Presa do grupo que há quatro anos busca impor-se na gestão, o judô paulista agora vê seus algozes se voltarem até contra a intervenção

Rodrigo Motta e Vinícius Erchov, criadores do Renova Judô e responsáveis por todo o processo que culminou na intervenção agora reprovam a mesma © Fotomontagem Budôpress

Nestes seis meses, nem mesmo os nomes que irão compor a chapa Renova Judô foram definidos. Ou seja, além da ausência de capilaridade, o poder de mobilização e articulação política do grupo, que sabe apenas atacar seus desafetos, também são inexistentes. Na prática, inércia e falta de articulação definem o Renova Judô.

Por Paulo Pinto / Global Sports
2 de junho de 2024 / Curitiba (PR)

Como se estivéssemos vivendo um pesadelo infindável e recorrente, um diminuto grupo formado inicialmente por dois professores, impelidos por uma força externa inexpugnável, vem atacando o judô paulista sistematicamente. Na verdade, são escolas que quase não atuam nos cenários administrativo e esportivo da modalidade, não comparecendo a eventos, assembleias e grupos de estudo, entre outros. Falamos das filiadas Instituto Camaradas Incansáveis e Projeto Budô, que, com exceção das competições de veteranos e kata, não participam das atividades promovidas pela Federação Paulista de Judô (FPJudô).

O que essa gente almeja?

Após infindáveis e inomináveis ataques a pessoas que já faleceram vítimas da covid-19, eles participaram da eleição em 2021, mas agora afirmam que não participaram. Mentem ostensivamente, pois, na verdade, participaram e perderam vergonhosamente, obtendo apenas 2% dos votos. Enquanto isso, o Avança Judô reuniu 98% dos votos, totalizando 128 dos 132 votos válidos, contra três da chapa Renova Judô e uma abstenção.

Posteriormente, houve várias assembleias e eles nunca se fizeram presentes. Na última delas, a de Prestação de Contas de 2023 realizada na semana passada, eles totalizaram apenas seis votos e, de quebra, reprovaram todos os itens apresentados e colocados em votação, pelo interventor.

Capilaridade zero

A impressão que fica é que buscam assumir a gestão na base da pressão, da mão grande, do WO ou tendo chapa única. Sem apresentar a menor capilaridade política, o projeto do Renova Judô não passa pelo voto, via pela qual jamais atingiriam seus objetivos. Se não, vamos lá:

Não possuem capacidade de aglutinação. Em seis meses de processo deflagrado eles não avançaram nada, estruturalmente falando. Não comparecem aos campeonatos e, no último evento esportivo realizado, queixaram-se de que várias pessoas que fazem parte do processo foram entrevistadas, mas todos os personagens políticos presentes em Itapecerica da Serra tiveram, sim, oportunidade de falar, inclusive o sensei Sumio, que se apresenta como candidatos do Renova Judô. Mas somente ele se dignou a marcar presença no evento.

Segundo foi ventilado, o professor kodansha Sumio Tsujimoto deve fazer parte da chapa Renova Judô © Budôpress

Reprovaram até a atuação da intervenção

São ausentes e omissos, mas criticam aqueles que trabalham e são presentes. A inércia e o imobilismo deles são proporcionais à capacidade que demonstram de criticar todos os que agem em prol do judô, culminando no absurdo de terem reprovado até mesmo a equipe da intervenção, instituída por iniciativa deles.

Mesmo sem conhecer ou saber absolutamente nada sobre a estrutura política e esportiva da Federação Paulista de Judô, desde o dia 1º de março a equipe encabeçada por Carlos Medauar, que conta ainda com a atuação de Marcel Ferraz Camilo e Alexandre Dias, busca fazer a gestão mais isenta e equitativa possível. Mesmo assim, o ICI e o Projeto Budô desaprovaram os atos do interventor, ou seja, as duas entidades que impuseram a intervenção no judô paulista tiveram a coragem e a desfaçatez de desaprovar a gestão e os atos administrativos daqueles que, por meio de esforço hercúleo, buscam reconduzir o judô do Estado de São Paulo à normalidade.

Narrativas da discórdia

Recentemente, utilizaram decisões proferidas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que glosou uma série de itens de projetos realizados pelo governo paulista com a FPJudô e com várias entidades esportivas do Estado, e passaram a acusar um dirigente já falecido de ter cometido crimes, como se o problema fosse apenas da FPJudô e não das várias entidades de administração das principais modalidades olímpicas paulistas.

Desconhecem os meandros da gestão, fazem acusações levianas e entorpecem professores desavisados com falsas promessas e planos mirabolantes que jamais poderão ser realizados, como, por exemplo, permitir que todos os faixas-pretas tenham direito a voto. Ou seja, prometem mudar a estrutura administrativa do desporto olímpico nacional, que garante exclusivamente aos clubes e agremiações federados o direito universal do voto.

Por mais de uma década o professor Dante Kanayama foi diretor de arbitragem da FPJudô © Budôpress

Nem a chapa conseguem montar

Em dezembro de 2023, o judô paulista foi notificado da decisão que determinou o processo de intervenção. Nesse período, professores que fazem parte do grupo Avança Judô discutiram e formaram a chapa que concorrerá ao pleito, apresentaram propostas e a trajetória dos professores que irão compor a chapa. Criaram um site para divulgar e promover a campanha, bem como páginas nas redes sociais.

Enquanto isso, o grupo Renova Judô não definiu nem mesmo os nomes que irão compor a chapa. Ou seja, além da capilaridade zero, não demonstram nenhum poder de mobilização e articulação política. Essa gente que sabe apenas atacar seus desafetos e busca mesmo é paralisar o judô.

Wagner Valentim é o professor do Clube Esportivo da Penha © Arquivo

Não possuem liderança, não têm presença e o pior: ficam iludindo professores, faixas-pretas e praticantes com falsas promessas, ostentando um capital político que na verdade não existe.

Os números não mentem. Se em 2020 perderam a eleição com 128 votos válidos contra três, e na semana passada obtiveram apenas seis votos, contra 100, não há como admitir que irão virar os votos. Por mais que espalhem fake news, ou promovam a discórdia, a possibilidade de conquistarem os votos de professores lúcidos e posicionados é zero. Então o que busca essa gente?

Quanto pior, melhor

Nossas fontes confidenciaram que, na assembleia geral realizada no dia 29 de maio, eles fizeram de tudo para inviabilizar a votação. O que nos permite concluir que o que eles querem mesmo é tumultuar um processo que, para eles, está irreversivelmente perdido. Por isso fazem pressão na base do quanto pior, melhor.

O professor kodansha Antônio Rizzardo Rodrigues é o responsável pela Associação Desportiva Bandeirantes Sorocaba © Instagram

Sem nenhuma estrutura administrativa, como esta gente pretende sobreviver ou mesmo gerir uma das maiores federações esportivas do Brasil? Só se o fizerem na base do imobilismo e da procrastinação. Gostaríamos de compreender o que esta gente de fato almeja.

Histórico controverso

Após um longo período de ataques com base em narrativas distorcidas, quase sempre feitas por pessoas que quase nada sabem ou entendem de gestão esportiva, as duas escolas situadas na Zona Oeste da capital conseguiram arrebanhar mais três escolas com perfil muito parecido com o delas: a Academia Kanayama, Associação Desportiva Bandeirantes Sorocaba e Associação Uni Judô, além do Clube Esportivo da Penha.

Mas as perguntas que devem ser feitas são: quem são, na verdade, os gestores dessas instituições e qual é o vínculo histórico de cada um deles com a administração do judô paulista? Vamos lá!

O comandante do Instituto Camaradas Incansáveis é o professor Rodrigo Motta que, por duas décadas, foi diretor de marketing da FPJudô, mas jamais fechou negócios que dessem retorno ao judô paulista.

Além de amigos, professor Francisco de Carvalho sempre apoiou as iniciativas de Rodrigo Motta © Instagram

O Projeto Budô é comandado por Vinícius Erchov, professor com histórico de processos no TJD da FPJudô, que tem por hábito atacar a gestão e a imagem de todos os envolvidos com a administração. Sua postura é tão duvidosa que, com ajuda de amigos poderosos, surgiu com a graduação de professor kodansha homologada pela Federação Baiana de Judô (FBJ), entidade à qual jamais foi filiado, que nunca defendeu ou à qual prestou qualquer tipo de colaboração sistemática. Por que a sua promoção do roku-dan aconteceu na longínqua Bahia?

O professor responsável pela Academia Kanayama é o kodansha Dante Kanayama, que por mais de uma década foi diretor de arbitragem da FPJudô. Após ter sido substituído pelo renomado professor kodansha Edison Minakawa, um dos maiores nomes da arbitragem internacional na época e hoje gestor de arbitragem da CBJ, seu filho, o professor Caio Kanayama, passou a atacar indiscriminadamente a gestão da Federação Paulista de Judô.

A Associação Desportiva Bandeirantes Sorocaba é comandada pelo também professor kodansha Antônio Rizzardo Rodrigues, que por anos foi o delegado regional da 7ª DR Sudoeste. Logo após a sua saída do cargo, passou a criticar o comando da entidade e fazer ameaças à gestão.

A outra associação que engrossou as fileiras do grupo capitaneado pelos professores Rodrigo Motta e Vinicius Erchov foi a Associação Uni Judô, mais conhecida do Academia Kitô, comandada pelo conceituado professor kodansha Sumio Tsujimoto. Sensei diferenciado, respeitado e com histórico exemplar, há muito tempo, porém, também não é habitué do cenário esportivo e quase nada conhece ou sabe sobre o setor administrativo da FPJudô.

Quando o professor Chico estava vivo Rodrigo Motta jurava fidelidade eterna. Bastou o dirigente falecer para Motta execrá-lo e acusá-lo das piores coisas. Leia a dedicatória feita em um dos livros de sua autoria ao dirigente falecido © Arquivo

A sexta e última agremiação integrante do diminuto grupo que visa a mudar o rumo do judô paulista é o Clube Esportivo da Penha, parceiro da federação com histórico de sediar numerosos eventos do calendário esportivo da FPJudô, cujo sensei é Wagner Valentim que, surpreendentemente, parece responder politicamente pela agremiação. Fato estranho e absolutamente inusitado.

Questões democráticas

Não recriminamos e muito menos condenamos os professores acima citados pelo fato de optarem por outro caminho. Nossa crítica restringe-se à forma como tudo isso aconteceu e está acontecendo.

A falta de habilidade para formar uma simples chapa é um forte indicativo de como o grupo Renova Judô é despreparado para assumir um compromisso de tamanha envergadura. Todos os seus representantes, sem exceção, desconhecem a complexidade de uma simples competição e tudo que compõe o cenário que está a sua volta. Desconhecem também como formatar um calendário anual conciliando os interesses esportivos da Confederação Brasileira de Judô com os dos filiados da FPJudô que também realizam e promovem eventos.

Para tocar um projeto dessa envergadura, os membros do Renova Judô teriam de contar com a participação e a colaboração dos árbitros, mesários, coordenadores das diversas áreas e dirigentes que detêm a expertise necessária para tanto. Mas como fariam isso se, na versão deles, todos são corruptos, incompetentes e despreparados?

Eles não demonstram nenhum conhecimento e ao invés de construírem pontes com aqueles que detêm conhecimento, as implodem, prometendo banir para sempre todos aqueles que fazem o judô paulista ser a potência que sempre foi.

Jita-kyoei zero

O comportamento desse grupo e seus ataques deliberados contra toda e qualquer gestão do judô paulista, inclusive a da intervenção, evidenciam a total falta de compromisso com o desenvolvimento do esporte. Princípios universais como bem-estar e benefícios mútuos, não existem para eles.

Suas ações visam apenas a tumultuar e paralisar o progresso alcançado nos últimos três anos, para atender a interesses externos ou pessoais.

Como se estivéssemos vivendo um pesadelo infindável e recorrente, impelidos por uma força externa inexpugnável, Rodrigo e Vinícius vem minando o judô paulista sistematicamente © Instagram

É a busca do poder pelo poder. Mas a grande incógnita é: como dois professores podem justificar a tentativa de lançar a entidade pioneira do judô, com 66 anos de história, cerca de 500 agremiações filiadas e 15 mil judocas registrados numa aventura sem fim e totalmente desprovida de fundamentação?

Contando com o apoio histórico do governo do Japão e a parceria do Instituto Kodokan, além de empresas renomadas como Ajinomoto do Brasil, Shihan Kimonos e Original Tatamis, a Federação Paulista de Judô não pode ser refém de ambições pessoais irresponsáveis e inconsequentes. Tal comportamento não apenas atropela a tradição e a integridade da instituição, como ameaça desestabilizar irreversivelmente todo o ecossistema esportivo que levou décadas para ser construído por judocas abnegados e amantes do Caminho Suave.

É essencial que a comunidade do judô se mantenha unida e firme contra tais interesses, reafirmando o compromisso com a transparência, a inovação e o crescimento do judô no Estado de São Paulo em todos os setores.

A união e o foco no bem comum são fundamentais para superar essas adversidades e garantir um futuro promissor para a modalidade que mais medalhas olímpicas proporcionou ao Brasil.

Concluímos nosso artigo opinativo com a frase célebre de Jigoro Kano.

“É somente por meio da ajuda mútua e das concessões recíprocas que um organismo agrupando indivíduos em número grande ou pequeno pode encontrar sua harmonia plena e realizar verdadeiros progressos.”

http://www.shihan.com.br