Kosovo ganhou primeira medalha de ouro olímpica em país que não o reconhece

Majlinda Kelmendi vence a italiana Odette Giuffrida na final dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016 Foto: Rio 2016

País europeu tem a história esportiva marcada pelo Jogos do Rio, onde comemorou feito no judô

Jogos Olímpicos
9 de janeiro de 2020
Por CIRO CAMPOS, O Estado de São Paulo I Fotos RIO 2016 e SABAU GABRIELA/IJF
Curitiba – PR

Apesar de não ter ligações diplomáticas com Kosovo e de sequer reconhecer a independência, o Brasil está marcado na história do país. Foi nos Jogos Olímpicos do Rio que a nação conseguiu disputar pela primeira vez o evento e ainda teve chance de comemorar a conquista de uma medalha. Coube à judoca Majlinda Kelmendi ganhar o ouro na categoria até 52 kg e se transformar em um símbolo do país.

Kosovo foi aceito pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 2014 e saiu da primeira Olimpíada de sua história com muito a se orgulhar. A delegação enviou apenas oito representantes ao Rio. “Essa medalha significa muito para as pessoas, principalmente as crianças. Elas olham para mim como uma heroína e, agora, sabem que mesmo sendo de uma nação que sobreviveu à guerra e um país pobre, se elas querem ser campeões olímpicos, podem conseguir”, afirmou Majlinda após o ouro.

Majlinda Kelmendi exibe o patch dourado conquistado nos Jogos Rio 2016 Foto: Sabau Gabriela/IJF

A judoca é retratada em vários painéis e grafites nas ruas da capital kosovar, Pristina. O outro ídolo local é do futebol. O ex-atacante Fadil Vokrri presidiu a federação local de futebol por dez anos e foi um dos grandes articuladores da batalha nacional pelo reconhecimento da seleção. Após morrer vítima de um ataque cardíaco em 2018, ele passou a batizar o principal estádio do país.

Quem é brasileiro e mora em Kosovo diz admirar o patriotismo local e o tratamento com os ídolos. O atacante Jean Carioca está há um ano e meio no país e é um dos destaques do Feronikeli, onde já conquistou três títulos. “É um país que está se abrindo pro mundo. Torço para que o reconhecimento internacional aumente e para que o país cresça. O povo é sofrido, encarou muitas guerras e é patriota demais. Eles defendem o país com unhas e dentes.”

Para Jean, depois da medalha de ouro de Kosovo nos Jogos do Rio, o povo vive uma obsessão pela chance de ver o país na Eurocopa. “O esporte mexe com Kosovo. Jogo de futebol é sempre uma euforia. Eles vivem uma ansiedade pela chance de ir para a Eurocopa. Nos últimos jogos a equipe tem atuado muito bem. O estilo de jogo é brigador e de muito contato físico.

Artilheiro do Feronikeli, Jean Carioca é o brasileiro de maior destaque no futebol do Kosovo Foto: Arquivo Pessoal/Jean Carioca

Análise*

‘Futebol pode fazer o Kosovo ser mais famoso, como foi com a Croácia’

O futebol em Kosovo sempre foi muito popular, mas oportunidades para evoluir sempre foram muito limitadas. O país encarou por anos um colonialismo da Sérvia e o desenvolvimento do esporte não foi prioridade, apesar de termos jogadores que atuaram no futebol italiano nos anos 1930 e 1940. Nossos clubes estão evoluindo, porém ainda não estão no mesmo nível da nossa seleção.

O ponto forte do time atual é o ataque. A postura é sempre ofensiva. Como muitos dos nossos jogadores nasceram em outro local, aprenderam futebol nos seus países de nascimento e trouxeram para Kosovo essas qualidades variadas. Há um grande otimismo no país pela vaga na Eurocopa. O futebol pode fazer nosso pais ser mais famoso e reconhecido. A Croácia não era tão popular, mas depois de chegar à final da Copa, todos falam dela.

Nós não temos tantos problemas com países da antiga Iugoslávia, mas estamos acostumados a ver as torcidas adversárias serem desrespeitosas. A última vez em que enfrentamos a República Checa, a torcida deles levou cartazes com a frase: “Kosovo é Sérvia”. Isso foi um absurdo.

*Uran Krasniqi, jornalista da Rádio e Televisão de Kosovo (RTK)