23 de julho de 2025

Com o propósito de resgatar a autoestima e oferecer novas perspectivas a homens em tratamento contra a dependência química, a instituição CRENVI firmou parceria com a tradicional Academia Arena Jiu-Jitsu para a criação de um projeto esportivo de impacto social. A iniciativa, realizada em Curitiba e voltada a acolhidos com idades entre 18 e 59 anos, integra o jiu-jitsu à rotina terapêutica da instituição, promovendo disciplina, autocontrole e vínculos saudáveis como ferramentas de transformação. A ação conta com apoio técnico da Federação de Jiu-Jitsu do Paraná (FJJPR) e estrutura viabilizada por meio de emenda parlamentar federal.
A Casa de Recuperação Nova Vida – CRENVI, localizada no bairro Bacacheri, deu início a um projeto inovador de reinserção social por meio da prática do jiu-jitsu. A iniciativa, fruto de um planejamento cuidadoso conduzido pela equipe técnica da instituição, encontrou na arte suave um aliado poderoso para promover disciplina, autoconfiança, habilidades sociais e qualidade de vida aos acolhidos.
Professores Gurgel e Fabiano Bittencourt orientam os alunos durante as primeiras aulas do projeto social © Arquivo
“A prática do jiu-jitsu foi escolhida por apresentar indicadores muito relevantes no processo de reabilitação. Entre os benefícios observados estão a melhora do condicionamento físico, redução da ansiedade, desenvolvimento da resiliência e da disciplina — fatores fundamentais para quem está reconstruindo uma vida equilibrada”, explica Thiago Massolin, psicólogo especializado em dependência química e responsável técnico pela CRENVI.
O projeto ganhou ainda mais consistência com a parceria estabelecida com a Academia Arena, referência nacional na modalidade. “O Thiago foi meu aluno há muitos anos e nos reencontramos recentemente. Quando ele me contou sobre o trabalho que vem desenvolvendo e o interesse em incluir o jiu-jitsu como ferramenta de apoio ao tratamento, prontamente aceitei o convite. A Arena já atua fortemente com projetos sociais, e a seriedade da CRENVI, com mais de 47 anos de serviços prestados, nos motivou a abraçar essa causa”, destaca o mestre Gurgel, faixa coral 7º dan e presidente da Federação de Jiu-jitsu do Paraná (FJJPR).
Alunos e professores compartilham valores e propósitos do projeto de reinserção social pelo jiu-jitsu © Arquivo
A implementação do projeto também enfrentou obstáculos, sobretudo no que diz respeito à captação de recursos para aquisição de tatamis, kimonos e faixas. “Conseguimos superar essa etapa graças à indicação de uma emenda parlamentar federal, que viabilizou os materiais. A parceria com o mestre Gurgel foi um presente — ele é uma lenda viva do jiu-jitsu, precursor da modalidade no Paraná e líder da Academia Arena. Ter seu apoio deu credibilidade e qualidade técnica ao projeto”, acrescenta Thiago.
Voltado a homens em tratamento para dependência química, com idades entre 18 e 59 anos, o projeto de jiu-jitsu desenvolvido pela CRENVI em parceria com a Academia Arena foi cuidadosamente estruturado para atender esse perfil. Segundo o mestre Gurgel, a proposta se encaixou naturalmente dentro da metodologia já adotada por sua equipe. “A metodologia ARENA é versátil e já foi aplicada com diferentes faixas etárias e públicos. Para essa iniciativa, adaptamos o programa ao contexto institucional, designando um professor qualificado, preparado para conduzir as aulas com sensibilidade e compreensão da realidade enfrentada pelos acolhidos em recuperação”, explica o líder da federação paranaense.
Ao lado de Thiago Massolin, Fabiano Bittencourt e Rafael Massolin, Evanri Gurgel faz explanação aos acolhidos © Arquivo
Para Thiago Massolin, os impactos da prática esportiva vão muito além dos tatamis. “No tratamento da dependência química, atuamos fortemente na substituição de hábitos, pessoas e lugares associados ao uso de substâncias, o que chamamos de prevenção à recaída. Nesse sentido, o jiu-jitsu contribui diretamente ao proporcionar disciplina, autocontrole psicológico, melhora da saúde física e mental, além de reduzir ansiedade e fissuras. Também ajuda na construção de vínculos sociais saudáveis, formando uma rede de apoio essencial à manutenção da abstinência”, afirma o psicólogo.
Com os primeiros resultados positivos e a adesão motivada dos participantes, o projeto já vislumbra novos horizontes. “Estamos em fase de avaliação para expandir o trabalho a outras instituições, inclusive com a possibilidade de parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Curitiba (SME). A ideia é estender os benefícios da prática do jiu-jitsu também para crianças e adolescentes no contraturno escolar, contribuindo com a formação integral dessas futuras gerações”, revela Gurgel.
Na visão do mestre Gurgel, o jiu-jitsu vai muito além de uma modalidade esportiva. Para quem enfrenta o desafio da dependência química, ele pode ser um verdadeiro instrumento de reconstrução. “O jiu-jitsu oferece disciplina, controle emocional e um propósito, elementos cruciais nesse processo. A prática ensina a lidar com frustrações, controlar impulsos e substituir comportamentos destrutivos por hábitos saudáveis, promovendo uma mudança profunda e consistente de estilo de vida”, afirma o faixa coral.
A experiência acumulada pela equipe da Academia Arena em outros projetos sociais também contribuiu para a estruturação dessa nova iniciativa. “Já apoiamos projetos como o Guerreiros de Cristo e outras ações voltadas ao público infantojuvenil. Essas vivências foram fundamentais para moldar um modelo eficaz de inclusão e transformação social, agora voltado a um público adulto e altamente vulnerável”, completa Gurgel.
A prática do jiu-jitsu foi escolhida por apresentar indicadores muito relevantes no processo de reabilitação © Arquivo
O programa de treinos segue a metodologia da Federação de Jiu-jitsu do Paraná, com um planejamento que contempla exercícios físicos, fundamentos técnicos e a parte de combate supervisionado. “Existe um cronograma técnico anual com sequência mensal de aulas, que trabalha posições de finalização, defesa, raspagens, passagens de guarda e todo o conteúdo estratégico do jiu-jitsu. Tudo isso é adaptado à realidade de cada acolhido, respeitando sua graduação, condição física e momento pessoal”, detalha o mestre.
O impacto gerado pelo projeto vai além do tatami. A CRENVI, por meio de sua equipe, garantirá o acompanhamento psicológico e social de todos os participantes. “O suporte multidisciplinar é essencial para potencializar os benefícios do esporte. Os psicólogos atuam no desenvolvimento emocional dos acolhidos, enquanto os assistentes sociais oferecem suporte nas demandas familiares e sociais. Essa abordagem integrada amplia os efeitos do projeto, promovendo uma transformação física, mental e social de forma sustentável e duradoura”, ressalta o psicólogo Thiago Massolin.
O jiu-jitsu oferece disciplina, autocontrole e propósito — pilares fundamentais no processo de recuperação de dependentes químicos © Arquivo
O projeto CRENVI Jiu-jitsu contou com apoio do Poder Público por meio da indicação de uma Emenda Parlamentar Federal, que viabilizou a aquisição dos tatamis e kimonos utilizados nas aulas. A CRENVI disponibilizou o espaço físico para os treinos, cuidou da personalização dos kimonos com as logos do projeto e assumiu o custeio das horas-aula dos professores. Já a Academia Arena entrou com o apoio técnico e metodológico, consolidando uma parceria que alia experiência, estrutura e compromisso social.
De acordo com o mestre Gurgel, o método de ensino será conduzido pela equipe Arena Jiu-jitsu, filiada à Federação de Jiu-jitsu do Paraná (FJJPR), que por consequência apoia diversos projetos sociais no estado, entre eles o próprio Projeto CRENVI Jiu-jitsu. A continuidade e o fortalecimento da iniciativa podem ser impulsionados por novas parcerias com entidades públicas e privadas, além da articulação institucional com outras frentes da FJJPR.
Thiago Massolin, responsável técnico da CRENVI, acredita que a prática do jiu-jitsu deve ser considerada por gestores de instituições voltadas ao acolhimento de dependentes químicos como uma ferramenta terapêutica estratégica. A modalidade promove disciplina, inclusão e pertencimento, ajudando na construção de uma rotina saudável e na prevenção de recaídas. Além de favorecer o controle emocional e a substituição de impulsos negativos por atitudes construtivas, o esporte ainda pode abrir caminhos para a profissionalização e a participação em competições.
Para Gurgel, o projeto representa a materialização da essência do jiu-jitsu: transformar vidas por meio de valores como respeito, disciplina e resiliência. “É gratificante ver esses ensinamentos ultrapassando os limites do tatami e alcançando pessoas em situação de vulnerabilidade, especialmente aquelas em luta contra a dependência química”, afirma o mestre.
Ao deixar uma mensagem à comunidade do jiu-jitsu e àqueles que ainda duvidam do poder transformador do esporte, Gurgel é enfático. “Continuem expandindo os valores do jiu-jitsu não apenas no tatami, mas também fora dele, promovendo inclusão e transformação social. Cada treino pode impactar vidas de forma significativa, pois o jiu-jitsu é muito mais que um esporte — é uma ferramenta poderosa que ensina persistência, autoconfiança, autocontrole e cidadania.”
Mais do que uma iniciativa pontual, o projeto desenvolvido pela CRENVI e pela Academia Arena reforça o poder do esporte como ferramenta terapêutica, educativa e social. Através da prática do jiu-jitsu, os participantes reencontram propósito, constroem novos hábitos e desenvolvem competências emocionais essenciais para uma vida longe das drogas. Ao unir metodologia, sensibilidade institucional e apoio técnico qualificado, a proposta consolida um modelo replicável, capaz de transformar realidades e ampliar horizontes. Porque quando o esporte é tratado com seriedade, ele deixa de ser apenas atividade física para se tornar caminho real de reinserção e dignidade.