22 de dezembro de 2024
Mestre Leitão, um homem destinado a lutar e ensinar, morre aos 83 anos após perder batalha contra a covid-19
Em sua página, a Confederação Brasileira de Wrestling (CBW) reverenciou o precursor do wrestling e da luta olímpica no Brasil. Veja a seguir o texto que homenageia o mestre
Memória
30 de novembro de 2020
Fonte ASCON CBW I Fotos INSTAGRAM
Rio de Janeiro – RJ
Não sabendo que era impossível, foi lá e fez. A frase se encaixa perfeitamente na relação entre Roberto Cláudio das Neves Leitão, Mestre Leitão, com o wrestling no Brasil. Na manhã deste sábado (28), o mundo das lutas enlutou-se ao saber de sua partida, aos 83 anos, vítima da covid-19, contra qual lutava desde outubro, no Rio de janeiro.
Natural de Laguna, Santa Catarina, graduado e professor universitário em engenharia, Mestre Leitão decidiu em 1979 criar a primeira federação de wrestling exclusiva do País. A decisão foi crucial para a modalidade, antes apenas um setor dentro da Confederação Brasileira de Pugilismo. A partir de então o mestre buscou reconhecimento da Federação Internacional de Lutas Associadas (FILA) – e conseguiu.
Ele passou a treinar seu filho Roberto Leitão, oriundo do judô, no wrestling e viajar pelo mundo em campos de treinamento e competições. Era uma luta de pai e filho contra nações que praticavam a modalidade há séculos. O esforço e dedicação deram certo. Coube ao próprio Mestre Leitão entregar a medalha de prata alcançada pelo filho nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis (EUA) em 1987, título inédito para o País. Em 1988, em Seul, Coreia do Sul, pai e filho, representaram pela primeira vez o Brasil nos Jogos Olímpicos.
Nos tatamis era venerado por lutadores dentro e fora do Brasil. Grão-mestre 10º dan na luta livre esportiva, Mestre Leitão não se negava a ensinar um rolinha, como chamava os treinos ou demonstrações de chaves que aplicava. Com o crescimento das artes marciais mistas, era sempre procurado por lutadores das mais variadas vertentes. Em 2012, José Aldo dedicou sua vitória sobre Chad Mendes no UFC 142 ao mestre, que se recuperava de uma cirurgia no coração.
Em sua homenagem ao pioneiro da luta olímpica no Brasil, Pedro Gama Filho, presidente da Confederação Brasileira de Wrestling, destacou o virtuosismo do precursor da modalidade que sempre estará nos corações dos lutadores brasileiros.
“Mestre Leitão foi um homem à frente do seu tempo, um visionário, um estudioso dos esportes de lutas e um grande mestre. Sua maestria em diversas áreas o fez um professor diferenciado e um lutador temido e respeitado. O legado do mestre vai além das palavras, ele estará dentro de cada lutador que representar o Brasil em qualquer modalidade de luta pelo mundo. Um pouco do meu coração se vai com o mestre. Que Deus e seus amigos de luta o recebam de braços abertos, mas que “cortem antes” ou baterão após chave de braço justa e bem aplicada como o mestre sempre aplicou.”
A CBW agradece ao mestre Roberto Leitão por transformar o impossível em possível e nos permitir sonhar.”
Em 2017, Mestre Leitão lançou a obra Biomecânica da Luta, um compilado de anos de aprendizagem com diversas posições e explicações da luta, já que aos 80 anos sua vitalidade não era a mesma para demonstrar as técnicas e o ombro insistia em incomodar. Este ano ainda esteve presente na inauguração da Calçada da Fama, na Cidade das Lutas, Rio de Janeiro, onde possui uma das estrelas destinadas aos grandes nomes das lutas no Brasil.
É difícil avaliar com exatidão o legado do mestre, que deixou uma imensidão de alunos influenciados por seus ensinamentos, seja numa fuga de chave seja numa palestra. Se, hoje, os lutadores brasileiros são presença constante em pódios internacionais e possuem chances reais de medalha em Tóquio 2020, é preciso sempre reverenciar o homem que pavimentou o caminho para que gerações futuras pudessem lutar, trabalhar e viver do wrestling.