Princípios dos katas no judô

Hinako Akiyama executa movimento do ju-no-kata no curso de kata do Instituto Kodokan

O conceito de kata é tão antigo quanto o próprio Japão, e sua aplicação nas mais variadas maneiras, ainda hoje, continua sendo uma força ativa, um elemento intrínseco da cultura japonesa

Kihon
22 de julho de 2020
Por Prof. Me. ODAIR BORGES e Prof. Dr. RAFAEL BORGES
Fotos ARQUIVO e BUDOPRESS
Curitiba – PR

Kata é uma expressão do espírito japonês intimamente ligada às realizações artísticas desse povo. É praticamente seu “idioma de forma”. O kata toca quase tudo nas atividades diárias de uma pessoa, como a escrita, arquitetura, comportamentos, atitude, etiqueta, incluindo a arte. Numa análise mais aprofundada, esses padrões pré-estabelecidos de realizar as atividades acabam por ser um método eficiente de transmissão de conhecimento através de um caminho (do) já conhecido, levando a um aprendizado natural de determinados princípios. Para o budô, é simples fazer uma ponte entre o ensino de uma instrução militar, a qual busca um aprendizado eficiente, e o aprendizado de uma grande quantidade de pessoas simultaneamente. Por outro lado, isso expõe uma linha tênue entre o adestramento e a práxis pedagógica, uma vez que adaptações ou improvisos não são permitidos, somente a curva de aprendizado é aceita.

Sensei Motonari Sameshima, diretor do departamento de educação e instrução do Instituto Kodokan demonstra técnica com a sensei Hinako Akiyama

Dentro das artes guerreiras clássicas (bugei ou bujutsu) são encontrados elementos de simplicidade, eficiência, harmonia, intuição, economia de movimentos e suavidade, os quais caracterizam todas as formas da arte japonesa. Nesse cenário, influenciou o budô clássico ou o “caminho do guerreiro”, que se originou do bujutsu. O entendimento dessa relação é de essencial importância para compreender o verdadeiro significado das artes de luta japonesa, suas maneiras e sua relação com o kata do judô Kodokan.

O povo japonês sempre valorizou as armas e as artes de combate e, com isso, muitos sistemas de luta corpo a corpo foram desenvolvidos no antigo Japão, dando origem aos ryu. Essas habilidades guerreiras foram transmitidas através dos tempos pelos guerreiros samurais, que constituíam uma classe social nobre e privilegiada da sociedade japonesa, que dominou o Japão de 1192 (período Kamakura) a 1868 (período Edo), quando se deu a restauração Meiji, época na qual o judô foi desenvolvido.

Remetendo à história do judô, o koshiki-no-kata foi herdado pelo professor Jigoro Kano e minimamente readequado por ele, mantendo, porém, a essência do combate corporal do samurai, o que por si remete a uma manutenção da história e cultura desse povo. Uma das habilidades que teve forte efeito no kata do Kodokan foi o denominado yoroi kumiuti, a luta “corpo a corpo com armadura”, que por sua vez desenvolveu posições, posturas, movimentos e táticas a partir de métodos primitivos de combate.

Aulas e cursos regulares de kata no Instituto Kodokan são uma realidade enfatizada e muito apreciada pelos professores de judô do Japão. Na foto, no menor dojo do kodokan, destinado a aulas e treinamentos especiais sensei David McFall, go-dan e licença “A” para koshiki-no-kata pelo Instituto Kodokan, em treinamento.

Na época em que o professor Jigoro Kano aprendeu o jujútsu em 1877, a maioria dos professores ensinava kata, mas alguns deles desenvolviam o norokai, que seria a mistura de kata e randori. Os professores de Jigoro Kano do estilo Tenjin Shin’nyo-ryu (Fukuda Hachinosuke e Iso Matsumoto) e do estilo Kito-ryu (Iikubo Tsunetoshi) (Kano, R. 2009), eram os que mais praticavam randori e kata, sendo okoshiki-no-katauma herança do Kito-ryu. Devido a tais influências, Jigoro Kano acreditou que os dois métodos de prática de jujútsu deveriam ser mantidos.

Fazendo analogia com uma composição literária, o kata é semelhante à gramática e o randori, à redação. Portanto, um complementa o outro, o que sempre fez o professor Jigoro Kano procurar ensinar aos praticantes de judô os principais katas durante o randori.

O incremento do número de praticantes de judô impossibilitou o professor Jigoro Kano de ensinar individualmente, e por isso, em aproximadamente 1885, sentiu a necessidade de organizar o nage-no-kata, dissecando e classificando de forma estruturada uma grande quantidade de movimentos. Primeiramente, o nage-no-kata teve dez técnicas, posteriormente aumentadas para 15, escolhendo três de cada um dos cinco grupos existentes, já em 1887.

Professor Koji Komata da Universidade de Tsukuba, em orientação no curso de ju-no-kata (obi-tori) ao professor Rafael Borges, durante o intercâmbio promovido pela Agência Esportiva do Japão – Sport for Tomorrow em 2017

Desta forma, o nage-no-kata ensinou aos praticantes os fundamentos do nage-waza. Juntamente com essa padronização, foi criado o katame-no-kata, para ensinar os fundamentos no ne-waza. Estes dois katas, são denominados de randori-no-kata. O ensino por meio de movimentos pré-estabelecidos dá algumas vantagens ao professor, como o ensino massivo e simultâneo, no estilo chamado de “comando”. Já para os alunos, permite a compreensão da totalidade a ser aprendida e dominada com perfeição, um conceito muito valorizado pela cultura oriental.

Em 1895, foi fundada a Dai Nippon Butokukai (grande associação das virtudes marciais do Japão), que tinha como objetivo organizar e padronizar o jujútsu. Uma das principais tarefas foi a padronização do kata das várias escolas existentes e, para isso, o professor Jigoro Kano foi nomeado presidente do comitê, que teve grande colaboração de dois outros professores de jujútsu, Hoshino do Shiten-ryu e Totsuka do Yoshin-ryu.

Também em 1895, oito anos após o surgimento dos primeiros katas denominados randori-no-kata, o professor Jigoro Kano criou a primeira versão do go-kyo-no-waza, que não é exatamente um kata, mas uma metodologia de ensino mais ampla de quase todo o repertório técnico do judô para as técnicas de arremesso (nage-waza). Ressalta-se que o judô na época era praticado principalmente por homens, jovens e saudáveis, o que favorecia um estilo de ensino no método de comando, com alta efetividade para o aprendizado se sequências técnicas. O objetivo do judô, então, eram o cultivo da saúde e da cultura e a defesa pessoal, o que se refletia no vestuário dos praticantes. A evolução do judô evidencia-se na entrada da modalidade, de forma compulsória, nas escolas do Japão, atrelado à educação física. Somente em 1930 houve a primeira competição esportiva nacional de judô no Japão (K. Risei. 2009).

De forma mais ampla, pode-se afirmar que a arte do judô não é completa sem o conhecimento do kata. É mais verdadeiro dizer que o kata é o coração do judô. Com certa frequência, preocupa a demonstração do kata na sua forma competitiva, porém, ao mesmo tempo, compreendemos a motivação do aumento do número de praticantes de kata. Como professores, nos preocupa a simples busca de medalhas em detrimento da real essência do tradicional kata Kodokan, elaborado como demonstração da arte do judô.

Demonstração de Koshiki no kata, – técnica shikoro-gaeshi) durante as tradicionais demonstrações de kata nas aberturas dos campeonatos de judô no Japão

Aprendemos com as anotações do professor Jigoro Kano que “para praticar o judô com o objetivo de educação física é preciso escolher as técnicas que permitam movimentos uniformes e simétricos em todas as partes do corpo. O que é deficiente em randori deve ser suplementado pelo kata” (Kano, J. 2008). A partir de um registro tão lúcido, podemos ver a importância que Kano atribuiu ao kata do judô Kodokan.

Muitos estudos e pesquisas foram feitos na época para a elaboração dos katas provenientes de diversos estilos do jujútsu. Ainda hoje são realizados estudos históricos, culturais e técnicos, procurando a explanação mais próxima das tradições e do pensamento do professor Jigoro Kano. Como exemplo, vale ressaltar o exímio artigo publicado pelos professores Toshiro Daigo e Naoki Murata (2011) denominado Principles of Evaluation of Judo Kata Performance uke’s motion in koshiki no kata.

Para melhor compreensão dos katas, é de fundamental importância o entendimento de alguns elementos existentes na conduta e no comportamento do japonês, entre eles, o tatemae (como se apresenta) e, honne (intenção verdadeira), sentimentos reais que nunca estão à mostra e podem ser compartidos com pessoas da sua família ou de sua intimidade. Na cultura tradicional japonesa há exemplos semelhantes do que está exposto e o que está escondido. No kata essa particularidade é denominada omote e ura. Omote-no-kata é a observação das técnicas visíveis, como movimentos mecânicos combinados e memorizados para uma simples apresentação. Ura é o significado, uma representação mental que dá sentido à técnica do kata.

Vladimir Putin, presidente da Rússia praticante e admirador do judô assiste a uma demonstração de koshiki-no-kata, onde os judoka se apresentam de uma forma tradicional, com a armadura (yoroi). A apresentação de kata inusitada que possui importância relevante para os japoneses contou ainda com a presença de Shinzo Abe, primeiro ministro do Japão; Yasuhiro Yamashita, presidente da Federação Japonesa de judô e atual presidente do Comitê Olímpicos de Japão; Yoshiro Mori; chefe do Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio 2020; e demais autoridades diplomáticas.

Podemos dizer que é literalmente aquilo que está subentendido, não está exposto à visão. Na prática, o termo transmite a compreensão de que o praticante deve estar atento para compreender e interiorizar todo o contexto além do que os olhos enxergam no gesto mecânico. Cito como exemplo o ura no momento em que vemos a postura do tori e uke, durante o treino do koshiki-no-kata. Além de executarem o gesto, eles transcendem o entendimento do movimento comum e, de forma subliminar, demonstram aspectos culturais, históricos e filosóficos da cultura japonesa.

Não significa escondido da visão comum. O princípio do maai é a observação e julgamento da distância na ação entre tori e uke. Na execução de cada técnica, é de grande importância a observação de um maai adequado, pois nem todas as técnicas são executadas com a mesma distância entre tori e uke. Um posicionamento muito próximo, ou muito distante, vai impedir a execução técnica, enfraquecendo o ataque e colocando-se em desequilíbrio. Já o riai “princípio natural”, é considerado pelos professores do Kodokan uma importante orientação no aprendizado do kata e está intimamente ligado ao maai. Na prática do judô e no kata é o controle racional da força, que se resume em evitar usar força no controle e domínio técnico em detrimento da habilidade em desequilibrar o oponente. Tudo isso está integrado no denominado bunkai, conceito de análise geral dos katas, pontos principais das técnicas, a defesa ante um ataque, as variações entre ataque e defesa e contra-ataques.

Demonstração de nage-no-kata feita pelos senseis Ikuo Onodera (tori) e Odair Borges (uke), no campeonato paulista realizado em São Bernardo do Campo em 1974

O professor Jigoro Kano, preservou a qualidade artística do kata, pois se não houvesse o elemento estético o kata seria apenas uma maneira altamente convencional de praticar técnicas de judô, um método de treinamento vazio e desinteressante. O kata foi concebido como decorativo, mas na medida em que transforma o assimétrico em simétrico e o irregular em regular, observa-se o mais alto grau de beleza, segurança e eficiência que podem ser alcançados.

Quanto menos experiência em kata um judoca tiver, menos experiência em judô ele compartilhará e menos profundo será seu conhecimento técnico, assim como menos preparado ele estará para entender o judô e transmitir seus ensinamentos corretamente como professor.

O estudo e a prática de kata impõem ao judô uma disciplina técnica bem definida, que é inatingível apenas pelo randori e competição.

Shihan Jigoro Kano executa técnica do koshiki-no-kata, no uke Yoshikazu Yamashita (10 dan), em demonstração feita no palácio Imperial de Tokyo em 1929

Sobre o ideograma kata

No judô, utilizamos com frequência a pronuncia fonética “kata”, mas com significados diferentes. Esses significados são distintos em função dos ideogramas 片, 形 ou 肩que são utilizados para escrever. Neste caso, vamos esclarecer os diferentes empregos dos ideogramas que são lidos como kata, e exemplifica-los:

– Kata片 – Esse ideograma na terminologia do judô refere-se a “um só” lado, ou a uma “parte”. Exemplos: katate-jime片手絞, kata juji-jime片十字絞 e kataha-jime片羽絞。

– Kata形 – Esse ideograma na terminologia do judô refere-se a “forma”, “padrão” a ser executado. Exemplos: kata empregado nos nomes dos kata, como nage-no-kata投の形, katame-no-kata 固の形, kime-no-kata極の形, ju-no-kata柔の形。

– Kata肩 – Esse ideograma na terminologia do judô refere-se a “ombro”. Exemplos: kata-guruma肩車, kata-gatame肩固 (Michaelis: Dicionário Prático Português-japonês, 2005; Watanabe, K.; Borges, O. 2019)

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Aspectos gerais do desenvolvimento dos oito katas reconhecidos oficialmente pelo Kodokan

Koshiki-no-kata 古式の形 (Formas antigas, século XVII)

O koshiki-no-kata tem sua origem na Kito ryu Jujutsu, que o professor Jigoro Kano aprendeu antes de definir o Kodokan Judô. Ele estabeleceu este kata como altamente eficaz e apropriado em termos de suas características técnicas, valores teóricos e meios para treinamento mental e espiritual, como koshiki-no-kata do Kodokan.

Este kata é baseado nas técnicas de preparação de yoroi-kumiuchi, nas quais os samurais daqueles dias costumavam lutar contra os outros enquanto usavam armas. O koshiki-no-kata é composto por 14 técnicas de omote-no-kata e sete de ura-no-kata. Omote-no-kata representa tranquilidade mental e elegância solene de todos os aspectos de seu comportamento e realizar com precisão todos os movimentos de ataque e defesa, enquanto ura-no-kata demonstra movimentos ágeis e ousados; ambos exibem raciocínio e uma teoria de ataque e defesa no judô como kata profundo (Kodokan Judo Institute, 2014).

Sensei Motonari Sameshima aplica a técnica ryote-dori durante o kime-no-kata, em demonstração no campeonato japonês

Nage no kata投の形 (Formas de arremesso, 1885 – 1887)

O nage-no-kata, também chamado de randori-no-kata, foi criado para ajudar os praticantes de judô a entenderem os princípios e dominarem as técnicas básicas de nage-waza usadas em randori. Base de técnicas de arremesso é adquirida pela prática de kuzushi, tsukuri, kake e como receber a técnica em cada técnica.

O nage-no-kata começou com dez técnicas e depois foi organizado e consolidado em 15 técnicas divididas em cinco grupos de três técnicas cada um, em 1887. As técnicas são aplicadas do lado direito e esquerdo, totalizando 30 projeções. Os grupos são te-waza, koshi-waza, ashi-waza, ma-sutemi-waza e yoko-sutemi-waza (Kodokan Judo Institute, 2014).

歌川国芳 (Utagawa Kuniyoshi, 1798 – 1861) Esta gravura descreve a batalha de Ishibashiyama. O homem forte Matano Goro Kagehisa lutando com Sanada Yoichi Yoshitada. Ele tenta evitar o assassinato de seu comandante. Ambos em luta corporal com armadura.

Katame-no-kata 固の(Formas de domínio, 1885-1887)

Katame-no-kata foi estabelecido, junto com nage-no-kata, nos primeiros dias após a fundação do Kodokan. Diz que o kata era originalmente composto por dez técnicas, mas depois expandido para 15 técnicas. O katame-no-kata é composto por cinco técnicas representativas selecionadas entre osae-komi-waza, shime-waza e kansetsu-waza; também é chamado de randori-no-kata junto com nage-no-kata (Kodokan Judo Institute, 2014).

Ju-no-kata柔の (Forma suave, 1887)

Ju-no-kata foi desenvolvido inicialmente com o nome de taissô-no-kata (formas de ginástica). As técnicas que compões o kata foram desenvolvidas para ensinar aos praticantes do princípio do ju ju yoku go wo seisu, algo como “a flexibilidade que controla a força” e a complexidade dos movimentos do corpo (Borges, O; Watanabe, K. 2015). O ju-no-kata é um meio sutil e tranquilo para aprender os princípios do judô, numa composição dinâmica e expressiva, de ataque e métodos de defesa em uma série de ações lentas e moderadas, sem projeções ou kumi kata. Consiste em 15 técnicas, divididas em três conjuntos de cinco.

Professor Koji Komata faz orientação específica do ju-no-kata (kata-oshi) ao professor Rafael Borges. O lance representa bem o sentido do “ju” e o princípio de detalhes técnicos que influenciam na harmonia estética dos kata

Ju-no-kata possui os seguintes recursos (Kodokan Judo Institute, 2014)

  1. Pode ser exercitado e praticado livremente a qualquer hora e em qualquer lugar com qualquer tipo de roupa.
  2. Permite que qualquer homem e mulher de qualquer idade desfrutem de aprendizado da lógica e os princípios do judô.
  3. Como ju-no-kata é realizado em ações lentas e moderadas para ataque e defesa, facilita a compreensão precisa e fácil de seu raciocínio e legitimidade.
  4. Como ju-no-kata incorpora uma variedade de exercícios musculares, pode ser combinado com randori para promover desenvolvimento eficaz e saudável do corpo físico.
  5. Aprimora o cultivo de sentimentos estéticos adquirindo seu tai-sabaki natural e movimentos suaves que mudam e se alternam.

Estudantes do curso de educação física da Universidade de Tsukuba, que não são praticantes de judô, aprendem os fundamentos do judô através da prática do nage-no-kata. Desta forma, a tradição também se mantém nas aulas de educação física ministradas em escolas

Itsutsu-no-kata五の (Cinco formas, 1887)

Itsutsu-no-kata carrega fortes elementos do da escola Tenjin shin nyo ryu. Foi estabelecido pelo professor Jigoro Kano como um kata do Kodokan, para expressar de maneira sutil o raciocínio dos métodos de ataque e defesa do judô. Isto é chamado itsutsu-no-kata, pois consiste em cinco técnicas diferentes. O que este kata representa é o estado do céu, a terra e a natureza, sendo uma expressão artística de seu raciocínio na forma de técnicas de judô. Tem como objetivo a demonstração das formas básicas do judô expressando os movimentos dos fenômenos da natureza em harmonia com o universo. As duas primeiras técnicas possuem uma conexão com o estilo Kyto ryu, e as três últimas representam o movimento da água, corpos celestes e outras características do universo a serem reproduzidos pelo corpo humano. Este kata compõe-se de técnicas numeradas, portanto sem nomes, sendo considerado incompleto. As cinco técnicas são:

Ippon-me (primeira visão): representa o raciocínio de como mesmo uma pequena força pode facilmente superar um enorme poder, atacando de forma racional e ininterruptamente.

Nihon-me (segunda visão): representa o raciocínio de como se pode tirar vantagem diretamente de um poderoso ataque para superá-lo. Simboliza o riai, isto é, a “sinergia”, o controle racional da força menor sobre a maior, que vem a ser o aproveitamento da força contrária a seu favor.

Sanbon-me (terceira visão): representa o raciocínio de como um círculo interno de corrente giratória pode superar seu círculo externo (redemoinho).

Yonhon-me (quarta visão): representa o raciocínio de como uma grande onda surge em direção à costa e recua depois de lavar tudo.

Gohon-me (quinta visão): representa o raciocínio de como alguém pode enfrentar diretamente uma grande onda que surge à frente e fugir do perigo, sacrificando momentaneamente a vida de alguém (há outra crença de que representa fenômenos do espaço e do universo).

Professores Odair e Rafael Borges, em evento de graduação da FPJudô

Kime no kata 極の (formas de decisão, 1906)

Logo após estabelecer o Kodokan Judô, Jigoro Kano criou o kata para uma luta de combate real, consistida em dez técnicas que tinham os mesmos objetivos como kata de várias escolas japonesas tradicionais de jujútsu, ou seja, de ensinar o shiken-shobu no kata (formas de combate decisivo). O professor Jigoro Kano aperfeiçoou as técnicas e, posteriormente, aumentou a total para 14 ou 15. Depois de estudar jujútsu e adicionar suas novas ideias, o professor Jigoro Kano submeteu o rascunho de kata composto por 20 técnicas, oito idori e 12 tachiai para a reunião da Butokukai (Grater Japan Martial Virtue Society) para discutir o estabelecimento de kata em 1906. Como resultado da discussão na reunião, o kime-no-kata como é conhecido hoje foi então estabelecido. Desde que o kime-no-kata foi criado para oferecer as técnicas mais eficazes para a luta combativa, a importância da prática neste kata é dominar o movimento ágil de tai-sabaki e a maneira mais eficaz de controlar o oponente.

Sei-ryoku-zen-yo Kokumin Taiiku (educação física nacional de máxima eficiência, 1924)

Idealmente é um sistema de educação física; possui três características: promove o desenvolvimento de mente e corpo, forte e saudáveis, é interessante e útil. O sei-ryoku-zen-yo kokumin taiiku (educação física de máxima eficiência) não só atende aos três requisitos admiravelmente, mas vai além de ser apenas ginástica ou simplesmente uma arte marcial.

Este kata foi desenvolvido por volta de 1924, (Kodokan Judo Institute, 2014) provavelmente impulsionado pela grande influência da criação do departamento feminino e infantil do Kodokan em 1923.

O sei-ryoku-zen-yo kokumin taiiku consiste em dois grupos de exercícios. Um é praticado sozinho, o outro com um parceiro. Todos os exercícios, exceto um, têm aplicação direta na autodefesa. Este kata é ideal para uso com judô para exercícios físicos ou aquecimento de judô. Cada um desses exercícios deve ser realizado de maneira poderosa e com velocidade máxima no momento do impacto. Ao bater com o punho, seu braço deve entrar em contato com a superfície do seu alvo em ângulo reto. Faça formas destra e canhota de cada exercício pelo menos cinco vezes cada. (Kano, J. 1986).

Em resumo, o sei-ryoku-zen-yo kokumin taiiku é composto de duas seções

  1. Tandoku renshu (treinamento individual) de 28 técnicas e
  2. Sotai renshu (com parceiro), divididos em dois grupos:

a) Kime shiki (Bujutsu shiki) de dez técnicas e;
b) Ju shiki (dez movimentos do ju-no-kata).

O kata completo contém 48 técnicas, sendo o mais longo e, provavelmente, o menos praticado e conhecido pelos praticantes de judô no Ocidente.

Kodokan Goshin-Jutsu 講道館護身術 (Arte de defesa pessoal do kodokan, 1956)

Kodokan goshin-jutsu é um conjunto de katas que indica princípios de autodefesa e técnicas aplicáveis ​​à sociedade moderna. Vários anos depois de o professor Jigoro Kano estabelecer o Kodokan judô, ele criou o kime-no-kata para uma luta combativa real. No entanto, de acordo com grandes mudanças no estilo de vida, o estabelecimento de kata foi solicitado para a defesa pessoal adequada para os tempos modernos. O goshin-jutsu foi criado em janeiro de 1956, referindo-se às técnicas de várias artes marciais diferentes.

Essas técnicas permitem defender-se com a mão vazia contra qualquer atacante armado ou desarmado e incorporam a cooperação mútua do conceito do judô, que diz: “pare a alabarda, termine com o mínimo de ferimentos”. Este conteúdo de 21 técnicas consiste em uma seção desarmada e uma seção armada.

A seção desarmada (toshu no bu) consiste em 12 técnicas, sendo sete quando segurado (agarramento) e cinco quando atacado a distância. A seção de armas (buki no bu) consiste em nove técnicas, sendo três contra punhal, três contra bastão e três contra pistola. Este kata tem uma natureza excepcional e completa das artes marciais baseadas na realidade que tori controla o ataque de uke em todas as técnicas, enquanto se aproximam entre si.

O professor mestre de judô e jiu-jitsu Odair Antônio Borges é professor kodansha 8° dan pela CBJ e 7°dan no Instituto Kodokan, graduado em educação física, com mestrado em educação física pela USP, é professor universitário USP/PUC Campinas e ex-atleta da seleção brasileira de judô entre 1965 e 1975.
O professor doutor Rafael Borges é professor de judô e jiu-jitsu, graduado em licenciatura e bacharelado em educação física; mestre e doutor em fisiopatologia médica pela Unicamp, especialista pela Universidade Gama Filho, nutricionista graduado pela universidade Metrocamp. Ex-atleta da seleção brasileira de jiu-jitsu e wrestling.

Referências bibliográficas

  1. Judo: Formal techiniques, Tadao Otaki, Donn F. Draeger
  2. Kodokan Kata text book. Kodokan Judo Institute, 2014.
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  4. Kano, J. Energia Mental e física. Pensamento 2008.
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  6. Murata, N. Daigo, T. Principles of Evaluation of Judo KATA performance - UKE’s motion in KOSHIKI no KATA Bulletin of the Association for the Scientific Studies on Judo, Kodokan” 13th
  7. Michaelis: Dicionário Prático Português-japonês, 2005.
  8. Watanabe, K.; Borges, O. Minidicionário de Judo. 2019