11 de novembro de 2024
Jorge Crosa trabalha intensamente na estruturação e no crescimento da ITKF no Uruguai
Um dos dirigentes mais novos da ITKF, Crosa propõe um karatê além da busca de medalhas e procura reconstruir a arte marcial em sua plenitude
ITKF Global
1º de dezembro de 2020
Por PAULO PINTO
Fotos BUDOPRESS e ARQUIVO / AUKT
Curitiba – PR
Determinado e extremamente objetivo, Jorge Alejandro Crosa Pérez, presidente da Associação de Karatê Tradicional do Uruguai, figura entre os mais resolutos e proativos dirigentes nacionais da International Traditional Karate Federation (ITKF) da nova geração.
O dirigente uriguaio iniciou a prática o karatê Shotokan aos 9 anos e obteve a faixa preta sho-dan aos 14, em 11 de junho de 1989, o mais jovem da Federação Uruguaia de Karatê (FUK), representante oficial da ITKF na época.
“Por volta de 1997, deixei de praticar karatê para me formar e após atingir este objetivo decidi retomar a prática e a docência, voltada a crianças e jovens em situção de risco, dando início às atividades do Seishin Dojô, na órbita do Núcleo G da cidade de Montevidéu”, contou o dirigente.
Sensei Crosa revelou à Budô que a partir de 2012 o karatê e o kobudô passaram e coexistir em sua escola, já que no kobudô encontrou o complemento ideal, para compreender muitos significados intrínsecos do budô e derrubar mitos que lhe foram incutidos desde que iniciou a prática da Arte das Mãos Vazias.
“Fazendo um profundo retrospecto de minha trajetória no karatê, em 2012 decidi iniciar a prática do kobudô, arte marcial de manejo de diversas armas criada na ilha de Okinawa (Japão), sob orientação do sensei Mariano Melfi, shichi-dan (7º dan) da Shorin Ryu Shidokan Okinawa e yon-dan (4ºdan) do Jinbukai Okinawa Kobudô, graduando-me em 2017 como sho-dan”, prosseguiu o dirigente.
Jorge Crosa atribui sua habilidade na interlocução e a facilidade de comunicação a sua origem familiar e formação acadêmica.
“Sou filho e neto de jornalistas, sempre estive ligado ao mundo do design e da produção audiovisual. Formei-me designer sênior numa época em que pouco se falava desta especialização no Uruguai. Posteriomente estudei arquitetura, enquanto treinava com a seleção nacional de karatê, até que formei família e meus projetos pessoais se alteraram. Hoje tenho dois filhos praticantes de karatê: o Franco é sho-dan e e está com 20 anos; foi medalha de bronze em kumitê no mundial unificado da UWK/ITKF, realizado em Montecattini, na Itália. O Santiago, 14 anos, é terceiro kyu e é o atual campeão pan-americano de kumitê de sua categoria”, detalhou.
Em 2008, após terminar os estudos e retornar à prática do karatê, Crosa treinou com proferrores de vários estilos, como Goju Ryu, Shorin Ryu, Kyokushin e outros. Daí surgiu a ideia de unificar esforços para difundir a prática de todos eles. Em 15 de dezembro de 2010 foi formalmente inaugurado o Instituto Uruguaio de Karatê Tradicional (IKTU), pedra fundamental da Associação Uruguaia de Karatê Tradicional (AUKT), fundada em 31 de agosto de 2015, que hoje representa oficialmente o país na Federação Internacional de Karatê Tradicional (ITKF).
Na entrevista à Budô, Crosa falou sobre a sua relação pessoal com o shihan Hidetaka Nishiyama. “Só tive a oportunidade de presenciar um curso realizado por ele em 1988, quando esteve Uruguai, no Club Atenas, lugar emblemático onde anos depois, já como dirigente, realizei o Campeonato Pan-Americano de Seleções da ITKF. Quando retomei o karatê, o shihan Nishiyama faleceu logo em seguida, mas tive a honra de ter sido aluno de um de seus discípulos de longa data, o professor Carlos Alfaro Macherone, com quem até hoje mantenho contato marcial e familiar.”
As adversidades vividas por Crosa desde os primeiros passos no dojô inspiraram seu principal obetivo como dirigente. “A prática do karatê me proporcionou muitas alegrias e vários problemas. Felizmente, no equilíbrio da vida, as alegrias sempre prevaleceram e é por isso que sigo em frente. Agora, um dos meus principais objetivos e desafios é unir o karatê tradicional como um todo, e isso não está sendo fácil. Mas, no imenso legado do sensei Nishiyama está o exemplo de persistir e não desistir jamais.”
De 2013 até hoje, a diretoria da AUKT elaborou um plano de gestão para as seleções esportivas e um plano acadêmico para as escolas filiadas. “Em ambos setores temos crescido lentamente, mas com segurança. Em nível desportivo, o marco mais importante foi a conquista de medalhas de ouro no kata individual e no kumitê por equipes no mundial realizado em Curitiba, em dezembro de 2019. Ambas as façanhas jamais haviam sido alcançadas por nosso país e ficarão gravadas na retina e no sentimento de todos os karatecas uruguaios”, lembrou o presidente da Associação Uruguaia de Karatê Tradicional.
No campo político e institucional o maior orgulho de Crosa é atuar e hoje em nível continental e global. “A liderança da ITKF me confiou o privilégio de ocupar posições importantes e de muita responsabilidade. Nosso chairman Gilberto Gaertner exerce uma gestão inovadora e voltada para o futuro e, felizmente, me está dando um grande impulso. Sou grato e totalmente comprometido com uma gestão que está reestrurando a nossa organização”, afirmou.
Jorge Crosa revelou os projetos e metas da AUKT para 2021, após um ano marcado por um problema de saúde pública mundial.
“Primeiro temos de consolidar a base dos dojôs e praticantes de cada célula da organização, visto que a pandemia afetou seriamente a continuidade econômica e financeira de várias escolas. Segundo, vamos consolidar o vínculo do karatê no âmbito do governo nacional do Uruguai, ao qual temos oferecido enorme contribuição na profissionalização do quadro de professores. Por último, temos de consolidar um programa de ensino em nível dos governos municípais nos 19 Estados do Uruguai.”
A AUKT registra cerca de 500 praticantes federados, dos quais 10% são graduados a partir do sho-dan. “Tivemos uma mudança significativa com a pandemia, mas nos mantivemos fiéis ao planejamento que havíamos feito. Hoje cerca de 50 atletas dedicam-se arduamente à obtenção de títulos nacionais e internacionais. Atualmente temos 16 dojôs filiados em quatro Estados. No contexto mundial são números pequenos, mas para a realidade uruguaia é uma quantidade respeitável de praticantes”, informou o dirigente.
Para Crosa, a pandemia possibilitou que se lançasse um olhar para a essência da proposta do professor Nishiyama. “Penso que vivemos um grande momento no sentido de fortalecer nosso projeto pedagógico e socioeducativo, não somente devido à crise da saúde global que inibe quase todas as atividades presenciais, mas porque precisamos buscar a assência do que fazemos e daquilo que propomos enquando professores fundamentados no budô”, confidenciou o dirigente.
“Lamentavelmente”, acrescentou, “por muitos anos as escolas Shotokan têm derretido o ensino dos aspectos marciais do karatê em favor da competição, e isso, em minha opinião pessoal, tem-nos enfraquecido como escola, como dô e principalmente como budô. Felizmente nossas lideranças hoje caminham em outra direção e buscam algo maior. Avalio que a ITKF trata o karatê de forma muito mais ampla, extrapolando os limites do kata, do kumitê e das medalhas. É hora de olhar para dentro, desconstruir o que temos de errado e a partir daí reconstruir o karatê em sua plenitude. Entender o que fazemos e o que buscamo é essencial para o resurgimento de uma organização muito mais marcial, fundamentada, porém, no social, na inclusão e na inovação. Vivemos no limiar do passado e do futuro, e temos de definir muito bem esta questão. É pegar ou largar,”
Jorge Crosa finalizou a entrevista projetando o que acha necessário para popularizar e fomentar o crescimento sustentável do karatê tradicional em escala global.
“A atual presidência da ITKF tem como proposta a integração real de estilos, promovendo verdadeiramente o conceito de karatê tradicional, acima das escolas e bandeiras. O objetivo é inovar, integrando e vinculando Okinawa ao Japão. Acredito que a partir daí a ITKF poderá desempenhar um papel histórico, tornando-se o motor espontâneo do karatê mundial tradicional. Há muito trabalho a ser feito, mas os primeiros passos estão sendo dados. Continuo insistindo que o acadêmico deve ter prioridade sobre o esporte; a chave do crescimento aponta para este caminho. Se pudermos associar ou estabelecer uma união estratégica com a Unicef, com mais de 150 países alinhados, acredito que teremos excelente combinação de cultura e esporte em benefício das novas gerações e estaremos efetivamente cumprindo nosso papel como professores e como budocas”, explanou o presidente da AUKT.
Jorge Crosa nasceu em 1º de abril de 1975 em Montevidéu, Uruguai. É faixa-preta yon-dan (4º dan) da ITKF; san-dan (3º dan) do Toudai Ryu Shotokan Nishiyama Ha e sho-dan (1º dan) do Okinawa Jinbukai Kobudô. Preside a Associação de Karatê Tradicional do Uruguai (AKTU), representante oficial da ITKF no Uruguai, e o Instituto Uruguaio de Karatê Tradicional (IKTU). É secretário-geral da Federação Pan-Americana de Karatê Tradicional (PTKF) e membro do ITKF World Directory, exercendo a função de comptroller.