18 de novembro de 2024
Pré-candidato à presidência da FCJ, Sandro Borges defende modernização e transformação do judô catarinense
Com foco na valorização dos professores e na união da comunidade, o professor de Itapema apresenta propostas para fortalecer e expandir o judô de Santa Catarina em todas as frentes.
Por Paulo Pinto / Global Sports
18 de novembro de 2024 / Curitiba, PR
Nascido em 15 de julho de 1975, o professor Sandro Borges, referência no judô catarinense, consolidou uma trajetória marcada por dedicação e conquistas nos tatamis. Pré-candidato à presidência da Federação Catarinense de Judô (FCJ), ele combina experiência como atleta e técnico com uma visão inovadora para transformar a gestão da modalidade no Estado. Com apoio familiar e uma sólida base construída ao longo de décadas, Sandro busca unir professores, técnicos e filiados em torno de um projeto que promete modernizar e impulsionar o judô catarinense.
Como e quando você chegou aos tatamis?
Foi por iniciativa dos meus pais. Em 1980, minha mãe pretendia inscrever-me na natação, mas, como não havia vagas, acabei indo para o judô. Comecei no Clube Della Antônia, em Santo André, com o professor kodansha Kameo Otagaki, nascido no Japão em 1927, que durante muitos anos respondeu pelo ensino de kata na Federação Paulista de Judô. Ele foi o meu primeiro sensei, e isso aconteceu em abril de 1980, há exatos 44 anos.
Quando percebeu que sua vida seria pautada no judô?
Aos 11 anos, quando ganhei meu primeiro campeonato regional. Desde então, não quis saber de outra coisa. A partir daquele momento, nunca mais parei com o judô.
Como foi sua trajetória como atleta?
Participei de campeonatos importantes e conquistei muitas medalhas e títulos. Ganhei seletivas nacionais, campeonatos brasileiros e tive uma carreira boa para aquela época.
Quando parou de competir para se dedicar exclusivamente ao ensino?
Na verdade, ainda não parei. Continuo competindo, inclusive lutei nos últimos Jogos Abertos e pretendo participar novamente. Enquanto tiver coragem de subir aos tatamis, estarei ali, competindo e interagindo com a nova geração.
Quando decidiu ser professor?
Em 1992, na Pirelli, junto com o sensei Luís Carlos Novi, que me convidou para liderar os treinos e dar aulas em escolinhas. Eu tinha 17 anos. Até hoje mantenho contato com ele e sempre que vou a Santo André faço questão de visitá-lo.
“É fundamental modernizar a gestão da FCJ, trazendo-a para o século XXI, com base nos pilares de compliance, transparência e uma administração responsável com os recursos da entidade. Esses princípios garantirão sustentabilidade, ética e eficiência em todas as ações.”
Qual é a sua formação acadêmica?
Sou graduado em Educação Física.
Por que decidiu mudar-se para Santa Catarina?
A convite dos professores Sílvio Acácio e Icracir Rosa, vim defender Joinville nos Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC) em 2005. Como já tinha um apartamento no Estado e me identifiquei com as pessoas, decidi ficar. Desde então, construí minha vida aqui e amo este Estado que me acolheu de braços abertos.
Por que escolheu Itapema?
Lutei por Joinville em 2005 e 2006, mas em 2007 iniciei o judô em Itapema, que até então não tinha nenhuma escola. Hoje, temos um polo consolidado, já fomos campeões gerais dos Jogos Abertos e seguimos crescendo.
Quantos alunos você tem atualmente?
Entre a Sansports e a Prefeitura são pouco mais de 300 alunos. Já formamos campeões brasileiros e sul-americanos.
Qual é o seu tokui-waza?
Uchi-mata e tai-otoshi.
Em qual categoria competia?
Sempre competi no meio-médio, categoria que sempre teve judocas altíssimo nível. Enfrentei atletas como o medalhista olímpico Flávio Canto e nomes como Flávio Honorato e Paulo Segatelli, além de outros grandes competidores.
Olhando para trás, como avalia sua decisão de vir para Santa Catarina?
Foi a decisão mais acertada da minha vida. Itapema me acolheu de braços abertos, tanto a comunidade judoísta quanto os moradores da cidade. Além de ser professor e técnico, construí relacionamentos sólidos e me sinto realizado aqui.
Política
Como surgiu o desafio de assumir a presidência da Federação Catarinense de Judô?
Essa questão vem sendo discutida há algum tempo. Sempre achei que era cedo para assumir, especialmente por estar há pouco tempo no Estado. Recentemente, em conversa com o professor Moisés Penso, recebi convite para ser vice na chapa dele. Achei que era brincadeira e respondi: “Para ser vice, não aceito, mas, se você quiser ser meu vice, eu topo”. Ele aceitou. Como sou um homem de palavra, decidi assumir o desafio. Entretanto, o professor Moisés retirou a candidatura dele, até mesmo como vice, para me deixar mais à vontade para montar minha diretoria e compor minha equipe de trabalho.
Você já tem sua chapa formada?
Ainda é cedo para anunciar, mas já estou em contato com algumas pessoas e avaliando as melhores opções. Tenho uma visão clara do que desejo para a composição, mas continuo conversando e ouvindo as ideias de colegas que podem somar-se ao projeto.
Você conta com o apoio de toda a comunidade?
Acredito que pelo menos 80% da comunidade já abraçou nossa proposta. Ainda é cedo para afirmar com certeza, mas temos cerca de 100 dias para compor e definir o projeto com mais clareza.
Qual é a percepção geral do cenário?
Venho repetindo para meus colegas o que considero essencial: a federação somos todos nós. Para impulsionar o judô catarinense, conto com a colaboração de todos os professores do Estado. Precisamos trabalhar juntos, sem egos, bandeiras ou divisões entre clubes, focados no crescimento da modalidade e no fortalecimento da federação como instituição. O sucesso do judô em Santa Catarina vai depender da nossa união e da minha capacidade de engajar e envolver toda a comunidade judoísta.
Como avalia a postura do professor Moisés na transição?
Acredito que ele teve o bom senso de entender que seu ciclo foi cumprido, após dois mandatos, e está encerrando sua administração com dignidade e comprometimento. Sempre digo que qualquer gestão, pública ou privada, reflete a visão e a capacidade de realização de quem a comanda.
“Não podemos mais pensar numa administração fundamentada na figura do presidente. Somente um grupo devidamente capacitado em cada área da administração é o que garante uma gestão eficiente e sustentável.”
Seu compromisso com a FCJ pode afetar seus projetos pessoais?
Ao contrário. Minha vida é o judô, e meu sucesso está diretamente ligado ao sucesso do judô em Santa Catarina. Se a federação e o judô catarinense alcançarem um nível mais elevado, todos os professores, incluindo eu, colheremos os frutos desse crescimento. Dedicar meu tempo à FCJ impactará positivamente tanto no meu negócio quanto nos projetos dos demais senseis do Estado. Entendo que chegou a hora de virar a chave e conquistar maior espaço para o judô na sociedade, nas empresas e no setor público.
Por que decidiu assumir esse compromisso?
De forma geral, acredito que muitas coisas precisam ser repensadas e mudadas. Para crescermos e ocuparmos um espaço maior, precisamos rever totalmente a maneira como administramos e projetamos nossa modalidade. Não é possível alcançar novos resultados fazendo as mesmas coisas. Estou comprometido em liderar essas mudanças.
Você pretende buscar parcerias com os Estados vizinhos?
Com certeza. O judô é uma única família, e, se pudermos unir forças, aprender com as experiências bem-sucedidas dos nossos vizinhos e implementar o que funciona e está dando certo, faremos isso sem hesitação.
Gestão
Quais oportunidades de crescimento você vê para o judô catarinense?
Na área técnica, vejo a ampliação de competições como uma grande oportunidade. A criação da divisão Aspirantes, por exemplo, foi uma iniciativa pioneira do professor Puglia em São Paulo que trouxe enorme crescimento para a FPJudô. Já temos esta classe aqui, mas, caso seja eleito, pretendo implementá-la, adaptando-a à nossa realidade. Outro exemplo é a classe Veteranos, que na divisão Aspirantes incentiva pais e adultos a competirem em condições mais adequadas ao seu nível técnico. Muitos iniciantes desistem porque não querem enfrentar faixas marrons ou pretas em competições. Criar classes e divisões acessíveis estimula a participação e fortalece o judô como um todo.
Kata e o potencial de crescimento técnico
E no curto prazo, o que destaca para a área técnica?
Um segmento em ascensão é o kata, que já tem competições específicas no calendário da Federação Internacional de Judô (FIJ). Em São Paulo, até duplas sub 15 estão participando do Campeonato Paulista de Kata. Essa modalidade é uma grande oportunidade para atrair novos praticantes e diversificar o desenvolvimento técnico no Estado.
A prática do kata é essencial para o desenvolvimento técnico e pessoal do judoca. Além de preservar os princípios, as técnicas e a filosofia da modalidade, a prática do kata exige disciplina, atenção aos detalhes e coordenação, promovendo a concentração mental e a conexão entre mente e corpo. Além disso, representa um nicho pouco explorado em Santa Catarina, mas com grande potencial. Como disse antes, em São Paulo, por exemplo, vemos duplas jovens conquistando títulos. Precisamos incorporar essa prática ao calendário catarinense, pois, além de aumentar o conhecimento técnico, ela cria oportunidades para o crescimento do judô no Estado.
Modernização a gestão
Como você vê a área de gestão?
É o setor mais delicado e que demanda mudanças profundas. O primeiro passo é modernizar o estatuto da FCJ, deixando a federação apta a receber recursos por meio da Lei de Incentivo ao Esporte e a atrair parcerias empresariais com base em leis de isenção fiscal federais, estaduais e municipais. Outro ponto importante são os projetos sociais. Precisamos impulsioná-los criando mecanismos de apoio, como uma tabela de custas mais acessível e outras iniciativas que fomentem o setor, que é o que mais cresce no ambiente esportivo.
Capacitação dos professores
Qual é o ponto mais importante do seu projeto?
Capacitar e empoderar os professores das associações filiadas. Eles são o principal elo para a expansão do judô e para seu impacto no cenário social. É preciso tornar a profissão de professor de judô mais rentável, aumentando o número de escolas e dojôs no Estado. A ideia é simples: em vez de brigarmos por um pedaço do bolo, vamos fazer o bolo crescer para que todos tenham uma fatia maior e mais saborosa.
O tripé da gestão
Como pretende alcançar esses objetivos?
Meu projeto de gestão se baseia em três pilares:
- Modernização estatutária: Além de modernizar o estatuto, é fundamental modernizar a gestão da FCJ, trazendo-a para o século XXI, com base nos pilares de compliance, transparência e uma administração responsável com os recursos da entidade. Esses princípios garantirão sustentabilidade, ética e eficiência em todas as ações.
- Capacitação de professores: Investir no desenvolvimento técnico e profissional dos senseis, reconhecendo-os como o motor do crescimento da modalidade.
- Atratividade para investidores: Criar um ambiente inovador e bem estruturado para atrair parcerias, destacando o judô como um esporte com forte apelo social, inclusivo e educacional.
“O judô é a modalidade olímpica que mais conquistou medalhas para o Brasil nos Jogos. Precisamos usar essa força para gerar valor e abrir mais espaço na sociedade, nas empresas e no setor público”, pontuou o professor Borges.
Qual será o papel da tecnologia na sua gestão?
As federações de judô precisam sair do século passado. Hoje, em outras modalidades, como o jiu-jitsu, os praticantes têm na palma da mão informações sobre horários de luta, tempo restante e atualizações em tempo real. Precisamos trazer essa realidade para o judô, integrando a tecnologia à gestão e às competições. Sem isso, corremos o risco de ficarmos para trás.
Como imagina a relação da FCJ com os filiados em sua administração?”
Já mencionei que pretendemos investir em tecnologia para que nossos filiados possam ter maior controle e autonomia em sua relação com a federação, diretamente de seus celulares. Contudo, reconhecemos que os professores são os principais pontos de contato com os filiados e desempenham um papel essencial nesse elo. Além disso, queremos adotar uma abordagem mais acolhedora e respeitosa para com os nossos filiados, assegurando que se sintam valorizados e bem atendidos. Nosso projeto também inclui a realização de eventos mais dinâmicos, organizados e confortáveis, pensando tanto nos atletas quanto em seus familiares. Não podemos nos permitir perder atletas ou alunos por falhas de gestão ou falta de competência, e garantir um ambiente de excelência será uma de nossas prioridades. Não podemos pensar o judô apenas como produto; devemos sempre vê-lo como um serviço que prestamos.
Legado e papel do gestor
Qual legado gostaria de deixar após sua gestão?
Primeiro, equipar a entidade com os materiais necessários para realizarmos toda a operação. Depois, duplicar o número de professores e agremiações filiadas, triplicar o número de praticantes e, se possível, construir uma sede própria com um centro de treinamento nos moldes do que existe há quase meio século em São Paulo.
Qual é o papel de um gestor de federação?
Reunir pessoas capacitadas para fazer a gestão ao seu lado. Formar uma equipe fundamentada na competência, na expertise e no profundo conhecimento de cada setor que envolve a modalidade. Não podemos mais pensar numa administração fundamentada na figura do presidente. Somente um grupo devidamente capacitado em cada área da administração é o que garante um gerenciamento eficiente e sustentável.
Vida pessoal e inspiração
Sua esposa apoia sua candidatura?
Minha esposa é meu maior suporte e acredita plenamente no projeto. Ela entende a importância deste momento para o judô catarinense e compartilha comigo o compromisso de promover mudanças positivas. Seu apoio incondicional é fundamental para que eu possa dedicar-me a esse desafio com confiança e determinação.
Quantos filhos você tem?
Tenho três filhos, sendo dois de coração.
Quem é seu ídolo no judô?
Meu ídolo no judô é o Aurélio Miguel, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Seul em 1988, e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Tive o privilégio de treinar com ele em diversas ocasiões, e lembro-me bem de como ele sempre se impunha nos treinos. Para mim, ele foi o grande fenômeno da minha geração, um atleta completo, a principal referência nos tatamis.
E fora do judô, quem é sua inspiração?
Na vida, minha inspiração é Ayrton Senna.
Por quê?
Senna foi um homem de determinação, disciplina e perfeccionismo, qualidades que o levaram ao auge na Fórmula 1. Ele sempre buscava superar seus limites, tanto na pista quanto fora dela. Além disso, era profundamente humano e empático, dedicando-se a ajudar pessoas em situações vulneráveis, especialmente crianças. Seu legado vai além do esporte, inspirando milhões com sua ética e paixão pelo que fazia.