Oswaldo Simões enfatiza o pensamento solidário e fraterno dos japoneses no processo de desenvolvimento do judô no Brasil

Além dos títulos e medalhas conquistados, após meio século nos tatamis o professor kodansha Oswaldo Simões enaltece o conhecimento adquirido

Por meio das redes sociais, o professor kodansha reverencia e agradece aos grandes mestres do judô o aprendizado, conceitos e valores que passaram às várias gerações de judocas brasileiros

Kansha
9 de março de 2019
Por ISABELA LEMOS I Fotos BUDÔPRESS
Curitiba – PR

Num gesto de gratidão pelos ensinamentos recebidos dos grandes mestres que no passado lhe transmitiram a essência do judô, o professor kodansha (7º dan) Oswaldo Cupertino Simões Filho transmitiu pelas redes sociais uma mensagem de agradecimento aos professores nipo-brasileiros pelo legado fundamentado nos princípios do caminho suave e na cultura japonesa. Ele considera tudo que viveu com os mestres judocas uma verdadeira imersão cultural.

Equipe baiana, a campeã do brasileiro de 1972 realizado no Ginásio Antônio Balbino em Salvador (BA), composta pelo peso pena Mauro Junqueira (DF), peso leve Uichiro Umakakeba (SP), peso médio Lhofei Shiozawa (BA), peso meio-pesado Luís Virgílio de Castro Moura (RJ) e peso pesado Oswaldo Cupertino Simões Filho (BA)

Ao completar 50 anos nos tatamis, o sensei Oswaldo Simões – nascido em 12 de outubro de 1952 no Recife (PE) e que ainda bebê foi levado para a Bahia e mais tarde estudou educação física em São Caetano do Sul (SP), tendo lançado âncora no Rio de Janeiro em 1976, depois de formado – faz um resumo do início da trajetória que se tornou a mais importante empreitada de sua vida.

“Comecei o judô no Caraíba Clube no dia 2 de abril de 1969, com 17 anos. Obtive minha faixa preta em outubro de 1972, quando fui campeão brasileiro pela primeira vez. Já o ni-dan conquistei no Clube Tietê (SP) em 1974. Hoje sou 7º dan, membro da Comissão Estadual de Graduação da FJERJ e colaborador do IKB. No último dia 2 de abril completei 50 anos de atividade, mas pretendo ainda dar grande colaboração ao desenvolvimento do judô”, conta o judoca em seu depoimento. Em seguida, descreve como foi aprender com alguns dos maiores ícones do judô brasileiro.

Pódio do peso pesado do Campeonato Mundial Universitário de 1978 realizado no Maracanãzinho (RJ)

“Uma das mais ricas experiências que tive enquanto ser humano e judoca foi conviver com os senseis Kazuo Yoshida e Lhofei Shiozawa, na Bahia, e em São Paulo com a família Ogawa e senseis Shuhei Okano, Takanori Sekine, Ikuo Onodera, Chiaki Ishii, Yoshio Nagai, Shigueto e Mário Yamazaki, Michiharu Sogabe, Fuyu Oide, Nobuo Suga, Massao Shinohara e muitos outros, de 1973 a 1975”, lembra Simões.

“Domo-arigatô aos japoneses, em especial ao Instituto Kodokan do Brasil (IKB).” Desta forma o kodansha inicia seu agradecimento, reconhecendo o valor dos japoneses em sua trajetória. Ele explica que o grande legado que recebeu foi assimilar o pensamento solidário e fraterno dos japoneses para o desenvolvimento do judô nacional.

Em seiza, Oswaldo Simões (peso pesado) ao lado dos seus dois senseis Kazuo Yoshida (técnico da equipe) e Lhofei Shiozawa (peso médio). Neste evento eles conquistaram o campeonato Brasileiro de 1972

“Havia um compromisso de todos os senseis de fazerem o seu melhor nos duros treinamentos no dojô da Federação Paulista de Judô. Além do aprendizado técnico e físico apurado, a grande lição de vida que ficou foi o pensamento no todo e no coletivo. O sacrifício era de todos para que as vitórias fossem individuais”, afirma.

Servir era o lema dos senseis Okano e SekineA troca de informação, respeito e disciplina eram constantes naquela época. Simões explica que servir era o lema dos senseis Okano e Sekine, que lideravam o grupo paulista de forma natural, responsável, simples e gratuita. Era uma legião de judocas que aprendiam a essência do pensamento e do comportamento japonês: não pensar em si, e sim em todos, para colaborar de todas as formas com o coletivo.

De acordo com o professor kodansha, essa é a mentalidade do povo japonês, para o qual a honra vem do serviço prestado e a missão de educar é algo soberano. “Fazer hoje o melhor em prol do futuro é um sublime compromisso com a educação. Aprendamos sempre com a humildade, perseverança e resiliência dos japoneses”, observa Simões.

Ganbatte e domo-arigato são as palavras que o kodansha utiliza para reverenciar o Instituto Kodokan do Brasil – instituição na qual, segundo ele, se encontra a essência do espírito japonês no País. “O importante é o coletivo, o individual é para servir sempre com honra. É uma honra para mim ser um pequeno colaborador do IKB’, finaliza Simões.

Equipe da Gama Filho (RJ) no Torneio Beneméritos do Brasil, competição por equipe mais antiga do Brasil que é realizada até hoje

Seleção de Ouro do Jogos Pan-Americanos de Porto Rico 1979

Oswaldo Simões com seu filho André Simões

Equipe campeã pan-americana com uma geração de judocas um pouco mais velhos onde estão ajoelhados Liogi Suzuki, Matheus Sugizaki, Edson Leandro, Lhofei Shiozawa, Chiaki Ishii e Arnaldo Artilheiro. De pé estão Rudolf Hermanny, Katsuhiro Naito e Shuhei Okano

Sensei Simões com a medalha de bronze conquistada no Campeonato Mundial Másters de 2016 (EUA)