15 de novembro de 2024
Psicólogo reforça importância da parte mental para atletas durante a quarentena
Profissional que ajudou elenco da seleção masculina de vôlei no título olímpico de 2016 analisa importância de manter a cabeça equilibrada e indica riscos que isolamento social pode trazer para quem não se cuidar
Psicologia no Esporte
17 de abril de 2020
Fonte DANIEL OTTONI / SUPER.FC I Fotos BUDOPRESS e AGÊNCIA I7
Curitiba – PR
Com a interrupção de campeonatos de várias modalidades ao redor do mundo, muito se fala sobre a importância de os atletas profissionais manterem o preparo físico para estarem com uma condição mínima quando tudo voltar ao normal. Tão importante quanto estar com o físico em dia, é também deixar a parte psicológica forte e preparada para enfrentar o atual período, que gera ansiedade e muitas dúvidas.
Com muitos anos de experiência, Gilberto Gaertner indica alguns caminhos que precisam de redobrada atenção dos atletas para não caírem em armadilhas. O professor é especialista em psicologia esportiva e já tem trabalhos em campanha do Club Athletico Paranaense na Copa Libertadores da América, assim como no título olímpico da seleção brasileira masculina de vôlei em 2016.
“O risco de os atletas terem alguma dificuldade emocional, neste atual período, é alta, assim como para toda a população. Estamos diante de situações de medo e estresse elevado, que reduzem a ação do sistema imunológico. Uma rotina sistematizada é algo que pode ser importante de ser adotado, assim como momentos de lazer, além de trabalhos de relaxamento, respiração e até meditação. Isso vai ajudar a equilibrar o sistema nervoso. Se o emocional está em dia, o sistema imunológico funciona melhor, o que é vital neste período”, detalha. “É preciso criar um ambiente mental favorável com músicas e livros, coisas que façam bem para manter a positividade em tudo que compõe a vida na atual conjuntura. Nossa vida foi drasticamente transformada pelo isolamento social, é preciso manter a saúde mental também equilibrada”, reforça.
O professor ainda sugere que os atletas possam assistir a vídeos de partidas de vôlei como uma forma de mentalizar ações que ele realizava com frequência. “Isso vai servir de estímulo para os neurônios. Algumas regiões do cérebro são acionadas quando ações motoras são visualizadas. Isso, de alguma maneira, é um treino, gerando uma vivência mental estimulante. Isso também pode entrar na rotina”, cita.
Armadilhas
Dentro de uma rotina que foi totalmente alterada, é preciso que o atleta lembre que a falta de treinos, jogos e viagens não significa férias, por mais que o trabalho realizado atualmente seja bem diferente daquele de semanas atrás. “A rotina diária precisa contemplar treinos físicos, técnicos e mentais, para aproximar o atleta da atividade que ele exercia até pouco tempo. Algumas pessoas podem achar que ficar em casa é sinônimo de férias e acabam descontrolando sua alimentação e até exagerando no álcool. Fica uma coisa com cara de final de semana, mas o perigo é que este cenário nunca termina, não sabemos até onde ele vai. A rotina precisa ser organizada”, analisa.
“É um momento crucial de aprendizado, nossa vida virou de ponta cabeça, o freio de mão foi puxado abruptamente. É hora de nos conhecermos melhor, vai ser bom para o autoconhecimento.”
A pandemia provoca mudanças não só nas agendas dos campeonatos como na realidade dos próprios atletas, como salários e contratos que sofrem alteração, além de objetivos individuais e coletivos que acabam sendo adiados, a exemplo dos Jogos Olímpicos. É preciso saber lidar com estas situações para que a influência, quando tudo voltar ao normal, seja a menor possível. Episódios depressivos e de distúrbios, além de situações de risco e nível elevado de estresse, podem aparecer para os profissionais do esporte, mexendo diretamente com o campo emocional.
“Se o aspecto mental não for bem feito, isso pode atrapalhar o desenvolvimento do atleta de forma significativa. Este período de instabilidade pode ter várias consequências dependendo da estrutura e personalidade da pessoa. Enquanto alguns vão reagir com maior nível de ansiedade, outros vão ficar mais depressivos, afetando a relação no treino e também com a família. É uma mudança radical que pode trazer respostas diferentes”, coloca o especialista.
Atenção especial com os mais novos
Para manter o equilíbrio mental em dia, o psicólogo recomenda atendimento online com profissionais habilitados, que poderão agir neste momento de tensão e cobrança. Exercícios de respiração e meditação também pode ser buscados na internet. Um cuidado especial deve acontecer com atletas mais jovens, que estão pouco acostumados com situações como esta. “Eles podem ser mais afetados porque tendem a sofrer mais pela falta de experiência. Administrar situações de crise é algo mais complexo para eles por terem menor repertório de resposta”, avalia.
Importância da parte mental ainda sofre resistência
Muitos atletas podem pensar que, para se dar bem em suas modalidades, bastar treinar forte durante a semana que o papel dentro de quadra, pistas, piscinas e campo será bem cumprido. Alguns insistem em não dar o devido valor para o lado mental, que acaba tendo um peso maior do que imaginam, principalmente nas horas decisivas. “Estes momentos-chave pedem um maior controle emocional e clareza para tomar a melhor decisão. Se formos analisar os atletas tops, praticamente todos eles têm seus treinos integrantes mental, físico e técnico. Quem lida melhor com todos os aspectos do treino (físico, técnico e mental), tem uma chance maior de ser bem sucedido, vai saber se virar nas horas mais críticas”, indica.
Gaertner projeta que todas as pessoas sairão desta pandemia diferentes, com muitas lições que poderão ser úteis na vida pessoal e profissional. “Um saldo importante é reconhecer a importância de pensar no coletivo, um aspecto vital que ainda falta na sociedade. Alguns ainda pensam somente na própria performance, no individual. É um momento crucial de aprendizado, nossa vida virou de ponta cabeça, o freio de mão foi puxado abruptamente. É hora de nos conhecermos melhor, vai ser bom para o autoconhecimento. Ninguém está sozinho neste mundo globalizado de hoje, a atitude de um influencia no todo”, ensina.