionalmente antes delas. “Na época, houve muito boicote e protestos de pessoas que não queriam ver as mulheres progredindo no meio do judô. Para chegar aos dias de hoje, em que as judocas têm sucesso absoluto na modalidade, foi necessária muita luta.”
“Eu acho importantíssimo também homenagear essas pessoas em vida, para que elas sintam a gratidão por tudo o que conquistaram em prol do nosso esporte. A iniciativa da federação paulista é maravilhosa e os depoimentos que tivemos foram gratificantes e emocionantes. As homenagens vieram de todos os cantos do País, graças ao formato híbrido. Tenho certeza de que tudo isso serviu como motivação ainda maior para a classe feminina, que passa por uma reestruturação na FPJudô”, ressaltou Russo.
O prestigiado e laureado professor kodansha hachi-dan (8º dan) Sumio Tsujimoto também se pronunciou no evento. “O depoimento de todas as mulheres que falaram aqui hoje é muito emocionante. Todo o preconceito sofrido pela classe feminina serviu como uma mola alavancadora, dando força para que elas construíssem um caminho iluminado e glorioso para o judô. Eu gostaria de agradecer a força representada por vocês, mulheres, essa gana, essa vontade de almejar sempre algo maior e vencer.”
O evento, que deveria ter ocorrido no ano passado, foi adiado por causa da pandemia, mas estava sendo planejado há tempos pela FPJudô. Segundo Solange, a ideia de conectar todas as participantes do primeiro mundial feminino partiu de Cristiana Pallavicino, judoca brasileira radicada na Itália.
A transmissão de todo o evento foi realizada pela 7ª Delegacia Regional Sudoeste através do canal do YouTube do Judô Feminino Paulista. Aqueles que participaram e se inscreveram pela plataforma Sympla receberam certificados de presença e dois pontos para o exame de graduação da FPJudô.
A cerimônia completa está disponível AQUI.