O kansha, o shin-setsu e a natureza humana deplorável

Segundo as lideranças da FPJudô, a história do judô paulista jamais será reescrita por traidores © Budopress

Professores kodanshas, delegados regionais, dirigentes e medalhistas olímpicos refutam inverdades e condenam o desrespeito cometido por Caio Kanayama e Cláudio Salem

Judô Paulista
Por PAULO PINTO
31 de maio de 2021 / Curitiba (PR)

Após a publicação da decisão monocrática do desembargador relator Erickson Gavazza Marques, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que acolheu o efeito suspensivo e validou a assembleia eletiva da FPJudô, na segunda-feira (24) postamos o artigo O vácuo causado pela perda de uma grande liderança e a ambição desenfreada dos oportunistas.

Nossa intenção foi mostrar a força do legado do professor kodansha Francisco de Carvalho Filho como praticante, professor e, principalmente, como dirigente. Quem teve a oportunidade de conviver com ele pôde testemunhar o cuidado que dedicava aos fundamentos do judô e o entusiasmo com que cultuava valores e costumes da cultura japonesa.

Muito à frente do seu tempo e dono de uma sagacidade gigantesca, muitas vezes buscava avaliar fatos e até mesmo tomar decisões sob o ponto de vista japonês, e não brasileiro. No dia a dia repetia hábitos e costumes nipônicos vividos e aprendidos com os pais dos seus amigos, membros da colônia japonesa que havia em Ribeirão Pires em meados do século passado, onde viveu grande parte de sua infância. Não hesitava em reverenciar e auxiliar os velhos professores de origem nipônica, aos quais se sentia eternamente grato pelo patrimônio sociocultural deixado aos milhares de brasileiros que com eles aprenderam a importância de gestos como shin-setsu e kansha (gentileza e gratidão).

Emílio Moreira, Luis Carlos Novi e Francisco de Carvalho na Copa São Paulo 2019 © Budopress

Pérolas aos porcos

Contudo, a nossa tentativa de mostrar para meia dúzia de professores que estavam embarcando na maior barca furada do judô brasileiro, mais uma vez, mostrou-se absolutamente inútil. Pior: levou os irados e irresponsáveis componentes das escolas Camaradas Incansáveis, Projeto Budô e Academia Kanayama, a desferirem inverdades e palavras de ódio contra cada um dos nossos argumentos. Nomes desconhecidos e figuras que jamais se interessaram pela gestão da FPJudô passaram a criticar dirigentes e acusá-los sem qualquer fundamento. Entre os protagonistas da Nova Inquisição surgiram nesta semana Rodrigo Motta, Caio Kanayama, Cláudio Salem e Wilson Azuma, além de Vinicius Jerschow, a quem agradecemos pela sugestão feita no WhatsApp de investigarmos quem é Cláudio Salem.

Como de costume, os inquisidores pinçaram palavras a esmo para construir a narrativa que lhes convinha. Não dissemos que a FPJudô jamais havia recebido verba pública ou da iniciativa privada. Afirmamos que nos últimos anos a entidade não recebera apoio algum. Contudo, queríamos mostrar aos íntegros paladinos da justiça que as redes sociais não são o fórum adequado para discussões dessa ordem. Para tanto existem assembleias de prestações contas anuais, nas quais são expostos os números e exibidos os comprovantes do que se faz nas áreas financeira e administrativa da Federação Paulista de Judô.

Importante frisar que esses irritadiços senhores negacionistas jamais participaram de tais assembleias, não podendo, agora, questionar o que foi feito no passado de forma acusatória e extemporânea. Aliás, a FPJudô possui lista de presença de todas as assembleias.

Um ponto extremamente importante que precisa ser esclarecido ainda é o porquê, de uma hora para outra, este pequeno grupo de professores querer assumir a direção da entidade, com base numa série de acusações infundadas e sem nenhuma prova.

Quem incutiu na cabeça deles que a tradicional comunidade do judô embarcaria numa aventura dessas? Ainda por cima capitaneada por figurinhas carimbadas, como o velho marqueteiro Rodrigo Motta e o exótico homem-bomba apocalíptico Vinícius Jerschow, um faixa-preta com poderes extrassensoriais capaz de prever as maiores catástrofes e fatos que jamais acontecem.

Alessandro Puglia e o professor kodansha Yoshiyuki Shimotsu, que também rebateu graves acusações indevidas e inoportunas © Budopress

Somente mentes turvas como as de Caio Kanayama, Cláudio Salem e Max Trombini – que por proximidade arrastou o professor Umakakeba para o bando de “lutadores de judô” que jamais compreendeu o simbolismo e a amplitude de palavras como gentileza e gratidão – seriam capazes de tal façanha.

Não sabemos o que é maior: a nossa revolta ou a pena que sentimos desses personagens que, fatalmente, passarão a viver no mais absoluto ostracismo. Que sejam esquecidos é o desejo da maioria esmagadora de professores e praticantes paulistas, arrastados para o clima beligerante instituído por aqueles que decidiram trair o judô paulista. Oportunistas que se aliaram à figura que, após instalar o caos no judô catarinense, tenta ampliá-lo em nível nacional, comprometendo a modalidade em todo o País, perseguindo adversários, retendo certificados de graduação e até mesmo interferindo politicamente, como ocorre hoje em São Paulo.

Sobre Cláudio Salem, o mais novo detrator da gestão FPJudô, soubemos apenas que foi um atleta mediano, formado na Vila Sônia, que jamais prosperou nos tatamis. Sua eventual atuação na seleção brasileira só ocorreu devido à ingerência de seu pai na CBJ. Ele estava sempre acima do peso e só voltava ao padrão à custa de diuréticos. Segundo relatos, ele só embarcava com a seleção brasileira quando os atletas de sua categoria não tinham recursos para custear as viagens. Assim que o apoio financeiro de seu pai acabou, nunca mais viajou com o time brasileiro. Como judoca e professor, não vingou e acabou debandando para o jiu-jitsu, comunidade em que, segundo fontes oficiais, também não é muito bem-visto.

Soubemos que Salem está fora do judô desde 1996 e mesmo à margem de todo o processo sai disparando contra quem não conhece. É impressionante a capacidade que o grupo Renova Judô ostenta de reunir e aglutinar tudo aquilo que fracassa no cenário da FPJudô.

Repúdio generalizado

Revoltados com toda a sorte de ataques infundados feitos a um professor que dedicou sua vida ao judô, professores kodanshas, delegados regionais, medalhistas olímpicos e praticantes refutam os impropérios e as inverdades proferidas por Caio Kanayama e Cláudio Salem em grupos de WhatsApp e redes sociais.

Lacônico e extremamente objetivo, o professor kodansha hachi-dan (8º dan) Odair Borges, de Campinas, deu a seguinte resposta a Cláudio Salem: “Comentário ofensivo, desrespeitoso, deselegante e desnecessário”.

Indignado, o professor kodansha shichi-dan (7º dan) Yoshiyuki Shimotsu, uma das maiores referências éticas de São Paulo e da 10ª DRJ Central sentenciou: “Este tipo de comentário é lamentável. Isso demonstra claramente o caráter de uma pessoa”.

Raul de Mello Senra Bisneto repudiou os detratores classificados por ele de grupo mal distinguível de pseudojudocas © Budopress

“Além da repugnante falta de respeito, é uma enorme covardia.”

Cláudio Calasans Camargo, delegado da 2ª DRJ Vale do Paraíba, revoltado com a falta de respeito, expôs sua experiência. “Sem dúvida alguma, o professor Francisco era um visionário. Participei dos projetos nos quais se viabilizou a ida de 60 professores aos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, e de mais 100 ao Mundial de Paris em 1997. Em 1996 fiz parte da equipe de estudos de arbitragem chefiada pelo então diretor Dante Kanayama, e em 1997 do grupo de novas tecnologias que culminou na compra pela FPJudô dos primeiros tatamis sintéticos do Brasil e da América. A CBJ não possuía nem tatamis e muito menos estrutura para tanto. Aquilo foi um divisor de águas, e sob a gestão Chico o judô paulista teve um avanço enorme, crescendo muito ano a ano.”

Como o delegado regional mais antigo, Cláudio Calasans Camargo disse ficar muito triste e decepcionado quando atacam a memória de seu amigo e mentor, exemplo a ser seguido e o maior dirigente do Brasil. “Além da repugnante falta de respeito, é uma enorme covardia.”

Adib Bittar Dib, coordenador financeiro da FPJudô, foi enfático: “Além do ato covarde propriamente dito, entendo que é repugnante alguém acusar uma pessoa que já não está mais aqui para se defender”.

O professor Edison Silva ponderou que tudo tem limite: “Até entendo ter opinião e posição contrárias, mas desmerecer a contribuição do sensei Chico para com o judô e a FPJudô, chega a ser ridículo, sem contar o lamentável desprezo pela sua memória”.

Atento à manipulação de recortes e dados de ilações que jamais foram comprovadas, Vicente Perez disparou: “Matéria de 2017 citando quem não está mais aqui para se defender? Isso é renovação?”.

Cléber do Carmo, delegado da 12ª DRJ Mogiana lamentou: “É esse tipo de gente que pretendia renovar o judô paulista? Gostaria que fosse exposta a contribuição que cada um desses pseudojudocas prestou ao judô nos últimos 30 anos”.

Revoltada com as agressões irresponsáveis, Geisa Guedes, ex-assessora de Francisco de Carvalho, perguntou por que os acusadores não o confrontaram quando ele estava vivo. “Tentar manchar a imagem de quem não está mais entre nós é muito fácil. Isso mostra claramente quem são e o que são essas pessoas. Por que não fizeram tais questionamentos frente a frente, cara a cara com ele? Para mim são todos um bando de mentirosos covardes”, afirmou.

Francisco de Carvalho e Ton Pacheco no Grand Slam de Brasília 2019 © Arquivo

Desapontado, o professor kodansha hachi-dan (8º dan) Oswaldo Hatiro Ogawa mostrou seu descontentamento com a atitude de Kanayama. “Fiquei surpreso com o comentário de Caio Kanayama, professor graduado e estudioso, filho de um grande mestre kyuu-dan (9º dan). Por que fazer uma crítica de forma absolutamente desrespeitosa e desnecessária contra a honra do ex-dirigente paulista? Estranho ainda mais pelo fato de o sensei Chico não estar mais entre nós. Isso ofende e agride até mesmo os familiares dele. Tenho certeza de que o professor Kanayama não compactua com isso”, disse o patriarca da família Ogawa.

Sidnei Paris, delegado regional da 8ª DR Oeste repudiou a agressão cometida contra o ex-presidente da FPJudô. “É condenável e imoral, tecer críticas destrutivas contra alguém que não pode mais se defender. Títulos no judô são importantes, mas para você chegar lá muitos trabalharam por você e para sua evolução técnica. Dirigentes com serviços burocráticos, árbitros, oficiais técnicos, parceiros de treinos e adversários. Todos certamente foram úteis para que você atingisse seus objetivos. Desmerecer essas pessoas é o mesmo que cuspir no prato que comeu. Certa ocasião, sensei Sadao Fleming revelou o sentido real da conquista e perda de direito e, humildemente, as transmito para os críticos de plantão, quem sabe sirva como exemplo de dignidade e respeito com seus semelhantes. ‘Você conquista o direito de errar ao realizar algo de útil e de valor para si ou para a sociedade. Consequentemente você perde o direito de criticar se não for capaz de realizar a mesma ação com mais eficiência’. Jamais faça críticas a alguém se você não for capaz de fazer melhor.”

Emilio Moreira, professor kodansha maranhense shichi-dan (7° dan) destacou a sorte por ter conhecido Francisco de Carvalho. “O amigo fiel e uma forte proteção. Quem o encontrou, encontrou um tesouro 6/14 Eclesiástico. Tive a sorte de conhecer o Chico do Judô, professor honrado, um símbolo do judô de São Paulo e uma das principais referências do judô do Brasil.”

Goiano de origem, mas grato a São Paulo por tudo que o Estado lhe proporcionou desde a juventude, Georgton Pacheco, presidente da federação de Tocantins e formado pela lenda Lhofei Shiozawa,

repudiou os ataques feitos ao seu amigo Francisco de Carvalho. “Defendi São Paulo por muitos anos e conquistei títulos expressivos para a FPJudô. Tenho autoridade, portanto, para defender um homem que, quando vivo, não encontrou ninguém capaz de cometer a ousadia de enfrentá-lo. Pessoas pequenas, covardes e sem escrúpulos tentam agora macular sua imagem, mas minha pergunta é: onde estas pessoas estiveram nos últimos 30 anos e o que de concreto fizeram pelo judô paulista?”.

Henrique Carlos Serra Azul Guimarães, medalhista de bronze nos Jogos de Atlanta (1996), condenou os ataques a um dirigente que revolucionou o judô nacional: “Entendo que devemos respeitar as pessoas que estão em outro plano e, quer queiram algumas pessoas ou não, o sensei Chico dedicou sua vida ao judô de São Paulo e do Brasil. Penso que devemos profundo respeito a ele e gratidão por tudo que nos proporcionou”.

Indignado com a covardia, Raul de Mello Senra Bisneto, delegado da 4ª DRJ Alta Paulista, mandou recado para o grupo de detratores: “Gostaria de expressar repúdio e indignação – não somente de minha parte, mas de todos os professores da Alta Paulista – com esse grupo mal distinguível de pseudojudocas que, de uma hora para outra, começou a agredir de forma covarde e mesquinha uma pessoa que não está mais entre nós. Parem com isso, porque a pessoa a que se referem de forma tão vil e desrespeitosa foi o maior dirigente político e administrativo que o judô paulista teve a sorte e a honra de ter como seu dirigente máximo. Estou certo de que jamais teremos outro dirigente como ele à frente da nossa entidade. Parem e pensem de forma coerente, porque ele não está mais entre nós para rebater essas inverdades. E outra: os cachorros vivos estão aqui esperando vocês. Sejam homens, honrem o judogi que vestem e venham nos chutar, por favor”, desafiou o dirigente.

Sidnei Paris lamentou muito a perda do amigo Chico. “Tudo o que eu falar não será o bastante para expressar minha gratidão a ele pelo que fez por mim, pelo judô paulista e brasileiro” © Budopress

Zazen

Por mais que queiramos, após constatar os ataques covardes realizados por pessoas sem caráter e mal-intencionadas, não dá para simplesmente sentar e praticar o zazen, o ato da meditação sentada.

Caio Kanayama está redondamente enganado; ele não envergonha apenas sua família, mas toda a comunidade do judô bandeirante que depositou nele parte da confiança conquistada por seu pai, um professor kodansha diferenciado, que sempre cultuou e preservou a gentileza, o respeito e a gratidão.

Sobre os demais revoltosos, tudo já foi dito e todas as posições estão consolidadas. Esperamos que, assim como nas grandes batalhas, após o confronto e a decisão da Justiça os vencedores tenham a oportunidade de fazer a gestão em paz e que os vencidos recolham suas ideias doentias e vivam suas vidas em paz, sem contaminar o ambiente com narrativas falsas e mentirosas.

Cláudio Salem expõe nitidamente que tipo de gente compõem o grupo de maledicentes © WhatsApp

Caio Kanayama expõe sua obsessão em denigrir a memória do ex-presidente da FPJudô © WhatsApp