20 de fevereiro de 2025
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Pela primeira vez, a coordenação técnica da Confederação Brasileira de Karatê-Dô Tradicional implementou uma ação de fortalecimento e preparação mental específica para os atletas da seleção brasileira. Esse trabalho foi conduzido por uma equipe de psicólogos esportivos formada por Gabriela Kanashiro Thomaz, Sirlei Adelaide de Andrade e Pedro de Bittencourt Féder.
A parceria, iniciada no fim de 2023, teve como foco a preparação da seleção brasileira para a 22ª edição do Campeonato Mundial de Karatê Tradicional, realizado de 7 a 13 de outubro de 2024 em Vila do Conde, Portugal. O evento reuniu 892 atletas de 32 países.
Ao longo dos 12 meses os profissionais da área da saúde perceberam um crescimento progressivo na força mental dos atletas, desde o início da preparação até a consistência competitiva alcançada na reta final. “Foi algo gradual. A receptividade da comissão técnica e dos próprios atletas foi positiva, e a cada etapa introduzíamos novos elementos para fomentar essa ascensão mental. No começo, o nível era baixo, mas ao longo do trabalho vimos um avanço que resultou numa consistência competitiva importante para o campeonato”, relatou Gabriela Kanashiro Thomaz.
Apesar dos desafios iniciais de logística e comunicação, especialmente pelo fato de muitos atletas estarem em cidades e Estados diferentes, os profissionais estabeleceram um forte vínculo. Esse elo mostrou-se fundamental.
“No começo, houve alguma dificuldade, pois o campeonato ainda era algo distante, com agendas e horários dos karatecas difíceis de alinhar. No entanto, conforme criamos um vínculo mais próximo, o retorno dos atletas foi muito positivo”, destacou Sirlei Adelaide de Andrade.
Psicóloga Gabriela Kanashiro Thomaz © ITKF
Os psicólogos notaram uma carência significativa na preparação mental dos atletas, especialmente considerando o perfil tradicional do karatê, que valoriza muito a disciplina e a paciência — aspectos do chamado “estilo de vida samurai”. Apesar dessa vantagem, muitos atletas ainda careciam de um apoio psicológico focado, especialmente em temas como ansiedade.
“A ansiedade não precisa ser enfrentada de forma direta, como se fosse algo a combater. Podemos acolher e lidar com ela de outras maneiras, e alguns atletas precisavam desse tipo de suporte para se sentirem compreendidos”, observou Pedro de Bittencourt Féder. Além disso, muitos deles enfrentavam problemas de autoconfiança, sentindo-se, por vezes, “não merecedores” de estarem na competição. “Mostramos a eles que estavam ali por mérito, com habilidades e competências adquiridas por meio de treinos e competições que garantiram suas vagas”, complementaram os profissionais.
A resposta dos atletas variou mais em função da necessidade individual do que da faixa etária. “Aqueles que percebiam desde cedo a importância do apoio psicológico foram os primeiros a aderir, enquanto outros se mostravam um pouco mais reservados, sem muita certeza da necessidade desse acompanhamento”, explicaram. Esse era um recurso inédito para a seleção, então, para alguns, havia um receio inicial, uma desconfiança sobre o que significava conversar com um psicólogo. “Foi necessário um processo de acolhimento, mostrando que estávamos ali para somar e apoiar, não para julgar.”
Psicóloga Sirlei Adelaide de Andrade © ITKF
Para criar uma estrutura de ação, os psicólogos focaram em potencializar as habilidades que os atletas já possuíam. O processo envolvia ajudar os karatecas a identificar e nomear emoções, compreendendo por que estavam ali e o que os tornava confiáveis como representantes da equipe.
“Convidamos os atletas a refletirem sobre o próprio valor, perguntando se alguém confiava neles e, em caso positivo, por que essa confiança existia”, contaram os psicólogos. Esse exercício de reflexão fortalecia o sentimento de pertencimento e de participação ativa no processo, permitindo que os atletas experimentassem um novo nível de segurança e colhessem os benefícios desse preparo mental.
Desde o primeiro contato, os psicólogos esclareceram o papel da psicologia esportiva, enfatizando o suporte que poderiam oferecer. Essa introdução ajudou os atletas a entender que o acompanhamento psicológico era uma ferramenta de apoio e fortalecimento, permitindo que se abrissem ao processo. Ao reconhecer o valor da psicologia esportiva, os atletas puderam beneficiar-se de um suporte contínuo e direcionado. O desenvolvimento da confiança mútua foi um processo gradual e essencial no trabalho com a seleção; os psicólogos reforçaram o compromisso com o sigilo e a ética, assegurando a confidencialidade.
Psicólogo Pedro de Bittencourt Féder © ITKF
A parceria entre a seleção brasileira de karatê tradicional e a equipe de psicólogos esportivos, formados na Especialização em Psicologia do Esporte e Neurociências da PUCPR, foi fundamental na conquista do vice-campeonato geral no 22º Campeonato Mundial, com um desempenho de destaque: 13 medalhas de ouro, oito de prata e seis de bronze. Esse resultado foi amplamente elogiado por dirigentes e membros da comissão técnica, que reconheceram a importância do preparo mental na performance dos atletas. A colaboração com os psicólogos consolidou o compromisso da seleção com o bem-estar integral dos competidores, promovendo um ambiente no qual o fortalecimento psicológico se une à tradição e à excelência do karatê.
A participação dos psicólogos esportivos no processo de ajustes da equipe verde e amarela mostrou ser uma estratégia valiosa, trazendo excelentes resultados para o karatê do Brasil. Com o suporte psicológico, os atletas elevaram o nome do país no cenário internacional e reafirmaram o impacto positivo da preparação mental no esporte. Esse trabalho conjunto é um exemplo de como o karatê brasileiro segue evoluindo e buscando a excelência em todas as áreas.
PERFIL DOS PSICÓLOGOS
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