20 de fevereiro de 2025

Constantemente vemos jornalistas e cronistas esportivos enaltecendo um lance ou atitude de fair play. O conceito de fair play está vinculado à ética na prática esportiva, na qual os praticantes devem buscar vencer atuando de forma despojada e íntegra. Praticantes de todas as modalidades também devem empenhar-se para competir cumprindo as regras de conduta fundamentadas nos padrões éticos, sociais e morais.
Fair play tem uma correlação com espírito esportivo, muito pela influência do marketing e da mídia, que pressionam os atletas por melhores resultados, fazendo com que pensem na vitória a qualquer preço, muitas vezes utilizando meios ilícitos, como o doping, a manipulação genética, processos de naturalização, entre outros, quebrando assim os princípios do jogo limpo.
Mas no judô, modalidade esportiva na qual o praticante depende intrinsecamente de seu oponente, o fair play acaba revelando outros contornos na relação e na cordialidade entre adversários. Isto começa na tradição em que ambos se cumprimentam ou reverenciam, antes e após os combates.
É comum ver árbitros auxiliando atletas lesionados na dura tarefa de arrumar o judogi ou a faixa, no fim dos combates. Em outras ocasiões vemos o próprio adversário que, com a autorização do árbitro, toma a iniciativa de ajudar o oponente que, após o comando de matte, deixa de ser adversário para assumir o papel de colega e até mesmo de amigo. Foi o que vimos na disputa de bronze do peso-meio-pesado, no Campeonato Brasileiro sub 18, realizado em junho, no Centro Pan-Americano de Judô, em Lauro de Freitas, na Bahia.
Medalha de bronze do meio-pesado no campeonato brasileiro, Bernardo Welter explicou por que foi arrumar o judogi e a faixa de Lucas Cardoso, seu adversário, após o combate.
“Na disputa do bronze apliquei uma chave de braço, e meu adversário acabou machucando o braço. Nos levantamos e ele caminhou para seu lugar com muita dificuldade e não conseguia se ajeitar, amarrar a faixa, e tomei a iniciativa de ajudá-lo. Era meu primeiro pódio em competições nacionais, estava muito emocionado, mas não podia deixar de ser solidário com meu colega, pois sem a participação dele eu não teria atingido meu objetivo”, explicou o judoca da Academia Schultz Team (SC), que é aluno do sensei Ademir Schultz Júnior.
Focado na disputa dos Jogos Escolares e na Seletiva Nacional sub 21, Bernardo lembrou que fora dos tatamis todos são amigos e devem ser solidários.
“Quando somos pegos no juji-gatame (chave de braço), uma técnica de torção nas articulações (kansetsu-waza), muitas vezes relutamos em bater e acaba acontecendo uma lesão. Ele demorou um pouco e se machucou. Em pé ele tentava amarrar a faixa e não conseguia. A luta já havia terminado e eu tinha de ajudá-lo a sair dali da melhor forma possível. Somos adversários dentro dos tatamis, mas fora somos todos amigos. A gente só quer o melhor para todos e nossa obrigação é ser solidário e ajudar”, concluiu Welter.
A verdade é que o judô vai muito além do fair play, inspirando-se nos princípios criados por Jigoro Kano. Neste caso específico é o Jita Kyoei que remete à importância da solidariedade humana para o melhor bem individual e universal. Sensei Kano pregava ainda que a ideia do progresso pessoal devia ligar-se à ajuda ao próximo, pois acreditava que a eficiência e o auxílio aos outros criariam não só um atleta melhor, mas também um ser humano mais completo.
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