Judô mineiro perde um de seus principais formadores

Além de excelente didata, o professor kodansha Mário Lúcio da Silva deixa um legado de integridade, simplicidade e comprometimento com os princípios e fundamentos do judô

Memória
29 de dezembro de 2020
Por PAULO PINTO
Curitiba – PR

Nascido em 6 de outubro de 1941 em Bonfim (MG), o professor kodansha roku-dan (6º dan) Mário Lúcio da Silva escreveu importantes páginas da história do judô mineiro e nacional e foi um dos mais abnegados e dedicados professores da modalidade. Deu os primeiros passos nos tatamis no início da década de 1960 no dojô do Centro Esportivo Lutadores Unidos (CELU), administrado pelo sensei Édson Isoni no centro de Belo Horizonte. Nos últimos meses travou dura batalha contra um câncer e nesta segunda-feira (26) lamentavelmente veio a falecer vítima de embolia pulmonar.

Professores Mário Lúcio da Silva, Gleyson Ribeiro Alves e Geraldo Brandão

Sensei Mário Lúcio obteve a faixa preta em 1968 e fundou a Academia BF (Beneficência Portuguesa), que funcionava no porão da igreja do Carlos Prates, uma escola humilde, de onde saíram numerosos faixas-pretas e grandes campeões. Em seguida passou a trabalhar na Academia Alterosa Judô Clube.

Após passar uma temporada aperfeiçoando sua didática no Instituto Kodokan de Tóquio, o professor Mário Lúcio começou a ensinar no Minas Tênis Clube, onde cuidava das categorias de base, com maior ênfase no judô infantil.

Em 2007 a Confederação Brasileira de Judô lançou o projeto social Avança Judô, uma ferramenta de inclusão social por meio do esporte, época em que o professor Geraldo Brandão presidia a Federação Mineira de Judô. Em 2009, antes de deixar o comando da entidade, Brandão passou a direção do projeto da CBJ em Minas Gerais para o sensei Mário Lúcio.

Equipe do Centro Esportivo Lutadores Unidos, campeã mineira de 1969 no ginásio do Minas Tênis Clube. Sensei Lúcio está no centro da fileira dos judocas ajoelhados

“O Mário Lúcio era uma pessoa sensacional. Um cara humilde, simples, recatado, extremamente competente e, além da excelente didática no ensino do judô, possuía um carisma gigantesco. Sempre tive um carinho muito grande por ele. Éramos contemporâneos e iniciamos juntos no dojô do professor Isoni. Em certa altura da minha vida dei uma pausa no judô e ninguém conseguia me fazer retomar a prática e o ensino, mas o Mário, com a sutileza e o comprometimento que lhe eram peculiares, conseguiu fazer-me voltar aos tatamis”, disse Brandão.

Professor Mário Lúcio da Silva era uma pessoa tão simples e virtuosa que, ao receber seu roku-dan, acabou passando mal com a emoção que sentiu, tamanha era a importância que atribuía à promoção ao 6º dan.

“Desde 2009 ele estava à frente do Avança Judô e sempre conduziu o projeto com enorme lisura e competência. Durante esse tempo formou numerosos faixas-pretas e marrons da periferia de Belo Horizonte e Vespasiano, que saíram de uma situação de risco para ocupar papéis importantes na sociedade. Indubitavelmente era um dos professores de judô mais íntegros e conceituados do Estado de Minas Gerais”, concluiu Geraldo Brandão.

O professor Mário Lúcio da Silva deixa a esposa Dora Maria da Silva e os filhos Rosemeire Beatriz da Silva Nascimento, Mário Lúcio da Silva Júnior, Emerson Rodrigo da Silva e Rosilene Beatriz da Silva Alves.

Equipe da Academia BF