19 de dezembro de 2024
Judô vai muito além do conceito de competição e de esporte
Respeito é sinônimo de judô, e a forma como um atleta se comporta antes e depois de uma competição diz muito sobre os valores em que ele acredita e que pratica. Vencer não se trata apenas de conquistar medalhas.
Fonte Vimal Sankar Thiruthiyil Neduvenchery / FIJ
21 de fevereiro de 2024 / Curitiba (PR)
Para contextualizar, voltemos à final do absoluto dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984, quando por meio da luta de dois gigantes dos tatamis o coração do espírito esportivo – fair play – bateu retumbantemente.
O ouro estava ao alcance do judoca egípcio Mohamed Ali Rashwan, que enfrentava a lenda Yasuhiro Yamashita (Japão), mas Mohamed lutava preservando a vulnerável panturrilha direita do adversário japonês. Em vez de explorar a vulnerabilidade do adversário, Rashwan lutou com respeito e honra, emergindo com a medalha de prata, inscrevendo seu nome nos anais da história do esporte por meio de um ato de fair play.
Voltando ao Grand Slam de 2024 em Baku, foi Arthur Margelidon (Canadá) quem exibiu classe após uma intensa disputa pela medalha de bronze nos 73kg. Depois de uma luta que resultou na vitória sobre Rashid Mammadaliyev (Azerbaijão), o astro canadense rapidamente abraçou o adversário, entendendo perfeitamente a dor de perder diante da torcida local. Ele até optou por não comemorar, saindo silenciosamente dos tatamis. Quando questionado sobre isso durante o Golden Score transmitido pela Judo TV, Margelidon foi enfático ao dar crédito a seu pai por sua exibição.
“Meu pai foi meu primeiro treinador. Ele me ensinou judô corretamente. Quando crescemos, obviamente trocamos de treinador, mas meu pai me ensinou judô tradicional, que é fundamentado no respeito. Eu acho que é importante. Sim, é um esporte, no qual todos nós tentamos obter a mesma coisa. Mas tem-se de fazer isso de forma consciente e com respeito. Não faz sentido ser rude ou agressivo. Quem fizer o seu trabalho corretamente poderá alcançar qualquer coisa.”
No primeiro dia, foi Christa Deguchi (Canadá) quem conquistou corações com seu gesto. Nora Gjakova (Kosovo), que sofreu uma lesão na semifinal, provavelmente ficou frustrada por não poder competir na final, mas houve um momento comovente durante a cerimônia de outorga das medalhas, quando Deguchi ajudou a campeã olímpica a subir ao pódio.
“Não vi a luta dela na semifinal, mas pareceu que estava muito dolorida. Entendo que o judô tem tudo a ver com ajudar alguém, sermos fortes e legais juntos. Fiz apenas aquilo que tinha de fazer”, disse a bicampeã mundial.
Ao competir no mais alto nível, o que muitas vezes se esquece é que os atletas são, em primeiro lugar, são seres humanos. Eles têm emoções e compartilham ótimos relacionamentos entre si. Lubjana Piovesana (Áustria), medalhista de ouro nos 63kg na capital do Azerbaijão, resumiu perfeitamente esse quadro quando, imediatamente após uma final épica contra a cabeça de chave Catherine Beauchemin-Pinard (Canadá), as duas foram vistas conversando. As palavras ditas mais tarde pela judoca austríaca são o que define o esporte de elite e por que ele traz esperança para nós em todo o mundo em tempos difíceis.
“Lutamos juntas muitas vezes nos treinamentos de campo, ela fala inglês e fizemos muitos randoris, e dos tatamis a relação avançou para a amizade. Ela é uma pessoa muito legal e somos boas amigas”, expôs Lubjana Piovesana.
É disso que se trata o judô, e foi simplesmente um enorme prazer ver atuais atletas da elite vivendo de acordo com o padrão e exemplo estabelecidos por Mohamed Ali Rashwan na final do absoluto dos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1984.