17 de novembro de 2024
Primeiro medalhista olímpico do judô brasileiro, Chiaki Ishii entra para o Hall da Fama do COB
Em São Paulo, o Comitê Olímpico do Brasil premiou o atleta pioneiro e uma das principais referências do judô para várias gerações
Hall da Fama COB
23 de julho de 2019
Fonte IMPRENSACOB I Por PAULO PINTO I Fotos ARQUIVO
São Paulo – SP
Em plena Galvão Bueno, tradicional rua do bairro da Liberdade, principal reduto dos imigrantes japoneses em São Paulo e no Brasil, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) promoveu neste sábado (20) uma cerimônia em comemoração ao marco de um ano para os Jogos Tóquio 2020.
O ponto alto foi a homenagem a Chiaki Ishii, japonês naturalizado brasileiro, dono da primeira medalha olímpica do judô nacional, o bronze conquistado em Munique 1972 na categoria meio-pesado. Em seu pronunciamento, o imigrante nipônico que teve de cruzar o oceano para realizar o sonho olímpico demonstrou sua emoção.
“É uma honra receber esta homenagem. Agradeço ao Comitê Olímpico do Brasil por me proporcionar este momento emocionante. Hoje é um dos dias mais felizes e importantes da minha vida. Sempre tive o objetivo de disputar os Jogos Olímpicos. Perdi a seletiva em 1964 e decidi recomeçar do zero. Atravessei o oceano e vim para o Brasil. Precisei trabalhar na agricultura para sobreviver, mas sempre com a certeza de que não perderia para ninguém no judô. Com apenas um judogi nas costas, treinei e lutei muito até conquistar a medalha de bronze olímpica”, disse Chiaki Ishii, que também foi o primeiro brasileiro a ganhar medalhas em mundiais de judô, com o bronze conquistado em Ludwigschafen, em 1971. “Passados 47 anos da minha conquista, vejo que o judô brasileiro já ganhou 22 medalhas nos Jogos Olímpicos e fico muito feliz com o crescimento da modalidade”, completou. Ishii nasceu em 1º de outubro de 1941 em Ashikaga, na província de Tochigiken, no Japão.
Oriundo de uma família formada eminentemente por judocas, o jovem Chiaki foi treinado pelo avô Seikichi Ishii, shichi-dan (7º dan), e pelo pai Yukichi Ishii, hachi-dan (8º dan). Os irmãos, todos judocas, são Haruo, san-dan (3º dan); Kiyoshi, shichi-dan (7º dan); Isamu, roku-dan (6º dan); e Kingo, ni-dan (2º dan). Promovido a kyuu-dan (9º dan) em 2010, durante a cerimônia de Abertura do Campeonato Paulista Sub 21 em Campinas (SP), Chiaki é o judoca com maior graduado da família Ishii.
Ao explicar a importância histórica do Hall da Fama do COB, Rogério Sampaio enfatizou a contribuição de Ishii no desenvolvimento do judô brasileiro enquanto modalidade olímpica.
“O projeto do Hall da Fama foi criado pelo COB para reconhecer e reverenciar grandes atletas brasileiros que construíram, com muito sacrifício, a tradição de medalhas olímpicas que possuímos hoje. A conquista de uma medalha era muito difícil. Hoje, o Brasil já vai para os jogos com uma expectativa maior. Isso só foi possível com a participação de atletas como o sensei Ishii. Essa homenagem é mais que um reconhecimento. É um agradecimento, não só pela conquista olímpica, mas pelo legado que deixa para o judô. Sem a história dele, certamente o Brasil não teria atingido as 22 medalhas que a modalidade conquistou até hoje em Jogos Olímpicos”, disse o diretor geral do COB.
As mãos de Ishii ficarão eternizadas no mural que será inaugurado no Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Além dele, o Hall da Fama do COB já abriga atletas como Torben Grael (vela), a dupla Sandra Pires e Jackie Silva (vôlei de praia), Vanderlei Cordeiro (atletismo) e Hortência Marcari (basquete). Ainda em 2019, o COB homenageará Paula (basquete), Joaquim Cruz (atletismo), Bernardinho e José Roberto Guimarães (vôlei) e os já falecidos Guilherme Paraense (tiro esportivo), João do Pulo (atletismo), Maria Lenk (natação) e Sylvio Magalhães Padilha (atletismo).
Keiko Ishii, esposa de Chiaki, e Vânia Ishii, sua filha campeã meio-médio dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg 1999 e vice-campeã em Santo Domingo 2003, participaram do evento, ao lado de grandes nomes do judô verde e amarelo, entre os quais os também medalhistas olímpicos Rogério Sampaio, ouro em Barcelona 1992; Aurélio Miguel, ouro em Seul 1988 e bronze em Atlanta 1996; Leandro Guilheiro, bronze em Atenas 2004 e bronze em Pequim 2008; Tiago Camilo, prata em Sidney 2000 e bronze em Pequim 2008; e Rafael Silva, bronze em Londres 2012 e bronze no Rio 2016; além da medalhista de bronze no mundial de Chiba em 1995 e campeã dos Jogos Pan-Americanos do Rio em 2007, Daniele Zangrando.
Entre os dirigentes esportivos estavam Rogério Sampaio, diretor geral do COB; Alessandro Panitiz Puglia, presidente da FPJudô; Takanori Sekine, presidente do Instituto Kodokan do Brasil (IKB); Sílvio Borges, presidente da Confederação Brasileira de Judô; e Francisco de Carvalho Filho, presidente de honra da FPJudô, que avaliou a importância da trajetória de sensei Ishii para a projeção internacional do judô brasileiro.
“Entendo que o fato marcante do legado deixado pelo professor Ishii é ter aberto o caminho do pódio olímpico para os judocas brasileiros de sua geração e, consequentemente, para as gerações seguintes. Com o bronze conquistado em Ludwigschafen em 1971 e com o bronze olímpico em Munique 1972, ele mostrou que era possível ser medalhista internacional e que no Brasil já existia judô de altíssima qualidade”, disse o dirigente. Ele lembrou também que no shiai-jô Ishii era uma máquina de fazer ippons.
“O Ishii sempre foi um judoca altamente competitivo. Aliás, ele só focava isso. Vivia, treinava e se preparava sempre para lutar e derrubar seus adversários. É uma pessoa que deixa um legado não só pelas medalhas em si, mas pela dedicação ao treinamento. Muitas vezes estive com ele em randoris, ao lado de sensei Onodera e outros técnicos da seleção brasileira, e quando ele treinava era muito admirado. Todos, sem exceção, o respeitavam muito – por bem, ou por mal, já que ele não perdia a viagem. Era diferenciado no treinamento, e nas competições era uma máquina de fazer ippons.” Chico do Judô concluiu avaliando a iniciativa do Comitê Olímpico do Brasil.
“Sabemos que o COB premia os melhores atletas de cada modalidade esportiva, e obviamente não poderia deixar de reverenciar o judoca que foi precursor das 22 medalhas que o judô obteve nas Olimpíadas. Trata-se de um atleta que tem uma história e um retrospecto de vitórias e conquistas que se evidenciam eminentemente pelo pioneirismo”, pontuou o dirigente paulista.