Interventor da CBTKD descumpre ordem judicial e assume a gestão

Mudança da identidade visual, desfiliação e filiação de federações estaduais e tentativa de mudança estatutária que violam normas do COB, Lei Pelé e WTF são algumas das manobras que visam a conduzir Yeo Jun Kim ao poder na CBTKD.

No dia 15 de dezembro de 2016 a Budô publicou matéria intitulada Decisão judicial implode taekwondo brasileiro, na qual revelamos o caos sem precedentes que devastou a pouca estrutura que restava na Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD).

Funcionários sem receber salários, toda sorte de fornecedores na mão, alugueis da sede se avolumando e o repasse de verbas oriundas do Comitê Olímpico do Brasil cancelado por falta de prestação de contas.

Mas, em vez de os filiados receberem uma resposta que justificasse nossa denúncia, o que vimos foi José da Mota Leal Filho, secretário geral da CBTKD, mentir despudoradamente ao afirmar que tudo estava na mais perfeita ordem, embora até o início de janeiro nem o calendário esportivo de 2017 houvesse sido produzido e divulgado no site da Confederação Brasileira, revelando o despreparo e a incapacidade de gestão do grupo que está à frente da entidade.

Cronologia do caos

Nos últimos meses muita coisa aconteceu no taekwondo brasileiro, mas a cada dia o quadro fica ainda mais perverso e desalentador para os profissionais que têm suas vidas atreladas à modalidade e para o enorme contingente de atletas que fazia projeções visando ao alto rendimento deste ciclo olímpico.

Incluindo filiados e praticantes, o taekwondo reúne hoje no Brasil centenas de milhares de adeptos que, perplexos, assistem à desconstrução da pouca estrutura existente antes de 5 de agosto, dia em que Alexandre Libonati de Abreu, o juiz da 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, atendeu ao pedido feito pelo Ministério Público Federal e afastou Carlos Fernandes, presidente da CBTKD.

No dia 26 de janeiro de 2017 desembargadores da 3ª Câmara Cível do TJRJ afastaram a diretoria eleita da Confederação Brasileira de Taekwondo. Por sua vez, o juiz substituto Paulo Roberto Correa, da 16ª Vara Cível do Rio de Janeiro, nomeou interventor Carlos Alberto de Carvalho, atendendo a um acordo repleto de vícios entre o autor da ação, Marcelino Soares, e José Leal, secretário geral da CBTKD, que não possuía autonomia para representar a entidade.

Ludibriado por José Leal e Marcelino Soares, o juiz substituto cometeu um erro gravíssimo ao entregar o comando da CBTKD a um subordinado de Yeo Jun Kim, o maior adversário político de Carlos Fernandes, o dirigente afastado.

Visando a defender interesses próprios e a manutenção no cargo que vinha ocupando, José Leal entregou a cabeça de Carlos Fernandes a seus adversários, e bizarramente passou a fazer oposição à gestão da qual fazia parte no cargo de secretário geral.

Carlos de Carvalho é um dos principais assessores de Yeo Jun Kim, presidente da Federação de Taekwondo do Estado de São Paulo, e até ser nomeado interventor era o diretor jurídico da entidade.

Como explicitamos na matéria intitulada Interventor evidencia o obscuro mundo do taekwondo, publicada em 15 de fevereiro, o juiz substituto da 16ª Vara Cível do Rio de Janeiro não conhece personagens e meandros da modalidade e, muito provavelmente, jamais imaginaria que dois dirigentes se prestariam a tamanha falcatrua. A verdade é que, desde que assumiu como interventor, Carlos Alberto de Carvalho age como gestor nacional da modalidade, descumprindo o que foi estabelecido por lei, visando a ganhar tempo para perpetrar manobras que conduzam Yeo Jun Kim ao comando do taekwondo nacional.

Antes de discorrermos sobre os desmandos é imprescindível alertar que Carlos de Carvalho foi nomeado interventor por apenas 90 dias e somente para convocar assembleias, produzir uma pequena correção estatutária e conduzir o processo eletivo que definirá o próximo presidente da CBTKD. O interventor não foi indicado para gerir a entidade e muito menos a modalidade.

Ilegalidades cometidas pelo interventor

O primeiro ato ilícito foi ter aceitado a indicação feita pelo magistrado por três motivos: ser intimamente ligado a Yeo Jun Kim, uma das partes interessadas no processo; por ser funcionário público da Prefeitura de Sorocaba (Carvalho licenciou-se do serviço público somente após a denúncia da Budô); e por ser diretor jurídico da Fetesp, entidade envolvida no processo.

Em apenas duas semanas no posto o interventor desfiliou as federações dos Estados de Rondônia, Minas Gerais e São Paulo; filiou duas entidades que haviam sido desfiliadas nestes Estados; e contratou um designer gráfico para produzir a nova identidade visual da CBTKD, quando, estatutariamente, a alteração da logomarca demanda aprovação em assembleia. De quebra, aumentou a taxa de anuidade das federações em 250%, o que inviabiliza o pagamento e a participação das federações estaduais com menor poder econômico no circuito de eventos nacionais e principalmente das assembleias.

Em entrevista concedida ao Globo.com, Carlos Carvalho anunciou duas assembleias, sendo a primeira para 10 de abril, na qual pretende alterar o estatuto da CBTKD e ampliar o colégio eleitoral, já que o atual colegiado, formado pelas federações estaduais, inviabilizaria a candidatura de seu mestre e de qualquer outro dirigente de origem coreana. Acostumados a atropelar leis, Yeo Jun Kim e Carlos Carvalho parecem ignorar que o estatuto da Confederação Brasileira de Taekwondo segue estritamente as normas estabelecidas pela Lei Pelé, Código Civil, Federação Mundial de Taekwondo e Comitê Olímpico do Brasil.

O erro gritante nesta ação é que o juiz da 16ª Vara Civil determinou apenas a retirada do termo “brasileiro nato” do estatuto e não a elaboração de nova proposta estatutária, como pretende Carlos de Carvalho com fins eleitoreiros.

Outro fato determinante é que o interventor busca minar o poder de voto e decisão das federações, desrespeitando regras e normas estabelecidas por todos os organismos que regem o desporto no mundo.

Perigo iminente

Todos sabem que dirigentes estaduais não possuem recursos para bancar custos de viagens e estadias para comparecer em assembleias e foi sempre a CBTKD que arcou com estas despesas. Poucos presidentes poderão comparecer às assembleias anunciadas pelo interventor. A convocação dos pleitos atende ao que determina a Justiça, porém dificilmente teremos a presença de um número expressivo de dirigentes estaduais, e este quadro é extremamente favorável aos interesses do interventor, já que seu grupo possui recursos para mobilizar seus pares para votar nas duas assembleias.

Desde que assumiu como interventor Carlos de Carvalho apontou erros e fez denúncias sobre a gestão anterior, mas paradoxalmente mantém à frente da entidade a mesma equipe que fazia a gestão na CBTKD. Funcionários como Valdemir José de Medeiros, grande articulador político da entidade, e José da Mota Leal Filho, secretário geral responsável pela negociata com Marcelino Soares, lá permanecem. Está muito claro que ambos visam à manutenção dos cargos, mas na prática a gestão é a mesma.

Perguntas que precisam ser respondidas

Desde dezembro o Cartório de Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro pede para que a 16ª vara mande ofício para liberar os documentos retidos, para conhecimento da juíza, entre os quais está a aprovação de contas, que até hoje não foi entregue ao Comitê Olímpico do Brasil.

Carlos de Carvalho afirmou que o Comitê Olímpico do Brasil está cobrando uma conta de R$ 5 milhões referentes à gestão anterior. Perguntamos se o interventor possui um documento emitido pelo COB que corrobore sua afirmação, mas ficamos sem resposta.

Há mais de uma década Yeo Jun Kim luta acirradamente para chegar ao poder na CBTKD, e questionamos se o interventor se sente à vontade no cargo, mas não houve resposta.

Entendemos que este imbróglio ocorreu em função das elucubrações políticas de Valmir José de Medeiros, o superintendente técnico que atua em todos os departamentos: jurídico, administrativo, financeiro e até do alto rendimento. Há mais de 20 anos na entidade, o funcionário polivalente exerceu papel determinante nas gestões de Yon Min Kim, Jung Ruol Kim e Carlos Fernandes. Questionamos sua permanência, mas não houve resposta.

A Budô publicou matéria na qual expomos o quadro crítico da CBTKD, mas José Leal contradisse nossa colocação afirmando que tudo estava sob controle. Em entrevista, o interventor afirmou que a modalidade vive um caos sem precedentes e com graves problemas na gestão. Questionamos Carlos de Carvalho para saber qual dos dois dirigentes estava mentindo, mas ficamos sem resposta, assim como a relação da CBTKD com o Comitê Olímpico do Brasil. Eles não têm respostas para nada.

Soubemos que, além de comandar a CBTKD, Valdemir Medeiros articula a candidatura do mestre Júnior Alberto Maciel, ex-presidente da Federação do Amapá, para a presidência da CBTKD e questionamos o dirigente, que nada esclareceu.

Em despacho de 22 de março a juíza titular da 16ª Vara Civil, Adriana Sucena Monteiro Jara Moura, deu prazo de cinco dias para que o interventor apresente o que foi feito no sentido de realizar assembleia e cumprir as determinações do desembargador. No despacho, ela anulou todas as ações desenvolvidas na área da gestão. Perguntamos como ficarão as federações desfiliadas e filiadas assim como as demais ilegalidades cometidas no breve período à frente da entidade, mas Carlos de Carvalho não se manifestou

Yeo Jun Kim muda o tom e oficializa candidatura

Devido ao despacho emitido pela juíza titular da 16ª Vara Civil do Rio de Janeiro e na iminência de ter de abortar o projeto de poder que pretendia mudar o sistema eletivo em vigência na CBTKD e no País, Yeo Jun Kim abandonou o tom ameaçador e coercitivo para, na sexta-feira (24 de março) adotar tom amigável, lançando oficialmente sua candidatura a presidente da CBTKD.

Após ameaçar devassar contas e atas das federações estaduais que não o apoiassem, o dirigente coreano naturalizado brasileiro mudou o discurso e apresenta plano de gestão para o próximo quadriênio.

Fundamentado em dez pontos, o plano de gestão de Jun Kim é hilário. No item 2, ele promete total autonomia às federações no que tange a graduação e suas responsabilidades. Desde quando isso é proposta de gestão? Isto é lei. Os Estados têm total autonomia, e isso só não ocorre em São Paulo porque os irmãos Kim praticam uma série de abusos e violam direitos e interesses de professores.

Na verdade, em São Paulo o taekwondo é um negócio da família Kim, que importa material esportivo da Coreia do Sul para vender e alugar aos filiados espalhados pelo Estado e por todo o País. Participam até de licitações públicas, e por meio da troca de apoio político partidário vencem licitações junto à Secretaria de Esporte Lazer e Juventude do Estado de São Paulo para fornecer equipamento para a realização dos Jogos Regionais e Abertos, nos quais até há bem pouco tempo detinham total exclusividade.

Na prática, Yeo Jun Kim promete aos dirigentes estaduais uma transferência de poder que ele não pratica em São Paulo, mas o item 3 da proposta apresentada é o mais emblemático, já que por meio dele Yeo Jun Kim mostra claramente como vê os dirigentes estaduais: “preparo de materiais promocionais e/ou brindes quando do pagamento da anuidade das federações e atletas forem recebidos”. Preferimos nem comentar e deixar que cada leitor tire sua própria conclusão.

Para encerrar, destacamos o item 8 de uma proposta que desrespeita a inteligência e o discernimento das pessoas envolvidas na gestão: “buscar patrocínio das empresas coreanas e dar início das outras”.

Além de redigir seu texto num português rudimentar e extremamente precário, o dirigente coreano chega a ser grotesco, pois crê que ainda estamos nos anos 1980, quando ele e quase todos os seus compatriotas eram seguidos e idolatrados por praticantes acéfalos desprovidos de amor próprio.

A melhor coisa que Yeo Jun Kim faria seria juntar-se ao seu colaborador e parceiro Valdemir Medeiros, no apoio ao ex-técnico da seleção brasileira de taekwondo, professor Júnior Maciel, e desistir definitivamente de seu ambicioso projeto, pois independentemente de quais candidatos se apresentarão para o pleito que está com dia e hora marcados, jamais os dirigentes estaduais cometerão o mesmo erro de outrora, conduzindo um estrangeiro ao posto máximo da modalidade.

Com exceção do futsal, modalidade genuinamente brasileira, todos os demais esportes foram criados em outros países, mas nunca vimos nenhum inglês fazendo a gestão do futebol brasileiro e muito menos um japonês presidente da Confederação Brasileira de Judô. O taekwondo foi criado na Coreia, mas felizmente hoje há muita gente qualificada e preparada para fazer a gestão do esporte em nosso País.