19 de novembro de 2024
Primeira fase do credenciamento técnico da FPJudô reúne 1.200 professores em São Caetano
A segunda fase do credenciamento desta temporada realiza-se em Bauru no próximo fim de semana, quando são esperados cerca de 300 professores e técnicos
Credenciamento Técnico 2018
27/02/2018
Por PAULO PINTO I Fotos MARCELO LOPES/FPJUDÔ e BUDÔPRESS
São Caetano do Sul – SP
Com o apoio da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude e Prefeitura de São Caetano do Sul, a Federação Paulista de Judô (FPJudô) realizou neste sábado (24) o primeiro credenciamento técnico desta temporada.
As palestras realizadas no Teatro Paulo Machado de Carvalho foram proferidas pelos professores Joji Kimura, coordenador técnico da FPJudô, que falou sobre as alterações, novas normas e propostas para 2018; Matheus Theotônio, gestor técnico da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), que discorreu sobre os eventos desta temporada; o medalhista olímpico Tiago Camilo, cuja palestra se intitulou Uma história olímpica; e Edison Minakawa, kodansha (7º dan), coordenador nacional de arbitragem, que falou sobre a atualização das regras para esta temporada.
Autoridades políticas e esportivas participaram da cerimônia de abertura, entre as quais Alessandro Puglia, presidente da FPJudô; Francisco de Carvalho, presidente de honra da FPJudô; José Jantália, vice-presidente da FPJudô; Marcos Siarvi, que representou José Auricchio Júnior, prefeito de São Caetano do Sul; os medalhistas olímpicos Douglas Vieira, Carlos Honorato, Henrique Guimarães, Tiago Camilo, presidente da Comissão de Atletas do COB e Rogério Sampaio, secretário nacional de alto rendimento do Ministério do Esporte; vários delegados regionais e 65 professores kodanshas.
Segundo os organizadores, o evento reuniu 1.200 professores, mas as 1.400 poltronas do teatro foram completamente tomadas pelos professores que moram próximos da capital. Ainda são esperados 300 professores na segunda etapa do credenciamento, que se realizará em Bauru, no próximo fim de semana.
O ponto alto do encontro foi a apresentação de um curta-metragem produzido pela equipe do Boletim Osotogari sobre os 60 anos da FPJudô. O vídeo mostrou pioneiros da modalidade e destacou um pouco da história do que foi a Federação Paulista de Judô desde a sua fundação, em 17 de abril de 1958.
No período da tarde houve o seminário de arbitragem ministrado pelo professor Edison Minakawa e o encontro dos coordenadores dos oficiais técnicos da FPJudô.
Em paralelo ao encontro houve a eleição para definir o representante dos técnicos do Estado junto à federação. Foi eleito o professor Kendi Yamamoto, que pertence à delegacia da capital.
Tiago Camilo faz palestra envolvente
Em sua apresentação eminentemente motivacional, o medalhista olímpico Tiago Camilo lembrou que a vitória não ensina. “É na derrota, naquele momento em que estamos lá embaixo, que tiramos as grandes lições e aprendemos. Naquele momento não existe nada, e ninguém te abraça. Restam apenas você e seus sentimentos, e é nessa hora que temos de rever o que vínhamos fazendo para encontrar um novo caminho que nos leve à vitória”, disse Tiago, que enfatizou que a vitória exige comprometimento e abnegação.
“O caminho da vitória demanda dedicação, renúncia, disciplina e abnegação. Tem de treinar e dedicar-se muito. A pessoa que enfrentamos no shiai-jo busca o mesmo objetivo: vencer. E para vencer tem de querer muito mais que o adversário. Nos Jogos Olímpicos, quando a luta está dura e vai para o golden score, repare que um dos atletas sempre acaba desistindo. Perceba que um sempre acaba pondo as mãos na cintura ou nos joelhos, e entrega os pontos. Eu sempre dizia para mim mesmo: você não pode desistir. Não pode! Tem de ser o outro que desiste e entrega a luta, e não você. A vontade de vencer tem de ser maior que o cansaço. Podia perder por ippon, mas jamais admiti perder por falta combatividade. Eu sempre lembrava tudo que passava para chegar àquela disputa por medalha”, contou Camilo, que destacou a importância de perseguir os sonhos.
“Quando somos jovens existem os sonhos, o destino e o caminho que o tempo todo nos fica empurrando para os lados. Hoje me sinto muito feliz por constatar que sempre andei muito próximo daquilo que sonhei quando era jovem. Minhas conquistas atestam a determinação para realizar aquilo que sonhei em minha adolescência”, concluiu o vice-campeão olímpico no peso leve em Sidney (2000) e medalhista de bronze no peso meio-médio em Pequim (2008).
Onegai-shimasu
Edison Minakawa dissecou as mudanças promovidas pelo comitê de arbitragem da Federação Internacional de Judô. Antes de iniciar sua preleção, dirigiu-se ao professor kodansha Michiharu Sogabe e fez um pedido no mínimo curioso.
“Como todos sabem sou diretor de arbitragem da FPJudô, no primeiro semestre de 2017 fui convidado para assumir a coordenação nacional de arbitragem e em setembro recebi um novo convite para ser membro da comissão pan-americana de arbitragem. Contudo, antes de iniciar peço humildemente permissão ao professor Sogabe, o sensei mais graduado aqui, para iniciar minha exposição.” Em pé, o sensei 9º dan do Vale do Paraíba curvou-se e atendeu à solicitação de Edison Minakawa, dizendo apenas: “onegai-shimatsu (por favor)”.
Na sequência o coordenador nacional de arbitragem explicou por que pediu autorização ao professor Michiharu Sogabe.
“Com este gesto busquei mostrar que dentro de nossas academias, de nossas casas e estando com nossas famílias, deve persistir o respeito à hierarquia e a reverência àqueles que no passado nos ensinaram o que fazemos hoje. Quer como pais, professores, árbitros ou dirigentes, temos o dever de reverenciar nossos antepassados e estabelecer uma relação cordial fundamentada no respeito mútuo e na harmonia. Penso que desta forma o judô fica mais bonito e exercitamos algo de que a sociedade contemporânea é muito carente: o respeito ao próximo”, afirmou Minakawa.
Números cada vez mais expressivos
Natural de Pindamonhangaba e aluno de grandes professores do judô paulista, Matheus Theotônio, gestor técnico da CBJ, falou sobre a pujança do judô paulista.
“É muito gratificante fazer parte da história da FPJudô, uma entidade que fundamenta a gestão da modalidade na excelência e com ótimos resultados. É uma grande responsabilidade falar diante de 1.200 professores que sabem tanto quanto eu sobre judô, mas é gratificante compartilhar algumas informações que temos, como normas e regulamento. É muito importante poder informar, num único evento, um número tão expressivo de professores”, disse o dirigente, que concluiu falando sobre a importância de voltar a São Paulo e rever grandes amigos.
“Estar em meu Estado, onde minha carreira esportiva teve início e se desenvolveu, com meus professores, amigos e grandes ídolos, foi uma experiência extremamente gratificante. Agradeço a diretoria da federação paulista por esta oportunidade e espero ter colaborado no aprimoramento técnico dos professores que aqui estiveram”, disse Theotônio.
São Paulo, um país no cenário nacional
Lembrando os 60 anos de fundação da FPJudô, Alessandro Puglia afirmou que São Paulo é um país à parte no cenário nacional da modalidade.
“Estamos completando 60 de uma história fundamentada no comprometimento dos professores que nos antecederam e na dedicação de todos nós. São Paulo é um país do judô dentro do Brasil. Temos 16 delegacias regionais e 12 mil atletas filiados e mais de 400 associações filiadas. Tenho um grande orgulho em falar isso para vocês, pois eu também sou formado em educação física, sou professor de judô e me esforço para manter minha associação funcionando dentro daquilo que a federação exige e a CBJ determina. Encerro fazendo um agradecimento especial aos professores Rioiti Uchida e Luís Alberto dos Santos pelo grande trabalho desenvolvido nos fundamentos de nossa modalidade, por meio do kata”, disse o presidente da FPJudô.
Um olhar diferenciado sobre a forma de treinar
Rogério Sampaio, secretário nacional de alto rendimento do Ministério do Esporte, destacou a necessidade de retomar o treinamento conjunto em várias escolas, visando a fortalecer os atletas do alto rendimento.
“Quero aproveitar este momento único, quando a maioria dos professores e técnicos paulistas está presente, para lembrar que para construirmos o futuro precisamos lembrar do passado. Nos dois últimos anos tenho desenvolvido um trabalho com a FPJudô, que compreende treinamento para um número reduzido de atletas de diversas faixas etárias nas segundas-feiras, no CAT. Este grupo pequeno reflete o problema que ocorre no judô nacional como um todo, nos últimos anos”, disse o campeão olímpico, fazendo um comparativo entre gerações.
“Lembro que a minha geração foi vencedora, mas naquela época treinávamos muito dentro e fora de nossas escolas. É preciso fazer treinamento conjunto rodando por vários locais. Com o tempo nós e nossos colegas acabamos nos acomodando, e hoje nos fechamos cada vez mais em nossos próprios espaços”, destacou o Sampaio.
“Na minha época entendíamos que era preciso realizar o treinamento conjunto. Hoje existe o conhecimento científico e o treinamento planejado dos atletas, mas nós não podemos deixar de fazer o treinamento conjunto com o objetivo de fortalecer nossos atletas. Lembro que às terças e quintas-feiras o sensei Massao Shinohara lotava o dojô da federação com gente da seleção. Aos sábados e domingos o sensei Ishii estava disponível no CAT, com muitos atletas treinando em altíssimo nível, e o sensei Umakakeba promovia treinos fortíssimos no dojô de Bastos”, enfatizou o secretário de alto rendimento.
Rogério concluiu recordando que o resultado é consequência de planejamento, treinamento e trabalho.
“Sinto que hoje nos estamos fechando cada vez mais e temos de lembrar a fórmula vencedora que proporcionou numerosas medalhas para o nosso País. Temos de reavaliar a importância do treinamento conjunto. O resultado da competição é importante, mas ele é consequência da prática e do trabalho bem feito. Na minha época buscávamos o ippon, e a vitória era consequência. Acho que é fundamental desenvolver uma visão daquilo que buscamos para o nosso judô, para que daqui a 60 anos tenhamos um judô tão forte como o dos primeiros 60 anos. Vamos olhar para o passado sem esquecer aquilo que é realmente importante no desenvolvimento dos nossos atletas e nossos judocas”, sentenciou o campeão olímpico.
O ensino do judô é um sacerdócio
Cumprimentando todos os professores presentes, Francisco de Carvalho Filho começou destacando a importância dos professores de judô na sociedade.
“Quando criamos o credenciamento técnico pensamos em criar uma oportunidade ímpar para nos reencontrarmos no início de cada temporada, discutir as mudanças das regras e as novidades em nosso cenário. E neste ano peço que avaliem a importância que cada um de vocês tem na comunidade e na sociedade. Deixando a performance esportiva de lado por um instante, vocês têm de ter a consciência do papel que desempenham no contexto social, no resgate de pessoas e alunos por intermédio da base que o judô proporciona na educação e formação de seus praticantes.”
Na avaliação do dirigente, o foco da educação e da construção de indivíduos é a maior contribuição que cada professor pode oferecer ao cenário social e o grande legado do judô para a sociedade.
“Lamentavelmente vivemos num País onde os professores não são valorizados. Todo mundo acha o nosso trabalho muito bonito, mas ninguém quer que o filho seja professor do ensino fundamental ou de judô. Contudo, a nossa classe cresce em função do comprometimento e da paixão que acabamos nutrindo pela modalidade”, disse Chico do Judô, lembrando que o ensino do judô é uma missão.
“O que vocês fazem na verdade é um sacerdócio, e quero cumprimentá-los por esta dedicação e paixão ao ensino do judô. Peço a Deus que ilumine todos vocês, que dê saúde e vontade para que possam resgatar um número cada vez maior de jovens e possamos mostrar um novo caminho para a sociedade como um todo”, preconizou o dirigente paulista.
Juntos somos mais fortes!
Alessandro Puglia avaliou que o departamento técnico da FPJudô atingiu todos os objetivos traçados para a primeira etapa do credenciamento.
“Foi muito gratificante ver o auditório do Teatro Paulo Machado de Carvalho totalmente tomado pelos nossos professores e perceber a preocupação de todos em estar a par das novidades e mudanças. A palestra do Tiago Camilo foi muito boa, da mesma forma que o trabalho apresentado pelos professores Matheus Theotônio e Edison Minakawa foi muito bem fundamentado e prestou grande auxílio aos nossos professores”, pontuou Puglia, que conclamou a união de todos visando a maiores objetivos.
“A estrutura atual da FPJudô e o trabalho desenvolvido pelos nossos delegados regionais têm impulsionado a modalidade em todas as regiões do Estado, e o resultado deste esforço conjunto tem sido o crescimento expressivo do número de praticantes federados. Cumprimos nosso papel e iniciamos 2018 com o pé direito. Agora vamos tocar esta grande nação que é o judô paulista, e para atingir nossos objetivos temos de estar todos juntos, lutando pelo objetivo comum que é projetar ainda mais São Paulo no cenário nacional lembrando que juntos somos mais fortes”, finalizou o dirigente.
A segunda e última fase do credenciamento técnico desta temporada será realizada no dia 3 de março, no auditório do Sesi Horto Florestal, na Rua Professora Zenita Alcântara Nogueira, 1/67 – Vila Triagem, em Bauru (SP).