15 de novembro de 2024
Para Alfredo Dornelles, tradições e costumes do passado devem apontar caminhos para o futuro
Por meio da vivência no Torneio Beneméritos do Brasil, o experiente professor kodansha Alfredo Dornelles traça um paralelo entre passado e presente, projetando um “judô de raiz” para o futuro
Ritsu-rei
6 de janeiro de 2020
Por PAULO PINTO I Fotos BUDOPRESS e ARQUIVO
Curitiba – PR
Realizada em 6 de outubro de 2019, a 51ª edição do Torneio Beneméritos do Judô no Brasil, que, segundo os organizadores, foi a melhor da última década, reuniu 102 equipes no ginásio Antônio Baldusco, em Itapecerica da Serra (SP).
Entre as equipes que marcaram presença estava o Minas Tênis Clube, uma das maiores estruturas clubísticas do País e um dos principais clubes do judô brasileiro. Devido à enorme presença minastenista na competição a Budô entrevistou o professor kodansha shichi-dan (7º dan) Alfredo Gonçalves Dornelles, chefe da equipe mineira.
“Vim a São Paulo como chefe de delegação, porém com atribuições de comando técnico ao lado do professor Adriano Rodrigues, que é técnico da equipe sub 15. Na realidade sou técnico da classe sub 13, e estou usando nossos atletas Gustavo Assis e Layana Collman, da classe sênior, para comandar as demais classes em disputa”, explicou Dornelles.
Na ocasião queríamos apenas saber o que o experiente professor carioca radicado em Belo Horizonte (MG) achava do torneio promovido pela Federação Paulista de Judô (FPJudô) há mais de meio século, mas, para a nossa surpresa, sensei Dornelles mostrou-se profundo conhecedor da competição.
“Viemos a Itapecerica da Serra (SP) com todas as classes que podíamos e totalizamos nove equipes. Para mim é sempre uma satisfação imensa participar daquele que, indubitavelmente, é o mais tradicional e importante torneio de judô por equipes do Brasil. Ele remonta à minha infância, me leva aos meus 11 anos de idade e faz lembrar perfeitamente a competição maravilhosa que era”, explicou Dornelles.
“Lembro inclusive que naquela época todas as classes tinham outra nomenclatura e não havia limitação de peso. Era peso livre para todos os cinco atletas que compunham as equipes. Lutávamos sem pesar, e graças a Deus esta competição proporcionou um grande lastro para o meu crescimento como atleta e depois como professor e técnico”, disse o comandante mineiro. Ele falou também das medalhas conquistadas em sua infância e juventude na competição cinquentenária.
“Devido à importância que esta competição possuía naquela época, no Brasil, lembro até hoje das minhas conquistadas no Beneméritos. Ao todo ganhei cinco medalhas, sendo três de campeão, uma de vice-campeão e um bronze que até hoje me dão muita alegria, orgulho e uma emoção enormes.”
Buscando registrar a imponência de um certame que marcou época no judô brasileiro, professor Dornelles elencou as coisas que mais marcaram em sua lembrança.
“Lembro que uma das principais características do torneio era a presença gigantesca de professores e judocas japoneses, numa época em que os grandes mestres ainda estavam todos vivos. Havia um intervalo no meio da competição, durante o qual todos almoçavam. Os senseis nipônicos traziam comidas típicas japonesas (bendô) e todos nos reuníamos em torno da refeição. Aquilo me impressionava muito.”
“Hoje a FPJudô também oferece almoço para toda equipe que atua no evento, árbitros e professores, mantendo a tradição forjada no judô bandeirante. Mais a coisa mais emblemática do passado é que na classe adulto havia algo que existia somente em São Paulo: a disputa do estandarte mais bonito, mais bem confeccionado. Alguns tinham detalhes em ouro e vinham do Japão, e todos nós ficávamos boquiabertos com o requinte de uma competição que extrapolava o shiai-jô”, pontuou Dornelles.
Para o técnico minastenista o Torneio Beneméritos era uma coisa linda de ser ver e viver. “Já em minha infância era tradicionalíssimo. Estar aqui hoje é voltar à minha época de garoto e uma satisfação muito grande. Desejo que a coordenação de eventos da federação paulista consiga promover as adequações necessárias e que o Beneméritos continue proporcionando este intercâmbio gigantesco para as equipes de base e fomenta esta rivalidade sadia que fortalece e fomenta o desenvolvimento do judô do alto rendimento”, avaliou.
Tricampeão do Beneméritos, Dornelles traçou um paralelo entre o que foi a competição por equipes mais antiga do Brasil e o que é o judô hoje e que poderá ser no futuro.
“Penso que deveríamos espelhar-nos no passado, repensar o presente e projetarmos nosso futuro com base na simplicidade e na objetividade com que fazíamos judô há 50 anos. As coisas mudaram, e temos de usar o novo e as tecnologias para potencializar aquilo que trazemos de nossas origens. Nesse sentido São Paulo faz a lição de casa muito bem, mantendo-se de frente para o futuro, mas sem virar as costas para o passado e esquecer o que nos foi transmitido por nossos ancestrais”, concluiu o professor.
Para os judocas mais novos, que desconhecem a importância do trabalho desenvolvido por este grande judoca carioca, sensei Alfredo Gonçalves Dornelles nasceu em 14 de junho 1956 no Rio de Janeiro (RJ), começou na prática do judô em 1965 na Academia Suburbana de Judô, no bairro de Marechal Hermes, com o sensei Theofanes Mesquita. Posteriormente migrou para o Sport Club Mackenzie, no bairro do Méier, e passou a treinar com o sensei Geraldo Bernardes, outra lenda viva do judô verde e amarelo.
Graduou-se faixa-preta em 1974 e em 2017 obteve o shichi-dan (7º dan). É graduado em educação física pela Universidade Gama Filho, pós-graduado em treinamento desportivo e concluiu mestrado em 2008.
Como atleta Dornelles integrou as seleções cariocas juvenil e júnior, e logo aos 15 anos passou a ser instrutor. Foi técnico de judô da UGF entre 1977 e 2008 e da Escola Naval entre 2008 e 2010. Foi instrutor de defesa pessoal PMERJ na Escola de Formação de Oficias – D. João VI entre 1990 e 2010. É técnico principal da base do Minas Tênis Clube desde 2010.
Os técnicos das equipes minastenistas da atualidade são: Fúlvio Myiata, técnico principal do alto rendimento; Luciano Corrêa, assistente técnico do alto rendimento; Alfredo Gonçalves Dornelles, técnico principal da base e da classe sub13; Luciano Corrêa, técnico da classe sub 18; e Adriano Rodrigues, técnico da classe sub 15.
Resultado expressivo
Reafirmando sua tradição na competição e o poderio técnico que possui no judô nacional, o Minas Tênis Clube sagrou-se campeão da classe sênior masculino e levou o troféu Sensei Edgard Ozon para a gigantesca galeria de troféus da equipe em Belo Horizonte.
De quebra o Minas Tênis Clube também foi vice-campeão juvenil e júnior no masculino, e sênior no feminino. Ao todo a equipe mineira voltou para Belo Horizonte com quatro troféus.