19 de abril de 2025

A seleção brasileira de judô brilhou no Campeonato Pan-Americano e Oceania Cadete, realizado em 18 de abril, em Lima, no Peru. Todos os 16 atletas convocados pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ) subiram ao pódio, resultando em uma campanha com 10 ouros, duas pratas e quatro bronzes. O aproveitamento pleno consolidou a hegemonia do Brasil no continente e colocou o país no topo do quadro geral de medalhas da competição.
Delegação brasileira reunida após campanha impecável no Pan Cadete: 16 atletas, 16 medalhas e um trabalho de base que mostra resultados © CBJ
Se o desempenho reafirma a força técnica do judô brasileiro nas categorias de base, ele também escancara o desnível entre o Brasil e os demais países do continente. A disparidade na formação de atletas chama atenção e reforça as decisões estratégicas adotadas pela nova diretoria da Confederação Brasileira de Judô.
Embora a nova gestão da CBJ comece a imprimir sua marca nas divisões de base, é inegável que o desempenho da seleção cadete em Lima reflete também os efeitos estruturais deixados por Marcelo Teothonio. Atual gerente de Alto Rendimento da entidade, cargo que assumiu em 2022, ele foi o responsável por uma profunda reestruturação da base nos anos anteriores — etapa decisiva que moldou o cenário atual.
Campeão mundial e medalhista olímpico, o norte-americano Jimmy Pedro foi uma das grandes presenças internacionais no Pan-Americano de Lima
Sob sua coordenação, a base do judô brasileiro passou a operar com critérios técnicos mais objetivos, ciclos de observação mais qualificados e uma rede mais integrada entre confederação, clubes formadores e comissão técnica nacional. Foram esses pilares, erguidos ainda antes do ciclo Paris 2024, que permitiram o surgimento de uma geração mais preparada, mais monitorada e em permanente processo de desenvolvimento.
Mesmo já há três anos dedicado ao alto rendimento, o legado de Teothonio na base se mostra perene. A atual geração de cadetes — campeã continental com 100% de pódios — ainda é reflexo direto de sua gestão. E no esporte de formação, onde os resultados são sempre colhidos no médio e longo prazo, essa longevidade é sinal inequívoco de planejamento bem executado.
A atuação de Maria Portela junto à seleção cadete em Lima é mais do que uma movimentação pontual — é um gesto estratégico, simbólico e necessário. Ex-integrante da seleção brasileira por mais de uma década, duas vezes atleta olímpica e protagonista em inúmeras competições internacionais, Portela personifica o elo entre gerações. Sua presença ao lado da equipe na missão continental reforça a política de valorização de atletas que fizeram história com o judô brasileiro e que agora contribuem diretamente para a formação das novas gerações.
Ao tê-la no shiai-jô, a atual diretoria da CBJ aposta na vivência prática, na empatia com os jovens e na legitimidade que só quem enfrentou os grandes desafios do circuito mundial pode oferecer. Portela, além de representar a excelência competitiva, ocupa um espaço simbólico relevante como mulher atuando em funções técnicas — um avanço ainda tímido, mas necessário, dentro das estruturas do esporte nacional.
Mais do que orientar aquecimentos ou orientar estratégias de luta, Maria Portela inspira. Sua presença reforça a mensagem de que a trajetória esportiva pode e deve se desdobrar em outros papéis dentro da modalidade, ajudando a construir um judô mais forte, mais humano e mais comprometido com sua missão educativa.
Outro ponto que merece destaque na missão brasileira ao Pan Cadete foi a presença da professora kodansha hachi-dan (8º dan) Solange Pessoa, vice-presidente da CBJ, acompanhando de perto as ações técnicas e institucionais da delegação em Lima. Mais do que uma formalidade administrativa, a participação de uma dirigente do alto escalão no ambiente competitivo revela uma mudança de postura da atual gestão da confederação.
Ao contrário do modelo centralizador que marcou gestões anteriores, a atuação de Solange no evento sinaliza uma tentativa de construção de governança mais integrada, com envolvimento efetivo da diretoria nos processos técnicos, formativos e operacionais da base. Trata-se de uma aproximação simbólica e prática entre o corpo diretivo da CBJ e as realidades vividas por atletas e comissões técnicas em campo.
Com larga trajetória no judô e respeitada liderança feminina dentro da estrutura nacional, Solange Pessoa representa também um avanço na ocupação de espaços por mulheres em posições estratégicas. Sua presença reforça o compromisso da CBJ com uma gestão que valoriza não apenas os resultados esportivos, mas também o diálogo, a escuta e o fortalecimento institucional coletivo.
O desempenho brasileiro no Pan-Americano e Oceania Cadete também refletiu a presença ativa de diferentes estados na formação dos jovens talentos que subiram ao pódio. Ao todo, São Paulo conquistou 9 medalhas, seguido pelo Rio de Janeiro com 2 medalhas, e Espírito Santo, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia e Paraná com 1 medalha cada. A diversidade geográfica dos clubes formadores reforça o crescimento técnico da base nacional e aponta para um cenário cada vez mais representativo do potencial do judô brasileiro.
A participação brasileira contou com representantes de diferentes estados e clubes, que têm desempenhado papel fundamental na formação e no desenvolvimento desses jovens talentos. Foram eles:
OURO
Laura Midori Nakaminami (52kg) – Esporte Clube Pinheiros (SP)
Yasmin Caroline Lima (57kg) – Projeto Olhar Futuro/Instituto Chiaki Ishii (ES)
Eduarda Oliveira dos Santos (63kg) – ADR São José (SC)
Marina dos Santos Silva (70kg) – SESI-SP
Ellen Vitória Pereira da Silva (+70kg) – Projeto Kimono de Ouro/Associação Marcos Mercadante (SP)
Victor Uchida (50kg) – SESI-SP
Pedro Henrique Mendes Lima (60kg) – Esporte Clube Pinheiros (SP)
Erick Mamede de Oliveira (66kg) – Judô Minas Tênis Clube (MG)
Fábio Henrique Pina Ferreira (81kg) – SESI-SP
Carlos Eduardo Almeida Junior (+90kg) – Projeto Judô Ação (BA)
PRATA
Aline Vitória Ferreira (44kg) – Associação de Judô Gaba (RJ)
Murilo Silva Araújo (90kg) – SESI-SP
BRONZE
Maria Clara dos Santos da Silva (48kg) – Instituto Reação (RJ)
Bruno Leonardo Santana (55kg) – Projeto Kimono de Ouro/Associação Marcos Mercadante (SP)
Guilherme Antunes Pontes (73kg) – Judô Rio Branco (PR)
Isabella Barbosa Bezerra (+70kg) – Associação de Judô Franca (SP)
Formação consistente e gestão integrada
Esses resultados não apenas fortalecem a imagem do Brasil no cenário continental, como também refletem o trabalho consistente de técnicos, clubes, federações e famílias que seguem acreditando no poder transformador e inclusivo do esporte.
O desempenho da delegação cadete é fruto direto de uma cadeia de formação bem estruturada, que integra gestão técnica qualificada, investimento em processos de base e comprometimento institucional com o desenvolvimento contínuo dos atletas. Mais do que números, os pódios atestam a eficiência de um sistema em constante evolução.
Clique AQUI e confira o quadro geral de medalhas.