Judô paranaense lamenta a perda de um dos maiores talentos da nova geração

Desde a infância, Gabriel levou o judô muito a sério e perseguiu objetivos

O campeão brasileiro Gabriel Schlichta Adriano tinha apenas 20 anos e morreu tragicamente na piscina de um condomínio no bairro Tingui, em Curitiba (PR), na tarde de domingo passado

Memória
13 de setembro de 2019
Por PAULO PINTO I Fotos ARQUIVO PESSOAL
Curitiba – PR

O judoca peso leve (73kg) Gabriel Schlichta Adriano, que integrava a seleção brasileira júnior (sub 21), foi encontrado morto na piscina de um condomínio no bairro Tingui, em Curitiba (PR), na tarde deste domingo (8 de setembro). A informação foi confirmada pelo presidente da Federação Paranaense de Judô (FPrJ), Luiz Hisashi Iwashita.

Gabriel no degrau mais alto do pódio numa competição do World Tour da FIJ

Gabriel Adriano tinha apenas 20 anos, mas já havia conquistado diversos títulos estaduais e nacionais, sendo que o último deles foi o campeonato brasileiro em 2016. Nascido em 26 de agosto de 1999 em Curitiba Gabriel iniciou no judô na Pré-escola Espaço da Criança aos 3 anos com o professor Alan Vieira. No primeiro ano trocou de escola e passou a treinar com o sensei José Luís Lemanczuk Júnior, permanecendo até o fim da categoria sub15.

Já na classe juvenil (sub 18), Gabriel retomou o treinamento na Sociedade Morgenau, no bairro Cristo Rei, sob a orientação do professor Alan Leandro Vieira.

Com os amigos do dojô Morgenau

Bastante emocionado com a perda de um atleta muito querido, o professor kodansha Luiz Iwashita destacou o comprometimento de um judoca diferenciado.

“Sua morte nos deixou surpresos, mas esperamos que ele possa estar em um lugar melhor. Agradecemos as mensagens de conforto recebidas até agora. Elas só mostram o quanto o Gabriel era querido por todos, com seu profissionalismo, inteligência e amizade, um grande atleta. Devemos sempre lembrá-lo com alegria, gratidão e muita saudade”, disse o dirigente paranaense.

Profundamente abalado com a perda trágica de aluno muito querido, Alan Leandro Vieira descreveu o momento atual de um judoca agregador, que já estava dando os primeiros passos no ensino do judô.

“Desde o ano passado o Gabriel vinha numa sequência de trabalho muito boa. Foi vice-campeão da seletiva nacional e estávamos com uma expectativa excelente para esta temporada, até que ele se machucou e teve de fazer uma cirurgia no ombro. Assim que teve alta voltou a treinar fortíssimo. Ele tinha muita disciplina e perseguia os objetivos traçados com muita determinação. Era apaixonado pelo que fazia, um judoca sensacional. Já estava até me ajudando a tocar o treino das crianças da base, a turma de entrada do judô com 4 e 5 anos. Ele era um garoto feliz, sempre sorridente e disposto a dar o seu melhor pelo judô”, disse Alan.

Gabriel já auxiliava sensei Alan nas aulas da piazada

“Ele havia trancado a faculdade de engenharia, mas o incentivamos a voltar a estudar e ele resolveu fazer direito na Unidombosco; estava muito feliz e animado com o novo curso. Além dos pais, tinha mais quatro irmãos – Giovana, Fernando, Helena e Nicole – e certamente deixará muita saudade, porque ele era de verdade uma pessoa diferenciada”, contou o professor da Sociedade Morgenau. “O pai Ronaldo Adriano é professor de jiu-jitsu na Grace Barra e sempre ofereceu todas as condições para o Gabriel crescer nos tatamis. Desde que era muito pequeno a mãe Solange Schlichuta o apoiou, e tudo isso está sendo muito dolorido e muito triste. Foi uma perda prematura e irreparável, mas temos de nos resignar para poder seguir adiante.”

Ao G1, Ronaldo Hartenthal Adriano, o pai de Gabriel Schlichta Adriano, disse que a perda lhe deu ainda mais força para enfrentar a vida.

“A luta agora é minha. O Gabriel é um pedaço de cada pessoa que teve contato com ele, que lutou com ele. Agora em cada kimono que eu tocar para lutar, é do meu filho que eu vou lembrar”, contou Ronaldo Hartenthal Adriano.

Gabriel em concentração para mais um combate

O pai lembrou que Gabriel estava no esporte desde os primeiros passos. Jogou futebol, fez natação e luta. Quando completou dez anos, resolveu focar apenas em judô.

“Como eu sempre fui lutador, ele se espelhava. Costumava dizer que ele nasceu nos tatamis. Eu sempre apoiei, ele era o meu orgulho. O filho dos sonhos, o menino mais doce e empenhado que eu conheci. Aprontava muito na escola, mas ninguém conseguia brigar com ele porque ele dava aquele sorrisinho que cativava a todos”, afirmou.

Sob o olhar do sensei Alan Vieira, o pai entrega a faixa-preta para Gabriel, em 2016

Carlos André Kussumoto, coordenador de eventos da FPrJ disse que a morte de Gabriel Schlichuta foi uma perda gigantesca para o judô e a comunidade judoísta do Estado do Paraná.

“O Gabriel sempre se destacou como atleta. Na primeira vez que o vi lutar ele era bem pequeno ainda e em sua chave havia muitos atletas. Ele foi enfileirando todos com enorme desprendimento e objetividade muito acima do normal para sua faixa etária. Naquela época ele já treinava com o sensei Lemanczuk”, disse Kussumoto.

Com as medalhas conquistadas nas Olimpíadas Escolares de 2011, Gabriel Adriano, Rodrigo Vasconcelos e Luan Saboya comemoram o feito inédito em João Pessoa, na Paraíba

“Posteriormente o acompanhei quando fui chefe de delegação num campeonato brasileiro realizado em Belém do Pará, no qual foi campeão sub 13, lutando e vibrando muito. Há dois anos o acompanhei nos Jogos da Juventude, porque sou o coordenador do judô em Curitiba. Ele foi campeão vencendo todas as lutas por ippon. Fazia o kumi-kata em pé e jogava de forma implacável. Ele foi o destaque da competição, sendo eleito por todos o capitão da equipe no shiai-jô. Era uma unanimidade e sem dúvida uma das maiores expressões da nova geração do judô paranaense. Perdemos um jovem vibrante, comprometido, um judoca na acepção da palavra”, descreveu o coordenador de eventos da FPrJ.

Na segunda-feira (9), Gabriel foi sepultado vestindo seu judogi da seleção brasileira de judô, no Cemitério da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Colombo, região metropolitana de Curitiba.

Judocas da Sociedade Morgenau após mais um dia de treino

Gabriel em dois momentos distintos com Luan Saboya, o eterno amigo do judô

Paradinha no randori para uma selfie