04 de junho de 2025

O judô feminino brasileiro segue sendo a espinha dorsal da modalidade no cenário internacional. Com protagonismo consolidado ao longo das últimas décadas, são as mulheres que vêm sustentando o prestígio do Brasil nos tatamis do circuito mundial. Técnica apurada, preparo físico de excelência e uma mentalidade competitiva forjada em grandes desafios explicam, em parte, a pujança dessa geração.
Rafaela Silva domina no osae-komi e conquista o bronze em sua estreia na categoria até 63kg © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Em Astana, no Cazaquistão, essa força se reafirmou com mais uma atuação de altíssimo nível. Com as três medalhas de bronze conquistadas no fim de semana por Rafaela Silva (63kg), Luana Carvalho (70kg) e Beatriz Freitas (78kg), o Brasil totalizou seis pódios e encerrou sua participação entre os quatro países com maior número de medalhas — ao lado do anfitrião Cazaquistão, do Japão e da França.
O Grand Slam de Astana reuniu 358 atletas de 44 países e seis continentes, consolidando-se como uma das etapas mais qualificadas do World Tour da FIJ — e, nesse cenário exigente, o judô feminino do Brasil não apenas competiu, mas se impôs com autoridade.
Embala pela conquista do ouro no Pan-Americano, a paranaense Natasha Ferreira (48kg) estreou nas oitavas vencendo a belga Lois Petit por punições. Nas quartas, foi superada pela chinesa Xinran Hui, mas reagiu na repescagem ao vencer a israelense Tamar Malca. Na disputa pelo bronze, dominou a mongol Narantsetseg Ganbaatar com um ippon categórico, conquistando sua segunda medalha em Grand Slams.
Natasha Ferreira supera a belga Lois Petit nas oitavas de final da categoria até 48kg © Kulumbegashvili Tamara / FIJ © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Pódio dos 48kg com Giliazova Sabina (FIJ), Hui Xinran (CHN), Natasha Ferreira (BRA) e Scutto Assunta (ITA) © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Vice-campeã continental, a carioca Jéssica Pereira (52kg) começou vencendo a israelense Ilay Hayun. Superou depois a marroquina Soumiya Iraoui com um wazari seguido de ippon. Caiu na semifinal para a alemã Seija Ballhaus, mas voltou com força total para a luta pelo bronze e imobilizou a húngara Reka Pupp com um osae-komi preciso, garantindo lugar no pódio.
Com excelente ne-waza, Jéssica Pereira garante o bronze ao imobilizar a húngara Reka Pupp © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Pódio dos 52kg com Leiva Sanchez Ayumi (ESP), Ballhaus Mascha (ALE), Gneto Astride (FRA) e Jéssica Pereira (BRA) © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
A paulista Shirlen Nascimento (57kg) estreou vencendo por ippon a italiana Giulia Carna. Derrotada pela francesa Faiza Mokdar nas quartas, superou no golden score a atleta neutra Kseniia Galitskaia na repescagem. Na disputa do bronze, venceu outra atleta neutra, Irina Zueva, com um ippon decidido, conquistando sua primeira medalha em Grand Slams.
Ipponzaço de Shirlen Nascimento sobre a atleta neutra Irina Zueva na disputa pela medalha de bronze © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Pódio dos 57kg com Mokdar Faiza (FRA), Tamaoki Momo (JPN), Starke Pauline (ALE) e Shirlen Nascimento (BRA) © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Campeã olímpica e mundial, a carioca Rafaela Silva fez sua estreia internacional na categoria até 63kg e mostrou que continua sendo referência no tatame. Venceu na estreia a mongol Gankhaich Bold, foi superada nas quartas de final pela japonesa Masako Doi, mas reencontrou seu melhor ritmo na repescagem ao eliminar a chinesa Tang Jing. Na disputa pelo bronze, derrotou a polonesa Natalia Kropska com um ippon categórico, confirmando sua adaptação ao novo peso e conquistando sua primeira medalha em Grand Slams na nova divisão.
Pódio dos 63kg com Tanioka Narumi (JAP), Auchecorne Melkia (FRA), Khagvatogoo Enkhriilen (MGL) e Silva Rafaela (BRA) © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Na categoria até 70kg, Luana Carvalho viveu um roteiro de superação. Após, na luta das quartas de final devido a um estrangulamento, a carioca retornou à competição com sangue nos olhos. Na repescagem, venceu a turca Ozlem Yildiz com autoridade. Já na disputa pelo bronze, enfrentou a italiana Martina Esposito e aplicou um ippon nos segundos finais, arrancando uma vitória emocionante que a colocou novamente no pódio do circuito mundial.
Mostrando muita garra e superação, Luana Carvalho vence a disputa pelo bronze no 70kg © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Pódio dos 70kg com Feng Yingying (CHI), Stangherlin Giorgia (ITA), Pohl Dena (ALE),
Luana Carvalho (BRA) © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
A paulista Beatriz Freitas, que integra uma nova geração de talentos do judô nacional, mostrou maturidade e contundência. Estreou vencendo a turca Hilal Ozturk e avançou até a semifinal, onde foi derrotada pela sul-coreana Minju Kim. Na disputa do bronze, demonstrou domínio técnico e controle emocional para vencer a francesa Liz Ngelebeya por ippon, coroando a participação brasileira com firmeza e técnica refinada.
Beatriz Freitas impõe ritmo forte e conquista o bronze na categoria até 78kg © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Pódio do 78kg com Izumi Mao (JAP), Kim Minju (COR), Oelterhoff Julie (ALE) e Beatriz Freitas (BRA) © Kulumbegashvili Tamara / FIJ
Mesmo sem disputar finais, o Brasil terminou o Grand Slam de Astana entre as quatro nações com maior número de pódios, ao lado de potências como França, Japão e do anfitrião Cazaquistão. A equipe brasileira ficou na 12ª colocação no quadro geral de medalhas, mas o desempenho técnico e a consistência da equipe feminina superaram as expectativas e reforçaram o protagonismo do país no circuito mundial.
Desde o último ouro olímpico masculino — conquistado por Rogério Sampaio em Barcelona 1992 —, as mulheres brasileiras têm sustentado e elevado o nome do país no cenário internacional. Sarah Menezes (Londres 2012), Rafaela Silva (Rio 2016) e Beatriz Souza (Paris 2024) são ícones dessa trajetória vitoriosa.
Em Astana, a nova geração mostrou que esse legado segue vivo. Técnica refinada, coragem nos momentos decisivos e personalidade marcam o estilo das brasileiras, que agora se preparam para os próximos desafios da FIJ — com os olhos no Mundial e no ciclo olímpico rumo a Los Angeles 2028.
04 de junho de 2025
04 de junho de 2025
03 de junho de 2025