18 de novembro de 2024
Judocas paulistas conquistam ouro e bronze no Mundial Paralímpico de Lisboa
Alana Maldonado fez história conquistando o ouro inédito para o Brasil, Meg Emmerich obteve o bronze e o time brasileiro ainda garantiu outro bronze na disputa por equipe feminina e fechou o Campeonato Mundial de Judô Paralímpico com três medalhas
IBSA Judo World Championship Odivelas 2018
8 de dezembro de 2018
Por PAULO PINTO I Fotos BUDÔPRESS e IBSA PRESS
Curitiba – Paraná
A paulista Alana Maldonado conquistou a primeira medalha de ouro do Brasil na história do Campeonato Mundial de Judô Paralímpico, para atletas com deficiência visual. Realizado entre os dias 16 e 19 de novembro, em Odivelas, distrito de Lisboa, em Portugal, onde a brasileira venceu todos os combates e conquistou o lugar mais alto do pódio na categoria até 70kg. Medalhista de prata nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro 2016, Alana consolida-se no topo do ranking mundial de sua divisão.
Como cabeça de chave da sua categoria, Alana folgou na primeira fase e estreou nas quartas de final, com vitória sobre Zulfiyya Huseynova, do Azerbaijão. Em seguida, pela semifinal, teve pela frente a croata Lucija Breskovic, a qual superou por ippon, com 1min51 de combate. Na luta que lhe rendeu a medalha de ouro, a rival foi a uzbeque Vasila Aliboeva. A adversária chegou a estar à frente em punições, mas a brasileira encaixou um koshi-guruma, jogou e venceu no osae-komi a 28 segundos do fim do combate.
“Primeiramente, tenho de agradecer o apoio que recebi de minha equipe. Ainda não consigo acreditar, pois foi um ano muito difícil para mim. Tive um período complicado por causa da lesão no joelho esquerdo. Mas, com muita garra, pude conquistar o meu objetivo. Confiei em Deus até o fim e consegui mudar esta luta final. Já não tinha mais muitas forças, estava muito cansada, mas acreditei o tempo todo”, disse a judoca de 23 anos.
Alana Martins Maldonado nasceu em 27 de julho de 1995, em Tupã (SP), e descobriu aos 14 anos que tinha doença de Stargardt – patologia degenerativa que afeta a visão central, sobretudo em jovens, mas não prejudica a visão periférica. Como já praticava judô convencional desde os 4 anos, a paulista ingressou na sua versão adaptada ao entrar na faculdade.
A campeã mundial explicou que começou no judô devido à influência da avó, Marlene Maldonado, que trabalhava na Associação Cultural Esportiva e Recreativa de Tupã (ACERT), um dos principais dojôs da 4ª DRJ Alta Paulista.
“No início fui meio que forçada. Eu não gostava muito de lutar, mas como a minha avó, trabalhava na ACERT e meu tio Guilherme Maldonado era professor de judô, eu treinava por obrigação. Quando fiquei doente parei, até mesmo para repensar e reorganizar a minha vida, mas quando voltei aos tatamis encarei o judô com gosto e muita determinação. Acho que me apeguei ao esporte para seguir em frente. Meus senseis foram Teruo e Márcio Nakamura, com os quais fiquei até ingressar no paralímpico”, disse a judoca, que contou como conheceu o paralímpico e revelou suas técnicas preferidas.
“Eu só conheci o judô paralímpico na faculdade, em 2014, e já na primeira competição fui campeã brasileira em Campo Grande (MS). No ano seguinte, com 18 anos, fui convocada para disputar os Jogos Mundiais e obtive o bronze. Nessa época já representava a Associação Marilhense de Esporte Inclusivo (AMEI). Consigo fazer uma leitura bastante ampla das lutas e meu tokui-waza envolve várias técnicas, entre as quais se destacam uchi-mata, o-soto-gari e o-uchi-gari de esquerda”, detalhou a peso médio.
Grata por tudo que lhe ensinaram, Alana destacou a importância de seus senseis no processo de reprogramar e redimensionar a sua vida.
“Não tenho como agradecer por tudo que aprendi e pelo suporte que recebo hoje dos professores Alexandre Garcia, Jaime Bragança e Denílson Lourenço, o Zóio, com quem inicie o treinamento lá em Tupã, na ACERT, no período em que ele assumiu o comando técnico do dojô. Depois ele recebeu convite para dar aula no Palmeiras, e posteriormente eu também fui convidada. Daí por diante as coisas fluíram rapidamente, e já em 2016 conquistei a medalha de prata nos Jogos Rio 2016”, disse.
“A medalha de prata foi um divisor de águas em minha vida, me proporcionou total independência e melhor estrutura de treinamento. Além da Bolsa Pódio do Ministério do Esporte, hoje sou apoiada e patrocinada pela Segmente de Tupã, Loterias Caixa, Time São Paulo, Unimed de Marília e Sociedade Esportiva Palmeiras, que hoje é o clube que defendo”, pontuou a campeã mundial.
O calendário esportivo paralímpico de 2017 foi muito fraco, mas a judoca peso médio, que pretende disputar mais quatro paralimpíadas, não passou em branco.
“Em 2017 conquistei três medalhas de ouro: Open da Alemanha, Copa do Mundo do Uzbequistão e Campeonato Pan-Americano em São Paulo. Fiz a transição para 2018 voando física e psicologicamente. Em abril fui disputar a Copa do Mundo na Turquia e já na primeira luta rompi o ligamento cruzado e vi meu sonho de conquistar um título mundial adiado. Fiz cirurgia no dia 15 de maio, com o Daniel Dell’Aquila, com sucesso. Já havíamos descartado o mundial, porque tanto o Dell’Aquila quanto os fisioterapeutas pediram que eu aguardasse oito meses.”
Determinada a conquistar o título inédito, Alana dedicou-se initerruptamente à sua reabilitação e em seis meses estava pronta para embarcar rumo ao mundial de Portugal.
“Além da excelente cirurgia, o dr. Daniel me ofereceu um suporte gigantesco, e dois meses antes do previsto eu estava pronta para enfrentar mais um grande desafio. Fui a Lisboa com a estratégia de não me expor muito, e devido ao meu posicionamento no ranking não lutei na primeira fase. Fiz apenas três lutas e deu certo. A primeira venci de hansoku-make, passei pela semi jogando duas vezes de wazari (o-soto-gari e de-ashi-harai) e na final eu estava perdendo por dois shidôs e joguei de mata-galinha (koshi-guruma na gola), imobilizei, e venci no osae-komi”, detalhou a judoca paulista, que avaliou a importância desta conquista.
“Foi uma sensação indescritível, pois ninguém acreditava que eu iria a Lisboa e subiria ao pódio. O Jaime, Garcia e o Zóio não mediram esforços. Eles não tinham fim de semana e nem feriado. Era treino o tempo todo. Divido este título com eles e com o Daniel Dell’Aquila. A medalha deste mundial é muito mais expressiva que a prata dos Jogos Paralímpicos, porque em 2016 eu havia treinado muito e estava muito bem em todos aspectos. Em 2018 eu praticamente ressuscitei para conquistar o título mais importante de minha trajetória. Toda a equipe médica me aconselhou esperar mais tempo, mas me apoiou 100% nesta aventura, e deu certo. Agora é treinar e ir atrás do ouro em Tóquio”, concluiu a surpreendente judoca Alana Maldonado.
Mais dois bronzes com Meg Emmerich e a equipe feminina
A outra medalha do Brasil em Lisboa veio com a paulistana radicada em Maringá Meg Emmerich. Ela chegou à semifinal da categoria acima de 70kg, mas foi superada pela sul-coreana Hayeong Park. Em seguida, voltou aos tatamis e conquistou o bronze ao superar a compatriota Rebeca Silva, por ippon, após 1min41 de luta.
Meg pratica judô há 16 anos na Academia Hobby Sport, de Maringá (PR), sob o comando do professor Celso Ogawa e há pouco tempo iniciou sua participação em eventos paralímpicos. A atleta de 31 anos pratica uma rotina diária intensa de treinos. Trabalha numa financeira e ainda tem os afazeres domésticos como esposa do judoca faixa preta Ives Emmerich e mãe do pequeno Oliver.
Nascida em 23 de outubro de 1986 em São Paulo (SP), aos 15 anos Meg Rodrigues Vitorino Emmerich migrou para Maringá (PR), onde começou a praticar judô com o sensei Walter Babata e posteriormente passou a treinar com o professor Celso Takeshi Ogawa.
Com o importante apoio da Academia Hobby Sport, Clinisport Fisioterapia e Force One Academia, após conseguir o bronze em Lisboa, Meg Emmerich pretende dedicar-se ainda mais ao treinamento e conquistar muitas medalhas e títulos.
“Esta medalha premia meu esforço e também o apoio que recebo da minha família – mãe, pai, sogra e meu marido, pois sozinha eu não poderia assumir tantos compromissos. Esta conquista é um marco em minha trajetória nos tatamis, e espero poder dedicar-me ainda mais ao treinamento e conquistar mais títulos para o Brasil. Agradeço os meus apoiadores, ao meu sensei e, é claro, ao meu marido Ives Emmerich, que me acompanham no treino diário”, disse a judoca que hoje é maringaense.
O Brasil fechou a sua participação no Mundial Paralímpico de Judô com uma terceira medalha, o bronze conquistado pela equipe feminina.
Comandadas pelo experiente técnico gaúcho Alexandre Garcia, as judocas Karla Cardoso, Rebeca Silva e Lúcia Araújo perderam a semifinal para a Coréia do Sul e buscaram o bronze diante da Turquia. A equipe brasileira contou ainda com Giulia Santos, Maria Nubea Lins e Meg Emmerich.
Lúcia Araújo e Rebeca Silva brilharam e bateram as adversárias com autoridade. Com apenas 17 anos, Rebeca mostra-se como a grande promessa do judô paralímpico brasileiro dos próximos anos.