ITKF comemora expansão do número de filiados, novas parcerias e agenda repleta de eventos em 2024

Gilberto Gaertner, O chairman da ITKF ao lado da foto do mestre Hidetaka Nishiyama © Global Sports

Chairman da ITKF, Gilberto Gaertner, confirma que a meta da entidade é chegar a 100 filiados, mas num ritmo que garanta a manutenção dos seus padrões de qualidade.

Por Paulo Pinto / Global Sports
3 de maio de 2024 / Curitiba (PR)

Em 2024 a Federação Internacional de Karatê Tradicional (ITKF, em inglês) realizará mais de 22 eventos de especial importância, entre eles um Master Course Especial, no qual serão padronizados os katas Shotokan, segundo os princípios do mestre Nishiyama. A ação se faz necessária porque nos últimos anos a prática assumiu diferentes formas, acompanhando a diversidade de organizações dedicadas ao karatê Shotokan.

Mas a cereja do bolo será o campeonato mundial, novamente na Europa, devido ao grande êxito da competição realizada na Eslovênia em 2022. Essa preferência deve-se não apenas ao fato de o continente abrigar o maior número de filiados, mas também por facilitar o acesso de participantes de todas as regiões do mundo.

Nesta entrevista, Gaertner informa que a ITKF Global totaliza hoje 70 representações nacionais filiadas e que esse número pode chegar a 100, mas num ritmo não superior a cinco ou oito filiações por ano. Isso para garantir a integridade e a eficiência da gestão internacional. Outro progresso destacado pelo chairman são as parcerias firmadas com quatro instituições internacionalmente reconhecidas, além da IAKS, Kimyo International University e da TAFISA, foi firmada parceria com o Conselho Internacional de Ciências do Esporte e Educação Física (ICSSPE), um forte suporte científico e tecnológico, cujo prestígio aumenta ainda mais a credibilidade da ITKF.

“As regras do karatê tradicional trazem uma alta exigência para pontuação, fazendo com que o atleta tenha de treinar também os fundamentos da arte e demonstrar eficiência na aplicação das técnicas.”

Ao que se deve a explosão de atividades agendadas em 2024?

Realmente são mais de 22 eventos, além de outros acontecimentos menores, porém com expressiva importância regional. É muito interessante poder ver que nós conseguimos formatar um calendário extremamente rico, diversificado e que realmente atende às nossas quatro grandes regiões do planeta a Europeia, a Pan-Americana, a África e a Ásia/Oceania. Ampliamos significativamente as promoções, mas é muito importante destacar que não se trata apenas de eventos competitivos. A ITKF segue uma política de trabalhar não só a competição, mas a formação continuada dos instrutores, dos atletas e dos praticantes. Então, podemos verificar que o número de cursos é igualmente grande e com isso conseguimos manter sempre uma atualização e um desenvolvimento técnico paralelamente às atividades competitivas, buscando a excelência nesses aspectos. Acho que um ponto fundamental foi o trabalho muito forte e a dedicação dos diretores regionais, da Europa, das Américas, da África e da Ásia/Oceania, que se esforçaram muito para nos proporcionar um calendário dessa magnitude em parceria com todos os filiados.

Isto seria um diferencial do karatê tradicional?

Sim, essa é uma das características clássicas do karatê tradicional: a otimização e o desenvolvimento técnico aliados à competição. A competição é vista como uma extensão do treinamento diário, imerso numa atmosfera psicológica que se aproxima de uma situação de autodefesa. As regras do karatê tradicional trazem uma alta exigência para pontuação, fazendo com que o atleta tenha de treinar também os fundamentos da arte e demonstrar eficiência na aplicação das técnicas.

Calendário anual da ITKF © Arquivo

Quantos países estão filiados à entidade? Como ocorreu esta expressiva expansão?

A ITKF Global, que tem sua sede no Brasil, conta atualmente com cerca de 70 países filiados e com um dinamismo ímpar na promoção de cursos e campeonatos ao redor do planeta. Desde 2019 a organização vem sendo reestruturada em nível administrativo e técnico. Ganhou a confiança dos filiados, foi-se fortalecendo, buscando parcerias externas e ampliando seu espaço geopolítico nos cinco continentes. Hoje a ITKF Global é uma das maiores e mais respeitadas organizações que representam o karatê em todo o mundo.

O projeto da atual diretoria prevê a filiação de quantos novos países, no médio prazo?

A atual diretoria acredita poder chegar a 100 filiados nos próximos anos, ou seja, 100 federações nacionais. Estamos com 70 países e temos de trabalhar bastante ainda. Todavia, nosso projeto prevê um número de filiações limitado por ano. Por quê? Se tivermos de cinco a oito novos filiados a cada ano, que é o que nos interessa, nós teremos tempo de adequar os novos dirigentes ao pensamento, à cultura e à forma de trabalhar do karatê tradicional da ITKF Global. Uma entrada muito grande de filiados, ao contrário, pode causar uma descaracterização institucional e dificultar que essas pessoas entendam realmente como a nossa instituição funciona. Chegar a 100 países filiados é uma das nossas metas, mas nesse ritmo de cinco a oito por ano, um tempo suficiente para que as pessoas que ingressam na instituição entenderem como ela funciona, sua cultura, toda a parte técnica e nossa visão de karatê tradicional. Isso faz uma diferença muito grande.

De que forma o aumento no número de representações nacionais inscritas impacta na gestão da ITKF?

Inicialmente eu gostaria de pontuar que eu represento uma equipe de gestão que é muito trabalhadora, unida e comprometida com o karatê tradicional e a instituição. Sem esses valorosos amigos e colaboradores não teríamos avançado. Crescer é uma questão bastante complexa e delicada, porque estamos interagindo com diferentes culturas e formas distintas de decodificar a vida. Obviamente, cada vez que nós aumentarmos o número de filiados, a demanda de toda a estrutura administrativa e técnica vai sendo ampliada. O ingresso gradativo permite que façamos as adaptações necessárias para suprir as necessidades de gestão e, principalmente, oferecer o suporte necessário aos nossos filiados.

Entre as atividades programadas para 2024, qual será a cereja do bolo?  

Vou começar pela parte competitiva, que tem a ver com a realização do campeonato mundial na Europa. Por que na Europa primeiro? Nós tivemos em 2022 uma competição excelente na Eslovênia, congregando um número muito grande de países. Então, decidimos logo em seguida que faríamos mais uma edição na Europa com a finalidade de fortalecer um pouco mais a estrutura no continente e atrair um número muito grande de representações da região. Além disso, facilita a ida de representações da África, da Ásia e das Américas. Creio que teremos uma excelente participação, nossa expectativa é muito grande.

“A ITKF hoje é como um organismo vivo, pulsando com em alta intensidade e atua com vigor e coesão em todo o planeta, como se estivéssemos todos interconectados numa mesma frequência.”

Haverá algum evento paralelo?

Vamos ter um evento técnico que considero de grande importância: um Master Course Especial. Nele nós vamos promover a padronização dos katas Shotokan segundo a visão da ITKF Global. Os katas do estilo Shotokan, inicialmente padronizados pela NKK (JKA), passaram a ser executados de forma distinta pelas inúmeras organizações criadas a partir da cisão da JKA ocorrida após a morte do mestre Nakayama,

cada uma com suas peculiaridades. Quem aceitou esse desafio foi o professor Dino Contarelli, autor de um livro muito bem escrito, com uma influência direta dos mestres Nishiyama, Shirai e Kase. A padronização dos katas vai se somar ao novo programa de exames que já está sendo implantado pelo Comitê Técnico, com suporte do Shihan-Kai. Creio que nós vamos avançar bastante, dentro da área técnica, dando continuidade ao que o mestre Nishiyama desenvolveu. Vamos dar um passo inicial para nos transformarmos em uma “Escola de Karatê Tradicional”. Essa passagem será muito importante, porque vai definir uma forma clara e específica de praticar o karatê tradicional, pautada nos ensinamentos do mestre Nishiyama com o aporte das Ciências do Esporte e das Neurociências.

Quais são as perspectivas para o Master Course da França, principal evento das áreas técnica e de arbitragem?

É o primeiro Master Course que vamos ter neste ano e é muito importante, porque dá início à capacitação e à preparação de árbitros e técnicos que atuarão no Campeonato Mundial. O comitê técnico espera finalizar a apresentação e o treinamento da nova metodologia de exames da ITKF e avançar em vários outros aspectos técnicos importantes. Além disso, esperamos reunir um número significativo de professores de todos os continentes. Creio que vai ser um evento de grande sucesso.

Trata-se de um evento tradicional para a ITKF, não é?

Sim, o evento está na sua trigésima primeira edição e continua sendo organizado pela nossa vice-presidente, sensei Sandrine Le Corre – El Marhomy. Desde 2019 o curso vem sendo ministrado pelo Comitê Técnico da ITKF, é um evento de grande qualidade, exclusivo para professores. Entretanto, vai ser complementado pelo General Curse, aberto a graduações menores. Importante destacar que esse evento será realizado pela primeira vez fora de Paris, em Les Sables D’Olonne, no litoral, num ginásio muito bacana e hospedagem num hotel de frente para a praia.

Quais foram os principais avanços da ITKF em nível institucional?

Neste ano fechamos uma grande parceria com o International Council of Sports Science and Physical Education (ICSSPE), instituição voltada para a pesquisa no campo esportivo. É importante ressaltar que essa filiação dá credibilidade à ITKF na área de desenvolvimento científico. Então, essa parceria se soma à da IAKS, organização internacional extremamente respeitada que trabalha com esporte para todos e com produção e criação de espaços para a prática esportiva. Outra importante filiação do ano passado foi à TAFISA, o segundo maior órgão gestor de esportes do mundo, só atrás do Comitê Olímpico Internacional. A TAFISA trabalha com um enfoque muito importante para o karatê tradicional, que é o esporte inclusivo, ou seja, karatê para todos. Outra importante parceria no campo acadêmico, celebrada em 2023, foi com a Kimyo International University. Resumindo, hoje nós temos quatro parcerias de peso, com grandes representações mundiais, e isso traz uma credibilidade muito marcante para a nossa instituição. Sem menosprezar outras instituições, creio que nós assumimos um lugar muito diferente quando nos associamos a quatro organizações mundiais muito respeitadas. Atualmente, quando interagimos com os governos nacionais e apresentamos essas credenciais de parceria, nós nos diferenciamos significativamente. Isso traz credibilidade e um retorno muito significativo para os nossos filiados. Nossa organização realmente mudou de patamar.

Como você descreveria a ITKF hoje?

Sinto que a ITKF hoje é como um organismo vivo, pulsando com em alta intensidade. Este é um aspecto que me marca profundamente, pois ao observar os acontecimentos em diversos países, simultaneamente, percebo que a ITKF atua com vigor e coesão em todo o planeta, como se estivéssemos todos interconectados numa mesma frequência. Essa sensação de unidade é fundamental, pois nos permite reconhecer e respeitar as diferentes culturas e os propósitos individuais de cada filiado à nossa entidade. A diversidade cultural, étnica e religiosa enriquece nossa comunidade, e é por meio do respeito mútuo que fortalecemos ainda mais os laços que nos unem como uma família global do karatê tradicional. Essa grande família está buscando desenvolver uma cultura de paz, de respeito, de igualdade e de sustentabilidade.

Perfil

Gilberto Gaertner, chairman da Federação Internacional de Karatê Tradicional (ITKF), é faixa preta hachi-dan (8º dan) e integrante do Comitê Técnico e do Shihan-Kai da ITKF. Presidiu a Federação de Karatê Tradicional do Paraná (FKTPR) por duas gestões e ocupou o cargo de diretor técnico da Confederação Brasileira de Karatê Tradicional (CBKT) durante 14 anos, entidade que também presidiu duas vezes.

Formado em psicologia com mestrado em engenharia de produção e em neurociências, Gaertner tornou-se doutor em estudos da criança e pós-doutor em ciências do movimento humano, tendo coordenado a Especialização em Psicologia do Esporte e Neurociências da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Como psicólogo do esporte, foi campeão da copa mundial, campeão mundial e campeão olímpico com a seleção brasileira de vôlei masculino, além de vice-campeão da Copa Libertadores da América de futebol com o Club Athletico Paranaense.

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