01 de setembro de 2025

O último dia do Campeonato Mundial Cadete por Equipes Mistas em Sofia trouxe toda a intensidade e emoção que tornam essa disputa tão singular — e isso ficou claro desde o primeiro hajime. Relembrando, em 2024 as medalhas ficaram com Japão (ouro), França (prata), e um inédito bronze compartilhado por Brasil e Mongólia.
No entanto, os resultados individuais de 2025 sinalizavam um novo equilíbrio. O Uzbequistão dominou com cinco ouros e dois bronzes, enquanto a França, antes cabeça de chave, terminou longe do pódio coletivo, estacionada em décimo com apenas uma prata e dois bronzes.
Clarice Ribeiro (BRA) e sua treinadora Maria Portela © Emanuele Di Feliciantonio
Mas no judô por equipes, tudo pode acontecer — como visto no último Mundial sênior, em que a Geórgia quebrou paradigmas ao faturar o ouro na categoria, algo inédito na história da competição.
Logo na largada, os duelos eram promissores: França enfrentou Uzbequistão, Cazaquistão pegou Bulgária, Mongólia duelou com Chinese Taipei, IJF encarou Alemanha, Brasil duelou com Canadá, Polônia enfrentou Grécia, Japão mediu forças com Bielorrússia, e Geórgia encarou Azerbaijão.
Timur Aliev (IJF) enfrentou Ruan Vasconcelos (BRA) e, no meio da luta, anotou um yuko e, na sequência, ampliou a vantagem com um wazari de o-uchi-gari, empatando o confronto em 3 a 3 © Gabriela Sabau / FIJ
A atmosfera na Asics Arena estava carregada de ansiedade, energia e expectativa — uma pitada extra que fez o domingo valer cada segundo.
Desde o início, surpresas moldaram a narrativa: o Uzbequistão, dominante na disputa individual, abriu caminho até a final. Mas foi a garra e a união do Japão que definiram o torneio. Após sair 0 a 2, os atuais campeões reagiram com força e venceram quatro confrontos consecutivos, reconquistando o título mundial e confirmando o poder coletivo do judô.
Judocas japoneses cumprimentam a equipe do Azerbaijão em gesto de respeito e espírito esportivo © Emanuele Di Feliciantonio
A batalha final foi intensa e imprevisível. O Japão virou o jogo até conquistar o bicampeonato. As medalhas de bronze ficaram com Polônia e Equipe IJF.
A decisão entre Uzbequistão e Japão prometia fogos de artifício e entregou exatamente isso: uma disputa eletrizante, marcada por alternâncias de domínio até que as atuais campeãs retomassem o controle.
Treinador e atletas do Japão vibram com a conquista do ouro © Gabriela Sabau / FIJ
A luta de abertura viu a recém-coroada campeã mundial cadete Umida Nigmatova (UZB) impor autoridade desde o primeiro minuto, derrubando Misuzu Katsumata (JPN) com um estrondoso ura-nage. O Uzbequistão largava na frente: 1 a 0. Na sequência, Alibek Durdiev (UZB) enfrentou Kaito Tokita (JPN). Durdiev surpreendeu com um yuko em contra-ataque oportuno, e mesmo pressionado, segurou a vantagem após duas punições. O segundo ponto uzbeque parecia consolidar uma jornada perfeita (2 a 0).
Semifinal dos -63 kg entre Fonseca (BRA) x Yamakawa (JPN) © Emanuele Di Feliciantonio
Mas a reação japonesa começou na terceira luta, quando Iori Tomita (JPN), menos imponente no tachi-waza, exibiu um trabalho de solo impecável, rolando pacientemente Dinora Khasanova (UZB) para uma imobilização clássica e o ippon. No quarto duelo, Toai Hashima (JPN) virou protagonista ao capitalizar um erro de Khushnudbek Burkhonov (UZB) no golden score, empatando em 2 a 2.
“A comissão técnica conduziu o grupo com competência e maturidade, reforçando o processo de renovação da Confederação Brasileira de Judô.”
O Japão assumiu a dianteira na quinta luta com Nonoka Yamakawa (JPN), que controlou Maftuna Akhmedova (UZB) desde o início, marcando yuko e finalizando com imobilização. A virada colocava o placar em 3 a 2. Restava o embate decisivo: Inomjon Bakhodirov (UZB) contra Keisho Mitsuishi (JPN). Após equilíbrio no tempo regular, Mitsuishi garantiu a vitória no golden score, imobilizando o adversário pela segunda vez e confirmando o triunfo japonês por 4 a 2.
De 0 a 2 para 4 a 2, a recuperação japonesa foi monumental. O banco explodiu em festa, e o bicampeonato mundial cadete por equipes mistas ficou novamente em mãos nipônicas, provando que a força coletiva do Japão permanece incomparável.
Apesar da derrota, o Uzbequistão consolidou sua posição como uma das grandes forças emergentes do judô mundial. A equipe saiu de Sofia com cinco ouros e dois bronzes no torneio individual — resultado que garantiu o título geral — e ainda acrescentou uma prata inédita por equipes mistas.
Umida Nigmatova (UZB) impõe sua autoridade, lançando Misuzu Katsumata (JPN) com um ura-nage estrondoso © Gabriela Sabau / FIJ
Liderados por técnicos como Akmal Irgashev e Shukhrat Fayziev, referências do judô uzbeque na formação de base, os jovens atletas demonstraram consistência técnica e psicológica, agressividade e capacidade de decisão.
O contraste com a França foi inevitável: vice-campeã mundial por equipes em 2024, a tradicional potência europeia sequer figurou entre os sete primeiros colocados nesta edição, revelando uma mudança de forças que pode redesenhar o equilíbrio da categoria cadete nos próximos anos.
Seleção brasileira comemora a vitória sobre o Canadá © Gabriela Sabau / FIJ
POLÔNIA CONQUISTA O BRONZE COM VITÓRIA POR 4 A 0
Na primeira disputa pelo bronze, a Polônia não deu chances à Mongólia. Roksana Zys (POL) abriu os trabalhos com ippon sobre Maralmaa Khurelchuluun (MGL). Na sequência, Dawid Kaminski (POL) se aproveitou de uma penalidade que anulou um waza-ari mongol e virou a luta com yuko, antes de aplicar o ippon que ampliou para 2 a 0.
Na terceira luta, Barbara Twarowska (POL) sofreu um yuko inicial de Misheel Altanshagai (MGL), mas reagiu com resiliência, contra-atacando para waza-ari e imobilizando a rival em seguida. A vitória polonesa foi confirmada no quarto combate, fechando um expressivo 4 a 0 e garantindo o pódio.
Seleção japonesa celebra o ouro em Sofia © Emanuele Di Feliciantonio
BRASIL CAI EM DUELO DRAMÁTICO CONTRA A IJF
A segunda disputa pelo bronze, contra a equipe da IJF (atletas neutros), foi marcada pelo equilíbrio e emoção até o golden score. Na luta inicial, Agatha Paixão superou Aleksandra Repiakh após um longo golden score, colocando o Brasil à frente. Mas Denis Kuligin empatou contra César Godoy, com um ippon nos segundos finais.
A campeã mundial cadete Clarice Ribeiro devolveu a vantagem brasileira, mostrando maturidade ao vencer Alina Gadanova com wazari e osae-komi. No entanto, Nart Naguchev igualou tudo outra vez contra Lucas Yamamoto. Coube a Anna Júlia Sperling reacender a esperança, impondo ippon sobre Aishat Alieva e abrindo 3 a 2.
Equipe do Uzbequistão celebra a chegada à final e conquista da medalha de prata © Gabriela Sabau / FIJ
Na sexta luta, a pressão pesou. Timur Aliev virou sobre Ruan Vasconcelos e empatou em 3 a 3, levando a disputa ao sorteio da luta extra. O destino apontou novamente para César Godoy contra Denis Kuligin. Desta vez, o judoca da IJF não desperdiçou a chance: aplicou um juji-gatame rápido e indefensável, decretando a vitória por 4 a 3 e deixando o Brasil fora do pódio.
A campanha do Brasil teve bons momentos e mostrou competitividade até a semifinal. Na estreia, contra o Canadá, a equipe venceu por 4 a 0 — já começou com 1 a 0 por ausência de atleta canadense nos -48kg e confirmou o triunfo com vitórias de Lucas Yamamoto (-60kg), Laryssa Fonseca (-63kg) e Ruan Vasconcelos (-81kg).
Seleção polonesa comemora o bronze © Emanuele Di Feliciantonio
Nas quartas, veio um sólido 4 a 1 sobre a Polônia, com pontos de Anna Júlia Sperling (-63kg), Ruan Vasconcelos (-81kg), Clarisse Vallim (+63kg) e Clarice Ribeiro (-48kg). Apenas César Godoy (-90kg) foi superado por Dawid Kaminski.
Na semifinal, diante do Japão — futuro campeão —, o Brasil caiu por 4 a 2, mas voltou a mostrar força. Clarice Ribeiro e Lucas Yamamoto conquistaram vitórias, mantendo viva a esperança até o confronto final.
Equipe da IJF comemora o bronze © Gabriela Sabau / FIJ
Apesar de ficar fora do pódio, a equipe brasileira retorna de Sofia fortalecida. Em uma campanha pujante, vibrante e determinada, os cadetes mostraram talento tanto nas disputas individuais quanto na competição coletiva, reafirmando o potencial das novas gerações.
No torneio por equipes mistas, o Brasil registrou vitórias expressivas sobre Canadá e Polônia, e encarou de igual para igual tanto o campeão Japão quanto a seleção da IJF, que levou o bronze. O desempenho, marcado por resiliência e espírito de grupo, confirmou a evolução do judô nacional na base.
Pódio com as quatro finalistas © Gabriela Sabau / FIJ
A comissão técnica formada por Marcelo Theotônio (diretor de Esporte), Bruna Muassab (chefe da delegação), Maria Portela (treinadora), José Olívio (treinador), Thiago Valladão (treinador), Mariana Koga (médica), Diego Helps (fisioterapeuta), André Amorelli (treinador ProCIT), Gabriel Silva (treinador ProCIT), Lincoln Neves (assistente) e Beatriz Riscado (comunicação) conduziu o grupo com competência e maturidade, reforçando o processo de renovação da Confederação Brasileira de Judô.
Atletas e técnicos caminharam juntos, mostrando que o Brasil está cada vez mais competitivo e estratégico também nas categorias de base, pavimentando o futuro rumo a Los Angeles 2028.